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O meu nome é Rafaela.

Partilho hoje a minha história, porque foi exatamente há um ano que ouvi e vi o Afonso pela primeira vez.

No dia 27 de novembro de 2023, fiz uma primeira ecografia, após um teste positivo, confirmando a gravidez com 6 semanas de gestação.

Foi um momento mágico. Foi o momento mais feliz da minha vida até hoje. Tenho um pequeno vídeo dessa ecografia e do coraçãozinho dele a bater, praticamente inaudível, mas que encosto ao meu ouvido para de alguma forma me transportar para aquele momento. E como
eu gostaria de voltar! De saber que estava tudo bem, que o meu bebé ainda estava comigo… Até dia 09 de janeiro de 2024, senti-me a mulher mais feliz do mundo, nunca senti tanto amor, nunca senti que tudo fazia tanto sentido!

Contudo, no dia 09 de janeiro de 2024, na ecografia do 1º trimestre, alguns marcadores apontaram para a existência de algum tipo de anomalia/trissomia. Foi um momento aterrador. Ainda há pouco o tinha visto pela segunda vez, em dezembro, com 9 semanas, e estava
tudo bem. Como é que agora me dizem que o meu bebé pode não estar bem?! Que devo fazer um exame para confirmar? Que existe o risco de o perder?!

A partir desse dia, a minha vida nunca mais foi a mesma. Tudo aconteceu muito rápido a seguir… A probabilidade de trissomia 21 era de 1 em 4, o que era bastante elevado. Eu tinha 29 anos e o pai, 28, e não, não tínhamos nenhum grau de parentesco (esta foi uma pergunta que na altura nos foi feita). O risco de trissomia 13 era também relativamente elevado, de 1 em 28.

Para confirmar o diagnóstico, como o meu bebé tinha apenas 12 semanas, não podia fazer uma amniocentese. Então, no dia 16 de janeiro, fizemos uma biópsia das vilosidades coriónicas. A biópsia das vilosidades coriónicas é, como a amniocentese, um procedimento
invasivo e consiste na colheita de fragmentos da placenta (onde se situam as vilosidades coriónicas) que contêm material genético idêntico ao do bebé. Estava muito nervosa.

Apesar de ser bastante reduzido, existia sempre risco de abortamento e estava com muito medo de o perder ali. Perante as circunstâncias, correu muito bem e, após realizaram o procedimento, a médica verificou os batimentos do bebé. Eu não sabia nesse dia, mas foi nessa data a última vez que ouvi o seu coração bater…

No dia 18 de janeiro, soubemos o resultado deste exame, confirmando-se a trissomia 21. Olhando para trás, foram poucos dias entre dia 09 e dia 18, mas confesso que me pareceu uma eternidade, em que, a cada dia, eu morria um bocadinho… Não sabia se havia de ter esperança, porque a probabilidade até estava a nosso favor (3 em 4) ou se havia de me mentalizar que não estava tudo bem (1 em 4). E, de repente, a confirmação de que realmente não estava tudo bem… Foi nesse momento que o meu mundo desabou.

Eu e o pai do meu bebé tínhamos conversado sobre esta possibilidade e, para nós, não fazia sentido trazer ao mundo uma criança com esta condição. Em primeiro lugar, porque o mundo não está preparado para aceitar a diferença. Em segundo, porque não sabíamos exatamente
que problemas de saúde estariam associados e ainda qual o grau de trissomia. Em terceiro, porque, a nosso ver, não teríamos condições para poder prestar o tipo de cuidados que uma criança com necessidades especiais merece e precisa. A interrupção médica da gravidez (IMG) era uma possibilidade e foi a nossa escolha. Na altura, foi muito difícil, mas foi a minha/nossa decisão…

Olhando para trás, novamente, foi tudo muito rápido mesmo e, independentemente de outras questões, agradeço ao hospital por isso. Isto, porque, a cada semana, o bebé evolui rapidamente e pensei que, quanto mais adiasse, maior seria a dor, se é que a dor de perder um filho se pode medir… Enfim, às vezes (ou muitas vezes), questiono-me sobre esta decisão, sinto culpa, penso que escolhi matar o meu filho… Tento lembrar-me que foi uma escolha por amor.

Foi uma escolha num contexto que não escolhi. Foi uma escolha
condicionada e nenhuma mãe/pai deveria ser confrontada com a decisão da vida ou da morte do seu próprio filho.

Mas assim foi… No dia 24 de janeiro de 2024, o Afonso nasceu e partiu. Com ele partiu também a pessoa que eu era até então. Não consigo deixar de sentir dor quando penso nesse dia e, ao mesmo tempo, um amor imensurável.

Na altura não fui capaz de expressar a vontade que tinha de pegar no Afonso. Essa opção também não me foi apresentada… E o momento em si roubou de mim todas as capacidades que me restavam para o pedir. A culpa também aparece por isso. Gostava tanto de ter pegado nele e não fui capaz de o verbalizar.

Não me despedi do Afonso como queria e gostava que me tivessem dado essa opção. Por mais pequenino que fosse, com 14 semanas e 2 dias, o meu colo era seu e não lho dei. Às vezes, revivo esse dia, imagino-o no meu colo… E fico mais em paz.

Só recentemente percebi que, por mais doloroso que tenha sido esse dia, escolheria sempre vivê-lo a nunca ter tido o Afonso. Foi curta a sua existência, demasiado curta, mas escolheria sempre tê-lo, apesar de saber o final da sua história…

Ainda estou a aprender a dar um novo significado à perda do Afonso. Estou a aprender quem sou eu agora e para onde vou. Penso que a dor nunca vai desaparecer, mas sinto que, aos poucos, vai doendo cada vez menos. A dor dá lugar ao amor. Um amor sem limites.

Um amor incondicional. E penso que foi mesmo isso que o Afonso me veio ensinar. O verdadeiro significado de amor. Tenho aprendido muito sobre isso e sobre tanto… Sobre mim, sobre as pessoas, sobre o luto, sobre a dor… Sobre apreciar a natureza, reparar nas flores, ver borboletas brancas vezes sem conta, ouvir os pássaros. Sobre apreciar a vida e a sorte que tenho pela minha própria existência. Sobre apreciar cada momento e celebrar pequenas vitórias. Agradeço ao Afonso por isto e por tanto…

A nossa história começou ainda antes do teste de gravidez positivo do dia 9 de novembro de 2023. Começou nos meus sonhos em ser mãe, em construir uma família…

Hoje, sou a mãe do Afonso e ele será sempre o meu primeiro filho. E sempre que dizem o nome dele, sempre que falam sobre ele, o meu coração fica quentinho e sinto-me feliz. Deixo aqui também um apelo a isso – digam o nome dos nossos filhos, por favor.

Eles existiram, mesmo que não os tenham visto, nós vimo-los e/ou sentimo-los… Eles existiram… E nosso amor por eles nunca deixará de existir!

Partilho esta história também, porque me lembro de, naqueles dias de janeiro, procurar outras histórias que me dessem algum “conforto”, para não sentir que estava sozinha nesta dor… E encontrei um testemunho no site do “Amor para além da lua” sobre IMG e trissomia 21. Li e reli vezes sem conta esse testemunho. Ainda o leio, às vezes, para sentir que não estou sozinha, para ter algum “colo” e sentir mais paz na minha escolha.

Lembro-me também de procurar histórias de mães que ficaram sozinhas, sem companheiro, depois da perda. E queria dizer que esta é uma dessas histórias. Duas semanas após a IMG, o pai do Afonso decidiu abandonar-me e deixou-me sozinha na nossa casa… Conto isto apenas para que, se alguém como eu procurar uma dessas histórias, essa pessoa saber que não está sozinha. Sim, isto acontece, é um pesadelo a dobrar, mas acontece. É viver o luto de um filho e, ao mesmo tempo, o luto de um relacionamento.

Nem sempre lidamos com a dor da melhor forma e os momentos mais dolorosos e desafiantes da nossa vida vêm exatamente mostrar-nos quem está verdadeiramente do nosso lado, quem verdadeiramente nos ama… E eu não fiquei sozinha, ainda que, muitas vezes, não me sentisse suficientemente compreendida, tive familiares e amigos que me deram (e dão) a mão. E serei eternamente grata por isso.

Neste caminho, também encontrei conforto e acolhimento em grupos de apoio à perda gestacional/neonatal e ainda na minha psicóloga,
a quem estou igualmente grata…

E, acima de tudo, estou muito grata por poder ter vivido a breve vida do Afonso que viverá para sempre em mim. É um amor sem fim.

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Natal Ofertas Ofertas e Recursos Perda gestacional
prendas com amor para além da lua natal

À semelhança dos últimos dois anos, criamos, novamente, uma campanha, com novas parcerias, a pensar em quem passou por uma perda gestacional, família e amigos.

Assim, juntamo-nos a alguns pequenos negócios, bem portugueses, para ajudar a celebrar esta quadra e incluir e lembrar os nossos pequeninos. Serão no formato desconto ou então no formato de percentagem com doação para as nossas caixas de memória.

Vamos conhecê-los:


A Cátia, da Do It by laser, doará 10% do valor dos produtos comprados para ajudar no nosso projeto das caixas de memória.

Sobre Do It by laser

Artigos Personalizados, Corte & Gravação Laser, Maternidade, Recordações, HomeDecor, ou peças para Empreendedores.

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A Renata Pintor, do Amor de Papel Atelier, doará 10% do valor dos produtos comprados nos seus quadros de lembrança ou celebração dos vossos bebés!

Sobre o Amor de Papel Atelier

É um projeto da designer Renata Pintor, que abraçou após uma perda gestacional. Ao criar a página de apoio Amor com Asas encontrou um reconforto nos pais quando homenageavam os seus bebés que partiram. No seguimento desse projeto lançou ilustrações especiais, de memórias ou nascimento para bebés. No Amor de Papel Atelier podem encontrar ilustrações personalizadas e fotográficas dirigidas às famílias. É sobre transformar dor, em amor. Sobre transmitir amor em forma de papel.

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A Renata Alves Marvão, da editora MyAura, vai descontar 15% na compra do seu livro: “Camila, meu amor”. (com o código amor15 por mensagem privada para @‌renata.alves.marvao ou e-mail para lojamyaura@gmail.com)

Sobre o livro

Camila, Meu Amor conta na primeira pessoa a história de uma perda gestacional e de uma interrupção voluntária da gravidez. Baseado na compilação de textos publicados pela autora no blogue Sobre nós, Mulheres, em 2018 e 2019, enquanto passava pelo processo de escrita terapêutica pós-traumática, Renata decide ir além e fazer uma reflexão ainda mais profunda, tocando em momentos chave da sua infância, adolescência e juventude.

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Sobre a Love & Details

A Love & Details nasce da paixão de recordar e registar os momentos mais importantes da Vida com artigos totalmente personalizados produzidos com muito Amor.

Somos uma empresa especializada na criação de peças em madeira e/ou acrílico nas quais a nossa imaginação e criatividade ganham asas.

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Esperamos que seja uma linda prenda no sapatinho de mãe para bebé ou até de mãe para mãe, de amiga para amiga, de avó para mãe…

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Testemunhos Testemunhos Interrupção Médica da Gravidez Testemunhos Perda Tardia

Hoje faz 3 anos que conhecemos fisicamente o nosso primeiro filho. A vida quis que este momento fosse cedo de mais. Por isso hoje partilhamos um bocadinho da nossa história a 3.

A 04 de julho de 2021, descobrimos que a nossa vida seria feita a 3. O nosso desejado filho estava a caminho. Desde então começamos a sonhar com esse ser que ainda era tão pequenino e a construir planos para o futuro. A gravidez estava a correr bem, a felicidade inundava os nossos corações.

Em outubro de 2021 tivemos a pior notícia das nossas vidas, o nosso tão esperado/ desejado filho tinha uma malformação muito grave. Os dias que se seguiram a esta notícia foram de enorme tristeza, desorientação e culpa.

No dia 13 novembro 2021, apesar de toda a tristeza, foi muito especial…no meu da escuridão da madrugada a luz invadiu o quarto onde nós estávamos internados e foi aí que “nasceu” o nosso primeiro filho.

Embrulharam o nosso bebé numa fralda que levamos para esse momento, pedíamos para fazerem a impressões das palmas das mãos e pés e por iniciativa das enfermeiras também trouxemos a impressão da placenta com o cordão umbilical em forma de coração.

Foi nos dada a possibilidade de estar o tempo que precisávamos com o nosso bebé ao colo para o tão difícil “até já”, o que nos trouxe uma tranquilidade e paz aos nossos corações.

Está é a nossa história, carregada de muita emoção e muito amor.

Ao nosso querido e amado primeiro filho,

Querido M. foram 23 semanas de um amor maior que o mundo, és um ser muito especial com muita luz e amor.
A mamã e o papá têm muitas saudades tuas.
Estamos, para sempre, ligados a ti por um fio imaginário.
Viverás sempre dentro de nós num lugar onde só o amor pode entrar e que tanto amor tem nesse lugar.
Somos tão gratos por sermos teus pais!
Continua a iluminar o nosso caminho.
Um dia voltaremos a viajar juntos!

Até lá, estarás sempre no nosso coração.

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Testemunhos Testemunhos Perda Precoce

Hoje quero deixar o meu testemunho aqui, na esperança de confortar um pouco o coração de alguém!

Sei que quando navegamos por águas agitadas a tempestade parece não ter fim à vista, tive dias em que o barco naufragou e eu me senti tão exausta de nadar contra a força das ondas que senti que a qualquer momento ia perder a força na braçada e me ia deixar afogar.

Mas hoje agradeço por cada dia que cai e levantei, pela resiliência que sempre alimentei pelo amor e o desejo de ser mãe.

Em 2020 decidimos que queríamos ser pais. Por motivos de trabalho, cometemos o erro de adiar o início das tentativas quase um ano.

Hoje, digo-vos, nunca adiem os vossos desejos, por motivos que não sejam de força maior… Adormeci muitos dias arrependida de o ter feito!

Em Julho de 2022, descobri que estava grávida, estávamos a tentar esta gravidez já há algum tempo e ficamos super felizes! Senti-me maravilhosa por saber que tinha um ser a crescer dentro de mim…

Na primeira consulta com o obstetra ouvi o que nunca vou esquecer “lamento, mas não está a evoluir bem”: tínhamos uma gravidez não evolutiva, um aborto retido.

Precisei de ir para a maternidade induzir a expulsão e, sinceramente, foi das coisas mais terríveis que passei: ver cair na sanita, o que deveria ser o meu filho a crescer no meu útero.

A dor física foi grande, mas a psicológica foi difícil de suportar… A verdade é que, até ao dia do suposto nascimento deste bebé, o meu sofrimento era grande, não conseguia ver grávidas, nem bebes pequeninos sem chorar.

A frustração de começar tudo de novo, a incerteza de saber se algum dia iríamos conseguir…

Mas, assim que possível começamos logo a tentar de novo. No entanto, eu sentia que psicologicamente estava em baixo e acabei por procurar uma médica de acupuntura especialista em fertilidade que foi a minha sorte grande!

Melhorei bastante a nível psicológico e consegui regular bastante o meu ciclo. Três meses depois (junho 2023) estava novamente grávida.

Mas…tive uma perda de sangue e verificou-se outro aborto, desta vez com suspeita de não ter implantado bem. Não desistimos, e no ciclo seguinte, eu estava novamente grávida, mais uma perda de sangue, várias idas à maternidade, e mais um aborto espontâneo (Agosto de 2023).

Nesta altura, apesar de devastada, senti que iríamos dar outro passo, porque ao terceiro aborto seríamos encaminhados para a maternidade para fazer o estudo do nosso caso. Sinceramente, neste momento, nós já só queríamos uma resposta, uma solução!

Informei-me e infelizmente as consultas estavam a demorar cerca de 6 meses. Não queríamos esperar tanto tempo, mas estávamos desesperados com o facto de podermos voltar a abortar.

Decidimos então procurar um especialista em fertilidade, com a esperança de podermos começar a analisar alguma coisa enquanto não éramos chamados para o estudo da maternidade. O médico achou que eu poderia ter uma inflamação numa trompa e medicou-me, depois poderia voltar a tentar.

Em novembro, descobrimos uma nova gravidez e, só quem passa pelo mesmo, percebe o medo que se sente neste momento. A felicidade típica desta fase dá lugar ao desespero de conseguirmos manter este bebé. Confesso que achei que iria abortar de novo, mas a minha princesa resistiu…(pelo tratamento à trompa, pela aspirina que entretanto estava a tomar ou porque o universo assim desejou).

Em dezembro o nosso médico suspeitou na eco de uma alteração genética, que acabou por não se verificar. Em janeiro, suspeitou-se de um problema no intestino que também acabou por desaparecer. Pensava todos dias que desta vez não me recuperava se algo viesse a não correr bem.

À minha volta todos queriam saber o sexo, eu só queria saber se estava tudo bem, e as semanas entre consultas eram uma contagem decrescente.

Confesso que não consegui viver a gravidez de forma normal, o medo acompanhou-me sempre. Gerar uma vida é tremendamente empoderador, mas muitos dias não o consegui sentir dessa forma… É duro, não minto, senti muita vez que me tiraram o direito a viver a maternidade em pleno.

Em Fevereiro fui chamada para o estudo do hospital, entretanto verificou-se que eu tinha trombofilia, e foi necessário levar injeções diárias.

A minha filha nasceu às 38+4 de parto normal, depois de 3 dias em indução por causa do fluxo do cordão não estar a 100%, foi mais um teste à minha resiliência e à capacidade de suportar a dor, porque o meu útero não queria colaborar.

Mas graças à minha força, às equipas maravilhosas da maternidade BB que se cruzaram comigo, e ao companheiro sempre incansável que tenho a meu lado a nossa pequenina nasceu saudável e cheia de força de viver.

Esperámos tanto por ela e finalmente termos a nossa riqueza nos braços é verdadeiramente o melhor do mundo (mesmo cheia de olheiras e com 3h de sono).

Como a minha avó dizia “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca chegue!” Não desistam!

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Testemunhos Testemunhos Interrupção Médica da Gravidez

“Matei o meu filho”.

Foi assim que dizia a minha psicóloga quando a procurei. Hoje, consigo dizer quer foi um ato de amor, pelo meu Salvador. 

Decorria o ano 2023, fevereiro, quando realizei um teste de farmácia com alguma esperança e o positivo chegava.

Era segunda-feira de carnaval, tinha ido renovar o cartão de cidadão do meu filho mais velho (sim, para mim, o meu Martim é o mais velho).

Após a renovação, fui à farmácia e comprei um teste. Fui para casa e com alguma esperança fiz o teste. POSITIVO.

Não cabia em mim de felicidade. O Martim estava comigo e foi o primeiro a saber. De seguida, liguei à minha melhor amiga e depois à minha irmã. Era para fazer uma surpresa ao meu marido, mas não conseguia disfarçar mais e tive que contar.  Fomos à minha obstetra, fiz ecografia e estava de 6 semanas. Já se via o coração a bater. 

Após isso, fui chamada para as consultas na maternidade. Era dia 3 de Abril quando entrei naquela sala sozinha, pois a minha mãe tinha ido com o Martim comer alguma coisa. Assim que ouço o meu nome liguei para virem. Felizmente, não chegaram a tempo de verem, digo isto por causa do meu Martim. Estava de 9 semanas e o embrião não tinha desenvolvido, e já estava morto. Sofri um aborto retido. Foi-me dada medicação para expulsar. 

Vim para casa, acabando por expulsar já em casa.

Não posso dizer que o dia 3 foi o pior dia, porque para pior dia, foi mesmo o dia 28 de Dezembro de 2023.

Após todo o procedimento ter corrido bem, tive “autorização” para uma segunda tentativa e assim o fizemos.

Era Agosto, 5 de Agosto de 2023 fui fazer o Beta HCG para ter a certeza, pois estava atrasada na menstruação e não existia sinais que iria menstruar. 

Eram 14:30 mais ou menos quando me chega um e-mail com o resultado. POSITIVO 

Entrei num misto de sentimentos, o meu marido estava comigo. O primeiro passo foi ligar à minha obstetra e dizer. Pediu que no dia 20 me dirigisse ao serviço de urgência da maternidade para me ver. Logo aí tomamos a decisão de não contar a ninguém, pois o medo era tanto. 

Então lá fomos nós ver o nosso bebé e estava tudo bem. Ela questionou-me sobre qual o meu medo e eu rapidamente disse: “passar pelo mesmo que tinha passado em Abril”. Tranquilizou-me pediu para eu ir lá no dia 30 para ser vista novamente.  E lá fui eu no dia 30. Continuava tudo bem.

Fui chamada novamente para consulta na maternidade no dia 29 de Setembro, já estava de 12 semanas. Fui à consulta e ecografia, onde nos disseram que seria um rapaz e que estava tudo bem. Decidimos então contar a família nesse mesmo dia, já que o pai fazia anos e aproveitamos e contamos.

Estava tudo a correr bem, mesmo estando com diabetes gestacionais.

Chegou a eco do 2º trimestre. Ja estávamos em Dezembro, dia 6, quando fui realizar a eco. O Salvador não colaborava muito nas ecos. Era do contra, como eu dizia. A médica pediu para eu vir caminhar um bocadinho e comer qualquer coisa para ver se corria melhor da segunda vez. E assim o fiz.

Entrei, ele já estava mais colaborante. Quando a Dra me diz que ia chamar um colega para ajudar, pois existia ali um problema nos rins, o meu coração parece que parou. Veio o colega que confirmou mesmo que os rins estavam afetados. Um rim displáxico e o outro com uma dilatação muito grande. 

Foi-me proposto a realização da amniocentese. Realizei-a logo no dia, e foi-me falado no pior desfecho possível: interromper a gravidez. 

Logo aí entrei em negação, para mim o Salvador nascia e ponto final. 

Procuramos uma segunda opinião médica, e o Dr. disse logo que não havia muito a fazer, para partimos mesmo para a interrupção. Mais uma vez entrei na fase da negação. 

Dia 20 de Dezembro, a minha obstetra faz eco e só me diz que não havia muito a fazer, pois o Salvador estava a perder líquido.  Então tomei a decisão de interromper. Já estava de 24 semanas. Foi a conselho médico e foi aprovado.

Desde o dia 6 que contei tudo ao meu Martim.

No dia 27 fui a maternidade para sedação do Salvador e tomar medicação. Pedi ao Dr. para o ver pela ultima vez e assim o fiz. Neste dia,pouco havia a fazer,pois a placenta ja se estava a “colar” a ele.

Estava sozinha naquela sala, sem apoio do marido, mas com uma enfermeira excelente, que, no fim da sedação, me deu o “colo” para chorar.

Vim para fora, onde reuni com ela e com o meu marido. Colocaram-nos algumas questões e fizeram a explicação de todo o processo que aconteceria no dia seguinte. 

Foi-me colocada a questão se eu queria ver após o nascimento, ao qual respondi prontamente que sim.

E se queríamos fazer funeral, e a resposta foi a mesma sim.

A parte difícil veio quando cheguei a casa e falei com o Martim que, na altura, tinha 13 anos. Como sempre soube tudo do que se passava com o irmão e quis a opinião dele, se trazíamos ou não o mano (realização do funeral). Foi então que percebi que, afinal, ou Martim não tinha percebido bem ou então entrou em negação como eu. Ele só me respondeu: “não o vais trazer?” E eu disse: “não filho, quando o mano nascer já vai nascer sem vida”.

Ele olhou para mim e disse:” então trás e mete ao pé do bivô”.

Dia 28 de Dezembro, com 25 semanas, chego à maternidade pelas 9h acompanhada pelo meu marido e pela minha irmã. Faço inscrição no serviço de urgência, entro explico o que iria fazer e são-me colocados os comprimidos para iniciação de trabalho de parto.

Após isso, vem um auxiliar para me levar para o quarto. Despeço-me da minha irmã a chorar e vou. O meu marido acompanhou sempre.

Após já estar pronta para o que viria a seguir, vem a Dra. da genética ter connosco a dar conhecimento do resultado da amniocentese. Estava limpa, disse ela. O Salvador não tinha nada a não ser mesmo a situação dos rins, que era incompatível com a vida.

Às 18h, sou reavaliada pela Dra onde diz que iria para a sala de partos para levar a epidural. 

Sempre que tinha dores, as enfermeiras davam-me medicação, diziam elas que eu não precisava de sofrer, pois a maior dor já estava a ter: a perda o meu filho.

Quando cheguei à sala de partos, já não dava para levar a epidural, pois o Salvador estava mesmo para nascer. Foi o pior momento: entrei em negação, encolhi-me toda para ele não nascer.

Mas o meu corpo fez tudo contra a minha vontade naquela altura. Senti “vontade” de me virar para cima, e fui eu que disse “ele está a nascer”. 

O silêncio naquela sala era tão grande. Não havia choro e a minha reação foi logo dizer que o queria ver. Responderam que sim que só o iam limpar e que já o traziam.

Passado algum minutos e após eu ter explusado a placenta, chega o tão desejado momento. Vê-lo. 

Retiraram o que ele trazia a protegê-lo e eu via ali o meu filho, o meu Salvador.

Mal o vi, só lhe pedia desculpa de o ter matado. Toquei e pedi para lhe pegar ao colo. Foi dos momentos mais mágicos e mais triste que tive. Ele estava ali comigo, mas não chorava.

Dia 29 tive alta, e é uma dor tão grande vir embora de colo vazio. 

O passo mais importante que dei foi procurar ajuda. Liguei logo a psicóloga e a primeira coisa que disse na consulta foi: “Dra, matei o meu filho”.

Mas, hoje, felizmente graças ao acompanhamento e à vontade, consigo dizer que não o matei, mas sim, que tive um ato de amor pelo meu Salvador. 

Ele esta lá em cima com o bivô, na nuvem de amor que eles criaram e estão a olhar por nós. 

Quanto ao meu Martim, também ele é acompanhado por uma psicóloga, e hoje fala do irmão com muito orgulho, embora nada do que idealizou se tenha realizado. 

Para mim, o Martim será sempre o irmão mais velho.

Um beijinho, meu anjo Salvador. 

Um beijinho a todas as mamas de anjos.

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Testemunhos Testemunhos Perda Precoce

Quando me casei em 2007 queria engravidar rápido, mas não consegui. Por 3 anos tentamos naturalmente até procurar ajuda médica. Foram muitos os exames até chegar à conclusão que uma tuba uterina estava totalmente obstruída.

A médica disse que a chance da outra adoecer e obstruir também era muito grande e deu-nos a opção de uma FIV, o que estava fora da nossa realidade. O procedimento e medicação são muitos caros. Aconteceu em 2014 se eu não estiver enganada e seguimos na luta sem conseguir engravidar naturalmente. Fui atrás de conseguir uma vaga pelo SUS na Unicamp para tentar alguma solução na infertilidade.

A fila é bem grande e, para minha surpresa, no ano de 2020, consegui a vaga e começamos a tratar e seguir para cirurgia para tentar desobstruir as trompas. Foi um milagre: as trompas estavam perfeitas…Tenho exame de imagem, mostrando a trompa obstruída e eu creio foi Deus que me curou.

Seguimos na tentativa com coito programado e nada. Depois de um tempo fizemos uma inseminação e nada, depois de mais um tempo outra e nada.

Depois de 4 anos nessa luta muito desgastante psicologicamente e financeira, porque pagava pela medicação e não é barato….eu e o meu esposo decidimos desistir do tratamento e entramos no processo de adoção. Em menos de 1 ano, acredite, eu engravidei naturalmente, e, infelizmente perdi o bebe com 10 semanas, mas ascendeu uma esperança de ter meu bebê da barriga era meu sonho e fizemos mais uma inseminação e engravidei de uma menina.

Nasceu prematura extrema com 27 semanas porque tive muitas complicações de saúde e uma trombose descoberta só às 25 semanas. As medicações não faziam mais tanto efeito a minha pressão subiu  muito, nada controlava tive embolia pulmonar fui para a UTI 3x e, por fim, os médicos decidiram interromper minha gravidez para eu não morrer e a neném também…

Ela nasceu com 675 gramas e ficou 4 meses na UTI neonatologia. Enfrentou muitos desafios, mas venceu pela Glória de Deus e está hoje linda com 1 ano e 3 meses!

Digo que para Deus não existe impossível! Ela realiza desejos do coração ❤️ não desista do seu sonho de ser mãe!

Glória a Deus pela vida !!

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Testemunhos Testemunhos Perda Precoce

Tenho vindo a partilhar a nossa história com muitas pessoas, família, amigos, conhecidos do Instagram, mas senti necessidade de a fazer chegar a mais pessoas.

Não sei se por mim, se por ti que estás a ler, ou se por alguém que, ainda sem coragem de ler sobre o assunto, um dia chegue aqui.

A nossa história começou em 2019. Conheci o homem com quem tive de imediato a certeza que casaria e teria filhos. Fiz logo todas as análises de pré concepção. Como tinha tirado um ovário aos 18 anos, por ter um quisto significativamente grande, queria garantir que, quando quiséssemos ser pais, porque o se aqui não estava em questão, tudo estaria ok para isso.

E assim foi. Em junho de 2022 casámos. Foi o melhor dia das nossas vidas, felicidade essa que acreditamos que nem um filho trará. Este é o nosso sonho, esta pessoa que temos ao nosso lado.

Deixei de tomar a pílula no dia do nosso casamento, completamente inconsciente, a meio de uma caixa! Passei a lua de mel toda no vai, não vai de menstruação, mas sem stress. Tínhamos tempo! 

Desde sempre que achei que seria difícil engravidar. Apesar de todos os médicos dizerem que não era um problema, eu acreditava que só com um ovário as coisas seriam mais difíceis.

Setembro de 2022 o nosso primeiro positivo. Não fiquei radiante! Disse logo ao meu marido para que não ficasse super feliz, porque era bom de mais para ser verdade.

Fomos à ecografia às 7 semanas. Saco gestacional no sítio, mas apenas de 5 semanas. “Pode acontecer.”, dizia a médica,”teremos de repetir daqui a 15 dias para ver se há evolução”.

Decidimos contar aos pais e irmãos, já com a consciência de que poderia não evoluir. E assim foi. Em novembro confirmámos: gravidez anembreonaria, temos de provocar o aborto.

Optámos por fazer a medicação em casa dos meus sogros. Sabíamos que ia ser doloroso e não queríamos guardar recordações desse momento em nossa casa.

Correu tudo bem, expulsei no próprio dia, e bola para a frente.

Março de 2023 estava grávida outra vez. Nem queríamos acreditar. Era desta!!!

28 de março, o meu dia de anos, uma terça feira! Acordei, fui trabalhar, sem saber que seria o pior dia da minha vida, da nossa vida.

Por volta das 11h deu-me uma dor que me tirou todas as forças. Corri para o WC e nada. Zero!

Chamei a diretora da escola onde trabalho (sim, sou educadora de infância) e esta ligou de imediato ao meu marido. Nem 5 segundos e lá estava ele. Ele e a ambulância atrás de si.

Fomos para o CMIN, tinha sido seguida lá na interrupção da 1a gravidez.

Fazemos ecografia à chegada. Nada, nem saco, nem embrião, nem líquido. “Como sabe que está grávida?” pergunta a médica que nos recebeu nas urgências. “Fiz um teste e deu positivo!” “Ah, então são sabe se está grávida mesmo” responde a médica. (OBVIAMENTE QUE ESTOU GRÁVIDA!!!)

Chamam outros médicos para ver a eco. Um médico, não nos lembramos do nome diz “se tem teste positivo, está grávida! Mas realmente muito estranho, nada se vê nem se encontra.”

Pedem para ficar por perto que vou fazer análises e demora cerca de 2 horas até termos os resultados. (Atenção que ainda estamos no meu dia de anos)

Eu, o meu marido e a minha mãe, lá ficámos. Encontrámos amigos, rimos de tudo aquilo e continuámos com a mesa do jantar de anos marcada.

Por volta das 14h tenho uma quebra de tensão enorme, aparece a enfermeira e levam-nos para nova ecografia. Muito líquido solto. Voltam a chamar muitos médicos, gravidez ectopica é o mais provável. Mais pessoas começam a chegar, pai, irmão, sogros que estavam cá para festejar o meu aniversário, etc…

“Mas o que é isso? Vão me tirar o que tenho aqui? Nem pensem, não deixo. Não têm a certeza? Descubram, mas ninguém me abre.”

“Tem a certeza? Sabe que pode morrer? Tem de assinar um consentimento a dizer que não quer intervenção.” E eu assinei! Isto sem o meu marido ao meu lado, “porque o marido tem de ficar no lado do computador….”

Lá passaram as horas, dor forte no ombro esquerdo, hemorragia interna brutal, operação de urgência…. Tudo acabou bem. O embrião ficou no coto da trompa que tirei aos 18 anos. O lado “bom” continua funcional para continuarmos a tentar de forma espontânea. Ufa! Bola para a frente outra vez!

Fomos a especialistas, clínica Alberto Barros, Porto clínica, … “São azares, vocês engravidam, continuem a tentar”. “Umas análises hormonais podem fazer…” 

Antimulleriana (reserva ovárica) 0,17, muito baixa, “mas a verdade é que engravidam, continuem a tentar.” E assim fizemos.

Agosto de 2023 grávida outra vez.

Descobrimos numa ida às urgências no hospital de Abrantes, por outros motivos e nem quisemos acreditar. “É desta, à terceira é de vez!” dizíamos nós a toda a gente!

Fizemos ecografia na maternidade de Abrantes e nada, apenas líquido no fundo do saco. Beta positivo, historial de gravidez ectopica, digo que costumo ter ascite e então “Vamos fazer uma punção para perceber o que é este líquido.”

E lá se confirmou. Não era sangue, respirámos de alívio. Era desta, tínhamos a certeza.

Repetimos ecografia e beta na semana seguinte. Beta a descer, continua sem se ver nada ecografia. Infelizmente não deixaram o meu marido entrar. Ouço coisas do “género” (ponho género para não chocar, pois foi literal o que eu ouvi) “isto? Isto é infertilidade. Este ovário é miserável. É uma inconsciente por estar a tentar de forma natural, está a pôr a sua vida em risco, nunca vai ser mãe de forma natural.”

Caiu-me o mundo, todo! Sozinha naquela sala com o médico (se se pode chamar médico a essa pessoa) e com a enfermeira, que estava branca, sem qualquer reação. Saí daquela sala sem verter uma lágrima. Esperei entrar no elevador para dizer ao meu marido “nunca seremos pais de forma natural, sou infértil”. O meu marido ficou possuído, queria entrar por lá a dentro e desfazer aquele senhor, mas optámos por fazer uma queixa à ordem dos médicos e assim foi.

Voltámos para o Porto, aos nossos médicos de referência, fizemos estudo genético, mais mil analises, tudo ok. Sem qualquer incompatibilidade. Bola para a frente, mais uma vez.

Conhecemos o nosso novo médico nos Lusíadas, que nos referenciou para o CMIN e começámos a ser seguidos lá. Fizemos os exames todos, comecei a tomar tromalyt, poderia ajudar.

Falaram-me no Ponto de Fertilidade, a quem devo muito, lá comecei eu a acupuntura, desta vez estava decidida a fazer tudo o que estava ao meu alcance.

Ficámos 7 meses em que não conseguimos engravidar. Chorava quase todos os dias. Já tinhamos passado por muito, 3 abortos, 7 meses de tentativas sem sucesso. Finalmente referenciados para PMA fomos a uma consulta, não ficámos satisfeitos com o que nos ofereciam, mais os tempos de espera.

A nossa médica de família e a minha psicóloga, a quem devo toda a minha sanidade, acharam que seria bom eu tirar uns tempos, ficar de baixa, descansar, tratar de mim, de nós. E assim foi.

“Não queríamos acreditar! Era um milagre!”

Fomos a mais umas clínicas no Porto. Ouvimos coisas como “o seu ovário está adormecido, provavelmente não irá funcionar este mês. O ideal é ovodoação.” Ok, conformados, aceitamos e decidimos “vamos avançar para tratamento. Vamos a Vigo! Falam tão bem de Vigo, que é lá que vamos” (sem querer desvalorizar todos os médicos que tínhamos em Portugal até agora).

Encontramos uma médica na IVI, a quem lhe agradecemos a calma que trouxe aos nossos corações. “O ovário está ótimo, funciona perfeitamente, tem aqui um folículo que rebentou ou vai rebentar, ainda podem engravidar naturalmente este mês.”

Maio 2024, esperava ansiosamente a menstruação para começar a estimulação para FIV, e esta nunca mais chegou. Atrasou um dia, dois dias, e eu não aceitava. Fomos para Cristelo, para estar mais perto de Vigo, com as injeções atrás (se alguém precisar, ou souber a quem eu possa doar, tenho as injeções no frigorífico e não vou utilizar), e continuava sem chegar. Acreditava que era a minha cabeça a atrasar todo o processo. O meu marido dizia que era bom sinal, mas eu não acreditava.

Tinha um teste em casa, mas não o quis fazer, não queria gastar dinheiro. Até que uma amiga, médica, me liga e pergunta como está a correr o tratamento. Quando lhe conto o que se está a passar ela “obriga-me” a ir fazer um beta. Deu positivo, 80 e qualquer coisa… Não queríamos acreditar!!! Era um milagre! “Impossível. Como assim agora? É desta! Não há como, é o destino!”

Fizemos beta de semana em semana, ecografia de 15 em 15 dias, vesícula vitelina, depois embrião, depois coração… É desta!!! Só pode ser.

Às 11 semanas fazemos as análises do 1o trimestre. Uma médica amiga pergunta se queremos fazer uma eco para confirmar as 11 semanas e fazer o trust, e nós pensámos “porque não?”

Embrião ainda de 10 semanas, é normal, mas… Translucência nucal aumentada. A médica tenta suavizar “é sinal de anomalia, mas é muito cedo, pode ser do crescimento, pode desaparecer”.

Às 13 semanas, estamos em Madrid de férias, um ligeiro sangramento. Não sabemos se podemos voltar pois estamos de carro e o repouso poderia ser o mais indicado. Vamos às urgências. Hospital La Paz. Pessoas incríveis e nós confiantes de que seria apenas mais um susto.

Ecografia, bebe sem batimentos, o nosso chão desaparece. Abraçamos, choramos, ouvimos a médica. Voltámos para o Porto. O nosso bebe morreu. O nosso primeiro bebe.

Ligámos aos nossos médicos, fomos diretos para o CMIN onde já estavam à nossa espera e onde nos explicaram todo o processo e nos garantiram que seríamos bem acompanhados. 

A minha psicóloga recebeu-me de urgência nessa noite.

Voltámos no dia seguinte para iniciar a medicação da indução do aborto, horas que nunca mais passavam, dores que não são possíveis de descrever e naquele caos penso: “amor para além da lua, eu preciso de partilhar a nossa história, eu preciso que acreditem que é possível e que acontece”. Enviei uma mensagem nesse dia, nesse momento. Eu precisava disso.

O meu marido não me largou um segundo, a minha mãe, o meu pai, os meus irmãos, os meus sogros, os meus cunhados, as nossas famílias e amigos, todos sempre connosco.

O nosso bebe saiu. 4 centímetros de gente. Com tudo. Pernas, braços, mãos, olhos, tudo. 4 centímetros de gente. O nosso primeiro bebe.

Despedimo-nos dele, despedimo-nos da maternidade no dia seguinte, despedimo-nos de mais uma luta, mais um desafio, com o coração cheio de todos os profissionais que nos acompanharam, de todos os amigos, família, conhecidos, etc etc etc. de toda a gente que se emociona com a nossa história e acredita em nós.

Despedimo-nos do nosso bebe com a certeza que foi ele que nos fez acreditar, foi ele que nos fez confiar e é ele que um dia vai dar vida aos seus irmãos.

Sabemos disso, temos a certeza disso. E queremos que tu também tenhas, tu que nos lês! E finalmente, bola para a frente, mais vez…

Joana e Miguel

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Informação útil Perda gestacional Perda precoce

O Amor para além da Lua apoia a investigação em Portugal sobre a perda gestacional, que é tão necessária.

Por essa razão, divulgamos um estudo que está a ser desenvolvido na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e deixamos toda a informação a quem nele pretenda participar.

Participar na investigação em ciência é também uma forma de ajudar a encontrar respostas para as causas da perda gestacional e, quem sabe, no futuro, evitar que outras mães passem por esta dor indescritível.

Estudo sobre a perda recorrente de gravidez

O estudo em questão abrange a perda recorrente de gravidez, ou seja os abortos de repetição. Consiste em abortamentos espontâneos em duas ou mais gestações consecutivas até às 24 semanas, nas situações em que não existe uma causa identificada.

A perda recorrente de gravidez afeta cerca de 5% das mulheres grávidas em todo o mundo e estima-se que cerca de metade dos casos permaneçam sem explicação. Uma equipa de investigação da FMUP, da qual fazem parte as cientistas Sofia Dória e Diane Vaz, está a explorar a possibilidade de estes abortamentos estarem relacionados com a expressão anormal de determinados retrovírus endógenos em células do endométrio, comprometendo o seu normal funcionamento e a produção de hormonas e nutrientes de suporte à gravidez.

Segundo Sofia Dória, professora da FMUP, “se os retrovírus e a disfunção endotelial estiverem efetivamente relacionados com a perda recorrente de gravidez, este estudo poderá sugerir novas abordagens na avaliação e seguimento dos casos de mulheres com esta doença que impede o sucesso da sua reprodução”.

Estudos preliminares mostraram que, comparativamente com as mulheres saudáveis, estes retrovírus têm uma menor expressão no endométrio em mulheres com perdas recorrentes de gravidez, o que indica que estas famílias de retrovírus “devem ter funções vitais no endométrio, devem estar comprometidas e devem, por sua vez, causar estas perdas”, conclui a investigadora.

Recrutamento no âmbito do estudo

Recrutamento mulheres com perdas recorrentes de gravidez

Para o estudo, as investigadoras da FCUP estão a recrutar mulheres com perdas recorrentes de gravidez, tendo em conta os seguintes critérios:

  • Perdas de 2 ou mais gravidezes de 1º trimestre;
  • Ausência de gravidezes de sucesso, casos estudados e de causa desconhecida
  • Idade até aos 45 anos.

Recrutamento de mulheres saudáveis para grupo de controlo

Para além disso, para avançar com esta investigação, a equipa da FMUP está também a recrutar:

  • mulheres saudáveis, em idade reprodutiva
  • sem história de abortamentos recorrentes
  • com pelo menos um filho.

Não será realizado qualquer teste invasivo, sendo apenas solicitada a colheita de amostras de fluido menstrual.

Estas amostras, que serão obtidas através de um copo menstrual disponibilizado gratuitamente, permitirão comparar células epiteliais do endométrio de mulheres saudáveis com células do endométrio de mulheres que sofreram perdas recorrentes de gravidez.

Estas últimas serão obtidas através da colaboração com o serviço de Obstetrícia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).

Além dos investigadores do serviço de Genética da FMUP, e do serviço de Obstetrícia do CHUSJ, este projeto conta com o envolvimento de cientistas do Centre for Genomics and Child Health, Blizard Institute, Faculty of Medicine and Dentistry, Queen Mary University of London (QMUL), no Reino Unido.

Mais informações sobre o estudo | Contactos caso haja interesse em participar

Contactar:

Diane Vaz
910428935 ou doutoramentoprojeto@gmail.com

[Atualizado a 20/09/2024]

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Testemunhos Testemunhos Perda Tardia

Posso resumir a minha história… em 2006 tive o meu primeiro bebé. Eduardo de seu nome, nasceu parto normal pélvico com 37+5, no dia 15 de outubro. Mas nasceu morto. Morreu nesse domingo de manhã. Pouco tempo depois em 2008 nasceu a primeira bebé arco-íris!

Mafalda nasceu dia 20 de junho às 38+1 por cesariana e correu tudo bem. Uma adolescente traquina e maravilhosa como todos os nossos filhos. Agora, em 2023, nasceu a Margarida em 09 de Agosto com 39 semanas e por cesariana. Uma gravidez com anemia, diabetes e pré-eclâmpsia.

A Margarida nasceu e, assim que saiu dentro de mim, passado uns horríveis 45 minutos vieram dizer que ela é deficiente visual. Caiu tudo ao chão.

A Margarida tem duas doenças raras e uma delas causou mal formação ocular e ela é cega. Hoje com 8 meses não é fácil aceitar.

É um luto por não ter a filha perfeita e tão desejada. Mas à nossa maneira tentamos fazer com que ela seja o mais feliz possível.

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Testemunhos Testemunhos Interrupção Médica da Gravidez

Para o meu bebé


Descobrimos a gravidez dia 28 de novembro de 2023. Foi o dia mais feliz da minha vida.

Desde então os meus olhos irradiavam felicidade. A 18 de dezembro ouvimos pela primeira vez o teu pequeno coraçãozinho e tinhas como DPP 18/08/2024.

Anunciamos a gravidez à família na noite de Natal e tudo corria bem até ao dia 8 de fevereiro em que, numa ecografia de rotina detectaram um problema no teu coraçãozinho e depois de vários exames veio o diagnóstico “Triploidia – Incompatível com a vida”.

Lembro-me do desespero de nada poder fazer para ficar contigo. Achei que seria um pesadelo, mas não era.

Interrompi a gravidez dia 20/02/2024 com 14 semanas e 2 dias. Nasceste às 21h30. Foi o pior dia da minha vida. Desde então sinto um vazio e uma angústia que poucos entendem.

Só quem passa sabe do que falo. Para os outros não existes mas para mim exististe e existirás para sempre.

Continuas a ser o nosso bebé, o nosso primeiro bebé. Lembro-me de ti a toda a hora. O tempo passa e a saudade aumenta. Ficarás infinitamente no meu coração e serás para sempre o nosso primeiro filho.

Fui a pessoa mais feliz do mundo enquanto te tive só para mim, dentro de mim onde ninguém te faria mal. Agora olho para o céu e vejo-te na estrela mais brilhante. Sei que estás a olhar por nós.

Amo-te daqui ao infinito, meu bebé.