Hoje quero deixar o meu testemunho aqui, na esperança de confortar um pouco o coração de alguém!
Sei que quando navegamos por águas agitadas a tempestade parece não ter fim à vista, tive dias em que o barco naufragou e eu me senti tão exausta de nadar contra a força das ondas que senti que a qualquer momento ia perder a força na braçada e me ia deixar afogar.
Mas hoje agradeço por cada dia que cai e levantei, pela resiliência que sempre alimentei pelo amor e o desejo de ser mãe.
Em 2020 decidimos que queríamos ser pais. Por motivos de trabalho, cometemos o erro de adiar o início das tentativas quase um ano.
Hoje, digo-vos, nunca adiem os vossos desejos, por motivos que não sejam de força maior… Adormeci muitos dias arrependida de o ter feito!
Em Julho de 2022, descobri que estava grávida, estávamos a tentar esta gravidez já há algum tempo e ficamos super felizes! Senti-me maravilhosa por saber que tinha um ser a crescer dentro de mim…
Na primeira consulta com o obstetra ouvi o que nunca vou esquecer “lamento, mas não está a evoluir bem”: tínhamos uma gravidez não evolutiva, um aborto retido.
Precisei de ir para a maternidade induzir a expulsão e, sinceramente, foi das coisas mais terríveis que passei: ver cair na sanita, o que deveria ser o meu filho a crescer no meu útero.
A dor física foi grande, mas a psicológica foi difícil de suportar… A verdade é que, até ao dia do suposto nascimento deste bebé, o meu sofrimento era grande, não conseguia ver grávidas, nem bebes pequeninos sem chorar.
A frustração de começar tudo de novo, a incerteza de saber se algum dia iríamos conseguir…
Mas, assim que possível começamos logo a tentar de novo. No entanto, eu sentia que psicologicamente estava em baixo e acabei por procurar uma médica de acupuntura especialista em fertilidade que foi a minha sorte grande!
Melhorei bastante a nível psicológico e consegui regular bastante o meu ciclo. Três meses depois (junho 2023) estava novamente grávida.
Mas…tive uma perda de sangue e verificou-se outro aborto, desta vez com suspeita de não ter implantado bem. Não desistimos, e no ciclo seguinte, eu estava novamente grávida, mais uma perda de sangue, várias idas à maternidade, e mais um aborto espontâneo (Agosto de 2023).
Nesta altura, apesar de devastada, senti que iríamos dar outro passo, porque ao terceiro aborto seríamos encaminhados para a maternidade para fazer o estudo do nosso caso. Sinceramente, neste momento, nós já só queríamos uma resposta, uma solução!
Informei-me e infelizmente as consultas estavam a demorar cerca de 6 meses. Não queríamos esperar tanto tempo, mas estávamos desesperados com o facto de podermos voltar a abortar.
Decidimos então procurar um especialista em fertilidade, com a esperança de podermos começar a analisar alguma coisa enquanto não éramos chamados para o estudo da maternidade. O médico achou que eu poderia ter uma inflamação numa trompa e medicou-me, depois poderia voltar a tentar.
Em novembro, descobrimos uma nova gravidez e, só quem passa pelo mesmo, percebe o medo que se sente neste momento. A felicidade típica desta fase dá lugar ao desespero de conseguirmos manter este bebé. Confesso que achei que iria abortar de novo, mas a minha princesa resistiu…(pelo tratamento à trompa, pela aspirina que entretanto estava a tomar ou porque o universo assim desejou).
Em dezembro o nosso médico suspeitou na eco de uma alteração genética, que acabou por não se verificar. Em janeiro, suspeitou-se de um problema no intestino que também acabou por desaparecer. Pensava todos dias que desta vez não me recuperava se algo viesse a não correr bem.
À minha volta todos queriam saber o sexo, eu só queria saber se estava tudo bem, e as semanas entre consultas eram uma contagem decrescente.
Confesso que não consegui viver a gravidez de forma normal, o medo acompanhou-me sempre. Gerar uma vida é tremendamente empoderador, mas muitos dias não o consegui sentir dessa forma… É duro, não minto, senti muita vez que me tiraram o direito a viver a maternidade em pleno.
Em Fevereiro fui chamada para o estudo do hospital, entretanto verificou-se que eu tinha trombofilia, e foi necessário levar injeções diárias.
A minha filha nasceu às 38+4 de parto normal, depois de 3 dias em indução por causa do fluxo do cordão não estar a 100%, foi mais um teste à minha resiliência e à capacidade de suportar a dor, porque o meu útero não queria colaborar.
Mas graças à minha força, às equipas maravilhosas da maternidade BB que se cruzaram comigo, e ao companheiro sempre incansável que tenho a meu lado a nossa pequenina nasceu saudável e cheia de força de viver.
Esperámos tanto por ela e finalmente termos a nossa riqueza nos braços é verdadeiramente o melhor do mundo (mesmo cheia de olheiras e com 3h de sono).
Como a minha avó dizia “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca chegue!” Não desistam!
Tenho vindo a partilhar a nossa história com muitas pessoas, família, amigos, conhecidos do Instagram, mas senti necessidade de a fazer chegar a mais pessoas.
Não sei se por mim, se por ti que estás a ler, ou se por alguém que, ainda sem coragem de ler sobre o assunto, um dia chegue aqui.
A nossa história começou em 2019. Conheci o homem com quem tive de imediato a certeza que casaria e teria filhos. Fiz logo todas as análises de pré concepção. Como tinha tirado um ovário aos 18 anos, por ter um quisto significativamente grande, queria garantir que, quando quiséssemos ser pais, porque o se aqui não estava em questão, tudo estaria ok para isso.
E assim foi. Em junho de 2022 casámos. Foi o melhor dia das nossas vidas, felicidade essa que acreditamos que nem um filho trará. Este é o nosso sonho, esta pessoa que temos ao nosso lado.
Deixei de tomar a pílula no dia do nosso casamento, completamente inconsciente, a meio de uma caixa! Passei a lua de mel toda no vai, não vai de menstruação, mas sem stress. Tínhamos tempo!
Desde sempre que achei que seria difícil engravidar. Apesar de todos os médicos dizerem que não era um problema, eu acreditava que só com um ovário as coisas seriam mais difíceis.
Setembro de 2022 o nosso primeiro positivo. Não fiquei radiante! Disse logo ao meu marido para que não ficasse super feliz, porque era bom de mais para ser verdade.
Fomos à ecografia às 7 semanas. Saco gestacional no sítio, mas apenas de 5 semanas. “Pode acontecer.”, dizia a médica,”teremos de repetir daqui a 15 dias para ver se há evolução”.
Decidimos contar aos pais e irmãos, já com a consciência de que poderia não evoluir. E assim foi. Em novembro confirmámos: gravidez anembreonaria, temos de provocar o aborto.
Optámos por fazer a medicação em casa dos meus sogros. Sabíamos que ia ser doloroso e não queríamos guardar recordações desse momento em nossa casa.
Correu tudo bem, expulsei no próprio dia, e bola para a frente.
Março de 2023 estava grávida outra vez. Nem queríamos acreditar. Era desta!!!
28 de março, o meu dia de anos, uma terça feira! Acordei, fui trabalhar, sem saber que seria o pior dia da minha vida, da nossa vida.
Por volta das 11h deu-me uma dor que me tirou todas as forças. Corri para o WC e nada. Zero!
Chamei a diretora da escola onde trabalho (sim, sou educadora de infância) e esta ligou de imediato ao meu marido. Nem 5 segundos e lá estava ele. Ele e a ambulância atrás de si.
Fomos para o CMIN, tinha sido seguida lá na interrupção da 1a gravidez.
Fazemos ecografia à chegada. Nada, nem saco, nem embrião, nem líquido. “Como sabe que está grávida?” pergunta a médica que nos recebeu nas urgências. “Fiz um teste e deu positivo!” “Ah, então são sabe se está grávida mesmo” responde a médica. (OBVIAMENTE QUE ESTOU GRÁVIDA!!!)
Chamam outros médicos para ver a eco. Um médico, não nos lembramos do nome diz “se tem teste positivo, está grávida! Mas realmente muito estranho, nada se vê nem se encontra.”
Pedem para ficar por perto que vou fazer análises e demora cerca de 2 horas até termos os resultados. (Atenção que ainda estamos no meu dia de anos)
Eu, o meu marido e a minha mãe, lá ficámos. Encontrámos amigos, rimos de tudo aquilo e continuámos com a mesa do jantar de anos marcada.
Por volta das 14h tenho uma quebra de tensão enorme, aparece a enfermeira e levam-nos para nova ecografia. Muito líquido solto. Voltam a chamar muitos médicos, gravidez ectopica é o mais provável. Mais pessoas começam a chegar, pai, irmão, sogros que estavam cá para festejar o meu aniversário, etc…
“Mas o que é isso? Vão me tirar o que tenho aqui? Nem pensem, não deixo. Não têm a certeza? Descubram, mas ninguém me abre.”
“Tem a certeza? Sabe que pode morrer? Tem de assinar um consentimento a dizer que não quer intervenção.” E eu assinei! Isto sem o meu marido ao meu lado, “porque o marido tem de ficar no lado do computador….”
Lá passaram as horas, dor forte no ombro esquerdo, hemorragia interna brutal, operação de urgência…. Tudo acabou bem. O embrião ficou no coto da trompa que tirei aos 18 anos. O lado “bom” continua funcional para continuarmos a tentar de forma espontânea. Ufa! Bola para a frente outra vez!
Fomos a especialistas, clínica Alberto Barros, Porto clínica, … “São azares, vocês engravidam, continuem a tentar”. “Umas análises hormonais podem fazer…”
Antimulleriana (reserva ovárica) 0,17, muito baixa, “mas a verdade é que engravidam, continuem a tentar.” E assim fizemos.
Agosto de 2023 grávida outra vez.
Descobrimos numa ida às urgências no hospital de Abrantes, por outros motivos e nem quisemos acreditar. “É desta, à terceira é de vez!” dizíamos nós a toda a gente!
Fizemos ecografia na maternidade de Abrantes e nada, apenas líquido no fundo do saco. Beta positivo, historial de gravidez ectopica, digo que costumo ter ascite e então “Vamos fazer uma punção para perceber o que é este líquido.”
E lá se confirmou. Não era sangue, respirámos de alívio. Era desta, tínhamos a certeza.
Repetimos ecografia e beta na semana seguinte. Beta a descer, continua sem se ver nada ecografia. Infelizmente não deixaram o meu marido entrar. Ouço coisas do “género” (ponho género para não chocar, pois foi literal o que eu ouvi) “isto? Isto é infertilidade. Este ovário é miserável. É uma inconsciente por estar a tentar de forma natural, está a pôr a sua vida em risco, nunca vai ser mãe de forma natural.”
Caiu-me o mundo, todo! Sozinha naquela sala com o médico (se se pode chamar médico a essa pessoa) e com a enfermeira, que estava branca, sem qualquer reação. Saí daquela sala sem verter uma lágrima. Esperei entrar no elevador para dizer ao meu marido “nunca seremos pais de forma natural, sou infértil”. O meu marido ficou possuído, queria entrar por lá a dentro e desfazer aquele senhor, mas optámos por fazer uma queixa à ordem dos médicos e assim foi.
Voltámos para o Porto, aos nossos médicos de referência, fizemos estudo genético, mais mil analises, tudo ok. Sem qualquer incompatibilidade. Bola para a frente, mais uma vez.
Conhecemos o nosso novo médico nos Lusíadas, que nos referenciou para o CMIN e começámos a ser seguidos lá. Fizemos os exames todos, comecei a tomar tromalyt, poderia ajudar.
Falaram-me no Ponto de Fertilidade, a quem devo muito, lá comecei eu a acupuntura, desta vez estava decidida a fazer tudo o que estava ao meu alcance.
Ficámos 7 meses em que não conseguimos engravidar. Chorava quase todos os dias. Já tinhamos passado por muito, 3 abortos, 7 meses de tentativas sem sucesso. Finalmente referenciados para PMA fomos a uma consulta, não ficámos satisfeitos com o que nos ofereciam, mais os tempos de espera.
A nossa médica de família e a minha psicóloga, a quem devo toda a minha sanidade, acharam que seria bom eu tirar uns tempos, ficar de baixa, descansar, tratar de mim, de nós. E assim foi.
“Não queríamos acreditar! Era um milagre!”
Fomos a mais umas clínicas no Porto. Ouvimos coisas como “o seu ovário está adormecido, provavelmente não irá funcionar este mês. O ideal é ovodoação.” Ok, conformados, aceitamos e decidimos “vamos avançar para tratamento. Vamos a Vigo! Falam tão bem de Vigo, que é lá que vamos” (sem querer desvalorizar todos os médicos que tínhamos em Portugal até agora).
Encontramos uma médica na IVI, a quem lhe agradecemos a calma que trouxe aos nossos corações. “O ovário está ótimo, funciona perfeitamente, tem aqui um folículo que rebentou ou vai rebentar, ainda podem engravidar naturalmente este mês.”
Maio 2024, esperava ansiosamente a menstruação para começar a estimulação para FIV, e esta nunca mais chegou. Atrasou um dia, dois dias, e eu não aceitava. Fomos para Cristelo, para estar mais perto de Vigo, com as injeções atrás (se alguém precisar, ou souber a quem eu possa doar, tenho as injeções no frigorífico e não vou utilizar), e continuava sem chegar. Acreditava que era a minha cabeça a atrasar todo o processo. O meu marido dizia que era bom sinal, mas eu não acreditava.
Tinha um teste em casa, mas não o quis fazer, não queria gastar dinheiro. Até que uma amiga, médica, me liga e pergunta como está a correr o tratamento. Quando lhe conto o que se está a passar ela “obriga-me” a ir fazer um beta. Deu positivo, 80 e qualquer coisa… Não queríamos acreditar!!! Era um milagre! “Impossível. Como assim agora? É desta! Não há como, é o destino!”
Fizemos beta de semana em semana, ecografia de 15 em 15 dias, vesícula vitelina, depois embrião, depois coração… É desta!!! Só pode ser.
Às 11 semanas fazemos as análises do 1o trimestre. Uma médica amiga pergunta se queremos fazer uma eco para confirmar as 11 semanas e fazer o trust, e nós pensámos “porque não?”
Embrião ainda de 10 semanas, é normal, mas… Translucência nucal aumentada. A médica tenta suavizar “é sinal de anomalia, mas é muito cedo, pode ser do crescimento, pode desaparecer”.
Às 13 semanas, estamos em Madrid de férias, um ligeiro sangramento. Não sabemos se podemos voltar pois estamos de carro e o repouso poderia ser o mais indicado. Vamos às urgências. Hospital La Paz. Pessoas incríveis e nós confiantes de que seria apenas mais um susto.
Ecografia, bebe sem batimentos, o nosso chão desaparece. Abraçamos, choramos, ouvimos a médica. Voltámos para o Porto. O nosso bebe morreu. O nosso primeiro bebe.
Ligámos aos nossos médicos, fomos diretos para o CMIN onde já estavam à nossa espera e onde nos explicaram todo o processo e nos garantiram que seríamos bem acompanhados.
A minha psicóloga recebeu-me de urgência nessa noite.
Voltámos no dia seguinte para iniciar a medicação da indução do aborto, horas que nunca mais passavam, dores que não são possíveis de descrever e naquele caos penso: “amor para além da lua, eu preciso de partilhar a nossa história, eu preciso que acreditem que é possível e que acontece”. Enviei uma mensagem nesse dia, nesse momento. Eu precisava disso.
O meu marido não me largou um segundo, a minha mãe, o meu pai, os meus irmãos, os meus sogros, os meus cunhados, as nossas famílias e amigos, todos sempre connosco.
O nosso bebe saiu. 4 centímetros de gente. Com tudo. Pernas, braços, mãos, olhos, tudo. 4 centímetros de gente. O nosso primeiro bebe.
Despedimo-nos dele, despedimo-nos da maternidade no dia seguinte, despedimo-nos de mais uma luta, mais um desafio, com o coração cheio de todos os profissionais que nos acompanharam, de todos os amigos, família, conhecidos, etc etc etc. de toda a gente que se emociona com a nossa história e acredita em nós.
Despedimo-nos do nosso bebe com a certeza que foi ele que nos fez acreditar, foi ele que nos fez confiar e é ele que um dia vai dar vida aos seus irmãos.
Sabemos disso, temos a certeza disso. E queremos que tu também tenhas, tu que nos lês! E finalmente, bola para a frente, mais vez…
O Amor para além da Lua apoia a investigação em Portugal sobre a perda gestacional, que é tão necessária.
Por essa razão, divulgamos um estudo que está a ser desenvolvido na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e deixamos toda a informação a quem nele pretenda participar.
Participar na investigação em ciência é também uma forma de ajudar a encontrar respostas para as causas da perda gestacional e, quem sabe, no futuro, evitar que outras mães passem por esta dor indescritível.
Estudo sobre a perda recorrente de gravidez
O estudo em questão abrange a perda recorrente de gravidez, ou seja os abortos de repetição. Consiste em abortamentos espontâneos em duas ou mais gestações consecutivas até às 24 semanas, nas situações em que não existe uma causa identificada.
A perda recorrente de gravidez afeta cerca de 5% das mulheres grávidas em todo o mundo e estima-se que cerca de metade dos casos permaneçam sem explicação. Uma equipa de investigação da FMUP, da qual fazem parte as cientistas Sofia Dória e Diane Vaz, está a explorar a possibilidade de estes abortamentos estarem relacionados com a expressão anormal de determinados retrovírus endógenos em células do endométrio, comprometendo o seu normal funcionamento e a produção de hormonas e nutrientes de suporte à gravidez.
Segundo Sofia Dória, professora da FMUP, “se os retrovírus e a disfunção endotelial estiverem efetivamente relacionados com a perda recorrente de gravidez, este estudo poderá sugerir novas abordagens na avaliação e seguimento dos casos de mulheres com esta doença que impede o sucesso da sua reprodução”.
Estudos preliminares mostraram que, comparativamente com as mulheres saudáveis, estes retrovírus têm uma menor expressão no endométrio em mulheres com perdas recorrentes de gravidez, o que indica que estas famílias de retrovírus “devem ter funções vitais no endométrio, devem estar comprometidas e devem, por sua vez, causar estas perdas”, conclui a investigadora.
Recrutamento no âmbito do estudo
Recrutamento mulheres com perdas recorrentes de gravidez
Para o estudo, as investigadoras da FCUP estão a recrutar mulheres com perdas recorrentes de gravidez, tendo em conta os seguintes critérios:
Perdas de 2 ou mais gravidezes de 1º trimestre;
Ausência de gravidezes de sucesso, casos estudados e de causa desconhecida
Idade até aos 45 anos.
Recrutamento de mulheres saudáveis para grupo de controlo
Para além disso, para avançar com esta investigação, a equipa da FMUP está também a recrutar:
mulheres saudáveis, em idade reprodutiva
sem história de abortamentos recorrentes
com pelo menos um filho.
Não será realizado qualquer teste invasivo, sendo apenas solicitada a colheita de amostras de fluido menstrual.
Estas amostras, que serão obtidas através de um copo menstrual disponibilizado gratuitamente, permitirão comparar células epiteliais do endométrio de mulheres saudáveis com células do endométrio de mulheres que sofreram perdas recorrentes de gravidez.
Estas últimas serão obtidas através da colaboração com o serviço de Obstetrícia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).
Além dos investigadores do serviço de Genética da FMUP, e do serviço de Obstetrícia do CHUSJ, este projeto conta com o envolvimento de cientistas do Centre for Genomics and Child Health, Blizard Institute, Faculty of Medicine and Dentistry, Queen Mary University of London (QMUL), no Reino Unido.
Mais informações sobre o estudo | Contactos caso haja interesse em participar
Contactar:
Diane Vaz 910428935 ou doutoramentoprojeto@gmail.com
Ainda me dói e eu quero falar sobre o nosso “biscoitinho” …
Ainda quero gritar para o mundo e dizer que o nosso biscoitinho estava vivo…
estava dentro de mim..
e tão amado por nós, pai e mãe.
Era minha segunda gravidez perdida…Duas seguidas – na primeira foi um aborto espontâneo às 6 semanas.
Na segunda vez já foi com muita dor.. Aconteceu muito recentemente, no dia 25 de março 2024.
Estávamos tão felizes e queríamos ver como tu estavas no primeira eco, eu estava já com 13 semanas. Eu já tinha ouvido teu coração antes na semana 8 e estava tudo bem. Tu fizeste algumas danças dentro de mim e depois começou a nossa viagem! Eu estava tão feliz!
Eu e teu pai falávamos contigo todos dias, já imaginávamos como serias. O teu pai não queria saber se eras menina ou menino, queria uma surpresa.
Na semana 11 de minha gravidez, acordei e não sentia as minhas mamas. Assustei-me muito.
Mas claro que sempre tinha esperança e não pensava que poderia perder o meu feto, o nosso biscoitinho. Tinha uma consulta no centro de saúde com o médico de família. Ele dizia que “Tudo bem, é normal não sentir mamas…vai correr tudo bem”
No dia 25 de março, tínhamos marcado uma eco às 8:30 de manhã. Acordei esta noite com um pesadelo que tinha sangue nos meus cuecas … Fui à casa de banho e no papel vi um pouco cor de rosa…
O meu coração já sentia que alguma coisa não corria bem.
Mas ainda não imaginava.
No eco, apanhei uma médica muito doce e humana. Ela começou mexer e tocar minha barriga com mais força…
Depois dizia “Infelizmente, não tenho boas notícias”. Vou lembrar esta frase sempre …
Uma Gravidez – não evolutiva: parou na semana 11 …
Chorei muito. Chorámos. Não lembro-me muito bem este dia…
Fomos ao parque e sentámos numa pedra.. Estava sol e quentinho e os nossos com corações estavam partidos. Eu tive um grande apoio do meu marido. Nós passámos juntos este processo todo.
No dia seguinte, tivemos consulta com uma médica – que parecia um “robot”. Falou comigo como se eu fosse “um armário” e o meu feto morto dentro de mim não fosse nada. Era uma pedrinha ou qualquer coisa que ela achava. Eu chorei muito.
Deram-me um medicamento, disseram que preciso voltar no dia seguinte, fazer expulsão no hospital e tomar mais um medicamento. A enfermeira disse-me que seria muito pouco provável acontecer alguma coisa nessa noite. O meu marido perguntou o que poderia fazer e se iria acontecer em casa. A doutora disse que podíamos apanhar o feto numa caixa plástica para levar depois ao hospital (ela queria fazer exame de estudo do feto).
Em casa, quando fomos dormir, eu já sentia algumas espasmos e tomei ibuprofeno.
Acordei às 3 de manhã com dores.
Tomei benuron, não funcionou.
Às 3:30 de manhã já começou um processo muito triste e difícil.. Senti muitas contrações, fortes. Lembro-me que não sentia as minhas orelhas, tudo no meu corpo doía, queria vomitar. O meu marido acordou e eu já gritava tanto.
A médica não me explicou o processo, eu não sabia nada sobre isto…
Só vi um pouco no internet. Vi que tem sair o feto e depois a placenta…
Tive um parto na caso de banho em minha casa, com uma caixa plástica preparada perto de mim ..
Eu vi e senti que a água começou a sair, depois eu vi outra “coisa”. Não percebi logo que era o meu biscoitinho…saiu. Apanhei-o no caixa, não sei como. Mas apanhei.
Tentei ver o que estava dentro de caixa. Vi uma mão e dedos pequeninos.. Do meu biscoitinho. Gritei tanto.
Dez minutos depois começou grande dor e contrações. Devia ser a placenta a sair… Saiu uma grande coisa com sangue de tamanho como minhas duas mãos. Depois logo me senti melhor… Acabou às 4:30 da manhã.
Meu querido marido tentou vestir-me para me levar ao hospital.
Mas eu não conseguia parar o processo. Já começou, já precisava acabar. Explorar meu feto, o nosso amor e o nosso sonho.
Fomos para hospital. As pessoas que estavam lá não nos receberam bem. A enfermeira gritou comigo.
Fizeram eco, já estava tudo limpo, não precisava nenhuma cirurgia.
Fizeram um vacina de imunoglobulina ( estou RH negativa , meu marido RH positivo) e fizeram também um shot de Diclofenaco. Eu senti-me logo melhor.
Fomos vazios. Em casa dormi muito. Chorei muito. Chorámos muito. Falamos sobre o biscoitinho, muito. Lembramos muito. Meu marido disse “EU AMO-TE muito meu Biscoitinho”. Nunca nos vamos esquecer de ti!
Depois senti mais 2-3 dias muitas dores físicas, depois muitas dores psicológicas…
Uma semana depois, estava no autocarro onde eu estava antes com o meu biscoitinho e chorei muito. Queria cantar para toda gente que estava no autocarro que o meu biscoitinho já morreu. Eu estou já não igual como estava na semana passada no mesmo autocarro com mesmas pessoas.
No dia 15 de fevereiro de 2022 descobri que estava grávida. Um bebé planeado e desejado sendo que não podíamos estar mais felizes. No entanto, sou da área da saúde e como sei que muita coisa pode não correr/estar bem mantive sempre alguma ansiedade até à ecografia do 1° trimestre.
Esta ecografia confirmou os meus receios e apesar da ecografia em si estar bem, os valores do rastreio bioquímico estavam muito altos havendo alta possibilidade de alguma síndrome. Fomos aconselhados a realizar a colheita para dna fetal que para nossa grande alegria veio normal e descansou os nossos corações. Até à segunda ecografia. Uma malformação. Fizemos amniocentese e ficamos de repetir novamente a ecografia. Mais uma nova malformação. E finalmente o resultado da amniocentese que confirmou o nosso maior receio.
O coração do meu Tomás parou dia 8 de Julho e o seu parto foi no dia 9 de julho de 2022. Os dois dias mais difíceis da minha vida. Assim como os seguintes em que tudo parecia cinzento e as lágrimas caiam umas atrás das outras de forma incessante.
Escrevo hoje com a minha bebé arco-íris nos braços para recordar o meu Tomás. A dor melhora mas nunca desaparece e o Tomás está no meu coração todos os dias e nunca será esquecido. O meu filho mais velho.
No entanto, deixo uma mensagem de esperança a quem está neste momento a passar por algo semelhante. Melhores dias virão e os vossos corações serão eventualmente apaziguados. Os dias de sol eventualmente serão em maior número que os cinzentos. E nos nossos corações ficarão a memória e a saudade. Para sempre.
Desde que me conheço que digo: tenho três sonhos na minha vida: casar, ir à Índia e ser mãe. Os dois primeiros já realizados e com a felicidade de poder dizer: realizados com o homem da minha vida.
Eu sou a Joana, tenho 33 anos e venho-vos contar a minha história! Porque todas as histórias aqui lidas me ajudaram e por isso sinto, que posso e devo ajudar outras mulheres e homens.
Em Outubro de 2022, decidimos que íamos ser pais. Um filho não se compra num supermercado, como sabiamente uma grande e querida amiga me disse uma vez. Por isso a decisão de ser pais, começa com a intenção de o ser, e esperar para ver, se a vida tem este capítulo escrito na história das nossas vidas, importa aqui saber, que sempre senti que este seria o sonho que me traria algumas dificuldades em realizar. Nesta altura descobrimos que teríamos de esperar 6 meses, derivado de um contratempo. Chorei muito, mas acreditei que a espera me queria dizer alguma coisa.
Passados os seis meses, sem pressas e sem ansiedade, começámos as nossas tentativas. Em Junho de 2023, dia 14, descobrimos o nosso positivo! Muitos enjoos, impossibilidade de trabalhar, não conseguia perceber se estava feliz ou extremamente chateada por não conseguir estar a usufruir da vida a crescer dentro de mim! O nosso filho! Fizemos a primeira ecografia às 7 semanas, ouvimos o coração forte e pela primeira vez uma luz muito grande invadiu todo o meu corpo. Os dias foram passando, contámos a muito poucas pessoas, os nossos pais souberam, pois eu vomitava dia e noite, e para tranquilizá-los contámos a verdade. A quem contámos, sempre dissemos: “calma, é muito cedo e pode não dar certo.” Dizíamos sempre isto, porque, na verdade, tínhamos os pés bem assentes na terra. Temos dentro do nosso círculo de amigos, amigos estes que são a família que escolhemos, que passaram por duas perdas gestacionais até terem o menino que tem sempre uma palavra bonita para nos dizer.
A história deles sempre me comoveu bastante, pela força, resiliência e o amor entre os dois. Quando fizemos as 12 semanas de gestação, senti que um peso me tinha saído de cima, e pensava, não perdi o meu filho, mas logo de seguida começou a ansiedade, será que está tudo bem? Tínhamos a ecografia marcada das 12 semanas, mas, nesse dia, foi greve dos médicos e ficou remarcada para dois dias depois. Mas quis a vida que, nesse dia de manhã, tivesse um corrimento ligeiramente cor-de-rosa, que me deixou em alerta, e por tal motivo decidimos após o trabalho (enjoos tinham melhorado bastante por volta das 11 semanas), ir à urgência saber se estava tudo bem.
No hospital, a médica (sempre querida), fez uma primeira análise e disse que não tinha sangue e o colo do útero estava fechadinho, mas que iriamos fazer na mesma uma eco. O meu coração acalmou. Ao deitar na maca e ao colocar o ecógrafo na minha barriga, não se via nada…comecei a tremer e a médica justificou que o ecógrafo da urgência não era o melhor do mundo, pelo que teríamos que fazer eco endovaginal. Quando começou, o ecrã virado para mim, percebi logo que o tamanho não seria de um bebé de 12 semanas e expressei isso mesmo.
Antes de me dizerem a mim alguma coisa, disse eu: “o bebé é muito pequeno para 12 semanas não é?” e a médica respondeu: “oh Joana, não tenho boas notícias, temos um bebé com medição de 9 semanas e 5 dias e não encontro batimentos”… não chorei, não disse nada, veio outra médica confirmar o que já tinha sido dito. Só pedi para o meu marido entrar e assim foi. Aborto retido. Não foi aborto espontâneo, como achei durante 12 semanas que poderia acontecer. Apenas nesse dia, muito já noite fora, é que chorei e comecei a questionar: mas porquê?
Fiz a medicação em casa para a expulsão. Os piores momentos da minha vida até ao dia de hoje. Muito sangue, muitas dores, e o momento que senti que era sem dúvida o saco gestacional, com o meu filho, a ser expulso. Grata ao mundo pelo homem maravilhoso que tenho ao meu lado que nunca me deixou desamparada. Se ele pudesse, eu sei, que sem hesitar teria trocado comigo.
Passados 4 dias voltei ao hospital, ainda tinha restos ovulares, mas já sem o saco, sem o meu filho… fiz novamente medicação para ajudar a sair o restante e ajudou (mas pouco). Fomos de férias, para tentar ultrapassar o que nos tinha acontecido. Não era esquecer, porque nunca vamos esquecer que um ser me escolheu para ser casa durante 12 semanas, nos quais quase 10 o seu minúsculo coração bateu dentro de mim.
Infelizmente, quis a vida que os meus restos ovulares saíssem apenas quase 3 meses depois da notícia da perda. Foram longos 3 meses, com dores diárias, sangramento diário, e um tentar diário que tudo está bem e vai ficar bem. Nunca escondi a ninguém o que me aconteceu.
Sou a primeira a querer contar, e sei que é preciso coragem para tal. Mas precisamos de normalizar a perda. A gravidez está longe de ser igual às novelas, as histórias todas bonitas e românticas que vemos nos filmes. Uma em cada quatro mulheres que engravidam, passam por isto. Umas mais cedo, outras mais tarde, outras depois das 12 semanas e todas sofrem. Umas mais, outras menos, mas sofrem. Até as que escolhem interromper a gravidez por vontade própria. É um processo doloroso e está longe de ser normal, como nos querem fazer acreditar.
Vou ser eternamente grata, ao meu primeiro filho, por me ter ensinado tanto, mesmo sem nunca o ter sentido nos meus braços, no meu colo. Agora, é seguir em frente e esperar por algo que sinto e sei: o meu filho vai voltar e eu vou tê-lo nos meus braços, ver crescer e ensinar-lhe todos os dias: com amor, tudo vale a pena!
No dia 18 de junho, o meu mundo desmoronou mais uma vez. Eu que estava tão feliz com o meu arco-íris, meu sonhado bebé, que já estava aqui comigo três meses.
Mais uma vez soube que essa gravidez não poderia ir mais para a frente, pois o teu coraçãozinho já não batia mais. Eu te amo e te amei tanto meu filho enquanto estiveste aqui, obrigada por me ter escolhido para ser tua casa nesses 3 meses mais felizes da minha vida.
Que um dia Deus me possa fazer vivenciar isso de novo, mas dessa vez até ao fim, até ter-te aqui nos meus braços para a vida toda.
Ninguém nunca entende a mulher que passa pelo luto do aborto e ninguém nunca irá entender até realmente passar.
Nessa fase todos viram médicos, todos acham que sabem o que dizer. Mas, na verdade, não há nada que possa ser dito, não há nada que supere a dor de perda de uma mãe.
Sim, já me considero mãe, mesmo que não tenhas nascido. Considero-me mãe desde o primeiro positivo, dos dois tracinhos, do “grávida mais de 3 semanas”. Ouvir o teu coraçãozinho pela primeira vez foi a sensação mais bonita e única da minha vida toda. E a minha maior ansiedade era quando que voltaria a ouvir esse coração que, embora tão pequeno, já tinha mudado muito dentro de mim.
Só tenho a agradecer-te, minha estrela mais brilhante, agradecer-te por tudo! Obrigada por me fazer presenciar e sentir um dos sentimentos mais puros do mundo. Por pouco tempo que tenha sido, tenho muito a agradecer.
Talvez nesse momento da minha vida questione até Deus. Não porque a minha fé foi abalada, mas sim porque não entendo: Porquê comigo? O que foi que eu fiz? Será que o meu problema é grave? E porque sinto a dor da revolta. E acho que nesse momento está tudo bem em revoltar-me. Acho que tenho mais a agradecer do que reclamar, mas nesse momento não sei o que agradecer.
Só sei que a dor que carrego é tão grande, só eu sinto. Só sei que a cruz tem ficado cada vez mais pesada para eu carregar. E pergunto-me até quando irei suportar tudo isso.
As minhas lágrimas são a minha única forma de expressar a minha dor, e como dói , dói na alma, dor essa que nenhuma mulher deveria sentir.
Por favor: Guarda-me senhor como a menina dos teus olhos.
Deus me faça forte, porque te adorar é o que me mantém de pé.
Nunca tive aquele sonho em ser mãe, ter um filho… nada!
No início de 2022, algo deu corda ao meu relógio biológico e essa vontade despertou em mim. Comecei a imaginar-me de barriguinha, de bebé nos braços, as noites mal dormidas, tudo..
Fui dando o meu parecer ao meu namorado. No fim de maio de 2022 decidimos que ia deixar a pílula e assim foi. Começamos os preparativos, marcar consultas, começar a tomar o ácido fólico, fazer análises, avaliar o útero… tudo ok; vamos lá seguir em frente e tentar.
Eu sabia que ia ser uma longa jornada. Entretanto, reduzi o tabaco e em 22 de novembro acordei e decidi não pegar mais num cigarro. E assim foi, nunca mais!
Os meses passavam e o medo de não conseguir engravidar atormentavam-me a cabeça!
Em fevereiro de 2023, 3 dias de atraso (igual às duas últimas menstruações). Mais um dia de atraso e, ao fim do dia de trabalho, fui à farmácia comprar o teste. Dia 23 de fevereiro, acordei nervosa e sem sinais de menstruação. Ok, vamos lá fazer o teste e…. Primeiro teste da minha vida e tão positivo eu vibrei!
Eu tremia por todo lado, não conseguia acreditar! Antes de sair para o trabalho tinha de dizer ao meu namorado, claro! Marcar consulta, tudo bem, mais exames ao sangue etc.. fui ao privado; queria ter a certeza que tinha um bebé dentro de mim, parte de mim não acreditava! Dia 8 de Março, feliz da vida, vi o coraçãozinho minúsculo a bater e a partir daí a minha vida ganhou outro sentido. Eu vivia não só por mim, eu estava a gerar uma vida…uma responsabilidade enorme nas minhas mãos, uma benção!
Todos os dias andava feliz e contente, acho que foram os melhores dias da minha vida! Dia 3 de abril – primeira consulta no hospital. Fui à enfermeira, entretanto o médico chamou, mal sabia eu que o meu sonho estava por um fio…
Após as perguntas e conversa com o médico, fomos ver se estava tudo bem. O médico chamou o pai para vir ver o bebé connosco! Ele veio e… um silêncio ensurdecedor apoderou-se daquela sala, um longo silêncio esquisito. “Catarina, lamento mas não tenho as melhores notícias…”
O meu coração disparou. “O bebé parou de evoluir por volta das 8 semanas e a Catarina já está com 10, não há batimentos.”. E as lágrimas rolaram.
Tive de decidir entre uns comprimidos para provocar um aborto ou esperar que o corpo expulsasse naturalmente. Optei pelos comprimidos, não havia esperanças, não valia a pena a espera do meu corpo reagir! Posso dizer que depois das melhores 10 (6) semanas da minha vida, veio o pior dia e noite da minha vida! Um processo tão doloroso, físico e psicológico… não fazia ideia que ia passar por tudo aquilo.
Apesar de na semana antes da consulta, ter comentado com uma colega que estava com medo de chegar e ouvir “o seu bebé não evoluiu”, nunca quis acreditar que isso me aconteceria! Longe de imaginar a dor que uma mãe sente, por gerar uma vida e não ter a capacidade de evitar perder essa mesma vida!
Uma dor que fica sempre comigo, serei sempre tua mãe meu anjo.
A nossa história de amor começou no dia 6 de Junho de 2022, quando fiz um teste de gravidez e deu positivo.Não queria acreditar e fiz 3 testes diferentes. Todos eles deram positivo.
Foi o primeiro teste de gravidez que fiz. Apesar de já estarmos a tentar há cerca de 6 meses, nunca tinha tido um atraso menstrual. Também não tive atraso menstrual nesse mês mas, chamem-lhe intuição, eu sentia-me gravida. E estava.
Lá estava o nosso positivo. O nosso grande sonho estava a começar.
Tinha uma consulta com o meu ginecologista nesse mesmo dia e disse-lhe que tinha feito um teste de gravidez que deu positivo. Ele receitou-me logo vitaminas e disse para voltar dali a 15 dias, porque ainda não se via nada. Estava grávida de cerca de 4 semanas. Quinze dias depois voltei e lá estava o saquinho no útero. Quinze dias depois e já consegui ouvir o bater do seu coraçãozinho.
Contamos a novidade aos avós que ficaram tão felizes. Afinal de contas seria o primeiro neto tanto dum lado, como do outro.
Começamos a comprar roupinhas, a pensar em nomes e a fazer mil e um planos na nossa cabeça.
Eu era luz. Luz e sonhos. Eu radiava alegria e felicidade para onde quer que eu fosse. Sentia-me forte. Sentia-me a super mulher. Sentia que nada nem ninguém me podia machucar, porque dentro de mim eu gerava vida. O meu filho. E sentia-me poderosa.
Sempre achei que quando estivesse grávida me fosse sentir frágil e fraca, mas não, foi o tempo que eu me sentia mais forte… Acordava todos os dias e dizia “bom dia, meu amor, mais um dia juntinhos”.
Fazia mil e uma festinhas ao longo do dia na minha barriga. E gostava de a ver crescer. Os sábados ganharam mais cor pois acrescentava mais uma semana de vida ao meu “docinho de marmelada”, (eu gostava de o chamar assim). Media a barriga todos os sábados e lembro-me perfeitamente de ficar toda contente por ela aumentar 1cm por semana.
Chegou o dia da ecografia do 1º trimestre. Estava tão nervosa. Estava tão tensa que a médica me mandava sempre relaxar, mas eu não conseguia. Só relaxei no final quando ela me disse que estava tudo bem. Aí, o meu coração relaxou.
Foi a melhor sensação da minha vida e estava grávida de mais quase uma semana do que eu estava a contar.
Fiz um diário online onde escrevia tudo o que estava a sentir e um bocadinho do meu dia a dia da gravidez, para mais tarde recordar.
Tudo corria bem. Contámos à família. Já estávamos a decidir os padrinhos. Os nomes já estavam escolhidos tanto para menino como para menina.
Tudo era um sonho tornado realidade.
Fui à médica para saber se podíamos ir de férias em Agosto. Ela disse que sim, e fomos felizes e radiantes da vida. Tirámos tantas fotos na praia com a minha barriguinha que já se começava a notar (17 semanas). Estávamos tão felizes! Olho para trás e só queria voltar a sentir a mesma felicidade.
Regressámos de férias a um domingo, na segunda seguinte fomos ao obstetra que disse que estava tudo óptimo com o bebé e que achava que seria uma menina.
Eu não acreditei. Sempre senti que seria um menino. Intuição de mãe, não sei. Nesse mesmo dia fizemos uma ecografia em 3D e, apesar de pequenino, já se via perfeitamente o nosso bebé tímido e muito simpático (como as médicas o descreviam).
E disseram-nos que muito provavelmente seria um menino.
Nesse mesmo dia de manhã tinham-nos dito menina e depois menino, estávamos confusos. Mas faltavam apenas 10 dias para a ecografia do 2º trimestre e já tirávamos todas as dúvidas e poderíamos contar à família, que todos estávamos ansiosos para saber se seria uma menina ou um menino.
Mas não conseguimos chegar a esse lindo momento.
Nessa quinta feira à tarde comecei com imensas dores de barriga, que não sabia o que seria. Fomos às urgências de um hospital, a médica disse que estava tudo óptimo. Eram apenas gases, mandou-me tomar ben-u-ron e ir embora e, para a próxima, tomar ben-u-ron antes de ir às urgências.
O meu coração ficou descansado. Afinal de contas tudo estava bem.
Mas as dores não passavam e, no dia seguinte, fomos a outro hospital (podia ser que tivessem outra opinião).
Fui vista por 2 médicas que disseram exatamente o mesmo, que seriam gases. Também me disseram que tinha o colo do útero demasiado curto para as semanas de gestação que tinha (18 semanas), mas não estavam nada alarmadas. Mandaram-me repousar, mas não estar todo o dia deitada na cama, e receitaram-me progefick.
Perdi o bebé no dia seguinte em casa.
O meu bebé simplesmente escorregou por mim abaixo, como se o meu corpo o rejeitasse. Ainda me lembro do horror. Do sangue imenso. Das dores terríveis.
Chamei a ambulância que me levou para o hospital mais próximo. Lá, tiveram que me operar para retirar a placenta pois não tinha saído. E eu lá estava com o meu bebé ao lado embrulhado num paninho. E eu só queria acreditar que tudo aquilo tinha sido um pesadelo.
Lembro me de acordar da anestesia e pensar que tudo aquilo não tinha passado dum pesadelo, mas tudo tinha sido verdade.
Isto tudo foi em Setembro. Sete meses passaram e eu não consigo esquecer. Sete meses passaram e eu ainda pergunto “porquê?”. Sete meses passaram e eu ainda choro quase todos os dias pelo meu bebé.
Ainda não sei o que aconteceu visto que tudo estava tão bem, o meu bebé mexia, tinha batimentos cardíacos, estava tudo perfeito.
Fez-se a autópsia onde descobri que era um menino (a minha intuição não tinha falhado) e era perfeito. Sem nenhum problema físico nem cromossómico. Era um menino perfeitamente normal.
E isso custa tanto… Dizem-me que é melhor assim. O menino ser perfeito, porque assim sei que eu e o meu marido temos bebés perfeitos, mas custa tanto saber que perdi um bebé perfeito e saudável.
Ele era tão pequenino. Mais ou menos do tamanho da palma da minha mão. Um bebé pequenino e perfeitinho.
Seria o nosso Mateus.
Agora as saudades matam-me por dentro.
Como é possível ter saudades de momentos que apenas existiam na minha imaginação? Momentos que nunca aconteceram mas eu sonhava que acontecessem.
Como é possível agora sentir-me fraca quando já me senti tão poderosa?
Há 7 meses que eu não consigo sorrir. Nada me traz felicidade. Tudo aquilo que dantes me deixava feliz agora simplesmente não é nada.
Tudo o que eu queria era o meu bebé.
Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”. Eu tenho saudades de fazer festinhas na minha barriga, tenho saudades de falar com ele, de sonhar com ele no meu colo, tenho saudades de ver a minha barriga crescer.
Tenho saudades da felicidade genuína. De sorrir duma coisa simples.
Hoje o meu bebé teria cerca de 2 meses. E eu só consigo imaginar o seu sorriso, os seus olhos, o quanto eu o amava e amo.
Imagino a dar.lhe de mamar, a colocá-lo para dormir, a dar-lhe banho, acariciá-lo, dar-lhe beijinhos. Dançar com ele….
A minha vida parou em Setembro de 2022. Os dias passam mas a minha alma ficou em Setembro.
O meu bebé foi-se embora e com ele levou metade de mim. Levou metade do meu coração com ele.
E agora pergunto me: como voltarei a conseguir ser a mesma pessoa?Alguma vez conseguirei voltar a ser a mesma?
Eu sinto que a vida que estou a viver agora não é a minha vida, eu deveria estar em casa a tomar conta do meu bebé e não a trabalhar e a chorar pelos cantos. Eu não quero viver neste inferno.
As pessoas não percebem esta dor. Dizem : “ah és nova podes ter outro” ou “pelo menos foi no início” ou “foi porque Deus assim quis”.
Mas as pessoas não sabem qual é este sofrimento, esta dor que acorda e adormece connosco. Esta dor no coração que não sai por nada deste mundo.
Eu não sei o que fazer para deixar de sentir esta dor.
Agora o meu diário online que dantes escrevia todos os momentos da gravidez, agora é o meu aliado, onde escrevo as minhas tristezas e angústias, onde desabafo e choro o meu filho.
Vejo todas as meninas que estavam grávidas ao mesmo tempo que eu a ter os seus bebés e eu nada, e eu de colo vazio e pergunto-me: “o que fiz eu de mal?”, “onde é que eu errei?”
Custa tanto saber que o bebé que era tão amado, tão desejado, tão sonhado, simplesmente escorregou por mim abaixo e eu não pude fazer nada para o salvar.
Só me apetece chorar todos os dias.
Meu eterno bebé. Meu Mateus, amado sempre.
A nossa história começou a 6 de Junho de 2022 e terminou a 12 de Setembro de 2022. Foram 18 semanas de amor.
Com um único corrimento transparente com alguns raios de sangue, dirigi- me ao hospital apenas por descargo de consciência…
Cheguei feliz com uma barriguinha espevitada nesse dia para 12 semanas e 3 dias. Quando chamada para observação, a médica, ainda interna, comentou que não sabia mexer numa das máquinas e, quando fizemos a primeira eco, decidiram passar para outra máquina.
Foi tudo tão rápido que fiquei sem acreditar que o meu tão sonhado bebé estava morto dentro de mim há quase 3 semanas. Os enjoos continuavam e o dr Google dizia que eram boas notícias. Era a gravidez a evoluir.
Apesar de um início de gravidez muito turbulento, em que me separei do pai do meu bebé por me ter pedido que abortasse, de muito ter chorado, de dois picos de tensão alta, nada fazia prever este desfecho.
Era na sexta que ia fazer a ecografia do primeiro trimestre… Dada a notícia chorei compulsivamente e optei por ficar internada …
Era isso ou ir para casa e preocupar ainda mais a minha mãe que também já sonhava com este feijãozinho. Não voltei a sangrar nesse dia e só queria estar sozinha!
Sinto-me vazia, como se o meu futuro idealizado tivesse agora sido cortado em mil pedaços e tivesse manchado.
Estava sozinha e com medo. Nessa noite não dormi, pedi muito a todos os contactos que pude que me fizessem mais uma ecografia, queria muito uma segunda opinião, a máquina podia ter algum problema, pensei… ou talvez o feto tivesse realmente menos semanas porque eu não era regular…
Fiz então a ecografia antes de iniciar o restante tratamento… uma médica amorosa e paciente, mostrou-me tudo e explicou-me tudo. Fez toda a diferença. Ainda muito chorona, mas já mentalizada !
Só à noite é que as duras cólicas vieram e o corpo pedia-me que fizesse força…
Duas vezes a fazer uma força lá do fundo das costas e dois enormes coágulos saíram; era o meu bebé com toda a certeza!
Tranquiliza-me a fé de que o bebé cumpriu a sua missão e, apesar de tudo, continua a ser ele que me tornou mãe! O meu bebé só aprendeu a voar.
Voltei a observação e, apesar do bebé já não estar lá, ainda tinha muita coisa para sair, mais um ciclo de tratamento para ver se conseguimos evitar uma ida ao bloco!
Tive alta, confiaram que o meu corpo se encarregaria do resto e não tive de passar pelo medo que a anestesia já me estava a causar.
Ontem foi o único dia que não chorei, sentia-me tão culpada por isso … simplesmente estava vazia!
Com a alta, despedi-me daquela cama com um colo vazio, o sonho de sair com o amor da minha vida no ovinho deu lugar a uma dor nas entranhas, a um desgosto de alma e um coração em milhares de pedaços. Estou em casa, voltei à realidade e nada assusta tanto…
Tive dores fortes, mas a dor de não ter aqui o meu bebé é mais forte do que tudo….apesar de ter ficado pelas 9 semanas e eu só ter descoberto quase 3 semanas depois, o meu ratinho de 4 cm tornou-me Mamã.