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Não tenho filhos e já pensava não ser possível, pela minha idade!

No mês de Setembro de 2022 comecei a sentir algumas dores no peito, sobretudo quando me levantava de manhã e sentia o peito maior. O período devia ter vindo no final do mês de Setembro, mas não veio. Não quis começar a sonhar, pois já não era o primeiro grande atraso; era apenas um atraso e nada mais. Tinha acabado de fazer 44 anos e já quase não acreditava ser possível uma gravidez.

Entretanto marquei uma consulta com uma nova ginecologista (Dra. RR) para ter uma segunda opinião sobre um exame que a minha ginecologista (Dra. MJA) me tinha indicado fazer (após inúmeros exames feitos para perceber se o que tinha era um quisto ou outra coisa).

No dia 3 de Outubro, fui à tal consulta. Após analisar os exames que levei, a médica fez uma ecografia e viu duas bolsas com uma forma irregular, um tamanho aproximado uma de 5 semanas e outra de 6 semanas, mas sem nada lá dentro. Pensou logo que poderia ser uma gravidez gemelar, o que a deixou preocupada pois não via nada lá dentro. Não sei se fiquei contente ou preocupada. Fui de imediato fazer uma análise de sangue para confirmar se era ou não gravidez. Se fosse, teria de ser vigiada semana a semana, estando já avisada que em caso de hemorragia devia ir de imediato à maternidade. Se não fosse gravidez, aí poderia fazer o dito exame que a outra médica tinha indicado.

A análise que a médica me mandou fazer foi a análise B-HCG total que detetaria logo caso se tratasse de gravidez. Mas o laboratório fez a análise B-HCG Livre…  Só mais tarde percebi as implicações!

Entretanto a médica pediu-me que a avisasse assim que chegasse o resultado… as horas passavam e nada… foram quase 48h intermináveis.

Recebo o resultado e ficamos descansadas… Não estava grávida! Se estivesse já sabia que ia correr mal.

Entretanto o período continuava sem vir…as dores no peito continuavam… o peito maior…mas a análise tinha “dito” que não estava grávida. A médica receita-me um remédio para fazer vir o período. Tinha de tomar durante 10 dias.

Durante a noite de 16 para 17 de Outubro tive algumas dores do lado esquerdo da barriga, abaixo do umbigo. Com os meus habituais problemas de intestinos (Cólon irritável) pensei que poderia ser algo que tivesse comido ou o período para vir, apesar da dor ser diferente do normal. Não aguentei a dor e tomei um buscopan.

No dia 17 de Outubro, último dia do dito medicamento, acordo bem-disposta, sem a dor da noite anterior, visto-me para ir trabalhar e vou para mais uma semana de trabalho. Na dúvida levei o buscopan, não fosse a dor voltar!

Ao chegar ao trabalho, passado um pouco, começo a sentir cólicas. Nada de novo considerando os meus habituais problemas de intestinos. Uma corrida à casa de banho, suores frios, testa toda molhada, palidez e uma forte dor do lado esquerdo da barriga abaixo do umbigo. Já não era normal! Não conseguia sequer pensar.

Tomei buscopan na esperança de um milagre. Enviei mensagem à médica e liguei ao meu marido para me ir buscar. Tinha de ir às urgências. Não aguentava! Entretanto a médica liga-me e diz para ir ter com ela à consulta na Casa de Saúde.

Quando me começa a examinar, pensei…“Cá para mim são mesmo problemas de intestinos e a Dra. R. vai se rir e mandar-me embora para ser vista por outra médica!”

Mantive-me calma. Quer dizer, não podia abrir a boca senão desabava, de tão nervosa que estava

De repente liga o som do ecógrafo e por segundos e ouço um barulho estranho…a cara da médica não era boa! Pede desculpa, mas informa-me que ia ter de chamar um colega para confirmar algo que ela estaria a ver. Aqui já começo a achar estranho…algo se passava!

Chega o colega e com ele o veredito final…estava com uma gravidez ectópica na trompa esquerda… 6 semanas e 6 dias, com batimento cardíaco!!!!

Voltando à análise que a médica tinha mandado fazer…se o laboratório tivesse feito a B-HCG total que foi pedida, já tinha dado resultado positivo pois nessa altura já estaria grávida de 3 semanas!

Mantive-me calma. Quer dizer, não podia abrir a boca senão desabava, de tão nervosa que estava! O meu marido entrou na consulta para a médica explicar tudo aos dois!

De lá fui direta para a maternidade, com uma carta da médica, sem poder parar em casa para levar roupa. Tinha de ser operada porque corria risco de vida se a trompa rebentasse. Já tinha sangue, ou outro líquido qualquer de algo que tinha rebentado no útero ou ovários, já nem sei!

Já na urgência da maternidade, não consegui ligar à minha mãe. Pedi ao meu marido para lhe contar.

Quando entrei para a triagem estava lá a minha outra ginecologista à minha espera. Foi a minha salvação, uma cara conhecida naquele momento! Tinha-lhe enviado uma mensagem a informar o que se estava a passar. Como era dia de estar lá, ela foi ter comigo à urgência. Facilitou bastante porque já me conhecia, conhecia o meu historial e foi tratando de tudo com a médica da urgência. Quando sai da sala e me diz “Vai correr tudo bem”, desabei…Foram muitas horas a controlar e manter a calma…

Da triagem, após mais exames, fui direta para o internamento e lá fiquei.

A auxiliar que me leva ao quarto deseja-me as maiores felicidades! (Não terá visto a cor dos meus olhos????)…

Naquele dia não tinham equipa para uma laparoscopia. Mas fiquei preparada caso tivesse de descer de urgência para o bloco (aí teria de ser operação de “barriga aberta”).

No dia 18 de manhã preparam-me para a cirurgia e lá vou eu…

No dia 18 de Outubro acordei grávida de 7 semanas e deitei-me apenas com 4 furos na barriga e cheia de pensos!

No meio deste pesadelo encontrei duas médicas maravilhosas a quem não tenho palavras para agradecer o apoio (Dra. MJA e a Dra. RR)… um marido preocupado que desde que vim para casa não me deixa mexer uma palha…

Hoje faz 10 dias que o que pensei ser crise de intestinos era afinal uma gravidez ectópica…

Contínuo de baixa, na esperança que este desconforto físico passe rápido e me deixei voltar à normalidade! Uma nova normalidade…O psicológico lá chegará.

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Decidimos parar de tomar a pílula. Estávamos preparados para dar início à aventura da nossa vida.

Fiz um teste de gravidez. Minto. Fiz dois.

Um tradicional que me indicou dois traços bem fortes e um digital que me indicou que estaria grávida há mais de três semanas.
Fiquei nervosa, mas feliz.

Há algum tempo que sentia algumas cólicas.
Completamente suportáveis e do que já tinha lido, um sintoma comum de uma gravidez inicial. 

Para descargo de consciência, vamos marcar consulta o mais rapidamente possível para saber se está tudo bem e podermos respirar de alívio e sermos felizes por inteiro.
Consegui consulta dois dias depois.
“Não vejo nada no útero. Desconfio que esteja noutra cavidade..”
Já tinha lido sobre gravidez ectópica.
Naquele momento caiu-me o mundo. Não podia ser.
Não me podia estar a acontecer a mim.

Uma mulher saudável, de 29 anos, primeira gravidez. E agora? 
Fui para a urgência do hospital.

Tinha de ser novamente examinada para perceber a situação e a “solução”.
Gravidez tubária.
O embrião, o feto, o nosso bebé, a nossa sementinha de 5 semanas e 7 dias tinha-se alojado na minha trompa esquerda. Cresceu e fez com que houvesse uma ruptura.
“Coágulos, coágulos. Ela tem a barriga cheia de sangue”
Comecei a entrar em pânico.
Entrei na urgência por volta das 17:00, às 19:00 estava a vestir uma bata, a assinar um termo de responsabilidade e a saber que ia para cirurgia (pela primeira vez na minha vida), sem saber qual seria o desfecho. Sozinha (Covid).

Deixei de ver e comecei a desfalecer. Que medo avassalador.
O meu bebé foi sacrificado por não ser uma gravidez viável sendo ectópica e a minha trompa retirada.

Os meses vão passando, a vida lá fora segue, as pessoas deixam de perguntar como estás e ali estás tu, perdida na tua própria dor a tentar encontrar um porquê que não existe. 

Em recuperação, já em casa, abria as redes sociais e era o raro o dia que não dava de caras com o anúncio de uma gravidez. O meu coração ficava do tamanho de uma ervilha.
Desde sempre que imaginavamos cenários na nossa cabeça de como iríamos contar à família e amigos. Meses depois uma amiga foi mãe.
Chorei, chorei, chorei. Sentia uma angústia… Estava feliz por ela mas também tinha inveja.

Chorava porque não queria estar a sentir aquilo mas não conseguia controlar.

Os meses vão passando, a vida lá fora segue, as pessoas deixam de perguntar como estás e ali estás tu, perdida na tua própria dor a tentar encontrar um porquê que não existe. 
Dava por mim a pensar que apesar de no sítio errado, o meu filho estava a crescer, saudável e que não era justo.
Via mulheres que perdiam os filhos a meio, ou mesmo no fim de uma gestação e perguntava-me se era justo sentir-me assim, com uma gravidez de cinco semanas.
Sentia que não me podia comparar. Que a dor seria muito maior e que a minha comparando não era nada.

Mas, agora consigo, com plena lucidez mental, perceber que não se comparam dores. 
Não há dores maiores ou mais pequenas. 
Esta dor foi e é a minha. 
É o meu luto.

Cinco meses depois, após uma salpingectomia unilateral, estou com fé que o universo me vai permitir ser mãe e não me fará passar por tamanha dor novamente. 
Tenho medo. 
Mas o sonho de ser mãe é maior.

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Quando eu e o meu marido nos juntámos sempre desejamos uma casa com família grande e acolhedora, onde houvesse muito amor e união.

Então, aos 18 anos, começámos a jornada de criar família e saiu o primeiro positivo de amor, mas, o pior aconteceu e, com 8 semanas, vimos tudo a desmoronar. Uma primeira dor incontrolável, mas desistir estava longe de ser possível. Ao que aos 21 finalmente tivemos novamente o positivo, claro com muito medo, mas a esperança era grande.

Apesar de ter sido uma gravidez atribulada, fomos abençoados com uma menina linda em que sempre fomos falando em casa de que um dia mais irmãos viriam quando ela tivesse a sua independência. Passaram 5 anos e o desejo sempre a aumentar e começamos novamente na nossa tentativa de aumentar a família. Em 2020, tivemos o nosso positivo e a alegria transbordava. Já se tinham passado 12 semanas e, de repente, tudo foge do controle novamente, surgiu um corrimento, fui logo de imediato as urgências e foi detetado um aborto retido às 8 semanas em que o corpo iniciava a expulsão.

Novamente vieram as lembranças e aquela dor e agora tendo que explicar a uma criança tudo o que se tinha passado. Dói demais, mas ela ensinou-me a ser positiva e a olhar de outra maneira para toda a situação. Afinal tinha tido um parto maravilhoso e uma estrelinha para nos guardar.

Mas a luta para aumentar família permaneceu, e, em 2021, voltamos ao nosso positivo e todo um medo em volta de todo o processo, mas, com coragem, olhámos em frente. Mas, em pouco tempo, a nossa felicidade terminou, pois, apesar de vir com imensa força para este mundo, tinha ficado na trompa.

Todo o processo de uma gravidez ectópica acrescido, mas, apesar de todos os medos, bastou a dita injeção MTX e novamente terminava aquele positivo tão desejado e agora com o medo da reincidência.

A vida tem sido difícil, mas a luz brilhou e, em 2022, tivemos a alegria de duas riscas no tão esperado teste, com todos os medos das anteriores perdas. Fui logo de imediato fazer a ecografia vaginal para confirmar de que desta vez estaria no útero, e, realmente estava no sítio certo. Menos um medo. Veio então o medo da perda, comprei logo um doppler para ouvir o pequeno coração, o que me acalmou bastante. Fizemos a primeira ecografia e o nosso pequenino mexia bastante e adorava dormir encostadinho à minha placenta bem juntinho a mim.

Estava a crescer bem e a evoluir, uff, apesar de enjoos e de vir logo de repouso para casa. Tudo estava a correr na perfeição e um amor infindável de toda a família para receber o meu pequeno Henrique.

Foi então que fomos fazer a morfológica, às 22 semanas e tudo mudou…foi detetada a meningocele (o tipo mais grave da espinha bífida). Fui logo encaminhada para o Hospital Santa Maria em que tivemos todo o apoio de uma equipa maravilhosa que nos explicou o que passava e que chorou connosco. 

Tivemos de parar o coração do nosso menino e com ele foi uma parte de nós papás. 

Tem sido difícil, mas a esperança mantém-se e temos uma equipa médica que já nos garantiu que não nos vai abandonar. E depois temos uma sociedade toda ela retrógrada que não sabem o que este sofrimento e passa o tempo a questionar se somos bem acompanhados, se tomamos todas as medicações, se não temos a consciência que devemos parar… ninguém sabe o que vai no coração de uns pais que desejam ter filhos independentemente de já termos ou não filhos.

Não esquecemos nenhum filho e nenhum é substituível! Quando olho para o céu, sei que tenho 4 estrelinhas minhas e que têm um pai, mãe, e uma mana que os ama e fala constantemente neles.

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gravidez ectópica

Uma gravidez ectópica é uma das causas de perda gestacional no 1º trimestre de gravidez. Se passou ou está a passar por uma gravidez ectópica, lamentamos imenso. Procuraremos, neste artigo, apresentar o máximo de informação sobre sintomas, causas, tratamento, e cuidados. 

A gravidez ectópica é caracterizada pela implantação e desenvolvimento do embrião fora do útero, podendo acontecer nas trompas, ovário, colo do útero, cavidade abdominal ou cérvix. A forma mais comum é a tubária, que ocorre dentro das trompas de Falópio. Como sintomas podem surgir uma forte dor abdominal e um substancial sangramento vaginal, sobretudo no 1º trimestre. Se sentir algum destes sintomas, deve contactar de imediato o seu médico. 

Causas e tratamento da gravidez ectópica

Esta é uma situação muito delicada e é importante perceber em que local se encontra o embrião através de uma ecografia. Desta forma, é possível determinar qual o tratamento mais adequado. 

A gravidez ectópica é uma situação pouco frequente. Gestações fora do útero correspondem a cerca de 1 a 2% de todas as gravidezes. No entanto, há causas que estão muito associadas a este tipo de gravidez, como alterações na tuba uterina, gravidez ectópica anterior, histórico de endometriose, doença inflamatória pélvica anterior, uso do DIU (que raramente falha, mas quando ocorre o risco de gravidez tubária é muito elevado), entre outras. 

Se não for tratada, a gravidez ectópica pode representar risco de morte para a mãe, por isso é importante que seja detetada o quanto antes. Sabemos que é triste e que é estranho pensar no termo “tratamento” associado a uma gravidez, mas infelizmente, nestes casos, não há nada que se possa fazer a não ser cuidar de si. 

Existem dois tipos de tratamento: cirúrgico ou medicamentoso. Se for diagnosticada precocemente, é possível tomar um medicamento que impede o desenvolvimento do embrião. Nesse caso, será como um aborto.

O tratamento cirúrgico consiste na retirada do embrião e da trompa, o que pode ter de acontecer em caso de rutura de trompa. No caso de haver a necessidade de laquear uma trompa de Falópio, as probabilidades de engravidar novamente diminuem cerca de 50%, sendo que após a existência de uma gravidez ectópica, há ainda cerca de 15% a 20% de probabilidade de vir a ter outra.

Como prevenir?

Infelizmente é muito difícil de prevenir, pois a grande maioria deste tipo de gravidez surge em mulheres sem fatores de risco conhecidos. No entanto, a maioria das gravidez ectópicas são casos únicos. 

Após o tratamento da gravidez ectópica

Seguem-se consultas de acompanhamento. Os exames e testes que vai precisar vão depender do tipo de tratamento que seguir. Se o tratamento foi medicamentoso, deverá, por norma, esperar três meses antes de voltar a engravidar. Normalmente, é recomendado esperar, nestes casos, dois ciclos menstruais antes de voltar a tentar, o que também pode ajudar a processar o que aconteceu e a fazer o seu luto. 

Uma gravidez deste género é sempre uma perda gestacional. Por favor, faça o seu luto e não carregue esta dor sozinha. Procure ajuda, sempre que precisar! Seja ajuda médica ou psicológica. 

Após uma gravidez ectópica, é fundamental que a primeira ecografia de uma gravidez seguinte seja realizada um pouco antes do normal, por volta das sete semanas.

Fontes consultadas:

Pumpkin – Gravidez ectópica: o que é, quais os sintomas e o que fazer

Mãe me quer – Gravidez ectópica: o que é, causas e tratamento

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30 de novembro de 2021, o dia em que o meu teste de gravidez deu positivo. Que alegria tão grande! Fiz sem o meu marido para o poder surpreender, imaginei a sua reação, ia ficar radiante de certeza! Porém, no dia anterior, tinha tido umas cólicas fortes, principalmente do lado direito e achei por bem ir a uma urgência obstétrica e assim até teria uma ecografia para juntar à surpresa! No caminho para lá passei por uma loja e comprei um body de recém nascido e um embrulho para o surpreender. Enquanto esperava na urgência, baixei uma app de gravidez, estaria de 6 semanas e a data prevista do parto 23 de julho. Estava tão feliz!

Quando fui examinada pela médica, ao fazer a ecografia, não detectou nenhum saco gestacional, algo que já se deveria ver tendo em conta a data da minha última menstruação. Fiz o HCG e mais tarde confirma-se a gravidez ectopica, na minha trompa direita. Como assim? Que mal tinha feito eu?

Fui para casa meia perdida, quando cheguei a casa deitei fora os testes de gravidez que tinha feito de manhã, como num acto de revolta. Algo que me arrependo.

Falei com o meu marido, sempre muito preocupado comigo e tentando que eu visse o lado positivo, que se tinha descoberto cedo e que ia correr tudo bem. Mas, até hoje, é impossível alguém me consolar.

Estive 2 dias internada, segundo os médicos o meu próprio corpo percebeu que a gravidez estava no sítio errado e não deixou avançar. Não precisei de medicamentos nem de cirurgia. Vim para casa e nesse próprio dia comecei com perdas de sangue e algumas dores, até que um dia tive a perda de sangue maior com coágulos. As dores foram passando, mas o meu coração está cada vez mais partido.

Cada grávida que vejo penso ‘podia ser eu’.

Podia estar a pensar em nomes pro meu bebé e a comprar as suas primeiras roupinhas, em vez disso ando em consultas pra ver o que poderá ter causado esta minha gravidez ectopica.

Poderei ter ficado com algum problema na trompa ou até ter problemas nas duas, ainda falta alguns exames para poder ter conclusões mais definitivas. O que também me deixa muito ansiosa. Será que vou realizar o meu maior sonho, ser mãe ?

O meu bebé não teve nome, nunca ouvi o seu coração, mas para mim é e sempre será real. Sempre será o meu primeiro bebé. Passados mais de 2 meses o body que comprei para surpreender o meu marido continua na mala do meu carro e eu sem coragem pra lhe mexer.

Sinto-me uma pessoa diferente, perdi a inocência e grande parte da leveza com que levava a vida.

Muita força para todas que passaram ou que estão a passar por isto. Que consigamos viver com este vazio que ninguém nos tira.

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Claudia @amorparalemdalua

16 de setembro de 2021.

O dia que viria a mudar a minha vida para sempre. Fiz aquele teste de gravidez com zero expectativas, já tinha tido alguns descontrolos hormonais que se repuseram no mês seguinte, achei que seria mais do mesmo. Quando vi aquele positivo… quem já passou por isso sabe que é impossível descrever. Um misto de medo, ansiedade, felicidade, nervosismo… Não era suposto acontecer, mas como li uma vez “por vezes o melhor da vida é-nos entregue de mão beijada”. Entrei em pânico, afinal o que fazer quando se vê duas linhas no teste? Fui ao hospital.

Fizeram-me eco vaginal, não conseguiram ver nada. Mas a médica falou-me logo de gravidez não evolutiva, gravidez ectópica, gravidez química… Fiquei logo com o coração nas mãos. Fizemos HCG para confirmar o positivo, e restava aguardar, pois poderia ser apenas muito cedo para se ver alguma coisa. Os dias que se seguiram foram dolorosos. Queria estar bem, queria estar feliz. Passava a mão na barriga e queria sentir que estava a acontecer o melhor da vida por ali. Mas havia algo que me retraía. Às poucas pessoas a quem contei disse sempre “é muito cedo, não sei o que isto vai dar, não me quero sentir feliz”. Cada ida à casa de banho implicava inserir o papel higiénico bem fundo para ver se saía sangue. E eis que, no dia 23 de setembro, precisamente uma semana depois, tal aconteceu.

Quando vi o papel sujo pensei “acabou aqui o sonho”. Fui novamente ao hospital. Foram dois minutos até me perguntarem se tinha sido planeado ou não, para depois apenas me dizerem “tem uma gravidez ectópica na trompa direita, vista-se para conversarmos”. Tudo o que se seguiu foi do mais avassalador que já vivi até hoje. Tive que optar entre cirurgia ou metrotexato, com um médico nada afável a explicar-me em que consistia cada uma das opções.

Em desespero saí daquela sala, cheguei cá fora e abracei a amiga que estava comigo quase como que a pedir-lhe colo, chorei como nunca, sem saber o que fazer. Como assim eu é que tinha que decidir? Como é que eu sabia o que era melhor para mim? O melhor era tudo ter corrido bem e o meu maior sonho ter-se tornado realidade e não num pesadelo. Um médico estagiário veio cá fora, acalmou o meu desespero, pediu-me que entrasse acompanhada do meu namorado para falarmos com uma médica que, segundo o próprio, seria mais sensível e mais humana. E foi. Optamos assim pelo metrotexato e preservamos a trompa.

Seguiu-se o internamento, iria fazer a medicação nesse mesmo dia. Mas ao final da tarde a médica veio conversar comigo e explicou-me que o meu corpo já estaria em processo de aborto, estava a rejeitar a gravidez. Aconselhou-me a esperar até ao dia seguinte de manhã para repetirmos a eco e percebermos se haveria necessidade de fazer medicação, ou se o corpo resolveria sozinho. Assim foi. Sexta feira de manhã repetimos a eco, o HCG estava a diminuir a olhos vistos, mas consideraram ser melhor administrar a medicação na mesma, pois o saco estava a ser vascularizado (sabe lá Deus o que isso quer dizer, eu só queria vir embora daquele hospital). Sexta fizemos a medicação, sufoquei no meu próprio choro ao sentir aquele líquido entrar no meu corpo. Imaginei tudo o que aquilo iria fazer comigo e foi destruidor. Sábado voltei a casa, seguiu-se todo o processo de acompanhamento, análises, exames, por aí.


Toda a gente me diz que sou muito nova, que isto não quer dizer que nunca vá ter filhos, que tenho de acreditar e ter coragem para tentar no futuro. Acredito muito que isso vá acontecer, pois continua a ser o meu maior desejo e sonho. Mas deixei de ver a gravidez tão cor de rosa como crescemos a imaginar. Percebi que, por vezes, é muito doloroso e ingrato. Que podemos viver o melhor e o pior do mundo naquele que é considerado um estado de graça. Tenho imagens em looping na minha cabeça, como o momento em que fui à casa de banho e me saíram literalmente postas de sangue. São momentos muito marcantes e que acredito jamais esquecer.

O meu maior sonho tornou-se no meu maior pesadelo. Mas depois descobri que somos tantas, que não é uma luta tão solitária quanto aquilo que parece quando nos bate à porta. Ler testemunhos, saber de finais felizes depois de finais tão infelizes, dá-me alento e coragem. A minha vida agora está focada noutro tipo de objetivos, tenho 26 anos e tão cedo não me imagino a querer tentar a sorte grande. Mas quero que saibam que, no dia em que sentir que chegou a altura, muita da coragem que irei ter veio deste cantinho de partilha, de emoções, de amor. Encontrei aqui a paz que precisava.

Tive apoio incondicional do meu namorado, da minha família, dos meus amigos. Senti-me uma criança pequenina a andar de colo em colo, senti mesmo muito amor e carinho. Mas, por vezes, quando sentia que estava perdida, vinha a este lugar, para mim calmo e pacífico, procurar companhia e esperança junto daquelas que viveram a história na primeira pessoa como eu. E se um dia tiver o meu bebé arco-íris nos braços, garanto que venho aqui relatar o final feliz da minha história.

Não estamos e nunca estaremos sós. A perda gestacional existe: é real. Não deixem nunca que tentem diminuir a vossa dor. Depois disto me acontecer ouvi muitas histórias de pessoas próximas que passaram por situações semelhantes. Por isso acreditem quando dizem que somos muitas. O meu “quando tiver filhos” transformou-se num “se eu tiver filhos”. Percebi a necessidade de se alertar as mulheres para a existência deste estado que por vezes não tem graça absolutamente nenhuma. A maioria escolhe sofrer no seu canto em silêncio, não somos todas iguais. Não importa a forma como escolhemos sofrer, lidar com o sofrimento. Importa que se entenda que é algo que bate a muitas portas, que é bem real e que temos de viver isto conforme acharmos melhor para nós mesmas.

Se estás a ler isto porque passaste por algo idêntico e procuras conforto, recebe o meu abraço apertado e a certeza de que não estás sozinha. O tempo não cura, as memórias não desvanecem. Mas estamos juntas nesta luta. Muita força e coragem. O amanhã será certamente melhor! 🌈💛

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Em fevereiro de 2021, engravidei do meu primeiro bebé, estava feliz mas triste ao mesmo tempo. Era um misto de emoções, de insegurança, medo de não ser capaz de cuidar de um bebé mas a felicidade era tanta que só pensava nele com tanto mas tanto amor. Em março, tive um pequeno sangramento que me levou ao hospital, em que viram que efetivamente o bebé estava bem, mas a médica disse-me que, caso eu perdesse o bebé, que a culpa nunca seria minha.

Eu fiquei em alerta porque, se estivesse mesmo tudo bem, porque a médica diria aquilo?! Fui para casa e adormeci mas com medo de acordar. No dia seguinte, fui à casa de banho e estava cheia de sangue, em que olhei para o papel e vi o que nenhuma gravida queria ver. Foi assustador. Foi o pior pesadelo da minha vida. O meu namorado desmaiou ao ver, em que eu ainda o socorri para ir ao hospital para ter a certeza da minha suspeita. Mas o azar da minha vida não terminou naquele dia…

Em agosto de 2021, engravidei de novo. O medo apoderou-se de mim, tive medo de passar tudo de novo. Mas o bebé era tão desejado que tentei relaxar, rezei pela primeira vez na vida para que o bebé viesse bem de saúde. Até que comecei a sangrar novamente, mas desta vez foi um castanho, muito estranho, não entendi e tive assim quase 2 semanas. Fiz de imediato o repouso absoluto, mas nem assim parava de sangrar.

Falei com a minha obstetra e ela recomendou dirigir-me ao hospital em que ela estava e assim foi, cheguei lá fiz a análise Beta HCG e deu positivo, bastante até mas no útero não estava lá nada. A análise dava positivo, mas na ecografia não confirmava nenhuma gravidez em curso. A minha médica disse que eu podia estar de muito poucas semanas, mas eu sei que já estaria de 7 semanas e era impossível não se ver nada. Mas agarrei-me à fé e à esperança. Voltei lá passado 4 dias, repeti todo o processo e deu positivo, ainda mais do que devia. Depois de muitas tentativas, de muitas médicas a observarem-me, lá viram o meu bebé. Foi diagnosticada uma gravidez com localização indeterminada, ou seja, gravidez ectópica.

Lembro-me de chorar e dizer “não pode ser, outra vez não. Por favor, não”. Naquele momento tudo parou. Não ouvi mais nada sem ser a médica a comentar com a outra de que o feto já tinha batimentos cardíacos. Pior comentário que podiam fazer, porque aí sim o meu coração parou por segundos. A minha médica falou comigo, calmamente, e explicou qual seria o processo para retirar o bebé, pois eu estava em risco de vida e ela não podia permitir que algo me acontecesse. Não ouvi nada do que ela falava, eu só chorava e só queria estar com a minha mãe. Sim, estive sozinha o tempo todo. A dor. O medo. Tudo vivido sozinha. Tenho 25 anos e sinto-me mais velha, sinto-me cansada, sinto-me mal comigo, sinto que já não sou a mesma.

Neste momento, só respiro. Sou mãe de 2 anjinhos e um dia vou contar aos meus filhos o quão agradecida estou por ter tido aqueles bebés na minha barriga.