Não tenho filhos e já pensava não ser possível, pela minha idade!
No mês de Setembro de 2022 comecei a sentir algumas dores no peito, sobretudo quando me levantava de manhã e sentia o peito maior. O período devia ter vindo no final do mês de Setembro, mas não veio. Não quis começar a sonhar, pois já não era o primeiro grande atraso; era apenas um atraso e nada mais. Tinha acabado de fazer 44 anos e já quase não acreditava ser possível uma gravidez.
Entretanto marquei uma consulta com uma nova ginecologista (Dra. RR) para ter uma segunda opinião sobre um exame que a minha ginecologista (Dra. MJA) me tinha indicado fazer (após inúmeros exames feitos para perceber se o que tinha era um quisto ou outra coisa).
No dia 3 de Outubro, fui à tal consulta. Após analisar os exames que levei, a médica fez uma ecografia e viu duas bolsas com uma forma irregular, um tamanho aproximado uma de 5 semanas e outra de 6 semanas, mas sem nada lá dentro. Pensou logo que poderia ser uma gravidez gemelar, o que a deixou preocupada pois não via nada lá dentro. Não sei se fiquei contente ou preocupada. Fui de imediato fazer uma análise de sangue para confirmar se era ou não gravidez. Se fosse, teria de ser vigiada semana a semana, estando já avisada que em caso de hemorragia devia ir de imediato à maternidade. Se não fosse gravidez, aí poderia fazer o dito exame que a outra médica tinha indicado.
A análise que a médica me mandou fazer foi a análise B-HCG total que detetaria logo caso se tratasse de gravidez. Mas o laboratório fez a análise B-HCG Livre… Só mais tarde percebi as implicações!
Entretanto a médica pediu-me que a avisasse assim que chegasse o resultado… as horas passavam e nada… foram quase 48h intermináveis.
Recebo o resultado e ficamos descansadas… Não estava grávida! Se estivesse já sabia que ia correr mal.
Entretanto o período continuava sem vir…as dores no peito continuavam… o peito maior…mas a análise tinha “dito” que não estava grávida. A médica receita-me um remédio para fazer vir o período. Tinha de tomar durante 10 dias.
Durante a noite de 16 para 17 de Outubro tive algumas dores do lado esquerdo da barriga, abaixo do umbigo. Com os meus habituais problemas de intestinos (Cólon irritável) pensei que poderia ser algo que tivesse comido ou o período para vir, apesar da dor ser diferente do normal. Não aguentei a dor e tomei um buscopan.
No dia 17 de Outubro, último dia do dito medicamento, acordo bem-disposta, sem a dor da noite anterior, visto-me para ir trabalhar e vou para mais uma semana de trabalho. Na dúvida levei o buscopan, não fosse a dor voltar!
Ao chegar ao trabalho, passado um pouco, começo a sentir cólicas. Nada de novo considerando os meus habituais problemas de intestinos. Uma corrida à casa de banho, suores frios, testa toda molhada, palidez e uma forte dor do lado esquerdo da barriga abaixo do umbigo. Já não era normal! Não conseguia sequer pensar.
Tomei buscopan na esperança de um milagre. Enviei mensagem à médica e liguei ao meu marido para me ir buscar. Tinha de ir às urgências. Não aguentava! Entretanto a médica liga-me e diz para ir ter com ela à consulta na Casa de Saúde.
Quando me começa a examinar, pensei…“Cá para mim são mesmo problemas de intestinos e a Dra. R. vai se rir e mandar-me embora para ser vista por outra médica!”
De repente liga o som do ecógrafo e por segundos e ouço um barulho estranho…a cara da médica não era boa! Pede desculpa, mas informa-me que ia ter de chamar um colega para confirmar algo que ela estaria a ver. Aqui já começo a achar estranho…algo se passava!
Chega o colega e com ele o veredito final…estava com uma gravidez ectópica na trompa esquerda… 6 semanas e 6 dias, com batimento cardíaco!!!!
Voltando à análise que a médica tinha mandado fazer…se o laboratório tivesse feito a B-HCG total que foi pedida, já tinha dado resultado positivo pois nessa altura já estaria grávida de 3 semanas!
Mantive-me calma. Quer dizer, não podia abrir a boca senão desabava, de tão nervosa que estava! O meu marido entrou na consulta para a médica explicar tudo aos dois!
De lá fui direta para a maternidade, com uma carta da médica, sem poder parar em casa para levar roupa. Tinha de ser operada porque corria risco de vida se a trompa rebentasse. Já tinha sangue, ou outro líquido qualquer de algo que tinha rebentado no útero ou ovários, já nem sei!
Já na urgência da maternidade, não consegui ligar à minha mãe. Pedi ao meu marido para lhe contar.
Quando entrei para a triagem estava lá a minha outra ginecologista à minha espera. Foi a minha salvação, uma cara conhecida naquele momento! Tinha-lhe enviado uma mensagem a informar o que se estava a passar. Como era dia de estar lá, ela foi ter comigo à urgência. Facilitou bastante porque já me conhecia, conhecia o meu historial e foi tratando de tudo com a médica da urgência. Quando sai da sala e me diz “Vai correr tudo bem”, desabei…Foram muitas horas a controlar e manter a calma…
Da triagem, após mais exames, fui direta para o internamento e lá fiquei.
A auxiliar que me leva ao quarto deseja-me as maiores felicidades! (Não terá visto a cor dos meus olhos????)…
Naquele dia não tinham equipa para uma laparoscopia. Mas fiquei preparada caso tivesse de descer de urgência para o bloco (aí teria de ser operação de “barriga aberta”).
No dia 18 de manhã preparam-me para a cirurgia e lá vou eu…
No dia 18 de Outubro acordei grávida de 7 semanas e deitei-me apenas com 4 furos na barriga e cheia de pensos!
No meio deste pesadelo encontrei duas médicas maravilhosas a quem não tenho palavras para agradecer o apoio (Dra. MJA e a Dra. RR)… um marido preocupado que desde que vim para casa não me deixa mexer uma palha…
Hoje faz 10 dias que o que pensei ser crise de intestinos era afinal uma gravidez ectópica…
Contínuo de baixa, na esperança que este desconforto físico passe rápido e me deixei voltar à normalidade! Uma nova normalidade…O psicológico lá chegará.