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Aborto de repetição

A dor e a surpresa de uma perda gestacional precoce são, por si só, uma experiência traumatizante. No entanto, há famílias que passam por este tipo de perda uma, outra e outra vez. Quando três abortos consecutivos ocorrem antes das 22 semanas, com os mesmos progenitores, considera-se uma situação de aborto de repetição.

O aborto de repetição afeta entre 1 a 5% das mulheres em idade reprodutiva.

Atualmente, em Portugal, podem ser realizados exames para apurar possíveis causas de perdas gestacionais precoces após a terceira perda. Ainda assim, mesmo depois de investigação, cerca de 50% dos casos continuam sem explicação clínica.

Aborto de repetição: possíveis causas

Apesar das causas genéticas serem, geralmente, responsáveis por cerca de 50% dos casos de aborto antes das 10 semanas de gestação, outras causas incluem:

  • causas anatómicas (como o útero septado e o útero bicórneo),
  • causas endócrinas (como alterações da tiroide)
  • causas imunológicas, infeciosas
  • trombofilias (alterações da coagulação do sangue que podem resultar em trombose) e outras. 

De facto, há, ainda, muitas áreas cinzentas no que diz respeito às causas e tratamentos de abortos de repetição e outras perdas gestacionais. Contudo, segundo um estudo recente do The Lancet, podem estar relacionadas com o uso de progesterona em gravidezes após a perda para que a gestação seja levada a termo com taxas substanciais de sucesso. Num outro estudo, a Tommys publicou informação também muito útil em relação à progesterona e medicação ligada à diabetes para otimizar as probabilidades de uma gravidez com sucesso.

Contudo, há muitos fatores em jogo que podem afetar o risco de aborto como a idade materna ou dos progenitores, historial de perdas anteriores, entre outros.

Por isso, é importante oficializar, clinicamente, as perdas que se tem. Sabemos que é triste, mas, desta forma, ser-lhe-ão oferecidos exames que poderão prevenir futuros abortos espontâneos.

Infelizmente, há ainda muitos casos em que as causas não são descobertas e isto afeta imenso os casais.

De qualquer forma, como já notámos, para a maioria das mulheres em idade reprodutiva, a gravidez é, por si só, um acontecimento transformativo e o aborto representa mais do que simplesmente a perda do produto de conceção.

Representa, principalmente, a morte de um filho, a mudança súbita de planos e expectativas e pode, até, despertar dúvidas sobre a sua competência como mulher e como pais. E o processo de luto não é fácil. Tem direito a chorar pelo bebé que perdeu. Seja ele o primeiro, segundo, terceiro…São todos seus e todos importam.

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