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Gonçalo – o meu arco-irís

Em dezembro de 2022 faz um ano que eu vivi um dos momentos mais duros e um dos momentos mais felizes da minha vida. No dia 1 de dezembro tive a confirmação de gravidez – o tão desejado positivo.

Antes, já tinha levado com um teste negativo e desilusão. Daquela vez, era mesmo: voltava a ler “grávida” no teste. Um misto de esperança e de muito medo no meu coração! Fui ter com o médico que nos fez o diagnóstico do Feijãozinho e que sempre quisemos que nos acompanhasse numa gravidez arco-irís e que nos desse boas notícias.

E assim foi! Ainda em tempos de Covid, como entrei pelas urgências, tive de ir sem o meu companheiro. Estávamos ambos muito ansiosos! Fiz ecografia e fiquei novamente sem chão, sem palavras e no vazio…

“Renata, não vejo bebé. Só tem o saquinho”, disse-me o médico. Vi, nos olhos do médico, empatia e cuidado. Partilhou a nossa tristeza. Estava, pensava eu, com 6 semanas de gestação. Saio em lágrimas das urgências e o médico disse para voltar na semana seguinte. O meu conforto: “eu ajudo-te, não te preocupes, eu não te deixo sozinha” – disse-me.

E assim foi. Voltei na semana seguinte, mais do que convencida que ia perder o meu bebé…foi o meu mecanismo de defesa: preparei-me logo para o pior e enchi-me das forças que podia, depois de sair do hospital lavada em lágrimas. Regresso nessa semana preparada para o pior e eis que ouço o entusiasmo do médico! Com um sorriso me disse que tinha havido certamente um erro nas semanas. Afinal, nessa semana é que fazia as 6 semanas e daí na semana anterior não haver bebé.

Que felicidade, que alívio! Partilhámos as boas notícias por videochamada! Continuava a esperança no arco-irís! Dezembro não começou bem e estava a ser difícil, mas depois as boas notícias aqueceram-nos o coração. A medo, “escondemos” a gravidez o máximo que conseguimos, tentando contar o mais tarde possível, até mesmo aos familiares mais próximos.

Foi desde o início uma gravidez muito vigiada e muito protegida! Estive com medo o tempo todo! Continuei a ser acompanhada pela psicóloga e psiquiatra, excelentes profissionais que guardarei no coração para todo o sempre.

Antes de cada ecografia, invadia-me uma enorme ansiedade. Um medo irracional até do que não tinha vivido e um ataque de choro antes da ecografia do primeiro trimestre. Mais tarde, seguiu-se a ainda mais temida morfológica, a maldita ecografia que ditou o diagnóstico do meu Feijãozinho. Fomos muito a medo…fizemos as ecografias a dobrar e foi com um alívio que ouvimos dar-nos as boas notícias que tanto desejávamos: “este bebé não tem um único defeito! Tem tudo para correr bem!”. Depois desta ecografia, escolhemos o nome dele e permitimo-nos sonhar e sonhamos!

Eu, que pensava que não ia conseguir ligar-me ao bebé emocionalmente para evitar magoar-me, que pensava que não seria capaz de me permitir amar desde o princípio, apaixonei-me perdidamente. Agarrei-me a ele com todas as forças, dei-lhe muito amor durante a gravidez, falei para ele – fiz tudo o que não pude fazer com o Feijãozinho.

A gravidez arco-irís foi uma luz na minha vida, fez-me voltar a ser feliz, mas não me devolve nunca o que perdi. Antes pelo contrário, mostrou-me tudo o que não pude viver, tudo o que me tiraram desde a interrupção médica…

Decidi, nesta gravidez, que independentemente de qual fosse o desfecho, iria dar-lhe todo o amor e aproveitar. Seria sempre mãe dele! E consegui aproveitar! Não vou mentir: foi estranho e ainda hoje é estranho ser feliz e conseguir permitir-me a ser feliz! Foram 2 anos difíceis de espera, de angústia, de exames, de perdas (não só do Feijãozinho, mas de pessoas e outras partes de mim). Mais para o fim só queria ver o meu menino cá fora, ouvi-lo chorar, tê-lo nos braços!

Não posso também esquecer a força e apoio que tive desde o início de profissionais de saúde maravilhosos: enfermeiras e médicos! A enfermeira que me segurou a mão num dos meus piores momentos deu um enorme abraço quando me viu grávida na consulta!

Enfim, o melhor dia para casar foi o melhor dia para nascer: com vida, com amor para esperança! Uma gratidão imensa!

Agora ouço “custou, mas foi”, como se o Feijãozinho tivesse sido uma tentativa falhada! Mas foi amor, foi força e é e será sempre o irmão mais velho do Gonçalo! O meu primeiro filho!

Não percam a esperança, peçam ajuda, rodeiem-se de uma boa rede de apoio e de boas pessoas e profissionais!

Renata Silva

Mãe do Feijãozinho e do Gonçalo

1 de dezembro de 2022

Um comentário a “Gonçalo – o meu arco-irís”

Oh minha querida, estou tão feliz por vocês que novidade tão boa
Que sejam muito felizes e que o arco-íris seja sempre uma criança feliz e cheia de saúde

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