A Clara chegou ao mundo a 4 de Janeiro depois de um parto de mais de 40 horas.
Tal como toda a gravidez, foram as horas mais lentas e mais rápidas da minha vida. Não vou mentir, não foi uma gravidez fácil. Aliás, começou com uma visita ao hospital, por causa de um sangramento e com más notícias: “Claudia, prepara o coração que esse bebé também não vai ficar. Os teus níveis estão muito baixos. Para a semana, quando fizeres o teste de novo, já confirmamos a não evolução com um negativo”.
Eu já estava preparada, afinal, o meu arco-íris não tinha ficado e uma pessoa quase que se habitua a receber más notícias – enfim, perda era tudo o que conhecia!
O teste veio positivo, em segundos. Mas tinham-me avisado que podia acontecer e, se fosse esse o caso, para esperar 3 dias, refazer e se ainda fosse positivo, voltar ao hospital.
Os positivos continuaram a aparecer e eu, com a ânsia, até fiz daqueles electrónicos e as semanas subiram.
Na consulta confirmou-se: má datação inicial, bebé de 7 semanas, coraçãozinho a bater. Eu fiz aquele caminho até casa 2 vezes sozinha. Em ambas tive de dar as más notícias ao meu parceiro. Esta foi a primeira vez que as lágrimas eram de felicidade.
Por ter perdido a Charlie tarde na gravidez, fui seguida muito de perto com ecos regulares e várias consultas. O resto da gravidez, felizmente, foi tranquilo. O meu estado emocional, por outro lado, foi uma montanha russa. Um dia de cada vez. Como forma de proteção, não partilhei a gravidez com quase ninguém e, quando o fiz, foi em fase bem avançada.
Quando o coração de um bebé deixa de bater dentro de nós sem motivo, aprendemos que não há rede de segurança em nenhuma fase da gestação e nada que garanta que vá correr bem. É aceitar o medo, a falta de controlo e seguir, esperando o melhor e preparando-nos para o pior. Mas eu também sabia que ela merecia ser celebrada. Quando passei as 25 semanas, mentalizei-me que ia ter de a conhecer, quer corresse bem ou mal, e por isso, já contava que o coração ia sofrer se ela não ficasse; não havia nada que me salvasse disso.
Houve muitas coisas que fiz diferentes, aliás, eu queria e precisava que fosse diferente, porque semelhanças, na minha cabeça, indicavam uma repetição do desfecho. É importante ter mecanismos de cooperação. Não que eles impeçam os medos ou os dias de saudade e choro, mas precisamos de aproveitar os bons e acreditar, nesses dias, que vai tudo correr bem. Por isso, se se encontrar a fazer qualquer coisa que possa parecer estranha mas que esteja, de alguma maneira, ligada à gravidez, é normal. É um dia de cada vez. É respirar e pôr um pé em frente do outro. Muitas vezes, é esperar que aquele dia acabe.
Mas, nos dias bons, se conseguir, aproveite. Nós culpamo-nos de não fazermos memórias suficientes com os bebés que perdemos e, por medo, acabamos por fazer o mesmo – mas mesmo sem recordação física, o bebé existiu e somos a mãe dele.
Tudo o que vos desejo, é que sintam o alívio, o amor, o quentinho, o cheirinho e a felicidade que eu senti quando a Clara chegou.
É estranho como ela nos pertence, mesmo quando penso que, se calhar, se a Charlie tivesse ficado, ela não teria chegado. E isso parece-me tão errado como a perda dos meus 2 bebés.
A todos nesta viagem, cuidem de vocês, procurem apoio e aproveitem como conseguirem, prometo que vale a pena!
Claudia.
3 comentários a “A Clara.”
Revejo-me nas suas palavras!
É tão injusto para o bebé arco-íris mas e controlar a ansiedade, o medo?!…
Também contei já numa fase avançada, após a morfológica e infelizmente houve pessoas à minha volta que não compreenderam.
Parabéns pela sua luz!!!
Obrigada pela partilha, Cláudia é bom saber que estamos por aqui todas as vezes que não correm como queremos, mas também é bom pensar e saber que ainda há esperança e que ainda há muitas “Claras ” para conhecerem as suas mamãs/papás. Acreditem!
Beijinho no de todas vocês
Obrigada por esta partilha com tanta esperança Claudia. Também eu um dia espero poder partilhar a história de um irmão/ irmã da minha Íris. Beijinho enorme