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Gravidez pós-perda Testemunhos arco-irís

Cátia M.

Perdi o meu primeiro bebé em Janeiro de 2021, às 7 semanas.

Soube, desde o primeiro momento, que a minha dor só iria diminuir quando conseguisse cumprir o meu desejo de ser mãe, pensamento um pouco egoísta, talvez, porque o meu arco-íris não substitui o meu primeiro bebé.

Dois meses após a perda, começámos a tentar, mas a minha própria pressão era tanta que não me deixava conseguir engravidar. Passaram 7 meses e o meu positivo não chegava.

Ao oitavo mês, decidi desistir e deixar nas mãos de quem me dá sentido à vida decidir se eu ia, ou não, ser mãe. Nesse mês, engravidei.

Outubro de 2022.

O meu namorado soube primeiro que eu, insistia que eu estava grávida mas eu nem queria fazer o teste. Tive um atraso, testei e o positivo estava lá. Não quis acreditar.

A primeira coisa que disse ao meu namorado foi: “Não me quero mexer. Não quero fazer nada que me possa fazer perder o bebé”. Foram 9 meses muito intensos, com indícios de pré-eclâmpsia, com paralisia facial, com um aumento excessivo de peso e com muita, mas muita ansiedade.

No final correu tudo bem. A minha bebé está aqui, linda e a mostrar-me que o amor existe. Trouxe um bónus, uma manchinha no pulso, onde eu também tenho uma, em forma de coração. Cada vez que olho para ela, tenho a certeza que o irmão ou irmã, a enviou e enviou com ela a mensagem mais bonita de amor que existe.

Esse bebé não está cá, mas é meu filho e amo-o como amo a minha arco-íris e ele retribuiu-me esse amor.

Não deixem de acreditar. O que é nosso volta sempre e, se não voltar, fica o amor no coração.

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Gravidez pós-perda Infertilidade Testemunhos arco-irís

Abraça-me até sempre!

Senti que tinha que deixar isto escrito antes do meu filho nascer!


E prometo um dia escrever-vos a história do nosso caminho até aqui…

Estou talvez a dias ou horas de conhecer aquele que foi o meu/nosso sonho durante muitos anos, desejar tanto um filho e não conseguir… Um sonho tão grande, que não passava disso, um sonho tão bom que ao mesmo tempo era tão duro…

Muitos anos a viver um sonho tão grande de mãos dadas com a In(Fertilidade). Um caminho tão longo, tratamentos falhados, perdas, muitas, muitas lágrimas, mas com o sentimento seguro de que um dia haveria de ser dia!

E não é que o arco-íris acabou mesmo por brilhar?
O que é para ser nosso, acaba por chegar. Lutem, não desistam, acreditem muito. Se foi fácil? Não! Mas quem percorre este caminho sabe que, quando a vitória chega, não há nada que pague este AMOR ❤️
E O AMOR VENCE TUDO!

Só quando tiver o meu filho nos braços vou ter a certeza de que isto é mesmo real…

Termino estas palavras com uma Gratidão gigante por poder estar a viver esta fase da nossa vida.
Nunca me esqueço de todos aqueles que continuam a percorrer este caminho: um abraço de coragem e ACREDITEM, ACREDITEM MUITOOOO.

Com muito carinho por todos vós:

“Abraça – me até sempre”

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Ana V.

Era o mês de Outubro de 2021 e os sinais que uma alma estava próxima a chegar foram aparecendo!

Eu sabia que Novembro e Dezembro iam ser meses a evitar para engravidar, para as datas não se cruzarem com as datas que pertenciam à Maya!

O tempo foi passando e os sinais eram cada vez mais intensos. Um dia, em pleno inverno, passeava o cão e vi 3 cegonhas! Pensei: cegonhas no inverno não parece muito normal, acredito que a cegonha vai chegar em breve, mas na minha mente pensava que começava a tentar após Janeiro de 2022.

A verdade é que neste dia eu devo ter engravidado. Testes de ovulação todos negativos, alguns problemas urinários… gravidez não era de todo uma possibilidade! A verdade é que no dia 25 de Dezembro acordei com um sentimento muito forte de que estava grávida. Parecia até contraditório, porque não queria ter engravidado naquele período, mas dentro de mim algo me dizia que estava grávida. Nessa manhã fiz um teste que se mostrou negativo e eu desabei a chorar e no fundo nem sabia bem porquê! O tempo foi passando e a menstruação estava atrasada, nada normal em mim. Dia 30/12/2021 resolvi fazer um teste e, qual o meu espanto, quando vejo o positivo. Em todas as outras 3 gravidezes o teste deu positivo mesmo antes do atraso da menstruação. Não foi o caso desta.

Fiquei em negação durante quase um mês, primeiro porque percebi que as datas iam ficar muito próximas e também com medo que os abortos se repetissem! Só quando fiz a primeira ecografia é que caí em mim!

Foi uma sensação única, os medos eram arrebatadores, mas a esperança de que desta vez tudo correria bem era mais forte. Em Fevereiro, com 10 semanas, fomos passar férias em Portugal e o nosso mundo desabou: uma perda de sangue monstruosa aconteceu (verdadeiramente pior do que os dois abortos que eu já tinha tido). Dei entrada na maternidade e a médica ao ver tanto sangue e ao saber o histórico, tentava encontrar as palavras para, se calhar, me dar mais uma má notícia. Pedi que fosse rápida (com o tempo ficamos calejados com as más notícias), até que a Dra disse que ia fazer uma ecografia vaginal e, qual o espanto dela, quando o meu bebé mexia no seu ninho, feliz da vida!

Então, com esperança o tempo foi passando e este arco-íris foi ganhando espaço na minha barriga. Ela foi aumentando, ele começou a dar sinais e uma conexão começou a criar-se!

Nunca soubemos bem o que aconteceu, mas a verdade é que este ser continuou agarrado à vida, agarrado a nós… fiquei de repouso para garantir que podia voltar para casa. Voltamos a casa e duas semanas depois fizemos a primeira ecografia, que mostrou que tudo estava bem com o nosso bebé. Então, com esperança o tempo foi passando e este arco-íris foi ganhando espaço na minha barriga. Ela foi aumentando, ele começou a dar sinais e uma conexão começou a criar-se!

Nem todos os dias foram fáceis, mas aceitei sempre as minhas emoções, permitir-me senti-las e extravasá-las sempre que necessário! O tempo foi passando, e com medo não queria preparar o quarto, mas a minha enfermeira e a psiquiatra foram-me recomendando começar a avançar aos poucos. Que depois no pós-parto ia ser mais difícil! Lá ganhei coragem e comecei.

Segui as recomendações: as roupas fui lavando e mudei o cheiro dos produtos para a intenção passar a ser outra (o cheiro da Maya será para sempre o cheiro da Maya) e este seria o cheiro para este bebé! Lavei roupas, organizamos o quarto, tudo foi fluindo, mas também houve momentos de emoções elevadas e de muito choro. O medo de voltar a entrar em casa de braços vazios invadia-me. Permitimo-nos avançar nesta montanha russa, de incertezas, medos, angústias e amor!

Tudo foi avançando e as semanas foram passando. O meu bebé que, tamanha era a conexão, que reagia até ao pensamento, diga-se de passagem, que o bebé arco-íris sente tudo muito mais. Preparámos um plano de parto, ao qual eu ainda pensava na tentativa de um parto normal após a cesariana da Maya (às 37 semanas fiz uma ecografia para analisar a minha cicatriz e tudo indicava que se o bebé assim entendesse podia ser normal). Mas o nascimento de um bebé não é só nosso e o pai tem um papel importante também…no nosso caso, o pai não se sentia confiante com o parto normal. Afinal havia todo um passado…

Acabei por ceder e marcamos uma cesariana… mesmo assim entre a espera ainda tive uma consulta e tentaram-me fazer o descolamento das membranas sem sucesso. Tudo apontava que o mais seguro para este bebé chegar era mesmo por cesariana!

Assim foi, no dia 29 o nosso bebé surpresa chegou. Com ele descobrimos que o nosso mundo teria muita cor…descobrimos também que passaríamos a ser pais de um menino…e após este dia eu aprendi a viver com um bebé nos braços e outros no coração.

O Adam sabe e saberá que para nós ele é o nosso 4º filho, mas o primeiro que trouxemos para casa, o primeiro que se comprometeu a fazer esta caminhada terrena connosco!

É uma benção ter este arco-íris connosco após todas as tempestades! Nada é por acaso e no momento certo tudo chega em tempo divino… com carinho, abraço cada um de vocês pais e mães de colo vazio, mas que em breve acreditem, terão o vosso arco-íris.

Ana, mãe do arco íris Adam
Abelhinha Maya e
Anjinhos Jonas e Ayam

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A Clara.

A Clara chegou ao mundo a 4 de Janeiro depois de um parto de mais de 40 horas.

Tal como toda a gravidez, foram as horas mais lentas e mais rápidas da minha vida. Não vou mentir, não foi uma gravidez fácil. Aliás, começou com uma visita ao hospital, por causa de um sangramento e com más notícias: “Claudia, prepara o coração que esse bebé também não vai ficar. Os teus níveis estão muito baixos. Para a semana, quando fizeres o teste de novo, já confirmamos a não evolução com um negativo”.

Eu já estava preparada, afinal, o meu arco-íris não tinha ficado e uma pessoa quase que se habitua a receber más notícias – enfim, perda era tudo o que conhecia!

O teste veio positivo, em segundos. Mas tinham-me avisado que podia acontecer e, se fosse esse o caso, para esperar 3 dias, refazer e se ainda fosse positivo, voltar ao hospital.

Os positivos continuaram a aparecer e eu, com a ânsia, até fiz daqueles electrónicos e as semanas subiram.

Na consulta confirmou-se: má datação inicial, bebé de 7 semanas, coraçãozinho a bater. Eu fiz aquele caminho até casa 2 vezes sozinha. Em ambas tive de dar as más notícias ao meu parceiro. Esta foi a primeira vez que as lágrimas eram de felicidade.

Por ter perdido a Charlie tarde na gravidez, fui seguida muito de perto com ecos regulares e várias consultas. O resto da gravidez, felizmente, foi tranquilo. O meu estado emocional, por outro lado, foi uma montanha russa. Um dia de cada vez. Como forma de proteção, não partilhei a gravidez com quase ninguém e, quando o fiz, foi em fase bem avançada.

Quando o coração de um bebé deixa de bater dentro de nós sem motivo, aprendemos que não há rede de segurança em nenhuma fase da gestação e nada que garanta que vá correr bem. É aceitar o medo, a falta de controlo e seguir, esperando o melhor e preparando-nos para o pior. Mas eu também sabia que ela merecia ser celebrada. Quando passei as 25 semanas, mentalizei-me que ia ter de a conhecer, quer corresse bem ou mal, e por isso, já contava que o coração ia sofrer se ela não ficasse; não havia nada que me salvasse disso.

Houve muitas coisas que fiz diferentes, aliás, eu queria e precisava que fosse diferente, porque semelhanças, na minha cabeça, indicavam uma repetição do desfecho. É importante ter mecanismos de cooperação. Não que eles impeçam os medos ou os dias de saudade e choro, mas precisamos de aproveitar os bons e acreditar, nesses dias, que vai tudo correr bem. Por isso, se se encontrar a fazer qualquer coisa que possa parecer estranha mas que esteja, de alguma maneira, ligada à gravidez, é normal. É um dia de cada vez. É respirar e pôr um pé em frente do outro. Muitas vezes, é esperar que aquele dia acabe.

Mas, nos dias bons, se conseguir, aproveite. Nós culpamo-nos de não fazermos memórias suficientes com os bebés que perdemos e, por medo, acabamos por fazer o mesmo – mas mesmo sem recordação física, o bebé existiu e somos a mãe dele.

Tudo o que vos desejo, é que sintam o alívio, o amor, o quentinho, o cheirinho e a felicidade que eu senti quando a Clara chegou.

É estranho como ela nos pertence, mesmo quando penso que, se calhar, se a Charlie tivesse ficado, ela não teria chegado. E isso parece-me tão errado como a perda dos meus 2 bebés.

A todos nesta viagem, cuidem de vocês, procurem apoio e aproveitem como conseguirem, prometo que vale a pena!

Claudia.

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Ana S. S.

Perdi o meu Tiago no dia 20 de Janeiro de 2021. Um bebé muito desejado, depois de vários anos de tratamentos de fertilidade. Foi muito duro e por várias vezes me veio à cabeça a ideia de que ser mãe não era para mim, parecia que não estava destinado.

O medo invadiu o meu coração. Procurei ajuda psicológica, fiz reiki, entre outras terapias, que me ajudaram a aceitar aquela perda.

Quando pude comecei novamente com as transferências de embriões. Cada negativo era um murro no estômago, vinha novamente o medo e a dor.

Foram 4 transferência negativas. As forças começavam a faltar. Mas, no fundo, não queríamos desistir. Cada sinal que recebia me “dizia não desistas”. O arco-íris estava lá para mim. Até que decidimos fazer uma última transferência; o embrião que supostamente era o mais fraquinho de todos e veio o positivo. Um valor muito baixo que ninguém acreditava que ia vingar. Mas vingou e hoje tenho uma bela princesa nos braços.

Não foi uma gravidez fácil. Toda aquela inocência acabou. Tudo era medo. Tudo era um problema. Não foi uma gravidez onde aproveitei para tirar fotos, para mostrar a barriga. Afastei-me de tudo que me fizesse pensar que poderia correr mal e confiei que o universo ia ser generoso comigo.

Como perdi o meu Tiago às 37 semanas, imaginem o final da minha gravidez… super ansiosa. O medo de ela parar de mexer era tanto. O trauma do dia em que soubemos que já não tinha batimentos….

Ela não quis esperar pelas 37 semanas e decidiu romper a bolsa num domingo à noite, dia 20 de Novembro de 2022. Curiosamente no dia do irmão (20).

Nasceu às 36+3 cheia de saúde e linda.

Isto tudo para passar a mensagem a quem, assim como eu, perdeu um bebé e está a tentar outro: Não desistam, o caminho é longo e duro. A luta contra a infertilidade é difícil. Mas acreditem no amor. Acreditem em vocês. 

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Gonçalo – o meu arco-irís

Em dezembro de 2022 faz um ano que eu vivi um dos momentos mais duros e um dos momentos mais felizes da minha vida. No dia 1 de dezembro tive a confirmação de gravidez – o tão desejado positivo.

Antes, já tinha levado com um teste negativo e desilusão. Daquela vez, era mesmo: voltava a ler “grávida” no teste. Um misto de esperança e de muito medo no meu coração! Fui ter com o médico que nos fez o diagnóstico do Feijãozinho e que sempre quisemos que nos acompanhasse numa gravidez arco-irís e que nos desse boas notícias.

E assim foi! Ainda em tempos de Covid, como entrei pelas urgências, tive de ir sem o meu companheiro. Estávamos ambos muito ansiosos! Fiz ecografia e fiquei novamente sem chão, sem palavras e no vazio…

“Renata, não vejo bebé. Só tem o saquinho”, disse-me o médico. Vi, nos olhos do médico, empatia e cuidado. Partilhou a nossa tristeza. Estava, pensava eu, com 6 semanas de gestação. Saio em lágrimas das urgências e o médico disse para voltar na semana seguinte. O meu conforto: “eu ajudo-te, não te preocupes, eu não te deixo sozinha” – disse-me.

E assim foi. Voltei na semana seguinte, mais do que convencida que ia perder o meu bebé…foi o meu mecanismo de defesa: preparei-me logo para o pior e enchi-me das forças que podia, depois de sair do hospital lavada em lágrimas. Regresso nessa semana preparada para o pior e eis que ouço o entusiasmo do médico! Com um sorriso me disse que tinha havido certamente um erro nas semanas. Afinal, nessa semana é que fazia as 6 semanas e daí na semana anterior não haver bebé.

Que felicidade, que alívio! Partilhámos as boas notícias por videochamada! Continuava a esperança no arco-irís! Dezembro não começou bem e estava a ser difícil, mas depois as boas notícias aqueceram-nos o coração. A medo, “escondemos” a gravidez o máximo que conseguimos, tentando contar o mais tarde possível, até mesmo aos familiares mais próximos.

Foi desde o início uma gravidez muito vigiada e muito protegida! Estive com medo o tempo todo! Continuei a ser acompanhada pela psicóloga e psiquiatra, excelentes profissionais que guardarei no coração para todo o sempre.

Antes de cada ecografia, invadia-me uma enorme ansiedade. Um medo irracional até do que não tinha vivido e um ataque de choro antes da ecografia do primeiro trimestre. Mais tarde, seguiu-se a ainda mais temida morfológica, a maldita ecografia que ditou o diagnóstico do meu Feijãozinho. Fomos muito a medo…fizemos as ecografias a dobrar e foi com um alívio que ouvimos dar-nos as boas notícias que tanto desejávamos: “este bebé não tem um único defeito! Tem tudo para correr bem!”. Depois desta ecografia, escolhemos o nome dele e permitimo-nos sonhar e sonhamos!

Eu, que pensava que não ia conseguir ligar-me ao bebé emocionalmente para evitar magoar-me, que pensava que não seria capaz de me permitir amar desde o princípio, apaixonei-me perdidamente. Agarrei-me a ele com todas as forças, dei-lhe muito amor durante a gravidez, falei para ele – fiz tudo o que não pude fazer com o Feijãozinho.

A gravidez arco-irís foi uma luz na minha vida, fez-me voltar a ser feliz, mas não me devolve nunca o que perdi. Antes pelo contrário, mostrou-me tudo o que não pude viver, tudo o que me tiraram desde a interrupção médica…

Decidi, nesta gravidez, que independentemente de qual fosse o desfecho, iria dar-lhe todo o amor e aproveitar. Seria sempre mãe dele! E consegui aproveitar! Não vou mentir: foi estranho e ainda hoje é estranho ser feliz e conseguir permitir-me a ser feliz! Foram 2 anos difíceis de espera, de angústia, de exames, de perdas (não só do Feijãozinho, mas de pessoas e outras partes de mim). Mais para o fim só queria ver o meu menino cá fora, ouvi-lo chorar, tê-lo nos braços!

Não posso também esquecer a força e apoio que tive desde o início de profissionais de saúde maravilhosos: enfermeiras e médicos! A enfermeira que me segurou a mão num dos meus piores momentos deu um enorme abraço quando me viu grávida na consulta!

Enfim, o melhor dia para casar foi o melhor dia para nascer: com vida, com amor para esperança! Uma gratidão imensa!

Agora ouço “custou, mas foi”, como se o Feijãozinho tivesse sido uma tentativa falhada! Mas foi amor, foi força e é e será sempre o irmão mais velho do Gonçalo! O meu primeiro filho!

Não percam a esperança, peçam ajuda, rodeiem-se de uma boa rede de apoio e de boas pessoas e profissionais!

Renata Silva

Mãe do Feijãozinho e do Gonçalo

1 de dezembro de 2022

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Helena

Tenho 2 filhos e são ambos bebés arco-íris!

A situação mais difícil foi a minha segunda perda em 2020, às 17 semanas, depois de uma 1ª eco normal e um teste Harmony sem problemas.

Em 2021 voltei a engravidar porque não havia motivo aparente nem doenças diagnosticadas (às vezes preferia que tivesse havido…) mas às 9 semanas o sonho acabou .

Posso dizer que só tenho neste momento um bebé de 2 meses no colo porque o médico que encontrei se mostrou otimista desde a primeira consulta, caso contrário teríamos desistido.

Esta gravidez foi uma montanha russa de sentimentos, sendo o medo o principal. Por exemplo, só contámos a novidade quando já não era possível esconder. Com apoio psicológico, a determinada altura percebi que não era justo para nenhum de nós, bebé incluído, fazer de conta que não estava a acontecer nada. Era uma vida nova e merecia ser celebrada como tal!

Mesmo assim, agora que passou, arrependo-me de não ter tirado mais fotos, guardado mais lembranças… O mais provável é ter sido a minha última gravidez e ficou uma grande nostalgia. 

Apesar de tudo é uma história com final feliz!

Desejo todo o amor e compaixão a quem esteja a passar ou tenha passado pelo mesmo.

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Goreti

Estive grávida 5 vezes. Na primeira gravidez (2012,) o sonho durou apenas às 7 semanas. A segunda gravidez teve sucesso. Embora tenha tido ameaça de aborto com perdas de sangue às 6 semanas, com repouso e progesterona, chegamos às 41 semanas. Nasceu então a minha bebé arco- íris a 7 de janeiro de 2014.

A terceira gravidez (2019) tive um aborto espontâneo às 10 semanas. O choque foi ainda maior do que da primeira perda. Primeiro, porque sempre pensei que era só fazer a medicação e ia correr tudo bem, nunca pensei que ia correr mal. E depois também porque já tinha dito à minha filha que carregava um bebé na minha barriga.

Foi um turbilhão de emoções enorme. Saí do hospital sem qualquer apoio. O meu ginecologista, na revisão, passadas 5 semanas, só me soube dizer que podia tentar de novo, quando o que eu esperava ouvir era “vamos fazer exames” porque o meu coração me dizia que algo se passava. Perdia sempre sangue às 6 semanas e era sempre com o mesma intensidade. Mas, como não ouvi isso, saí porta fora sem tão pouco dizer que era isso que eu pretendia.

Na consulta da médica de família o discurso foi: “ainda bem que o seu corpo eliminou, é sinal que está a fazer bem o trabalho dele, porque quando há estas perdas é porque há um defeito do óvulo ou do embrião.” Eu aí ainda disse que na gravidez anterior tinha perdido sangue com as mesmas semanas, nasceu e é perfeita e saudável e que o melhor era vermos porque tinha de haver uma justificação”. Não mandou fazer nada porque, segundo o protocolo, só se investiga após a 3ª perda consecutiva.

Fiz uma pausa. Uma colega recomendou falar com uma pessoa que talvez me ajudasse a encontrar um médico que investigasse e assim foi. Arranjei uma consulta no Porto e o tal médico disse que apenas em 5% dos casos se descobrem as causas. Fizemos o cariótipo do casal, estava tudo ok, eu fiz mais análises que estavam todas dentro do normal. Então o médico recomendou que, numa futura gravidez, fizesse aspirina, assim como progesterona e foi descoberto que tenho o útero bicórneo.

Uma vez que as análises estavam todas ok e o Porto fica longe de Viseu, onde vivo, comecei de novo a sondar as pessoas; quem as acompanhou, etc., pois queria tentar um médico por cá, que concordasse com o que o do Porto me mandou fazer e aceitasse acompanhar-me numa futura gravidez. Uma senhora, minha conhecida, recomendou-me o seu médico e, pelo relato dela, a minha intuição disse “marca consulta”. Fui a essa consulta, o médico concordou com a recomendação do médico do Porto e teve interesse em ver os exames todos desde que quis ser mãe. Olhou para eles como nenhum outro tinha olhado. Os que não tinha comigo enviei depois.

Finalmente, em finais de 2020, senti-me preparada para tentar de novo mas desta vez com muito receio. No início de 2021 descubro a minha quarta gravidez. Mal descubro que estou grávida, uma colega fica contaminada com covid-19. Eu vim logo para casa por prevenção, mas passado 10 dias os sintomas aparecem e testo positivo. Passadas 2 semanas tenho aborto espontâneo…

Na consulta após o aborto, o médico disse que, apesar eu ter antecedentes, quer acreditar que este aborto esteja relacionado com a covid. A sugestão que me deu foi fazer mais um par de análises e, se tudo estiver bem, tentar novamente sabendo que corro o risco de ter novo aborto espontâneo ou, então, avançar para a correção do útero. Aí, teria de aguardar mais tempo, mas que a escolha seria minha. Ele faria o que eu optasse.

Ele disse que se eu não tivesse uma gravidez com sucesso, ou este aborto não tivesse coincidido com o facto de eu ter estado infetada com covid -9, nem me dava a escolher – a opção seria avançar para a correção. Mais uma vez sigo a minha intuição, que me dizia “faz as análises e acredita”, e assim foi. Fiz mais exames a nível particular; sempre, pois nunca tive apoio a nível do SNS. Mal envio o resultado por e-mail, o médico responde: finalmente encontramos o que tanto procuramos, a “causa”. Tenho uma trombofilia. A minha é défice de proteína S.

Marquei então consulta para entender um pouco melhor do que se tratava, e então o médico disse logo que mal engravidasse teria de fazer injeções lovenox, às quais dei o nome “piquinhas de amor”.

Em Outubro de 2021, descubro que estou grávida e iniciei logo as injeções. Tive uma gravidez maravilhosa, com as coisas normais de qualquer gravidez.

No final começou a reduzir o líquido e o meu médico decidiu, muito bem, provocar o parto. Digo muito bem porque depois me disseram que a placenta tinha um hematoma. Os outros médicos sempre disseram que estava tudo ok, enquanto o meu (anjo na terra) dizia “vou apertar a vigilância, vamos ver se aguentamos até as 37 semanas”.

Aguentamos e sinto que a minha filha esta cá graças a ele e à minha insistência.

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Anunciar uma gravidez a alguém que perdeu um bebé

anunciar a gravidez a alguém que perdeu um bebé

Uma das conversas mais desafiantes que se pode ter com uma família que perdeu um bebé é anunciar uma gravidez a esses pais. De repente, pensamos no que vamos dizer, como o vamos fazer e quando iremos partilhar. Não é fácil anunciar uma gravidez a alguém que perdeu um bebé e, a pensar nisso, decidimos escrever este artigo.

Saiba que são sentimentos semelhantes. Quer sejamos pais que tenhamos perdido filhos, quer sejam amigos ou familiares que nunca passaram por uma perda, há um receio em contar, um medo de magoar os pais, anunciando algo que, infelizmente, para eles não correu bem, um lembrar do que aconteceu que poderá trazer tristeza.

Deste modo, a pensar nas famílias cujos bebés morreram ou que batalham a infertilidade, esperamos que estes conselhos ajudem a dar esta notícia, que poderá sentir ser agridoce, da forma mais sensível possível.

Assim, a primeira coisa que gostaríamos de dizer é: conte-nos… sempre. Não tenha medo, se há alguém que vai estar ansiosa à espera que corra tudo bem e a enviar energias positivas somos nós, pais que sabem o que é vir para casa de braços vazios É que, apesar de ser algo solitário, que sabemos que acontece e estarmos preparadas para acolher, ninguém vai fazer de cheerleader melhor que nós. Nós queremos esse bebé aqui, vivo e saudável, tanto como os pais e não nos contar, com medo que nos magoe, só vai agravar o sentimento de isolamento que sentimos.

No entanto, temos plena consciência que é um tema difícil e esperamos que os próximos conselhos ajudem.

Como anunciar a gravidez a alguém que perdeu o bebé

Se puder, avise-nos antes de publicar nas redes sociais

Claro que isto depende do nível de intimidade e amizade que tem com a pessoa – esta lista é a pensar em pessoas próximas, envolvidas na nossa vida. Por isso, antes de anunciar ao mundo, avise-nos. Não é por mal, mas, dependendo de onde estamos no nosso luto, ver publicações destas podem tornar o nosso estômago num nó. É involuntário, mas depararmo-nos com estas publicações, desta forma abrupta, faz-nos pensar no que perdemos, podendo deixar-nos fragilizadas. Assim, saber de antemão vai oferecer a oportunidade para nos prepararmos ou evitarmos ver essa publicação.

Se puder, evite fazê-lo cara a cara

Pode soar estranho e é de louvar a honestidade de uma conversa assim. Mas considere que nos vai pôr no foco – quando ouvimos uma notícia destas podemos, mesmo sem querer, ser assaltados por emoções desconfortáveis. Então, temos de processar e reagir rapidamente e esta digestão acelerada e podemos dizer ou fazer algo que o vai magoar por não mostrarmos o entusiasmo adequado (e sim…esta é uma preocupação válida!).

Envie uma mensagem

Nós sabemos: parece uma forma impessoal de dar notícias tão grandes. Mas permite-nos processar a informação, pôr em ordem sentimentos difíceis e compor uma resposta apropriada (ou até preparamo-nos para uma chamada celebratória).

Dê-nos tempo

Não leve a mal se demorarmos a responder. Afinal, precisamos de tempo para processar. Saibam que estamos felizes por vocês mas, ao mesmo tempo, incrivelmente tristes por nós, seja porque a perda foi recente, ainda deveríamos estar grávidas ou estejamos a tentar novamente sem sucesso.

Não leve a mal os nossos novos limites

Podemos não conseguir acompanhar a vossa jornada na maternidade. Chás de bebé, festas de revelação de género ou até compras para bebé podem ser experiências dolorosas para pais que perderam um filho. Não se ofenda: apenas estamos a proteger-nos e a não tornar esta vossa fase feliz mais sombria por nossa causa.

Prometemos que estamos felizes por vocês, mas também estamos incrivelmente tristes por nós

Apesar de tudo o que os pais de colo vazio possam estar a sentir, lembre-se que esta é uma fase lindíssima e feliz para si. Poderá notar que estes pais se retraem mais em eventos sociais, mas uma vez que processem o que está a acontecer, vão querer estar envolvidos na sua vida. Não deixe de os convidar mesmo que eles digam que não. O importante é manter o espaço aberto para acolher, apoiar e abraçar quando for a altura.

E obrigada por terem os nossos sentimentos em consideração!

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Gravidez pós-perda

Gravidez após a perda: 3º trimestre

Semana 28

Apoio para uma gravidez depois da perda

Olá, 3º trimestre! Estamos na última etapa desta gravidez depois da perda. Esta semana, o seu bebé pesa, oficialmente, 1 kg. Sim: um pacote de arroz ou de açúcar. Se vir outra mulher (ou homem) a embalar um pacote destes, já sabe, estão a testar o peso do bebé que aí vem.

Dependendo das condições da mãe, posição do pequeno ou placenta, se colocar um estetoscópio na sua barriga, vai conseguir ouvir o coração do seu rebento.

Esta semana, o cérebro do seu pequeno génio continua a desenvolver-se rapidamente e ganha as suas ‘dobras’. O seu bebé já deve ter uma rotina mais ou menos estabelecida de sono e já reage à sua voz, barulhos altos e luz exterior.

Ao entrar no terceiro trimestre, muitos pais têm dificuldade em confiar no seu corpo. Afinal, muitos ainda o culpam por uma perda anterior. Por vezes, esta desconfiança, leva a culpa ‘porque é que este bebé chegou aqui e o outro não?’, ‘será que foi algo que eu fiz?’ Isto é especialmente verdade para os pais que nunca souberam a razão da perda do bebé. Independentemente destes pensamentos, saiba que a morte do seu bebé não foi culpa sua. Foi, é, a melhor mãe que os seus bebés podiam ter e tanto a mãe como o seu corpo estão a fazer o melhor que podem para trazer este bebé ao mundo, vivo e saudável.

Eu permito-me apreciar a beleza e a alegria que esta gravidez me traz