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Testemunhos Testemunhos Interrupção Médica da Gravidez

Soraia F.

“Matei o meu filho”.

Foi assim que dizia a minha psicóloga quando a procurei. Hoje, consigo dizer quer foi um ato de amor, pelo meu Salvador. 

Decorria o ano 2023, fevereiro, quando realizei um teste de farmácia com alguma esperança e o positivo chegava.

Era segunda-feira de carnaval, tinha ido renovar o cartão de cidadão do meu filho mais velho (sim, para mim, o meu Martim é o mais velho).

Após a renovação, fui à farmácia e comprei um teste. Fui para casa e com alguma esperança fiz o teste. POSITIVO.

Não cabia em mim de felicidade. O Martim estava comigo e foi o primeiro a saber. De seguida, liguei à minha melhor amiga e depois à minha irmã. Era para fazer uma surpresa ao meu marido, mas não conseguia disfarçar mais e tive que contar.  Fomos à minha obstetra, fiz ecografia e estava de 6 semanas. Já se via o coração a bater. 

Após isso, fui chamada para as consultas na maternidade. Era dia 3 de Abril quando entrei naquela sala sozinha, pois a minha mãe tinha ido com o Martim comer alguma coisa. Assim que ouço o meu nome liguei para virem. Felizmente, não chegaram a tempo de verem, digo isto por causa do meu Martim. Estava de 9 semanas e o embrião não tinha desenvolvido, e já estava morto. Sofri um aborto retido. Foi-me dada medicação para expulsar. 

Vim para casa, acabando por expulsar já em casa.

Não posso dizer que o dia 3 foi o pior dia, porque para pior dia, foi mesmo o dia 28 de Dezembro de 2023.

Após todo o procedimento ter corrido bem, tive “autorização” para uma segunda tentativa e assim o fizemos.

Era Agosto, 5 de Agosto de 2023 fui fazer o Beta HCG para ter a certeza, pois estava atrasada na menstruação e não existia sinais que iria menstruar. 

Eram 14:30 mais ou menos quando me chega um e-mail com o resultado. POSITIVO 

Entrei num misto de sentimentos, o meu marido estava comigo. O primeiro passo foi ligar à minha obstetra e dizer. Pediu que no dia 20 me dirigisse ao serviço de urgência da maternidade para me ver. Logo aí tomamos a decisão de não contar a ninguém, pois o medo era tanto. 

Então lá fomos nós ver o nosso bebé e estava tudo bem. Ela questionou-me sobre qual o meu medo e eu rapidamente disse: “passar pelo mesmo que tinha passado em Abril”. Tranquilizou-me pediu para eu ir lá no dia 30 para ser vista novamente.  E lá fui eu no dia 30. Continuava tudo bem.

Fui chamada novamente para consulta na maternidade no dia 29 de Setembro, já estava de 12 semanas. Fui à consulta e ecografia, onde nos disseram que seria um rapaz e que estava tudo bem. Decidimos então contar a família nesse mesmo dia, já que o pai fazia anos e aproveitamos e contamos.

Estava tudo a correr bem, mesmo estando com diabetes gestacionais.

Chegou a eco do 2º trimestre. Ja estávamos em Dezembro, dia 6, quando fui realizar a eco. O Salvador não colaborava muito nas ecos. Era do contra, como eu dizia. A médica pediu para eu vir caminhar um bocadinho e comer qualquer coisa para ver se corria melhor da segunda vez. E assim o fiz.

Entrei, ele já estava mais colaborante. Quando a Dra me diz que ia chamar um colega para ajudar, pois existia ali um problema nos rins, o meu coração parece que parou. Veio o colega que confirmou mesmo que os rins estavam afetados. Um rim displáxico e o outro com uma dilatação muito grande. 

Foi-me proposto a realização da amniocentese. Realizei-a logo no dia, e foi-me falado no pior desfecho possível: interromper a gravidez. 

Logo aí entrei em negação, para mim o Salvador nascia e ponto final. 

Procuramos uma segunda opinião médica, e o Dr. disse logo que não havia muito a fazer, para partimos mesmo para a interrupção. Mais uma vez entrei na fase da negação. 

Dia 20 de Dezembro, a minha obstetra faz eco e só me diz que não havia muito a fazer, pois o Salvador estava a perder líquido.  Então tomei a decisão de interromper. Já estava de 24 semanas. Foi a conselho médico e foi aprovado.

Desde o dia 6 que contei tudo ao meu Martim.

No dia 27 fui a maternidade para sedação do Salvador e tomar medicação. Pedi ao Dr. para o ver pela ultima vez e assim o fiz. Neste dia,pouco havia a fazer,pois a placenta ja se estava a “colar” a ele.

Estava sozinha naquela sala, sem apoio do marido, mas com uma enfermeira excelente, que, no fim da sedação, me deu o “colo” para chorar.

Vim para fora, onde reuni com ela e com o meu marido. Colocaram-nos algumas questões e fizeram a explicação de todo o processo que aconteceria no dia seguinte. 

Foi-me colocada a questão se eu queria ver após o nascimento, ao qual respondi prontamente que sim.

E se queríamos fazer funeral, e a resposta foi a mesma sim.

A parte difícil veio quando cheguei a casa e falei com o Martim que, na altura, tinha 13 anos. Como sempre soube tudo do que se passava com o irmão e quis a opinião dele, se trazíamos ou não o mano (realização do funeral). Foi então que percebi que, afinal, ou Martim não tinha percebido bem ou então entrou em negação como eu. Ele só me respondeu: “não o vais trazer?” E eu disse: “não filho, quando o mano nascer já vai nascer sem vida”.

Ele olhou para mim e disse:” então trás e mete ao pé do bivô”.

Dia 28 de Dezembro, com 25 semanas, chego à maternidade pelas 9h acompanhada pelo meu marido e pela minha irmã. Faço inscrição no serviço de urgência, entro explico o que iria fazer e são-me colocados os comprimidos para iniciação de trabalho de parto.

Após isso, vem um auxiliar para me levar para o quarto. Despeço-me da minha irmã a chorar e vou. O meu marido acompanhou sempre.

Após já estar pronta para o que viria a seguir, vem a Dra. da genética ter connosco a dar conhecimento do resultado da amniocentese. Estava limpa, disse ela. O Salvador não tinha nada a não ser mesmo a situação dos rins, que era incompatível com a vida.

Às 18h, sou reavaliada pela Dra onde diz que iria para a sala de partos para levar a epidural. 

Sempre que tinha dores, as enfermeiras davam-me medicação, diziam elas que eu não precisava de sofrer, pois a maior dor já estava a ter: a perda o meu filho.

Quando cheguei à sala de partos, já não dava para levar a epidural, pois o Salvador estava mesmo para nascer. Foi o pior momento: entrei em negação, encolhi-me toda para ele não nascer.

Mas o meu corpo fez tudo contra a minha vontade naquela altura. Senti “vontade” de me virar para cima, e fui eu que disse “ele está a nascer”. 

O silêncio naquela sala era tão grande. Não havia choro e a minha reação foi logo dizer que o queria ver. Responderam que sim que só o iam limpar e que já o traziam.

Passado algum minutos e após eu ter explusado a placenta, chega o tão desejado momento. Vê-lo. 

Retiraram o que ele trazia a protegê-lo e eu via ali o meu filho, o meu Salvador.

Mal o vi, só lhe pedia desculpa de o ter matado. Toquei e pedi para lhe pegar ao colo. Foi dos momentos mais mágicos e mais triste que tive. Ele estava ali comigo, mas não chorava.

Dia 29 tive alta, e é uma dor tão grande vir embora de colo vazio. 

O passo mais importante que dei foi procurar ajuda. Liguei logo a psicóloga e a primeira coisa que disse na consulta foi: “Dra, matei o meu filho”.

Mas, hoje, felizmente graças ao acompanhamento e à vontade, consigo dizer que não o matei, mas sim, que tive um ato de amor pelo meu Salvador. 

Ele esta lá em cima com o bivô, na nuvem de amor que eles criaram e estão a olhar por nós. 

Quanto ao meu Martim, também ele é acompanhado por uma psicóloga, e hoje fala do irmão com muito orgulho, embora nada do que idealizou se tenha realizado. 

Para mim, o Martim será sempre o irmão mais velho.

Um beijinho, meu anjo Salvador. 

Um beijinho a todas as mamas de anjos.

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M.G

Posso resumir a minha história… em 2006 tive o meu primeiro bebé. Eduardo de seu nome, nasceu parto normal pélvico com 37+5, no dia 15 de outubro. Mas nasceu morto. Morreu nesse domingo de manhã. Pouco tempo depois em 2008 nasceu a primeira bebé arco-íris!

Mafalda nasceu dia 20 de junho às 38+1 por cesariana e correu tudo bem. Uma adolescente traquina e maravilhosa como todos os nossos filhos. Agora, em 2023, nasceu a Margarida em 09 de Agosto com 39 semanas e por cesariana. Uma gravidez com anemia, diabetes e pré-eclâmpsia.

A Margarida nasceu e, assim que saiu dentro de mim, passado uns horríveis 45 minutos vieram dizer que ela é deficiente visual. Caiu tudo ao chão.

A Margarida tem duas doenças raras e uma delas causou mal formação ocular e ela é cega. Hoje com 8 meses não é fácil aceitar.

É um luto por não ter a filha perfeita e tão desejada. Mas à nossa maneira tentamos fazer com que ela seja o mais feliz possível.

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Ana Patrícia F.

Para o meu bebé


Descobrimos a gravidez dia 28 de novembro de 2023. Foi o dia mais feliz da minha vida.

Desde então os meus olhos irradiavam felicidade. A 18 de dezembro ouvimos pela primeira vez o teu pequeno coraçãozinho e tinhas como DPP 18/08/2024.

Anunciamos a gravidez à família na noite de Natal e tudo corria bem até ao dia 8 de fevereiro em que, numa ecografia de rotina detectaram um problema no teu coraçãozinho e depois de vários exames veio o diagnóstico “Triploidia – Incompatível com a vida”.

Lembro-me do desespero de nada poder fazer para ficar contigo. Achei que seria um pesadelo, mas não era.

Interrompi a gravidez dia 20/02/2024 com 14 semanas e 2 dias. Nasceste às 21h30. Foi o pior dia da minha vida. Desde então sinto um vazio e uma angústia que poucos entendem.

Só quem passa sabe do que falo. Para os outros não existes mas para mim exististe e existirás para sempre.

Continuas a ser o nosso bebé, o nosso primeiro bebé. Lembro-me de ti a toda a hora. O tempo passa e a saudade aumenta. Ficarás infinitamente no meu coração e serás para sempre o nosso primeiro filho.

Fui a pessoa mais feliz do mundo enquanto te tive só para mim, dentro de mim onde ninguém te faria mal. Agora olho para o céu e vejo-te na estrela mais brilhante. Sei que estás a olhar por nós.

Amo-te daqui ao infinito, meu bebé.

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Mariana C.

(15-12-2023) Olá. Sou a Mariana, tenho 29 anos e sonho ser mãe desde que me lembro gente.

Sempre sonhei ser mãe. Sempre. Tenho memórias, do alto dos meus 5 anos, de ter sempre todas as bonecas grávidas, preenchia-lhes a barriga com pedacinhos de papel. Ou eu própria, punha uma almofada debaixo da camisola. Dava biberão, mudava fraldas, dava banho, embalava, punha a dormir, eles “choravam”, lá ia eu …

Cresci. Tinha 23 anos quando engravidei pela primeira vez. Não era o plano na altura, tinha ido morar sozinha, começado a trabalhar e engravidei. Fiquei em êxtase! Estava grávida! Mesmo a morrer de medo, a morrer de tudo, transbordava, transpirava alegria. Mas foi sol de pouca dura. Mais tarde venho a descobrir que havia 99.9% de chance de vir a ser uma pessoa (o bebé) muito doente, e tive de tomar a decisão que, até hoje, foi a pior da minha vida, travar aquela gravidez e assinar por isso. Não basta tudo, ainda temos de assinar um papelinho, “assine na linha abaixo, pf”.

Morri por dentro. Senti-me morta muito tempo, mesmo muito.

Até que conheço o meu marido. Depois de andar um ano a deambular existência (a minha), conheci-o. E foi por esta história que começamos. Ele ajudou-me, ajudou-me imenso a aceitar aquele aborto. Um ano depois, ainda chorava nos braços dele como se tivesse sido ontem. Passaram meses, muitos meses, até que fosse capaz de voltar a sorrir com a alma e coração, mas consegui! Consegui e conseguimos.

Ironia do destino, ou não, mal sabíamos o que nos esperava.

Decidimos então abrir portas a tentar o nosso próprio bebé. E conseguimos! Uns meses mais tarde, estava grávida. O que eu saltei de alegria! Mas durou pouco. Às 6 semanas comecei a sangrar, urgências, anembrionária. Não podia ser possível… Como era possível?! Era. Mais uns meses de profunda escuridão.

Quase um ano depois, continuava sem engravidar. Fomos a uma clínica, N exames, diagnóstico: endometriose!

Mas como podia ser possível?! De repente, parecia um ataque direto, uma guerra aberta ao maior, quase único, sonho da minha vida: ser mãe.

Avançamos para FIV. Transferimos 2 embriões. Ambos nidaram, estávamos grávidos! Vinham 2 bebés! Não… Não vieram. Nem 2 nem 1 nem nenhum. Aborto espontâneo, estava de poucas semanas.

Aqui, honestamente, quase acreditei em bruxaria, não era normal. Não podia ser normal, de certeza que tinha sido escolhida por Deus.

Em baixo, mesmo muito em baixo, vivia o mês dos meus anos e o período não vinha. De certeza que era do aborto dos gémeos. Era normal atrasar. Nunca tinha abortado de 2 por isso, de certeza que era normal um atraso de duas semanas. Não. Estava grávida!

Engravidei logo no mês da perda dos gémeos. Naturalmente. Depois da punção, da transferência, depois de tudo, ali vinha ela! A nossa menina, a Mel!

Medo. Os sentimentos dominantes eram medo e angústia. Sempre angustiada. Sempre. Não tive um único dia de paz. Sentia e achava sempre que ia acabar mal. E o tempo foi passando… 8 semanas, 10 semanas, 12 semanas, é uma menina, 14 semanas, 16 semanas… “Há qualquer coisa no coração dela, mãe”. Hum?! O que é “qualquer coisa”?

Entramos numa pescadinha de rabo na boca. Hospital, ecografias, médicos, vários, diferentes, hospital, ecografias, fomos de férias! Ou íamos morrer de nervos e ansiedade e de tudo, precisávamos de desanuviar. Fomos. E foram as piores férias das nossas vidas.

Senti-me mal, mas mal, mal ao ponto que ainda hoje tenho dificuldade em explicar. Deixei de comer, beber, dormir, ter forças nas pernas, senti que tinha morrido por dentro, literalmente. Senti. Eu sabia. Eu sabia… Hospital. Ecografia. Sozinha, porque estávamos em pandemia. Silêncio. 3 minutos de ecografo na barriga, eu olhava fixamente para o teto enquanto sentia a angústia da médica no ar, a quantidade de vezes que ela olhou para mim, em busca do meu eye contact, mas eu não queria! Porque sabia… Sabia-o. E perguntei (mantendo os olhos no teto) “então doutora? Tudo bem?”. Ela: não… Não Mariana… O coração da sua bebé parou. Não me mexi. Levei as mãos ao peito e senti alívio! Respirei o último fôlego de alívio, antes de cair na depressão profunda, mas o primeiro desde os últimos 6 meses. A minha filha estava livre. Livre do sofrimento em que tinha entrado. Estava em paz, sem vida, dentro de mim, mas em paz. Minha filha, minha bebé. E foi a vez do meu coração parar.

Deprimi. Deprimi, mas não parei. 3 meses depois fui operada a uma endometriose, “das piores já vistas” pela minha médica. Perdi intestino, outras partes de órgãos, mais de duas dezenas de focos, foi de tal ordem que poderia perder a capacidade de engravidar naturalmente e perdi.

(18-4-2024) Mais processos de PMA, FIV, punção, transferências. Mais perdas! Mais falhanços. Até Julho de 2023. Último embrião, probabilidade quase nula. Foi por descargo de consciência e voilá, positivo! Mas sem festejos. Sem nada. Quase toda a gravidez sem acreditar. Cheia de medo, muitos sustos, muita medicação, muito hospital, médicos e N opiniões. Foram 38 semanas e 3 dias. 38 semanas e 3 dias do amor mais profundo, do mais bonito, do mais intenso, do que carrega baterias de forma ímpar, do melhor do mundo, o meu filho, o Afonso. Meu perfeito, amado e desejado filho. Chegou dia 3 de abril e com ele veio a paz e o acalmar do coração que mais precisava: sou mãe, do ser mais belo do universo.

Esta comunidade, Amor para além da Lua, deu-me luz, deu-me esperança, deu-me o que mais nada deu pelas corajosas partilhas de outras mães. Hoje, espero que seja o meu testemunho a dar luz a alguém.

Com todo o amor para além da lua, a ti, filha.
Com todo o amor do mundo, a ti, filho.

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Sílvia M.

Quando percebi a situação com a qual teria de lidar, senti a necessidade de procurar testemunhos para compreender, de algum modo, como me sentia e com o que estava a lidar.

Em março 2023 descobri que estava grávida do meu 4º filho. Foi uma gravidez inicialmente de risco tendo em conta que estava com descolamento do ovo. Repouso possível + progesterona. Na eco às 13 semanas estava tudo bem. Diagnóstico Pré-Natal também normal.

No início de Agosto, ao realizar a ecografia morfológica, percebemos que algo não estava bem com o funcionamento do coração do bebé. Nesse mesmo dia, realizei o ecocardiograma fetal que confirmou uma doença cardíaca congénita rara e de grau muito severo (1/10 000 bebés). Recebemos o gélido diagnóstico “incompatível com a vida”.

Como assim “incompatível com a vida”? O meu bebé de 20 semanas tinha uma vitalidade excelente, desenvolvia-se muito bem mas tinha um coração que só funcionava por estar ligado através da minha placenta… mesmo assim, não baixámos os braços e investigámos tanto… pedimos informação a equipas médicas portuguesas bem como a médicos internacionais peritos na patologia mas, infelizmente, não tínhamos as probabilidades a nosso favor.. repetimos mais 2 ecocardiogramas fetais e a evolução não era positiva, sem estabilidade.

No final de agosto, passámos por todo o processo do parto para nos despedirmos do nosso P. às 22 semanas. Pegámos nele ao colo, estivemos o tempo possível com ele (nunca é suficiente) e viemos para casa de braços vazios.

Depois deste grande desafio, surgiram outros bem difíceis, sendo um deles contar aos irmãos que o bebé tinha morrido por estar doente e que não iria voltar. É um grande desafio sermos bons pais quando temos o nosso coração partido… Ainda hoje falam sobre ele e em como gostariam que ele ainda estivesse na minha barriga. Acreditam que temos um anjinho a olhar por nós.

Lidar com o pós-parto de colo vazio é um dos maiores desafios psicologicamente e fisicamente. É um processo solitário dado que já não existe um bebé “a visitar”. Ver a barriga a regredir e mais tarde lidar com o regresso da menstruação que parece mais um murro no estômago… Contudo, a verdade é que, por mais difíceis e desafiantes estes momentos sejam, é importante lidarmos com eles porque nos ajudam no luto. Sinto que, ter dado espaço às emoções e lidado com tudo o que estava a sentir fisicamente, me ajudou no processo. Mas sim, não deixa de ser horrível.

Outro desafio, com o qual tenho lidado, é de facto a nossa cultura não saber lidar com o sofrimento. Os dias passam, as pessoas continuam as suas vidas e é como que nos seja exigido o mesmo. Como se o luto tivesse uma validade. Como se continuarmos tristes e em sofrimento já não fizesse sentido. Como se tivéssemos de voltar à “normalidade”. Para as outras pessoas sim, é a normalidade. Mas para nós… deixou de ser… e a verdade é que, grande parte das pessoas, não sabem lidar com o nosso sofrimento. Só não nos querem ver assim. Mas faz parte do caminho. E é/será durante o tempo que for necessário. Cada um tem o seu tempo de cura, de encontrar um novo sentido para a nova e difícil realidade. Não voltamos a ser a mesma pessoa. É inevitável. E há uma nova versão nossa que temos de conhecer e adaptar no dia-a dia. Na verdade, é uma fase em que estamos a sobreviver.

A quem esteja a lidar por esta difícil experiência, um grande abraço. Sigam o vosso coração e lidem com o vosso dia-a-dia conforme sentem que deve ser. Procurem ajuda mesmo que sintam que estão a “lidar bem” com o processo.

Um abraço

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Zita

Olá!

O meu nome é Zita, perdi o meu bebé a 12 de maio de 2023 e este é o meu testemunho sobre diagnóstico de Trissomia 21.


A minha gravidez começou logo mal, quando, no primeiro ultrassom (5s), a médica me disse que eu tinha um descolamento de cerca de 70%, do saco gestacional, devido a um hematoma de origem desconhecida. Estive um mês e meio de repouso absoluto, a tomar progesterona e a repetir o ultrassom todas as semanas.

O hematoma foi desaparecendo e eu fui ganhando esperanças. Às 12 semanas, o hematoma desapareceu. Fiquei radiante e decidi aproveitar a minha gravidez.
Na semana a seguir, com 13 semanas, fui fazer a primeira eco e lembro-me perfeitamente do silêncio da sala depois da médica ter dito, com ar desolado: “Oh Zita …”

Segundos que pareceram horas até eu perguntar o que se passava. O meu bebé tinha líquido no crânio que ia até ao rabinho, como uma espécie de “bossa”.

Fiz a amniocentese no dia seguinte e depois de duas semanas angustiantes, veio o resultado. Trissomia 21 e problemas cardíacos.

Fiquei sem chão, mas a decisão estava tomada desde o primeiro dia de suspeita. No dia 12 de maio dei entrada na Maternidade, para fazer a interrupção da gravidez.

A decisão mais madura e difícil da minha vida. O dia mais desafiante e doloroso (a todos os níveis) da minha vida. Com 14 semanas, deixei o meu menino ir embora.

Não me fazia sentido colocar no Mundo uma criança assim. Sem sequer saber o grau, o meu pensamento era: quando eu morrer, quem cuida do meu amor? Então preferi sofrer eu.

Escrevo o meu testemunho porque vejo que se escreve muito sobre a perda na gravidez e após, mas a decisão de os deixar ir penso eu que fica um pouco esquecida…Só queria dizer a todas as mães que passam pelo mesmo que não estão sozinhas.

Apesar de tudo, só carrego boas memórias do meu menino. Guardei todas as fotos dos ultrassons que fiz. Tirei fotos da minha barriguinha.

Enquanto a tive (mesmo depois de saber o diagnóstico) mostrei-a orgulhosamente ao Mundo porque era o meu filho que ali estava. E na hora de o deixar ir sofri, chorei muito, dei muitas, muitas festinhas da barriga e disse-lhe Adeus.

Agora estaria com 7 meses. E isso dói.

Mas tudo passa…
Será sempre o meu primeiro filho.

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Tânia D.

28/07/2023 Leonor, a nossa menina que brilha no céu

2019 foi o ano em que nasceu a nossa primeira menina… Luana ❤️

Passados 4 anos voltámos a sonhar… e o nosso mundo iria ser novamente cor de rosa.

A Luana ficou radiante, ia ter uma mana… Um dia ao regressar da escola disse que o nome seria Leonor.

Não podíamos estar mais felizes!. Tínhamos desejado tanto esta gravidez, esta menina.

Eu costumava gozar com o meu marido ao dizer-lhe que, na próxima gravidez, iria ser outra menina para o deixar com mais cabelos brancos.
Mal nós sabíamos o que estava para nos acontecer …

Dia da ecografia morfológica , a nossa menina tinha uma obstrução no intestino. Naquele instante ao ouvir o médico, o meu coração ficou apertado, as lágrimas corriam me pela cara.. entrei naquele consultório tão feliz mas saí completamente arrasada, eu senti que era algo grave.

Foi recomendado pelo Dr. Eduardo sermos acompanhados pelo centro diagnóstico pré-natal na Maternidade Bissaya Barreto. Até sermos chamados passou-se mais de 1 semana e meia. Já estava com 24 semanas e uns dias.

Fizemos novamente outra ecografia e para além da obstrução, a nossa menina tinha ascite no abdómen (líquido) , aquela réstia de esperança que levávamos dissipou-se…

Entrámos noutra sala onde nós esperavam 4 médicas de Obstetrícia e genética. sabia que não ia sair dali com boas notícias e assim foi… viemos para casa , já com o papel assinado para o pedido de interrupção de gravidez… a decisão mais difícil e dolorosa que tivemos de tomar, sabendo no entanto que seria o melhor.

Chorámos os dois agarrados no carro, nunca pensámos passar por uma situação destas, os sentimentos eram muitos: revolta, frustração, uma tristeza imensa que nos inundou o coração e agora? Como iriamos dizer á nossa Luana que a mana não iria vestir as roupinhas que lhe tínhamos comprado, nem brincar com ela? A vida não nos prepara para isto…

Começámos por dizer que a mana Leonor tinha um dói dói na barriga e só com esta informação, a nossa Luana deixou de falar na mana, deixou de dar beijinhos na barriga … como se ela também sentisse que estava tudo errado.

Esperámos dois dias pela decisão e tinha sido negada a interrupção, pois os médicos que faziam parte do conselho de ética queriam mais exames. Voltámos passados dois dias para fazer nova ecografia e a ascite tinha desaparecido. Por momentos pensámos que era algo bom, mas depressa percebemos que não… Embora a ascite tenha desaparecido, o rim esquerdo não funcionava e estava cheio de quistos. Tudo indicava ser uma doença genética e, com este novo resultado, a nossa interrupção foi aprovada no mesmo momento.

Sexta-feira, dia 28/07/2023. Dei entrada para ser internada para começarmos o processo. De todas as picadas que levei para retirar sangue, para a amniocentese, a que mais me doeu no coração foi aquela agulha a entrar na minha barriga para parar o coração da minha menina, para que ela não sofresse em todo o processo da expulsão. Não há palavras que descrevam o que senti . Só desejava que passasse tudo rápido, pois tinha acabado de perder a minha filha apesar de ela ainda estar na minha barriga mas já sem vida…A minha Leonor já era uma estrelinha ✨

No dia seguinte, pelas 20h, acabava todo o processo de parto, estava completamente arrasada. Tivemos um parto normal a sabermos que não vamos ouvir o choro do nosso bebé, nem vamos sair da maternidade com ele. Perguntaram-me se queria ver a minha menina mas eu não quis. Não iria suportar ter a minha filha morta nos meus braços, iria ser demasiado para mim. Preferi ficar com a imagem da carinha dela nas ecografias e idealiza-la como eu imaginei .

Têm sido dias muito difíceis para nós, mas continuamos no caminho. Não há palavras que nos possam apaziguar a dor no coração, só o tempo… porque nunca vamos esquecer todo o processo que passámos. Vai ser sempre um filho que nós perdemos.

Mamãs e papás, muita coragem e força, e não se esqueçam que tudo é um ato de Amor .
Falem os dois sobre o assunto, não se fechem, se acharem que é demasiado procurem ajuda psicológica.

A toda a equipa da maternidade Bissaya Barreto, só temos a agradecer pois cruzámo-nos com profissionais com uma gentileza imensa, e que nos ajudaram muito a passar por tudo o que lá vivemos.

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Paula

Chamo-me Paula, sempre quis ser mãe e desde sempre soube que se
tivesse uma menina se iria chamar Ana.


Casei em maio de 2000. Passado algum tempo começamos a pensar seriamente em ter filhos, mas o tempo passava e eu não conseguia ficar grávida.

Como moro perto de Espanha, fui a uma Clínica a Badajoz onde eu e o meu marido realizámos todos os exames necessários para saber se estava tudo bem connosco.

A 26 de Dezembro de 2002 descobri que estava grávida.
Fiquei tão, mas tão feliz, que liguei a toda a gente: família, amigos, colegas de trabalho…a quem me aparecia à frente. Estava eufórica!

Continuei a ser acompanhada em Badajoz; consultas regulares, ecografias, tudo sempre bem. Descobri que era uma menina, fiquei muito feliz. Não
tive enjoos, nem desejos ou vontades, só uma felicidade que transparecia na minha cara.

Terça-feira, dia 5 de agosto de 2003, estava grávida de 36 semanas, sentia-me cansada, sem posição, mas sempre bem-disposta. Fui à consulta, levantei-me bem, tomei o pequeno-almoço e lá fomos. Na clínica tudo sempre uma simpatia. Ao chegar ao gabinete, o médico perguntou como
me sentia, que já faltava pouco, conversa normal. A tensão arterial é avaliada e estava muito alta, seguimos para a ecografia, silêncio… O médico pergunta-me quando foi a última vez que senti a menina mexer.

Sinceramente não sabia precisar, ela mexia-se pouco. Então ouvi as
palavras que nunca pensei ouvir…”a bebé não tem batimentos, não está viva…”

Não queria acreditar. O que tinha corrido mal? O que se passava? Porquê?

Não sei como consegui sair e passar pela sala de espera sem mostrar a dor que me matava. A sala estava cheia de mulheres grávidas. Não podia, não devia, todas estavam a viver o mesmo sonho que eu.

A minha menina era perfeita, linda.

Fui encaminhada para uma Clínica onde fui muito bem tratada, desde médicos, enfermeiros, auxiliares, todos mostraram compaixão pela minha situação. Eu só chorava, não conseguia perceber…faltava tão pouco tempo.

Deram início à indução do parto, eu só queria que esse tempo passasse, que fosse rápido.

A minha menina nasceu no dia 6 de agosto, parto normal, mas não sofri nada em termos físicos.
O meu marido assistiu ao parto, a menina trazia duas voltas do cordão umbilical no pescoço.
A minha menina era perfeita, linda, vi-a durante breves segundos, hoje com muita pena minha, não consigo recordar a sua cara…

Foram dias muito difíceis, uma dor que me rasgava por dentro, revoltei-me contra tudo, porquê a mim? Tantas perguntas sem resposta.

Voltei a engravidar, uma gravidez muito stressante, mas muito vigiada. No dia 16 de Junho de 2004 nascia o meu menino, o Luís Filipe. A dor suavizou, o amor cresceu. Passados 4 anos, engravidei novamente e no dia 11 de Janeiro de 2009 nasceu o meu menino, Pedro Miguel.

Amo os meus filhos mais que a minha vida, serei sempre mãe de três, pois a minha menina nunca será esquecida.

Hoje, passados quase 20 anos, ainda não entendo o porquê de me ter
acontecido isto, mas aceito, só gostava de ter sido a última mãe a passar por tamanha dor.

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Testemunhos Testemunhos Perda Tardia

Liliana L.

Descobrimos que estava grávida logo no início de dezembro. Ficámos tão contentes! Aos poucos íamos começando a falar em ter mais, porquê ficar só com dois? Sempre quis ter mais filhos, até porque já tínhamos uma menina que andava incansavelmente a pedir um mano.

Contactamos a obstetra que nos acompanhou durante a gravidez da nossa filha, descobrimos em Janeiro que estava com diabetes gestacionais. Até aqui tudo certo, fizemos todas as consultas e ecos e tudo aparentava estar bem.

Disse-nos logo muito cedo que era um menino.
O nosso Elijah. Quase que parecia que a nossa filha tinha adivinhado!

No decorrer da gravidez foi correndo tudo conforme esperado, ia fazendo o controle habitual da glicemia e da tensão arterial, tendo em conta que, na gravidez da minha filha, tive pré-eclâmpsia.

Já com 27 semanas voltámos à consulta de rotina com a nossa obstetra. Fez-me uma ecografia rápida. Enquanto passava o ecografo, fazia-me umas questões que até ali me pareciam tão aleatórias…

Entretanto saiu do consultório muito apressada e levava na mão a eco que me tinha feito. Foi aí que percebi que estava alguma coisa fora do habitual.
Assim que regressou, entregou-me as requisições para uns exames, que pediu que as fizesse ainda naquele dia. Já quase em lágrimas, pedi-lhe que me explicasse o que estava a acontecer ao nosso filho, ao que me respondeu para me manter calma, mas que o bebé estava com uma
anemia fetal severa e que necessitava de perceber se esta condição estaria a afetar algum órgão, mas que nesse momento era tudo o que me conseguia dizer.

Foi na ecografia obstétrica, já com outra médica, que o nosso mundo desabou. Começou a aperceber-se que o bebé não estava bem e que a anemia estava demasiado grave.

Solicitou que chamassem a minha obstetra e entretanto pediu-me os exames anteriores. Ia-me fazendo algumas questões e, assim que a minha obstetra chegou, ouvimo-las conversar, sem percebermos qualquer palavra daquela conversa.
Pediu-nos que esperássemos pelo relatório à porta do consultório da minha obstetra que ela deveria de querer falar connosco. Foi quando a auxiliar nos diz que a nossa obstetra já se tinha ido embora. Ficámos perplexos, nem queríamos acreditar.

Não conseguia parar de pensar em como é que isto acontece e como, como é que tudo isto estava a ser tratado com tanta frieza? Com tanta indiferença?

Regressámos à sala da ecografia e solicitámos à médica que nos explicasse o que estava a acontecer. Caramba, só queríamos respostas e merecíamos! Tudo o que pesquisávamos na internet era assustador e pouco ou nada conseguíamos entender.

Aquela cara, nunca a vou esquecer, explicou-nos que o bebé estava com uma anemia fetal severa e já apresentava demasiados edemas, tinha inclusive problemas no estômago e nos intestinos. Que, por norma, as grávidas com estas condições são direcionadas para uma unidade
do serviço público para fazerem uma transfusão de sangue intrauterino, mas que todas estas informações deveriam de ser explicadas pela minha médica.

A caminho de casa, a nossa obstetra liga-nos a explicar o que estava a acontecer e que teríamos de ir na manhã seguinte logo cedo para outro hospital e tudo o que a outra médica nos disse.

Na manhã seguinte, assim que acordei nem queria acreditar que isto nos estava a acontecer. Só queria que aquele sentimento de que ia perder o meu bebé fosse embora, queria pensar que tudo ia correr bem e que, apesar da condição do nosso menino, nos dissessem que ele ia recuperar.

Assim que chegámos ao hospital fomos realizar uma ecografia obstétrica, confirmava-se a anemia fetal severa e que consequentemente o bebé já apresentava vários edemas.
Voltaram a chamar-nos. Desta vez era um médico que queria falar connosco.

Confesso que nos disse tudo o que precisávamos de ouvir. Bruto, mas sincero e agradeço com todo o meu coração. Iria ser ele a realizar todo o procedimento ao nosso filho, iria ter de fazer uma amniocentese e uma cordocentese para conseguirmos identificar o que estaria a causar a
anemia e só depois é que o bebé iria levar a transfusão de sangue.

Infelizmente assim que se inicia a transfusão de sangue o coraçãozinho do meu menino pára.
Toda a sala de operações fica sem reação possível. Peço para que chamem o meu marido, eu já não conseguia estar ali mais tempo sozinha. Só queria o meu marido, agarrar-me a ele e chorar, oh caramba chorar.

Todo o tempo que estive com o meu filho é insuficiente para uma vida inteira sem ele.

Nem queria acreditar que seria possível. Como é que tal crueldade é
possível? Como é que tudo isto nos estava a acontecer?

Nos dias que se seguiram só queria que entrasse em trabalho de parto. Queria sair dali, precisava de estar com a minha filha, ai, a minha filha, como é que eu lhe iria dizer que o mano estava no céu? E o que iria eu dizer à nossa família? Aos nossos amigos? Como é que iria eu
encarar todas estas pessoas?

Pensava que quanto mais rápido fosse o parto do meu filho e mais depressa o tivesse nos braços mais rápido se acabava o sofrimento. Mas era mentira, claro.

Sempre pensei que o Elijah fosse chorar ao “nascer”, é irrealista eu sei. Agarrei-me à possibilidade de tudo não ter passado de um erro e que aquele bebé tão lindo e perfeito, que esteve dentro de mim durante 27 semanas, conseguisse viver uma vida ao meu lado. Tudo para me conseguir manter calma e mentalmente sã. Mas claro, cada um agarra-se ao que pode.

Todo o tempo que estive com o meu filho é insuficiente para uma vida inteira sem ele.

E irá doer para sempre não ter tido a oportunidade de o ver dormir, de ter visto os seus primeiros passos, de não ter ouvido as suas primeiras palavras ou de não o ver a brincar com a mana.

Resta-nos a caixa das memórias que trouxemos do hospital e que preenchemos com as poucas lembranças que temos do nosso menino as cartas que escrevemos, as fotografias da gravidez e a impressão do pézinho dele.

Será para sempre o nosso Elijah, o nosso menino que esteve connosco pouco tempo mas que deixou uma vida inteira cheia de amor.

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Priscila

No início da gestação, eu tive um sangramento e fui para o hospital. Nesse dia descobri que estava com um pequeno descolamento da placenta e o mais assustador: havia uma alteração no meu bebé, transluscência nucal aumentada.

Foi uma gravidez cheia de medos e a cada consulta eu fazia mil perguntas ao médico. Ele explicava que poderia ser algum problema (cardíaco, na coluna ou síndrome de Down eram os mais prováveis) e que não podia fazer nada, a não ser esperar o nascimento do bebé para descobrir o que estava acontecendo. Mas em nenhum momento fui alertada que ele poderia perder a vida, talvez nem o médico deduzisse isso (prefiro pensar assim). 

Com 39 semanas de gestação fui à última consulta, onde ouvimos o coração dele e descobrimos que já estava com 2 dedos de dilatação e com 39 semanas e 5 dias fui para o hospital com contrações. Era dia 11 de Dezembro. Cheguei com 4 dedos de dilatação e logo pulou para 8 e em seguida meu pequeno Antony Samuel “nasceu” na sala de triagem do hospital.

Aquele lugar foi tomado pelo silêncio absoluto, todos apavorados quando viram que o meu bebé estava morto… nem o médico conseguia ter reação. “Faz alguns dias” foi o que ele conseguiu pronunciar para mim. “Pelo menos 3 dias”. 

Meu tão sonhado menino, eu e sua irmã estávamos esperando-o com muita ansiedade, mas Deus precisava dele lá no céu. 

São 4 meses sem meu pequenino e eu ainda não faço ideia de como seguir.