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Informação útil Perda gestacional
luto gestacional

Em abril de 2023, foi reconhecido o luto gestacional e o direito a faltar ao trabalho, seja pela mãe ou pelo pai. Aplica-se a casos de perda gestacional não abrangidos no âmbito da interrupção médica da gravidez ou subsídio parental.

Assim, para quem, infelizmente, passa, por exemplo, por uma perda gestacional precoce, faltar ao trabalho até 3 dias consecutivos.

Para o parceiro(a), existe agora um tempo (ainda que possa ser pouco) que antes não existia. Poderá faltar ao trabalho, até 3 dias consecutivos, quando se verifique o gozo da licença por interrupção da gravidez ou a falta por motivo de luto gestacional.

Esta ausência não determina a perda de quaisquer direitos e é considerada como prestação efetiva de trabalho.

Luto gestacional: como beneficiar dos seus direitos

Para beneficiarem deste direito, tanto a trabalhadora e/ou o trabalhador têm que informar os respetivos empregadores. Devem apresentar, logo que possível, prova comprovativa da morte do bebé durante a gestação. São exemplos: declaração de estabelecimento hospitalar, ou centro de saúde, ou ainda atestado médico.

Mais dias e equiparação à perda gestacional/neonatal

Também relativamente ao luto gestacional, o regime de faltas do Código do Trabalho contempla outras importantes alterações.

No artigo 251º do Código de Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, refere que o familiar tem direito a faltar “até vinte dias consecutivos, por falecimento de parente que seja descendente no 1.º grau na linha reta ou por perda gestacional.” Este direito aplica-se a ambos os progenitores.

Pode usar este tempo no processo de luto – que não é linear, de várias formas e como meio de homenagem ao seu bebé. Embora possam parecer poucos dias, já é um pequeno passo para o reconhecimento do luto gestacional, para o reconhecimento de uma perda que, mesmo acontecendo cedo na gravidez, é sempre a perda de um filho.

Na nossa página temos também um artigo com informações úteis sobre subsídios, direitos e licenças no âmbito da perda gestacional e neonatal.

Procure ajuda, se precisar. E, da nossa parte, já sabe, estamos aqui.

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Apoio psicológico Artigos de Autor | Especialistas Perda gestacional
Suzy Pinho Pereira

Psicóloga Clínica e da Saúde
Gabinete de Psicologia SPP

A perda de um filho durante a gravidez, gestacional, ou à nascença, neonatal, independentemente de ser num período precoce ou tardio, origina um dos lutos mais complexos e, infelizmente, com pouca validação social. Isto acontece devido à pouca compreensão, perante a sociedade, da vinculação que é criada, entre pais e bebé, durante a gestação. Vários estudos referem que o luto de uma perda gestacional não se foca só perante a perda do bebé desejado, mas também com a perda das expectativas criadas antes e após a conceção.

Importa salientar que, após uma perda gestacional, se o luto persistir por muito tempo poderá desencadear crises de ansiedade, stress pós-traumático ou perturbação depressiva até alguns meses após a perda, e, além disso, a adaptação psicológica a uma nova gravidez é afetada. 

Perturbação de Pânico: o que é?

A perturbação de pânico encontra-se inserida nas perturbações de ansiedade que partilham entre si uma série de características de medo e ansiedade excessivos e alterações do comportamento. Deste modo, é importante distinguir estes dois conceitos: o medo é uma resposta emocional a uma ameaça iminente que tanto pode ser real como percebida, a ansiedade, por sua vez, é a antecipação de uma ameaça futura. 

A perturbação de pânico refere-se a uma condição psicopatológica caracterizada por ansiedade, designadamente, episódios recorrentes de ataques de pânico. 

Os ataques de pânico são considerados episódios breves de início súbito e com um pico de intensidade em alguns minutos, sendo caracterizados por uma sensação de angústia, ansiedade e/ ou medo extremos, acompanhados por sintomas físicos, comportamentais, emocionais e cognitivos, tais como:

  • desconforto ou dor no peito;
  • sensação de falta de ar, asfixia ou dificuldade em respirar;
  • vertigens;
  • suores;
  • tremores;
  • sensações de frio ou de calor;
  • náuseas ou mal-estar abdominal; 
  • sensação de desmaio;
  • sensações de entorpecimento ou formigueiro;
  • palpitações ou ritmo cardíaco acelerado;
  • sensações de irrealidade ou de se sentir fora de si;
  • medo de perder o controlo ou de enlouquecer;
  • medo de morrer. 
ataques de pânico

Tipos de ataques de pânico

Os ataques de pânico podem ser esperados, quando alguém que tem uma fobia, por exemplo, de cobras, e ao ver uma cobra irá ter um ataque de pânico; mas também podem ser considerados inesperados pois ocorrem de forma espontânea, sem nenhum gatilho presente, como é o caso de um ataque de pânico noturno, que se caracteriza por acordar num estado de pânico.

Estes ataques destacam-se entre as perturbações de ansiedade como um tipo particular de resposta ao medo. Porém estes não estão limitados às perturbações de ansiedade, podendo muitas vezes ser observados noutras perturbações mentais. 

A Perturbação de Pânico também é caracterizada pela preocupação persistente com a possibilidade de novos ataques de pânico e com as suas consequências que são percebidas como catastróficas. Alguns exemplos de consequências temidas são: desenvolver uma doença cardíaca ou outra, não receber ajuda ou o impacto social negativo. 

Esta perturbação tem início no final da adolescência ou no princípio da idade adulta, estando tipicamente associada a um período com um pico de stress. A sua prevalência varia entre 1,5% e 3,5% da população. 

Já o stress pós-traumático é uma perturbação mental que se pode desenvolver em resposta à exposição a um evento traumático, como pode ser o caso de uma perda gestacional/neonatal, de um acidente de viação, de guerra, de agressão sexual, doença, morte. dos sintomas vivenciados nesta perturbação são os ataques de pânico.

Se reconhecer algum destes sintomas ou sinais em si ou em alguém próximo de si procure ajuda: um psicólogo pode ajudar. 

Suzy Pinho Pereira

Referências: 

American Psychiatric Association (2014). DSM V: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (5ª Ed.). Lisboa: Climepsi Editores.

Gabriel, S., Paulino, M., & Baptista, T. (2021). Luto Manual de Intervenção Psicológica. Lisboa: Pactor 

Gilbert, P., & Allan, S. (1994). Assertiveness, submissiveness behaviour and social comparison.
British Journal of Clinical Psychology, 33, 295-306.

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Ajuda prática Família e Amigos Gravidez pós-perda Perda gestacional
anunciar a gravidez a alguém que perdeu um bebé

Uma das conversas mais desafiantes que se pode ter com uma família que perdeu um bebé é anunciar uma gravidez a esses pais. De repente, pensamos no que vamos dizer, como o vamos fazer e quando iremos partilhar. Não é fácil anunciar uma gravidez a alguém que perdeu um bebé e, a pensar nisso, decidimos escrever este artigo.

Saiba que são sentimentos semelhantes. Quer sejamos pais que tenhamos perdido filhos, quer sejam amigos ou familiares que nunca passaram por uma perda, há um receio em contar, um medo de magoar os pais, anunciando algo que, infelizmente, para eles não correu bem, um lembrar do que aconteceu que poderá trazer tristeza.

Deste modo, a pensar nas famílias cujos bebés morreram ou que batalham a infertilidade, esperamos que estes conselhos ajudem a dar esta notícia, que poderá sentir ser agridoce, da forma mais sensível possível.

Assim, a primeira coisa que gostaríamos de dizer é: conte-nos… sempre. Não tenha medo, se há alguém que vai estar ansiosa à espera que corra tudo bem e a enviar energias positivas somos nós, pais que sabem o que é vir para casa de braços vazios É que, apesar de ser algo solitário, que sabemos que acontece e estarmos preparadas para acolher, ninguém vai fazer de cheerleader melhor que nós. Nós queremos esse bebé aqui, vivo e saudável, tanto como os pais e não nos contar, com medo que nos magoe, só vai agravar o sentimento de isolamento que sentimos.

No entanto, temos plena consciência que é um tema difícil e esperamos que os próximos conselhos ajudem.

Como anunciar a gravidez a alguém que perdeu o bebé

Se puder, avise-nos antes de publicar nas redes sociais

Claro que isto depende do nível de intimidade e amizade que tem com a pessoa – esta lista é a pensar em pessoas próximas, envolvidas na nossa vida. Por isso, antes de anunciar ao mundo, avise-nos. Não é por mal, mas, dependendo de onde estamos no nosso luto, ver publicações destas podem tornar o nosso estômago num nó. É involuntário, mas depararmo-nos com estas publicações, desta forma abrupta, faz-nos pensar no que perdemos, podendo deixar-nos fragilizadas. Assim, saber de antemão vai oferecer a oportunidade para nos prepararmos ou evitarmos ver essa publicação.

Se puder, evite fazê-lo cara a cara

Pode soar estranho e é de louvar a honestidade de uma conversa assim. Mas considere que nos vai pôr no foco – quando ouvimos uma notícia destas podemos, mesmo sem querer, ser assaltados por emoções desconfortáveis. Então, temos de processar e reagir rapidamente e esta digestão acelerada e podemos dizer ou fazer algo que o vai magoar por não mostrarmos o entusiasmo adequado (e sim…esta é uma preocupação válida!).

Envie uma mensagem

Nós sabemos: parece uma forma impessoal de dar notícias tão grandes. Mas permite-nos processar a informação, pôr em ordem sentimentos difíceis e compor uma resposta apropriada (ou até preparamo-nos para uma chamada celebratória).

Dê-nos tempo

Não leve a mal se demorarmos a responder. Afinal, precisamos de tempo para processar. Saibam que estamos felizes por vocês mas, ao mesmo tempo, incrivelmente tristes por nós, seja porque a perda foi recente, ainda deveríamos estar grávidas ou estejamos a tentar novamente sem sucesso.

Não leve a mal os nossos novos limites

Podemos não conseguir acompanhar a vossa jornada na maternidade. Chás de bebé, festas de revelação de género ou até compras para bebé podem ser experiências dolorosas para pais que perderam um filho. Não se ofenda: apenas estamos a proteger-nos e a não tornar esta vossa fase feliz mais sombria por nossa causa.

Prometemos que estamos felizes por vocês, mas também estamos incrivelmente tristes por nós

Apesar de tudo o que os pais de colo vazio possam estar a sentir, lembre-se que esta é uma fase lindíssima e feliz para si. Poderá notar que estes pais se retraem mais em eventos sociais, mas uma vez que processem o que está a acontecer, vão querer estar envolvidos na sua vida. Não deixe de os convidar mesmo que eles digam que não. O importante é manter o espaço aberto para acolher, apoiar e abraçar quando for a altura.

E obrigada por terem os nossos sentimentos em consideração!

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Ofertas e Recursos Perda gestacional Recursos
livros sobre perda gestacional

Não há de facto muitos livros sobre a perda gestacional em Portugal. No entanto, existem alguns exemplos de mamãs que decidiram contar a sua história e dos seus bebés em forma de livro.

Há também livros mais gerais sobre o luto e ainda, para quem souber inglês, algumas leituras que recomendamos publicadas em Inglaterra e que podem ser adquiridas online.

Livros sobre perda gestacional: sugestões de Portugal

“Hoje é o dia certo para nascer”, de Carla Sofia Santos

livros sobre perda gestacional
Um relato alucinante, desde a criação de um sonho ao seu descalabro, onde abundam a fé e a esperança em Deus para transpor obstáculos.

Mais sobre o livro aqui.

“Camila, meu Amor”, de Renata Alves Marvão

livros sobre perda gestacional
Camila, meu amor conta na primeira pessoa a história de uma perda gestacional e de uma interrupção voluntária da gravidez

Nota: 15% de desconto nos livros encomendados através do e-mail loja@myaura.pt que refiram o código “amorparaalemdalua”.

Mais sobre o livro aqui.

“Proibido comparar”, de Cristina Costa

livros sobre perda gestacional
Cristina Costa conta-nos a sua história, a de uma Mãe com 4 filhos, dois na Terra e dois no Céu. Proibido Comparar é uma história de morte, de consecutivos lutos, mas também uma história de vida, de relações criadas e amplificadas.

Mais sobre o livro aqui.

“Acordar com a vida”, de Ana Higuera

Este livro conta uma história de amor que nos aproxima do mistério da vida e, também, do maior medo que temos – a morte.

Mais sobre o livro aqui.

“Os anjos não comem chocolates”, de Andreia Sanches

livros sobre perda gestacional
Os Anjos não Comem Chocolate fala-nos de amor, sofrimento, coragem – e, acima de tudo, da extraordinária capacidade do ser humano de encontrar um sentido para tudo. Até para o impensável.

Mais sobre o livro aqui.

“Defilhar: Como Viver a Perda de um Filho”, de José Eduardo Rebelo

Biólogo de formação, José Eduardo Rebelo dedicou-se à investigação do tema do luto parental depois de ter perdido a esposa e as duas filhas num acidente de viação. É possível superar a perda de um filho? Através de uma escrita simples, sensível e rigorosa, o autor auxilia-nos numa viagem segura pelo mar encapelado do «defilhar», uma palavra nova que concede uma merecida identidade social aos pais vítimas da perda de uma fatia do seu amanhã.

Mais sobre o livro aqui.


Livros sobre perda gestacional para crianças (e não só)

“Para onde vão os bebés que não nascem”, de Patrícia Sarmento

bebés que não nascem livro
Para Onde Vão os Bebés que Não Nascem? lembra-nos de que os adultos também têm muito a aprender com as crianças, sobretudo quando se trata de um tema sensível, que também eles têm dificuldade em compreender.

Mais sobre o livro aqui.


Livros sobre perda gestacional: mais sugestões e no domínio da ficção com base na realidade

A filha única“, de Guadalupe Nettlel

Livro em ficção, mas baseado em factos reais e que aborda a perda gestacional/neonatal.

Mais informação sobre o livro aqui.


Livros sobre perda gestacional: Publicados no Brasil

“Como lidar com o luto perinatal”, de Heloísa Salgado e Carla Polido

Este livro em específico é um guia direcionado para profissionais de saúde. Trata-se de um livro urgente, para apoiar profissionais que lidam com o nascimento quando ele vem acompanhado de perto pela morte. Ainda que possa ser lido por qualquer pessoa desejosa de saber mais sobre o tema, Como lidar: luto perinatal foi pensado, especificamente, como uma ferramenta de reflexão destinada a profissionais e instituições de saúde.

Mais sobre o livro aqui.

“Ele Se Foi, e Agora? Como Superar a Perda Gestacional”, de Patrícia Bellas

livros sobre perda gestacional

Mais informação sobre o livro aqui.

“Perdi meu bebê”, de Damiana Angrimani

Este livro, publicado pelo Instituto do Luto Parental, é a materialização da voz de tantas pessoas que lidam com o luto e que, agora, encontram companhia e conforto – tão pouco presentes nesse processo – para atravessá-lo. Esse caminho não é fácil nem linear. Mas, com informação e vivências, você se sentirá acolhida para ser, sentir e fazer o que lhe é possível diante dessa dor.

Mais informações sobre o livro aqui.

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Gravidez pós-perda

Semana 13

Apoio na gravidez após a perda

Esta semana, estamos oficialmente no 2º trimestre. Noutra vida, esta seria a semana que, provavelmente, iria partilhar a notícia; com uma foto de uma ecografia, mãos em forma de coração na barriga… Mas desta vez, nesta gravidez após a perda, é diferente, não é?

Anunciar uma gravidez é algo muito pessoal. Para alguns pais, vai fazer sentido guardar até não poderem mais (por norma se tiver sido uma perda mais tardia). Outros, vão partilhar, finalmente, que chegaram ao 2º trimestre. Já outras famílias vão partilhar logo porque, afinal, não é contar que vai afetar o desfecho, mas poderá influenciar o apoio que recebem se voltarem a perder.

Seja qual for a sua decisão, saiba que é a correcta. Se quiserem guardar para vocês, está tudo bem. Se quiserem contar, força também!

Esta semana o seu pequenino deve pesar cerca de 25 gramas e medir 7.4 centímetros. Para além disto, os ovários ou testículos do seu pesseguinho devem estar a desenvolver-se por dentro, mas ainda não são visíveis cá fora.

Por esta altura, os sintomas mais desagradáveis, como os enjoos, devem começar a acalmar. Bem-vinda à lua de mel da gravidez!

A coragem tem muitas formas. Por vezes é correr para um edíficio em chamas, outras é contar a sua história.

Nate Pile
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Gravidez pós-perda

Semanas 0-4

Apoio para uma gravidez após a perda

Descobrir que estamos grávidas(os) após uma perda é uma viagem muito específica. Neste artigo, pretendemos dar apoio para uma gravidez após a perda, com enfoque no momento em que há um “positivo” e até ao final do 1º trimestre.

A verdade é que é um sentimento ambíguo. De repente não estamos nos grupos de grávidas que partilham todos os conselhos de parentalidade consciente. Por outro lado, também não sentimos que pertencemos a um grupo de luto, porque, dentro de nós, estamos a gerar uma nova vida. Aliás, não queremos magoar quem está a trabalhar o seu luto e a quem pode ser doloroso ver grávidas.

Mas, aqui está, deu um salto de coragem para esta nova aventura e está a preparar-se para a montanha russa que aí vem.

Assim, primeiro de tudo: Parabéns! Está grávida!

gravidez após a perda gestacional

Mães que tentam depois de uma perda, estão por norma atentas a tudo o que se passa no seu corpo e, por isso, tendem a descobrir mais cedo os resultados.

Facto: Sabia que mais de 50% dos casais voltam a tentar algures entre os 12 aos 18 meses depois da sua perda?

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Ajuda prática Apoio psicológico Informação útil Perda gestacional
natal e perda gestacional

O Natal é uma época particularmente difícil para quem está a passar ou passou, recentemente, por uma perda gestacional ou neonatal.  Neste artigo, procuramos dar alguns conselhos sobre como lidar com o Natal após uma perda gestacional ou neonatal. 

No primeiro ano, imaginamos como seria o nosso bebé. Imaginamos como seria o seu primeiro Natal connosco. A tristeza e a saudade são mais fortes, pelo que é normal sentirmo-nos mais frágeis nessa época. 

Estivemos à conversa com a psicóloga Suzy Pinho Pereira, com um direto, na nossa página do instagram e que aqui integramos, pela sua importância. 

Como lidar com o Natal após uma perda gestacional ou neonatal:

Em resumo, algumas ideias: 

Como incluir, se quiser, o seu bebé:

  • acenda uma vela na mesa da consoada;
  • coloque ornamentos com o nome do seu filho(a) na árvore de Natal (algumas ideias aqui).
  • fale do seu bebé e inclua-o nas conversas com amigos e família (se sentir abertura para tal). 

Pode ainda:

  • Escrever um postal de Natal para o seu bebé. 
  • Fazer um donativo em homenagem ao seu bebé (por exemplo a uma criança da mesma idade que teria o seu filho/a).

Mas, também pode, se não se sentir bem, não celebrar o Natal. Se a perda for muito recente e, juntamente com o seu companheiro, não quiserem celebrar, avisem a família. 

Honestidade e assertividade à mesa no Natal

Na conversa com a Suzy, abordamos ainda outras possibilidades de encarar o Natal após uma perda gestacional ou neonatal. Se há quem sinta necessidade de falar no bebé, há quem, por outro lado, prefira não o fazer, por exemplo, por ainda ser muito recente/doloroso. 

É perfeitamente válido e normal. Aliás, é importante, diz-nos a Suzy, sermos honestos e assertivos e podemos consegui-lo sem sermos indelicados. Afinal, quem nos ama quer ver-nos bem e deve respeitar a nossa dor. 

No Natal após a perda gestacional, é também importante sensibilizar amigos e familiares para o que devem ou não dizer, especialmente numa altura como esta. Lembrar e incluir o bebé é reconhecer que ele existiu e que gostamos dele. Podemos não estar a oferecer-lhes uma tão desejada primeira prenda, mas podemos presentear os pais. 

Recordamos que, também na época de Natal, estão disponíveis várias linhas de apoio psicológico. Não está, nem estará sozinha!

Todos os conselhos sobre lidar com o Natal após a perda gestacional ou neonatal:

Assistam aqui ao vídeo completo:

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Apoio médico Artigos de Autor | Especialistas
pre-eclâmpsia

Quando estamos no primeiro trimestre de gravidez, para além da ecografia, fazemos também um rastreio bioquímico através da recolha de uma amostra de sangue a ser realizada entre as 9 e as 13 semanas e 6 dias. Este rastreio vai determinar, precocemente, se existe ou não um elevado risco para a Pré-Eclâmpsia (PE) e aumenta a probabilidade de um melhor prognóstico para a gravidez.

Se este exame der positivo, os médicos poderão tomar medidas para evitar o desenvolvimento desta doença, como por exemplo, uma vigilância mais apertada e a toma de aspirina de baixa dosagem. 

“É muito importante fazer o rastreio da doença quando se faz a ecografia do primeiro trimestre. Se o risco for elevado, inicia-se a aspirina para baixar a probabilidade da mãe vir a ter PE”, explica a obstetra Lara Caseiro. 

Se esta doença se desenvolver, como se manifesta? A Pré-Eclâmpsia começa a ocorrer no início da gravidez e é caracterizada por: Hipertensão (aumento da pressão arterial) e Proteinúria (eliminação das proteínas na urina).

Quais os fatores de risco para a pré-eclâmpsia?

Existem vários fatores de risco e fatores que são usados, como os denominados marcadores bioquímicos, que vão ser utilizados no rastreio do 1º trimestre. 

A história materna, por exemplo, se ou não a primeira gravidez ou se é uma gravidez resultante de procriação medicamente assistida, e a idade da mulher são fatores que podem aumentar o risco de pré-eclâmpsia: idades reprodutivas extremas, ou seja, menos de 18 anos e maior do que 35. 

Existem também marcadores biofísicos ( Índice de Massa Corporal (IMC) e a Pressão Arterial Média (MAP)), ecográficos (Índice de Pulsatilidade da Artéria Uterina (uA-PI), e bioquímicos (Proteína A plasmática associada à gravidez (PAPP-A) e Fator de Crescimento Placentar (PlGF). 

A PAPP-A é uma proteína que está associada ao crescimento da placenta e o PIGF, produzido precisamente na placenta,  atua como vasodilatador e que aumenta o diâmetro das artérias existentes. 

No primeiro trimestre, o rastreio da PE consiste precisamente na PAPP-A, juntamente com o índice da artéria uterina, a PAM e as características da mãe (IMC, doenças concomitantes e pré-eclâmpsia em gravidez anterior) é que faz o rastreio da PE. “Depois das 20 semanas, outros marcadores, detectados com análises ao sangue, são mais importantes, como o PLGF e o sFLIT (tirosina quinase solúvel)”, explica Lara Caseiro. 

Mas o que estará na origem desta doença? Embora a causa exata da pré-eclâmpsia permaneça incerta, existem fortes evidências de que uma das principais causas seja uma implantação deficiente da placenta.

Quais são os sinais e sintomas da Pré-Eclâmpsia?

A hipertensão, que surge após as 20 semanas de gestação, é o sinal mais comum de pré-eclâmpsia. Outros sinais e sintomas podem incluir, por exemplo, aumento súbito de peso, edema das mãos e pés, alterações na visão, náuseas, ou dores de cabeça. 

Quais as consequências da Pré-Eclâmpsia e como “tratar”?

A Pré-Eclâmpsia está associada, muitas vezes, a restrições de crescimento do bebé e não tem um tratamento. Uma das formas de “tratamento” é a indução precoce do parto, pois, em casos mais graves, esta doença pode levar à morte da mãe e/ou do bebé, podendo aliás ser uma das causas da perda gestacional. Os partos prematuros são uma das consequências do desenvolvimento desta patologia. 

A prevalência da pré-eclâmpsia em Portugal atinge os 2 % das gravidezes.

Este artigo contou, para a sua elaboração, com a colaboração da médica obstetra Lara Caseiro.

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Apoio psicológico Artigos de Autor | Especialistas Perda gestacional

Estivemos à conversa com a psicóloga Ana Rita Silva, que, também, tal como nós, passou por uma perda gestacional. 

Numa conversa via zoom, abordámos vários temas, sobre os quais escreveremos um conjunto de artigos.

Perguntamos-lhe se lhe chegavam muitos casos de perda gestacional. Disse-nos que, em Portugal, ainda “há um enorme preconceito em relação à ajuda psicológica”. 

“Já acompanhei pessoas que tinham perdido um bebé há 30 anos e o trauma continuava tão vivo e tão presente como se tivesse sido no dia anterior. 

É quase como se aquela experiência ficasse encapsulada no tempo e, não interessa quanto tempo passa, mas é como se tivesse sido no dia anterior. Os gatilhos que fazem disparar as emoções são os mesmos e iguais, agora, ou daqui a 50 anos. É como se o trauma estivesse dentro de uma cápsula. 

É mesmo preciso abrir esta cápsula e trabalhar o que está lá dentro. Conseguimos manter experiências avassaladoras exatamente como elas são a vida inteira se for preciso.”

Apesar de se falar mais sobre a perda gestacional, a verdade é que ainda é um tema tabu, pouco compreendido e desvalorizado pela sociedade. 

“Uma das coisas mais difíceis na perda gestacional e neonatal é a solidão. É transversal e muito dolorosa”, explica. Enquanto noutro tipo de traumas e perdas, temos tendencialmente uma rede a apoiar-nos, porque são consideradas mais naturais e passíveis de acontecer, neste caso não temos porque é quase como se fosse algo contranatura, como se fosse alienígena. É uma solidão excruciante. Chegamos a um ponto de nos dizerem: “então, ainda estás a falar disto?” 

Estas atitudes são isoladoras e não ajudam quem está a passar por uma perda gestacional. Aliás, acabam por contribuir para este trauma. Como nos disse a psicóloga Ana Rita Silva, “a sociedade não ajuda nesse campo”. Não poderíamos estar mais de acordo. 

Nunca é tarde para pedir ajuda. É importante encontrar formas de falar e desabafar. Principalmente se o nosso objetivo é voltar a engravidar: “Se a pessoa tenciona ter mais filhos, há toda uma vivência que tem de ser resolvida para não arrastar o trauma para o presente. 

Hoje em dia, existem vários profissionais especializados no luto e ligados à perda gestacional que podem ajudar nesta caminhada de recuperação. Afinal, o trauma não pode estar sempre numa cápsula. 

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Ajuda prática Apoio psicológico Perda gestacional

Como lidar com a perda gestacional e neonatal? É uma pergunta aberta e que não tem nem respostas certas ou erradas. Porquê? Porque cada pessoa faz o seu luto e lida com a perda de forma diferente. Há quem queira falar sobre a perda e que não se evite o assunto. Há pessoas mais reservadas que só querem estar no seu canto e que preferem o silêncio. Cada pessoa tem o ritmo naquela que é uma recuperação que tem muitos altos e baixos. Neste artigo, procuramos ajudar a dar algumas respostas sobre como superar esta perda, aliás, como aprender a viver com ela. 

E, lembre-se, o tempo não cura tudo. O nosso processo durante esse tempo e o que fazemos é que vai ajudar a sarar as feridas. 

Não havendo uma forma certa ou errada, deixamos alguns conselhos que a podem ajudar.

lidar com a perda gestacional

Conselhos para lidar com a perda gestacional ou neonatal 

Peça ajuda, se precisar 

Se precisar de ajuda, por favor procure-a. Pode ser através de amigos ou familiares em quem confie, através de apoio psicológico ou contactando com pessoas que tenham passado por uma situação idêntica. O Amor para Além da Lua, por exemplo, tem um grupo privado de apoio à perda gestacional no qual pode participar. Temos também uma secção de testemunhos onde pode ler histórias de perda gestacional (precoce ou tardia) e neonatal. 

Relativamente ao apoio psicológico, hoje em dia existem, por exemplo, vários profissionais de saúde especializados no luto que a podem ajudar a lidar com a perda gestacional. 

Não se apresse “a ficar bem” e a reagir 

É muito comum as pessoas, não sabendo o que dizer, tentarem ajudar ao dizer “tens de superar e ter força”, “és nova vais ver que bem rápido vais ter outro filho”, “anima-te”. A intenção é a melhor e a nossa tendência é julgar-nos e acharmos que temos de reagir e ultrapassar. Às vezes, ao querer fazer o caminho mais curto, não nos permitir sentir tristeza e pensar no assunto, é apenas varrer “um assunto para debaixo do tapete” e adiar o inadiável. É importante deixarmo-nos sentir tristeza, levarmos o nosso tempo, fazermos o nosso luto. 

Aceite os seus sentimentos e tente esclarecer as suas dúvidas

Os dias, semanas e meses após a perda de um bebé são extremamente dolorosos e a verdade é que sentimos, e é um facto, que não há palavras para nos confortar. Se sentir revolta, raiva e angústia, saiba que é perfeitamente normal. Nestes dias parece que caímos num enorme buraco e que não vamos conseguir sair dele. Sentimos a perda de forma forte no nosso corpo. Arrancaram-nos uma parte de nós. 

Procure saber junto dos médicos quais foram as causas da perda do seu bebé. Poderá ajudá-la a amenizar a sua culpa e a encontrar as respostas que necessita para conseguir lidar com a perda gestacional. 

pensar no bebé perda gestacional

Apoie o seu companheiro

“Do lado de fora”, mas também de dentro, está o pai. O pai que luta para ver a mulher bem e que tudo faz para a amparar e ser um pilar no meio da dor. Converse com ele e procure falar sobre os seus sentimentos. Superar uma perda pode ser mais fácil a dois e pode fazer com que o pai se sinta menos sozinho. 

Não se culpe, nem julgue (ou pelo menos tente): o impacto na intimidade

É normal, após a perda gestacional ou neonatal, haver um abalo na intimidade. Para além da enorme perda ter impacto na vida íntima, porque nos sentimos mal física e psicologicamente, as relações sexuais são muitas vezes associadas à gravidez. Saiba que é normal haver um afastamento sexual e impacto na intimidade. Dê tempo ao tempo e não se culpe por este impacto. 

intimidade perda gestacional

Lidar com a perda gestacional e neonatal não é fácil e é uma caminhada. Aliás, para uns pode ser uma caminhada e para outros pode ser uma maratona. O importante é não parar de andar e ter esperança porque os dias melhores vão chegar. 

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