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Mariana: um testemunho de adoção após perda gestacional

Há mais de dois anos entrou nas nossas vidas a nossa Ana do Carmo.

Não foi fácil, mas nenhum filho nos facilita a vida. Logo logo quando ia desistir, ela finalmente apareceu e tem sido uma crescente emoção na nossa vida e na vida dela.

A nossa história começa com uns longos nove anos de namoro. Eu e o Martim casámos e, logo a seguir engravidei, mas infelizmente perdi o bebé às doze semanas. Foi um choque para mim (para nós) pois sempre idealizei ser Mãe de quatro… e achei que nunca teria problemas em engravidar. Mas a vida prega-nos destas partidas.

Foi um processo doloroso pois acabei por ter um parto normal, vi o meu bebé e tive de fazer duas raspagens no espaço de dois dias! Enfim, uma violência logo de início!

Mas, como sou uma pessoa positivista, logo a seguir comecei a pensar em engravidar novamente, mas descobri que também tinha hipotiroidismo, endometriose e pouca reserva ovárica. Assim, estive cerca de quatro anos para voltar a engravidar quer pela consulta de infertilidade no público, quer pelo privado: sempre a tentar e a ter desmanchos. Foram longos anos a fazer estimulação com injeções, se não me falha a memória foram três, pelo meio uma menopausa precoce… enfim… resumidamente: um filme.

No meio de tudo isto tinha uma grande vontade de adotar e o meu marido, que sempre me disse durante este processo todo que tinha casado comigo por mim e não para ter filhos, que se eles viessem tanto melhor

Até que em 2010/2011 metemos o processo de adoção, pensando até em adotar irmãos. Continuámos com o processo de infertilidade e, em janeiro de 2012, fiz uma FIV finalmente com 2 embriões e engravidei, não vingaram e, mais uma vez, a desilusão.

Mas, como a vida dá muitas voltas, tivemos uma surpresa no mês a seguir de fazer a FIV: engravidei naturalmente da minha primeira filha, a Constança. Um verdadeiro milagre da natureza, para nós, mas também para os médicos.

Foram 41 semanas de uma santa gravidez, embora com um mix de medo e felicidade, mas correu super bem. Pelo meio tive de comunicar às assistentes sociais que estava grávida e fomos aconselhados a suspender a adopção para “vivenciar” a gravidez. Embora não concordássemos muito, lá aceitámos.

A Constança nasceu e passado pouco tempo descobrimos que ela era surda. Lidámos muito bem com isso, dentro do que se pode lidar e partimos para a colocação de implantes cocleares…mas isto já dava outra história…o que interessava é que afinal tinha nascido uma filha que era o que mais queríamos!

Passado 9 meses de a Constança nascer, engravidei novamente e mais uma vez perdi. É aí que decidimos reforçar à segurança social a nossa vontade de continuar no processo de adoção e, até 2017, nada aconteceu.

A nossa Ana do Carmo chega quando menos esperávamos.
Eu já tinha dito ao Martim que esperava até aos 45…depois disso desistia pois não fazia mais sentido. Mas eis que em Fevereiro de 2017 chamaram-nos para fazer uma formação e lá fomos nós sem expectativa nenhuma. Lembro-me de dizer ao Martim…”já não vai acontecer connosco, é tão difícil!!”.

Em Março desse mesmo ano, a 4 dias antes de fazer anos…estava a trabalhar e ligaram da segurança social a dizer que havia uma menina, fiquei a tremer de todos os lados…isto está mesmo a acontecer ?!?! Tinha metido o dia de anos de férias (meto sempre) e nesse mesmo dia lá fomos à segurança social e lá estava a foto com ela.

Em dois dias tivemos de decidir e em quinze dias tínhamos de lá estar a ir buscá-la! Foi um turbilhão de emoções, uma série de decisões a fazer, tais como logística (comprar bilhetes de avião, alterar o quarto delas para comportar mais uma), preparar a nossa filha Constança da vinda da irmã, etc e, por fim, lá fomos nós.

Mais giro ainda foi que a Ana do Carmo estava aos cuidados de uma instituição cuja Freira já de idade tinha sido Freira no Colégio onde o Martim tinha andado e inclusive ela fazia-lhe ovos estrelados quando o Pai se atrasava a ir buscar-lo. Que coincidência inacreditável!!!

Caíram os dois nos braços um e do outro, não se viam desde que o Martim era miúdo. E agora era ela quem cuidava da Ana e ficou super feliz por ficarmos com ela, dizia ela que levávamos um tesouro e nós tão contentes por sabermos que a Ana tinha tido tanto amor dela.

Ela começou de imediato a chamar-nos Mãe e Pai….pois a psicóloga da instituição trabalhou muito bem a integração, aliás ela ao terceiro dia de chegarmos, ficou a dormir connosco.

Não foi de todo um processo fácil, principalmente para ela: de repente vê-se com dois adultos estranhos….lembro-me que nem a mão queria para adormecer…para mim também era tão estranho…a Constança adora que lhe dê festas e a mão e a Ana nada…tirava a mão…

Mas agora já diz “mãe dá miminho e festinhas” ou então “Mãe, gosto de ti até à Lua” ou ainda “Gosto muito da minha família…” e começa a enumerar cada um de nós.

Desde então, tem sido uma descoberta e um crescimento fantástico, mas nem tudo é um mar de rosas, porque não é fácil de repente amar alguém de um dia para o outro. É um processo gradual de conhecimento mútuo, um amor que vai crescendo de dia para dia.


Hoje, já não vemos a nossa vida sem ela! A nossa querida teimosa Anocas

Mariana e Martim, Porto

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