Muitas das vezes, os Enfermeiros adotam uma postura de distanciamento e evitamento destes casos ou abordam este tema de forma leviana e pouco empática, porque temem comprometer-se e não querem mostrar-se frágeis por não saberem o que dizer. Não estão preparados para dar resposta. Claro está, que a forma como lidamos com estes casais depende muito da sensibilidade, da empatia, de experiências pessoais e profissionais para lidar com situações difíceis.
Mas, na maioria das vezes, não é preciso dizer nada, mas sim apenas estarmos presentes no silêncio, sermos uma figura de apoio a quem podem recorrer, darmos a mão, um abraço, sermos o colo daqueles casais que estão a vivenciar um momento de vazio e a ultrapassar um solo desconhecido.
Também eu tive e tenho dificuldade em lidar com estes casos pois, na verdade, não há formação de como acompanhar situações de Perda Gestacional. Ninguém me preparou para lidar com estas situações, ninguém se preocupa com a forma como os Enfermeiros se sentem perante os inúmeros casos a que dão resposta… Somos Profissionais de Saúde, mas também somos humanos: eu sou Enfermeira e tenho 2 filhos!
Não se investe neste tema, não se fala com Profissionais entendidos, não se faz formação…
Eu, pessoalmente, acabo por me envolver, particularmente, nestas situações de Perda Gestacional. Não preciso dizer muito, raramente digo, mas estou lá. Disponibilizo-me para que partilhem comigo o que quiserem, acolho o que me contam, entendo o sofrimento destes casais sem críticas, sem julgamentos e sem frases feitas.
O bom senso, a empatia, o estar próxima, o colocar-me no lugar do outro, fazem a diferença! Acredito que nos momentos difíceis é importante estar presente, dar colo, validar o que os casais sentem e como sentem. Importa dar aos casais espaço para expressarem a sua dor, partilharem sentimentos, dúvidas e receios, para que se sintam acolhidos e validados.
Durante o internamento, deparo-me com o silêncio dos casais. Vivem o momento muito isolados, muito sozinhos. Não digo muito, mas estou presente e todos recebem o meu abraço apertado. Só quero que saibam que não estão sozinhos, que podem contar comigo sempre. E quando rumam a casa, o meu contacto estará com eles para que me possam enviar uma mensagem em qualquer momento. Eu própria envio mensagem para saber como estão. Ficar 1 mês ou mais à espera de uma consulta no Hospital é, para mim, desumano. Quando mais precisam, estão sós! E o papel do Enfermeiro “morre” ali. Nunca mais vê o casal, nunca mais o apoia…Não pode continuar a ser assim.
Acredito que a mudança está nas mãos de quem trabalha diretamente nestes locais de contacto com os casais que sofrem estas perdas, e por isso, quando se tem amor à causa e se faz o que se gosta, há uma motivação extra que me faz voar e pensar mais além, sobre todos os constrangimentos e práticas com que me deparo e que tantas vezes me desiludem e me aliciam a baixar os braços.
Eu caminho com os casais que se vão cruzando comigo e com eles já festejo algumas vitórias.
Sou uma Enfermeira de coração cheio com uma gratidão imensa por todos os casais que marcam a minha história.
Sou feliz assim!
Em breve, espero dar-vos a conhecer mais um projeto de amor.
Por vocês e para vocês… Um obrigada por tudo e por tanto!
Aquele abraço apertado que já muitos receberam.
Rita Cruz