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Ana Karolina

Não foi assim que imaginei que tudo terminaria, na verdade nunca imaginei que “chegasse ao fim”.


Todos os meus pensamentos, planos futuros, ou seja, toda minha vida já era sua.
Eu amei gerar você e passar quase 8 meses com você no meu forninho. Eu amava que podia aproveitar enquanto éramos só nós duas, amei cada descoberta, toda ansiedade antes das ecos, amei sentir cada pontapé seu… nossa, como eu amava isso, chegava a passar horas com a mão na barriga só para sentir você.

E o peso da barriga agora se tornou um vazio tão grande que se torna inexplicável, igual ao vazio que restou no meu coração e na minha alma. Dói minha filha, dói tanto não te ter aqui. As 16h de trabalho de parto não chegam aos pés da dor que sinto de não ter você em meus braços.
A cada contração que sentia era um misto de sentimentos, o desejo de que todos os médicos estivessem errados e que você estivesse bem, misturado com o medo e tristeza terríveis por saber que todo aquele esforço seria em vão.
Você foi desejada e muito amada, eu já sonhava como seria seu rostinho, sua pele, seu cabelo, e posso falar?! Você nasceu linda, eu juro que você superou minhas expectativas, veio igualzinha a uma boneca; branquinha, com o nariz perfeito, cabelo lisinho, bem cabeludinha, com os olhos puxados e a boca do seu papai (sim, a mesma que eu enjooei na gravidez).

Te carregar no meu colo daquele jeito e não poder fazer nada me deixa totalmente devastada!
Eu daria minha vida para você, te daria o meu respirar sem pensar nem um segundo.
Queria que você tivesse acordado, meu coração pedia por um milagre, mas Deus não quis assim.
Eu ainda não entendo e me pergunto se um dia isso será possível.
Mesmo sabendo que é errado eu acabo questionando. Como não questionar? Como não perguntar o porquê se a lei da vida são os filhos enterrarem os pais e não o contrário?
Fora os outros milhões de questionamentos que me vêm à cabeça.

Eu imaginava e sonhava em te ver aqui do meu lado no seu berço branco e não consigo acreditar que a realidade foi outra. Aquela cena nunca vai sair da minha cabeça, me entregaram você em um caixão branco e ao invés de te colocar em meus braços e te trazer pro seu lar, tive que deixar você em um cemitério. Meu Deus, como dói!!! A dor rasga a alma e me dilacera por inteiro.

Como seguir a vida? Como viver sabendo que você não teve nem chance disso? São tantas perguntas sem respostas.
O que eu sei é que não conseguiria passar por tudo isso sem o apoio do seu papai. Hoje tenho certeza de que é ele quem eu quero ao meu lado para viver até o fim da minha vida.

Filha, ele é incrível, e nesses dias difíceis não nos deixou nem por um segundo, segurou em minhas mãos e foi meu suporte para não desabar.
Não cabe a mim contar a experiência dele, mas eu sei o que vi.
Vi um homem se tornar pai, se preocupar e te amar incondicionalmente.

Queria que você tivesse tido a oportunidade de conviver com ele e de conhecer o ser humano lindo que ele é. Não me restam dúvidas de que ele seria o melhor pai do mundo pra você.

Saiba que você NUNCA, NUNCA será esquecida. Segure sempre nas nossas mãos e cuide sempre da gente aí de cima, minha Maria Clara.

Sigo aqui com meu luto, chorando sempre que necessário, lembrando de você a cada segundo e sonhando sempre em como seria nosso futuro juntas.


Sobre o luto, prometo a você que não vou me afundar nele, só preciso vivê-lo enquanto for necessário para amenizar a dor. Um dia de cada vez e em passos lentos, mas sobrevivendo.

Maria Clara Abrantes Barbosa.
27/12/2022 – 03:44 – 1.225kg

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Perda gestacional Perda tardia

Interrupção médica da gravidez: como, quando e porquê

A interrupção da gravidez por razões médicas é mais comum do que possamos pensar. Para além da enorme tristeza pela perda de um bebé, de um filho, tem por detrás uma terrível decisão por parte dos pais. É o choque do diagnóstico, o peso e a culpa de ter de assinar um papel, a espera por uma autorização médica – às vezes vários dias, a espera por notícias sobre o internamento, são os últimos momentos com o nosso bebé, de uma enorme angústia, frustração, desilusão. Assim é o tumulto da interrupção médica da gravidez. Se estão a passar por esta interrupção e nos dias de espera, esperamos, de coração, que este artigo vos possa, de alguma forma, ajudar e trazer algum conforto. 

Podemos sentir que, de alguma forma, o nosso corpo falhou. Perguntamo-nos porquê? Porquê a mim? Onde falhei? Em primeiro lugar, queremos dizer que esta não é uma decisão sua — embora às vezes seja apelidada como “voluntária” — porque necessita de autorização dos pais — é, na grande maioria das vezes, uma decisão médica. 

interrupção médica da gravidez

Interrupção médica/voluntária da gravidez: quando pode ser feita

É permitida a interrupção até às 12 semanas de gravidez, se for indicada para evitar a morte ou danos físicos ou psicológicos graves e duradouros da grávida e até às 24 semanas de gravidez, caso se preveja que o bebé venha a sofrer de doença grave ou malformação congénita incuráveis. A interrupção médica da gravidez pode estar relacionada com problemas ao nível dos cromossomas, detetados, por exemplo, no 1º trimestre ou por exemplo por malformações fetais, mais comum, descobertas no 2º trimestre e por vezes no 3º — perda gestacional tardia. Cedo ou tarde é sempre uma perda e tem um impacto emocional muito grande no casal. Se está a passar ou passou por esta situação, lamentamos imenso. Saiba que não está sozinha e procure ajuda, se precisar.

Para além destes limites temporais, a interrupção voluntária da gravidez é ainda permitida, a qualquer momento, caso seja essencial para prevenir a morte ou danos físicos ou psicológicos graves e irreversíveis para a grávida ou caso se conclua que o feto não irá sobreviver.

Impacto emocional da interrupção médica da gravidez: e se?

Ainda assim e por mais que nos digam que não há outra opção, que nos aconselhem a avançar com a interrupção porque há uma grande probabilidade de não ser viável, são muitos os “e se” que nos passam pela cabeça. É normal. Mas saiba também que esta decisão, que, em última instância é “nossa” porque nada pode ser feito sem o nosso consentimento escrito — é um ato de amor. É porque os amamos que não os queremos ver sofrer. Mesmo assim é a decisão mais difícil das nossas vidas e nestes casos não existem certos nem errados. 

Sabemos que são momentos extremamente difíceis e, se necessitar, procure ajuda profissional

É também muito importante que tire todas as suas dúvidas com a equipa médica e que a informação que lhe seja transmitida sobre o seu bebé seja clara. 

O que acontece numa interrupção médica da gravidez?

Depois de ouvir o diagnóstico do médico, às vezes após ouvir até mais do que uma opinião, vão perguntar qual a sua decisão e terá depois uma consulta com alguns papéis para assinar. Se estiver a ser seguida num hospital privado será muito provavelmente encaminhada para um hospital/maternidade pública. Antes da interrupção o caso ainda é analisado por uma comissão de médicos chamada Comissão Técnica de Certificação que existe em cada estabelecimento de saúde oficial que realize interrupções da gravidez. Cada comissão técnica é composta por 3 a 5 médicos. Dela devem fazer parte obrigatoriamente um obstetra/ecografista, um neonatologista e, sempre que possível, um geneticista. 

Depois da autorização, segue-se o internamento, medicação e um procedimento semelhante à amniocentese para fazer parar o coração do bebé. Em seguida será induzido o parto

É importante que, antes de todos estes momentos, tenha conhecimento dos seus direitos e do que pode fazer se se quiser despedir do seu bebé. A equipa médica e de enfermeiros deverão informá-la do que pode ou não pode fazer e perguntar-lhe qual é a sua decisão e é importante que antes consiga saber, pensar e decidir. Uma vez mais, não há certos nem errados e, muitas vezes, nestes casos, a decisão dos pais, mas sobretudo da mãe, é com base em questões de sobrevivência naquele período difícil que estão a passar. 

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Como explicar às crianças a perda de um bebé

explicar a perda de um bebé

A perda de um bebé pode ter um impacto profundo em toda a família. Terá impacto nas crianças que estavam à espera de um irmão(ã), sobrinha(o) ou primo(a). Igualmente na criança que sobreviveu de um par de gémeos ou até filhos que nascem depois do bebé ter morrido. Neste artigo, damos algumas dicas para explicar às crianças a perda de um bebé.

Apesar de estar dirigido aos pais, este artigo pode aplicar-se a outros familiares, professores e outras pessoas que possam apoiar a criança.

Explicar às crianças a perda de um bebé: dicas

Contar a alguém que um bebé morreu já pode ser bastante difícil. Contar a crianças pode ser especialmente complicado.

É desafiante escolher quando e qual informação dar e explicar o que aconteceu de forma a que a criança entenda. É também complexo passar a mensagem de que este fim não pode ser alterado.

Se não se achar capaz de contar aos seus filhos o que aconteceu, pode pedir a um familiar, como os avós, para o/a ajudar.

Esta pessoa poderá explicar o que aconteceu e o porquê de você estar triste e que, enquanto se estão a resolver as coisas, a criança terá de ficar com ela.

Se o seu bebé faleceu numa unidade neonatal, pode recorrer a um psicólogo ou terapeuta que o possa ajudar com isto.

Quando decidir partilhar a notícia com os seus filhos, é natural sentir-se ansiosa(o) e protetor(a). É importante que considere as idades e a sua capacidade de perceção.

As crianças podem reagir de forma diferente ao esperada – podem não lhe dar a atenção que acha que deveriam ou podem mostrar-se incrivelmente afectados. Ambas e tudo no entremeio é normal

É também fundamental que as crianças percebam que não há problema em chorar e que a(o) podem ver a chorar também.

Quando falar com eles, pode usar frases como “estamos tristes porque o nosso bebé morreu. Quando alguém morre, isso significa que nunca mais os vamos poder ver”. Pode também ser levado pelas questões das próprias crianças.

Pode querer incluir alguns detalhes como o sexo do bebé ou o nome. Assegure-os que podem perguntar mais quando quiserem.

Muitas vezes as crianças aceitam estas simples explicações sem grandes dúvidas e continuarem com as atividades em que se encontravam antes ou mudam imediatamente de assunto. Esta é uma reação normal.

Quando a perda é neonatal

E como explicar às crianças a perda de um bebé nos casos de perda neonatal?

Crianças pequenas que tenham visitado o bebé nas unidades neonatais poderiam estar sob a impressão que o bebé iria melhorar e vir para casa. Podem, portanto, ficar confusos e aflitos sem perceber porque é que este não foi o caso.

É possível que as suas rotinas tenham sido alteradas pelos longos períodos no hospital e desenvolvido uma relação com o bebé. É importante encorajá-los a falar sobre o que sentem e explicar-lhes o que aconteceu.

Algumas crianças gostam de saber sobre o funeral ou para onde vamos quando morremos. Crenças religiosas podem influenciar as suas respostas. Se não for o caso ou quiser manter o assunto mais neutro pode começar as suas respostas com “algumas pessoas acreditam…” ou simplesmente “não sabemos…” Para crianças mais novas, tente dar-lhes uma ideia do que vai acontecer no funeral. Relembre-os que o bebé não sente nada e não está em sofrimento – já que um funeral pode ser assustador.

como explicar às crianças a perda de um bebé

Uma forma de ajudar crianças mais novas a entender a morte é ler livros que abordam o tema de modo apropriado para a idade.

Ser honesto com as crianças

Mesmo pequenas, as crianças sentem quando algo está errado.

Se não lhes for dito o que está a contecer, isso pode assustá-los e fazê-los imaginar que eles são a razão da sua tristeza.

Por duro que pareça, uma linguagem simples e honesta é melhor do que frases que possam ter significados múltiplos.

Por exemplo, dizer que o bebé está a dormir podem soar confusas e pode preocupa-los sobre irem para a cama e não voltarem a acordar. Expressões como “perdemos o bebé” ou “ não está cá” podem levá-los a pensar que o bebé está só perdido ou vai voltar. Isso leva a uma esperança falsa sobre o estado do bebé e a possibilidade de ele poder acordar ou ser encontrado. Estas expressões podem também preocupar a criança sobre se o mesmo lhe poderá acontecer ou a si.

De igual forma, dizer que o bebé estava doente pode assustá-lo quando eles ficarem doentes.

Tal como os adultos, as crianças têm um vasto leque de emoções; estes podem aparecer em ordem aleatória. E, tal como os adultos, estes sentimentos podem ser conflituosos e complicados.

Sentimentos de revolta e culpa

As crianças têm sentimentos mistos sobre o novo irmão ou irmã. Uma criança que tenha sentido inveja durante a gravidez pode sentir-se culpada sobre a morte do bebé. Pode ser benéfico lembrá-lo que nada é culpa deles e nada que eles tenham feito ou pensado poderia mudar o que aconteceu.

Outras crianças podem sentir revolta contra o bebé ou até os pais. Poderão também temer que que outros chegados a si possam morrer também. Podem demonstrar também mais irritação do que o habitual a pais que estejam separados, especialmente se a mãe se encontrar criticamente doente ou tem de ficar no hospital.

Fatores de alerta no comportamento

Assim como os adultos, crianças, especialmente as mais novas, podem ter dificuldades em expressar os seus sentimentos. Procure mudanças no seu comportamento. Por exemplo, uma criança que já estava treinada para ir à casa de banho, podem querer voltar a fraldas ou recomeçar a molhar a cama. Poderão também tornar-se mais dependentes. Mudanças em rotinas de alimentação ou sono também devem ser notadas. Tente manter a rotina o mais normal possível e crie oportunidades para os seus filhos fazerem perguntas.

É comum para crianças expressarem os seus sentimentos através de brincadeira, pintura ou desenho. Isto poderá indicar os sentimentos e humor deles e ser uma forma de expressar o que sentem. Considere que apoio externo a criança pode precisar, quer seja através de familiares, amigos ou terapia.

Profissionais como professores, tutores ou médicos devem ser mantidos informados para que possam ser apoiados devidamente.

Crianças, por norma, navegam o entendimento como vai ver mais à frente. Se a criança já tiver experienciado uma morte na família ou tiver dificuldade de aprendizagem ou mental, isto pode afetar a sua capacidade de compreensão ou de resposta.

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Ajuda prática Apoio psicológico Perda gestacional Perda tardia - Depois Pós-Perda

Procurar ajuda: Profissionais especializados em luto

Apesar de percebermos que uma perda gestacional ou neonatal é algo trágico e traumático e que o processo de luto dura uma vida, é, também, importante reconhecer quando precisamos de ajuda. Então, neste artigo, escrevemos sobre profissionais especializados em luto.

Profissionais especializados em luto, rumo

Quando o seu bebé morre, poderá ser-lhe oferecida ajuda para que inicie o processo de luto e para gerir as suas emoções de forma saudável para si.

Deste modo, muitos hospitais poderão indicar-lhe psicólogos que a acompanharão nesta jornada.

No entanto, gostaríamos de salientar que, apesar de toda a informação, o luto é algo muito específico. Afinal, é, na sua essência, um trauma que precisa de cuidado. Daí, abordarmos o tema da ajuda especializada e vários profissionais especializados em luto que podem ajudar.

Profissionais especializados em luto – Psicólogos

Aceitar a perda e aprender a viver com o luto (e não em luto) é algo muito delicado. Muitas pessoas tentam superar o trauma inicial sozinhas. Todavia, nunca podemos esquecer o quanto a ajuda de profissionais que se especializam em luto pode fazer a diferença na sua saúde mental e recuperação.

Naturalmente, o processo de luto é, inevitavelmente, doloroso. Principalmente porque traz angústia, tristeza, mágoa e outros sentimentos que podem ser muito intensos.

No entanto, como somos uma sociedade que instiga o “andar para a frente” (mesmo que bem intencionado), muitas vezes tentamos continuar a nossa vida. Embora isto resulte para muitos, noutros casos não se respeita o nosso coração e o processo. A dor faz parte do processo de luto e deve ser sentida.

Desta forma, a ajuda de um psicólogo que se especializa em luto, será muito benéfico. Conforme o apoio que precisar, irá perceber as suas emoções e trabalhá-las para que as gerir mais eficazmente.

Pedir ajuda não é sinal de fraqueza – é um ato de coragem

Profissionais especializados em luto – Doulas

Apesar do conceito de Doula ser relativamente recente para nós, esta é uma das formas de ajuda mais antigas do mundo. Na verdade, a palavra Doula vem do grego “mulher que serve”.

Profissionais especializados em luto

Contudo, atualmente, as doulas são conhecidas por se dedicarem ao acompanhamento pessoal, emocional e físico da gestante. Uma Doula apoia emocionalmente uma mãe para que esta se sinta o mais segura e reconfortada possível.

Tal como quando os bebés nascem vivos e a doula oferece a sua ajuda emocional, quando há uma perda gestacional ou neonatal. Esta também é uma das competências de doulas especializadas no luto.

Assim, o que é importante perceber é que uma doula ajudará no que puder, dentro do aceitável, no hospital e até em casa. As doulas ajudam a humanizar os partos e a reconhecer o luto pelo que é, ajudando os pais a processar e aceitar o que aconteceu.

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Casais separados na perda gestacional

Sofrer e recuperar é, em muitos casos, uma experiência conjunta. No entanto, em casos de separação durante a gravidez ou depois da perda do bebé, esta pode não ser uma opção. Neste artigo, saiba mais sobre o que fazer quando os casais estão separados na perda gestacional.

apoio individual

Sabe-se que a perda gestacional pode colocar à prova alguns relacionamentos. Uma vivência desta profundidade afeta todos e pode transparecer, por exemplo, na intimidade. Desta forma, é compreensível que seja uma experiência solitária e assoberbante em casais entretanto separados.

É importante, ainda assim, tentarem tomar decisões conjuntas e manterem o diálogo. Se tiverem outros filhos, trabalharem em conjunto. Esta cooperação pode ser bastante útil para terem acesso ao apoio e carinho que precisam de forma consistente. Para além disso é importrante para a partilha informação e emoções sobre o que aconteceu.

Sofrer e fazer luto em silêncio e sozinho é extremamente difícil. Pode, por isso, precisar de apoio adicional de familiares e amigos ou de procurar ajuda profissional.

Chorar e conversar são formas saudáveis de extravasar sentimentos. Como tal, pode precisar de contar a sua experiência uma e outra vez.

Por exemplo, pode achar útil escrever e manter um diário. Não ser capaz de partilhar a sua história e sentimentos com o pai/mãe/parente do bebé faz-nos sentir sozinhos, mesmo que haja outras pessoas à sua volta.

Pense na melhor maneira de expressar a sua angústia e que apoio pode precisar.

Lembre-se também que precisar de ajuda, de qualquer tipo, não é motivo de vergonha. Este tipo de perda é associado a uma dor muito peculiar e apoio pode ser necessário.

Caso seja um amigo ou familiar de casais separados na perda gestacional ou neonatal, mantenha-se em contacto. Há muito sofrimento em silêncio e muitos pais que não sabem/podem pedir ajuda.

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Perda gestacional tardia: causas e sintomas

Em muitos casos, não há razões, nem é atribuída uma causa, para a morte de um bebé no útero em fases avançadas da gravidez ou que levem à necessidade de uma interrupção médica da mesma.

Frequentemente, não receber uma explicação sobre as possíveis causas da perda gestacional tardia torna mais difícil a compreensão do que aconteceu. Devido a esta incerteza, muitos pais têm dificuladade em aceitar e processar esta traumática experiência.

Assim, para apurar as causas, é muito importante a realização de exames e investigação clínica.

Por isso, neste artigo, referimos um número de possíveis causas e sintomas associados a algumas delas. Posteriormente, certos estudos poderão usar esta informação para trabalhar na reducão de perdas deste género.

Possíveis causas da perda gestacional tardia

Apesar de muitas perdas continuarem inexplicáveis, há um número de possíveis causas:

  • Problemas na placenta

A placenta fornece nutrientes e oxigénio ao bebé, conectando-o à mãe. É, aliás, o que mantém o bebé vivo e é crucial para o seu crescimento e desenvolvimento.

O descolamento prematuro da placenta ocorre quando esta se separa do útero antes do bebé nascer. Ou seja, um impacto no estômago ou complicações ligadas à pré-eclâmpsia pode fazer com que isto aconteça.

Desta forma é importante conhecer os sintomas de um descolamento de placenta. Estes incluem:

  • dores nas costas e abdómen
  • contrações
  • ventre sensível
  • hemorragia vaginal.

Caso sinta algum dos sintomas acima, por favor ligue ao seu obstetra ou médico de família.

  • Movimentos Reduzidos – apesar de movimentos fetais não serem, em si, a causa da morte, são um sinal que o bebé pode não estar a receber comida ou oxigénio suficiente.

Logo, se notar diferença no padrão e rotina dos movimentos, por favor consulte o seu médico ou obstetra. Geralmente, movimentos podem ser registados algures entre as 16 e as 22 semanas.

Bem como outras, as possíveis causas da perda gestacional tardia estão também:

  • Infeções bacterianas: podem viajar da vagina ao útero, como por exemplo: clamídia, mycoplasma e e.coli. Igualmemte, outras infeções que podem afetar o bebé são: toxoplasmose, listeria, malária etc,.
  • Diabetes ou diabetes gestacional
  • Defeitos genéticos do bebé
  • Hemorragia antes ou durante o parto
  • Problemas com o cordão umbilical

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Ajuda prática Perda Tardia - Durante

Como contar a amigos e familiares

Quando lhe dão a notícia de que o seu bebé faleceu ainda no seu útero, ou irá falecer em breve ou mesmo que terá de interromper a gravidez por razões médicas, uma das questões que pode colocar a seguir é como contar a amigos e familiares sobre a perda do seu bebé. Nas primeiras horas, poderá ser complicado. Logo que se sinta preparado, damos algumas dicas do que pode fazer para ser mais fácil:

  • Pedir ajuda quando precisar. Por exemplo: use um familiar em que confie para partilhar a notícia com a restante família ou amigos;
  • Em alternativa, uma mensagem para todos poderá chegar;
  • Se precisar ou quiser, pode também partilhar nas redes sociais para que possa revelar o que aconteceu e pedir que lhe deem espaço ou o(a) contactem para o(a) ajudarem.

Como contar a amigos e familiares sobre a perda do seu bebé: mais conselhos

Se o seu bebé tiver morrido perto da data prevista do seu nascimento, é comum que as pessoas a par da sua gravidez estejam à espera, entusiasticamente, por notícias boas. Assim, poderá ser um equilíbrio bastante delicado contar a amigos e familiares sobre a perda do seu bebé. Se ligar a familiares e amigos, pode, por exemplo, começar por: “Tenho notícias tristes”.

Assim, frases como esta poderão ajudar a definir o tom da conversa que se vai seguir. Ajudam ainda a reduzir o número de comentários e interjeições que serão custosas. Seja firme quanto ao tempo da conversa, explicando que será uma conversa breve. Isto pode ser não só pela quantidade de partilha, mas também para proteção pessoal.

Se a perda for neonatal, pessoas que estavam a par do estado de saúde do bebé podem também ter dificuldades em continuar uma conversa consigo.

É possível que os seus amigos e entes queridos não saibam bem o que dizer. As suas notícias são difíceis para eles também e poderão despertar experiências pessoais. Desta feita, poderá sentir-se culpado(a) e na situação de os confortar a eles. No entanto, é importante que se lembre que esta é a sua experiência e que esta é a altura para receber apoio e conforto em vez de se preocupar com os outros.

Peça ajuda, se precisar

Tente não sentir que tem de responder a todas as perguntas de toda a gente. Diga apenas o que achar melhor e conseguir. Mais tarde, haverá tempo e cabeça para partilhar mais detalhes e responder a pessoas.

Se precisar e puder, peça a família e amigos que tomem conta de crianças que possa ter ou ajudar em atividades caseiras, como trazer uma refeição ou até ajudar na lida da casa.

Frequentemente as pessoas vão querer ajudar e agradecem instruções claras. Se deixar outros filhos com avós ou familiares próximos, poderá também pedir-lhes que expliquem o que aconteceu e que os pais estão a resolver as coisas antes de voltarem para casa.

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Perda gestacional: Desafios físicos e emocionais

Ao voltar para casa, muitos são os desafios emocionais e físicos da perda gestacional a enfrentar. Sobretudo se esta foi a sua primeira gravidez ou fruto de um tratamento de fertilidade. Neste caso, há muitas coisas que pode não conseguir entender imediatamente. Como resultado, vai sentir mudanças no seu corpo, incluindo alguma dor física e desconforto nas primeiras semanas, especialmente no caso de ter tido um parto normal.

Durante esta fase, pode tentar perceber por que é que aconteceu. Este é um direito que tem. Notará que, na grande parte das vezes, os momentos que se seguem são de espera para saber os resultados de exames que possam ter sido realizados a si e ao seu bebé.

Há, indiscutivelmente, poucas experiências que se possam comparar ao trauma de perder um bebé. Assim como os vários aspetos práticos que possam ocupar o seu tempo nas primeiras semanas, deverá reconhecer que haverá significantes desafios emocionais e físicos da perda gestacional. Apesar do impacto ser, principalmente para si e para o seu parceiro, é usual que a família sinta o peso e a tristeza da perda.

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Desafios Físicos

Da mesma forma que o seu corpo se preparou para um bebé vivo, este nem sempre regista que o bebé tenha morrido. Na maior parte dos casos, o parto será efetuado à semelhança de um nascimento normal. No evento de sofrer de complicações pós-parto, é vital que receba a atenção médica que lhe é devida.

Consequentemente, pode expressar leite. Isto pode ser um choque físico e psicológico. Frequentemente, e dependendo da fase da gravidez, o seu corpo estaria preparado em antecipação da chegada do bebé. Nestes casos, os médicos poderão dar-lhe medicação para parar a produção de leite.

Por causa de todas as tranformações que occorrem durante um curto espaço de tempo, é natural que o seu corpo demore o seu tempo a voltar à “normalidade”. Assim, pode estar algum tempo sem menstruar e voltar à regularidade.

Para todos os pais, o luto pode ser esgotante. Como tal, pode estar cansada física e emocionalmente. Devido ao do choque de descobrir que o seu bebé morreu, as decisões que teve de tomar ou até mesmo o parto, a probabilidade de se sentir exausta (o) será enorme.

Desafios Emocionais

O impacto emocional de perder um bebé é inestimável e duradouro. Será, por isso, natural sentir choque, entorpecimento, raiva, ressentimento, tristeza, vazio, culpa, perda de autoestima e muitas mais emoções. Enquanto isto pode ser difícil de aceitar, é importante que faça o luto pela a sua perda e que procure a ajuda que precisar.

É absolutamente normal sentir uma confusão de emoções e, passado algum tempo, vai perceber que esta não é uma dor comum. Assim, vai vê-la de outra forma e perceber que esta angústia vai demorar mais a passar que o esperado. No entanto, se passado algum tempo, continuar a achar a vida diária difícil, ou não conseguir ir trabalhar, por favor procure ajuda.

Acima de tudo, Lembre-se que pode contactar o seu médico de família e explicar o que sente e eles poderão referi-la(o) para um psicólogo.  Alternativamente, pode também procurar ajuda pessoalmente.

desafios físicos e emocionais

Para além disto, conversar com alguém que tenha passado por uma situação semelhante e partilhar a experiência, pode também ser extremamente benéfico. Recorde-se que todos sofrem de forma diferente e tente não comparar a sua experiência ou luto com a dos outros. Pode ler aqui alguns testemunhos de perda gestacional.

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Despedir-se do seu bebé

Durante a vida, nenhum pai ou mãe pensa, ao ver um teste positivo, que vai ter de dar à luz. Muito menos despedir-se do seu bebé ou ter de organizar um funeral para ele.

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Por um lado, pode ser uma ação extremamente dolorosa. Por outro, para muitos pais esta ação pode trazer conforto; uma forma de honrar e dizer adeus ao seu bebé e de lidar com a sua dor.

No entanto, saiba que não há ações certas ou erradas. Cada pessoa faz o seu luto de maneira diferente e o facto decidir não fazer nada não significa que não ame o seu bebé. Para além disso, existem várias fases e poderá sempre homenageá-lo mais tarde, quando se sentir preparado(a).

Despedir-se do seu bebé: O que pode fazer durante a altura do parto:

Ver e/ou pegar no seu bebé

Se o seu bebé ter vivido por algum tempo ou ter sido admitido numa unidade neonatal, pode ter tido a oportunidade de pegar e embalar o seu bebé antes de ele morrer.

Por outro lado, se o seu bebé morreu antes ou durante o parto, as perguntas serão diferentes. Provavelmente irão perguntar se deseja ver e/ou pegar no bebé. Contudo, é importante saber que despedir-se do seu bebé desta forma é uma escolha completamente pessoal. 

Deste modo, se quiser ver e não lhe perguntarem, não tenha medo de perguntar por isso e o profissional de saúde irá organizar isso para si.

Ainda assim, se não quiser ver/pegar no seu bebé ou se sentir muito ansioso(a), poderá fazer alguns pedidos. Isto é importante para quando, numa fase posterior, se sentir preparada e quiser ver. Tal como esta decisão, pode ainda pedir para:

  • guardar uma madeixa de cabelo;
  • a enfermeira tirar uma fotografia, nem que seja a um pé ou uma mão;
  • uma descrição para se assegurar que não há anomalias visíveis antes de o ver;
  • ver apenas um pé ou uma mão.

Por favor, note que não há decisões erradas. A pressão e a angústia com que se lida com estas situações faz-nos tomar as decisões que necessitamos para sobreviver ao trauma que estamos a viver.

É muito importante também lembrar-se que a sua escolha pode ser diferente à do seu parceiro(a). Igualmente, cada um tem de decidir o que é certo para si.

Dar um nome ao bebé

Muitos pais decidem dar um nome ao bebé, o que lhes dá uma identidade e pode tornar mais fácil referir-se a ele.

Por exemplo, alguns pais continuam a usar a alcunha ou diminutivo que usaram durante a gravidez. No evento de um bebé ser extremamente prematuro ou morrer antes do parto, pode ser difícil determinar o género. Por isso, pode ser mais simples escolher um nome que se atribua a ambos os sexos.

No entanto, pode também preferir não dar nome ao bebé, pelo menos não nesse momento, e essa escolha é também válida.

Lavar e vestir o bebé

Para muitos, dar banho ao bebé é uma oportunidade especial para sentirem que estão a ser pais e criarem memórias. Simultâneamente, pode ser uma forma de se despedir do seu bebé. Assim, se quiser, poderá fazê-lo ou até pedir a uma enfermeira(o) para a ajudar. Note que os procedimentos poderão mudar de hospital para hospital.

Por exemplo, pode trazer também uma roupa para o bebé. Dependendo da condição do seu bebé, pode tornar difícil vesti-lo. Por isso, pode sempre embrulhá-lo num cobertor. No caso de preferir, uma enfermeira(o) ou parteira(o) poderá ajudá-la a fazer isto.

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Perda gestacional: o nascimento do seu bebé

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Pensar que vai ter de dar à luz ao seu bebé depois de receber más notícias, vai soar como se lhe estivessem a pedir o impossível. Por isso, e especialmente na altura do nascimento do seu bebé após a perda gestacional, é muito importante ter apoio.

Por exemplo, pode ser útil ter uma ou duas pessoas consigo, se possível.

No caso dos parceiros (as), é normal que se sintam um pouco como espectadores durante o parto e debaterem-se com vários sentimentos conflituosos. No entanto, de facto, muitos pais admitem ser importante a sua presença durante o nascimento.

Nascimento do seu bebé após a perda gestacional: Se for induzido…

A forma como o seu parto será induzido depende do estado da sua gravidez. Normalmente, há medicação que lhe podem dar para preparar o útero para a indução. Como este processo pode demorar algum tempo, a maior parte das mulheres vai para casa durante este tempo e volta passadas 48 horas.

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Contudo, se a ideia de ir para casa for demasiado para si, pode pedir para ficar no hospital. Nestas situações, é provável que a equipa consiga organizar a estadia.

Uma vez no hospital, a indução acontece através de comprimidos. Estes podem ser combinados com gel ou pessários que são inseridos na vagina. Uma vez que será necessário estimular as contrações, poderá também precisar de medicação intravenosa.

Já em trabalho de parto, a maioria das mães dá à luz no decorrer das primeiras 24 horas. Aqui, a equipa de enfermagem poderá dar-lhe informação sobre o que irá acontecer e como poderão ajudá-la. No entanto, se tiver questões, por favor coloque-as, especialmente se for o seu primeiro filho.

Quando vai para casa até o útero estar pronto

Até o útero estar pronto, que por norma ronda as primeiras 48 horas, é lhe recomendado ir para casa. Enquanto esta escolha soa demorada, muitos pais reconhecem que este tempo é precioso para se prepararem para o que vai acontecer. Durante este tempo, a parteira ou enfermeira(o) irá dar-lhe um contacto no hospital que poderá ligar a qualquer altura para dúvidas ou preocupações. Irão também informá-la de quando terá de voltar e onde se dirigir.

Nestas condições, é preferível não vá para casa sozinha. Isto porque o choque e a  angústia podem afetar a sua capacidade de julgamento e concentração. Assim, é especialmente desaconselhado conduzir.

O que levar para o hospital?

Se quiser, pode levar algumas coisas especiais para o seu bebé. Por exemplo, algo para o vestir ou algo onde, talvez, queira guardar uma madeixa de cabelo. Caso deseje, pode também levar um smartphone/câmara, se quiser tirar fotografias.

O que esperar?

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Diferentes mulheres experienciam diferentes níveis de dor durante o parto. É normal algumas mulheres sentirem dor mais intensa, se estiverem assustadas ou nervosas. Um parto induzido é, por norma, mais doloroso do que um parto que começa naturalmente. Costuma também ser mais demorado, especialmente se for bastante prematuro.

Por isso, e como vai sentir dores, pode escolher ajuda adicional com medicação, adaptável durante o parto.

Podem ser desde medicamentos para as dores ou epidural. No evento de tomar medicação forte, como diamorfina, poderá sentir desorientação mesmo depois do parto e não se recordar de nada.

Por outro lado, se optar pela epidural, vai recebê-la através de uma injeção na zona lombar. Esta vai remover toda a dor e será administrada consoante a necessidade.

Caso deseje medicação durante o nascimento do seu bebé após a perda gestacional, consulte o seu médico/enfermeiro para receber o máximo de apoio possível.