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Desde que me conheço que digo: tenho três sonhos na minha vida: casar, ir à Índia e ser mãe. Os dois primeiros já realizados e com a felicidade de poder dizer: realizados com o homem da minha vida.

Eu sou a Joana, tenho 33 anos e venho-vos contar a minha história! Porque todas as histórias aqui lidas me ajudaram e por isso sinto, que posso e devo ajudar outras mulheres e homens.

Em Outubro de 2022, decidimos que íamos ser pais. Um filho não se compra num supermercado, como sabiamente uma grande e querida amiga me disse uma vez. Por isso a decisão de ser pais, começa com a intenção de o ser, e esperar para ver, se a vida tem este capítulo escrito na história das nossas vidas, importa aqui saber, que sempre senti que este seria
o sonho que me traria algumas dificuldades em realizar. Nesta altura descobrimos que teríamos de esperar 6 meses, derivado de um contratempo. Chorei muito, mas acreditei que a espera me queria dizer alguma coisa.

Passados os seis meses, sem pressas e sem ansiedade, começámos as nossas tentativas. Em Junho de 2023, dia 14, descobrimos o nosso positivo! Muitos enjoos, impossibilidade de trabalhar, não conseguia perceber se estava feliz ou extremamente chateada por não conseguir
estar a usufruir da vida a crescer dentro de mim! O nosso filho! Fizemos a primeira ecografia às 7 semanas, ouvimos o coração forte e pela primeira vez uma luz muito grande invadiu todo o meu corpo. Os dias foram passando, contámos a muito poucas pessoas, os nossos pais souberam, pois eu vomitava dia e noite, e para tranquilizá-los contámos a verdade. A quem contámos, sempre dissemos: “calma, é muito cedo e pode não dar certo.” Dizíamos sempre isto, porque, na verdade, tínhamos os pés bem assentes na terra. Temos dentro do nosso círculo de amigos, amigos estes que são a família que escolhemos, que passaram por duas perdas gestacionais até terem o menino que tem sempre uma palavra bonita para nos dizer.

A história deles sempre me comoveu bastante, pela força, resiliência e o amor entre os dois. Quando fizemos as 12 semanas de gestação, senti que um peso me tinha saído de cima, e pensava, não perdi o meu filho, mas logo de seguida começou a ansiedade, será que está tudo bem? Tínhamos a ecografia marcada das 12 semanas, mas, nesse dia, foi greve dos médicos e
ficou remarcada para dois dias depois. Mas quis a vida que, nesse dia de manhã, tivesse um corrimento ligeiramente cor-de-rosa, que me deixou em alerta, e por tal motivo decidimos após o trabalho (enjoos tinham melhorado bastante por volta das 11 semanas), ir à urgência saber se
estava tudo bem.

No hospital, a médica (sempre querida), fez uma primeira análise e disse que não tinha sangue e o colo do útero estava fechadinho, mas que iriamos fazer na mesma uma eco. O meu coração acalmou. Ao deitar na maca e ao colocar o ecógrafo na minha barriga, não se via nada…comecei a tremer e a médica justificou que o ecógrafo da urgência não era o melhor do mundo, pelo que teríamos que fazer eco endovaginal. Quando começou, o ecrã virado para mim, percebi logo que o tamanho não seria de um bebé de 12 semanas e expressei isso mesmo.

Antes de me dizerem a mim alguma coisa, disse eu: “o bebé é muito pequeno para 12 semanas não é?” e a médica respondeu: “oh Joana, não tenho boas notícias, temos um bebé com medição de 9 semanas e 5 dias e não encontro batimentos”… não chorei, não disse nada, veio outra médica confirmar o que já tinha sido dito. Só pedi para o meu marido entrar e assim foi. Aborto retido. Não foi aborto espontâneo, como achei durante 12 semanas que poderia acontecer. Apenas nesse dia, muito já noite fora, é que chorei e comecei a questionar: mas porquê?

Fiz a medicação em casa para a expulsão. Os piores momentos da minha vida até ao dia de hoje. Muito sangue, muitas dores, e o momento que senti que era sem dúvida o saco gestacional, com o meu filho, a ser expulso. Grata ao mundo pelo homem maravilhoso que tenho ao meu lado que nunca me deixou desamparada. Se ele pudesse, eu sei, que sem hesitar
teria trocado comigo.

Passados 4 dias voltei ao hospital, ainda tinha restos ovulares, mas já sem o saco, sem o meu filho… fiz novamente medicação para ajudar a sair o restante e ajudou (mas pouco). Fomos de férias, para tentar ultrapassar o que nos tinha acontecido. Não era esquecer, porque nunca vamos esquecer que um ser me escolheu para ser casa durante 12 semanas, nos quais quase 10 o seu minúsculo coração bateu dentro de mim.

Infelizmente, quis a vida que os meus restos ovulares saíssem apenas quase 3 meses depois da notícia da perda. Foram longos 3 meses, com dores diárias, sangramento diário, e um tentar diário que tudo está bem e vai ficar bem. Nunca escondi a ninguém o que me aconteceu.

Sou a primeira a querer contar, e sei que é preciso coragem para tal. Mas precisamos de normalizar a perda. A gravidez está longe de ser igual às novelas, as histórias todas bonitas e românticas que vemos nos filmes. Uma em cada quatro mulheres que engravidam, passam por isto. Umas mais cedo, outras mais tarde, outras depois das 12 semanas e todas sofrem. Umas mais, outras menos, mas sofrem. Até as que escolhem interromper a gravidez por vontade própria. É um processo doloroso e está longe de ser normal, como nos querem fazer acreditar.

Vou ser eternamente grata, ao meu primeiro filho, por me ter ensinado tanto, mesmo sem nunca o ter sentido nos meus braços, no meu colo.
Agora, é seguir em frente e esperar por algo que sinto e sei: o meu filho vai voltar e eu vou tê-lo nos meus braços, ver crescer e ensinar-lhe todos os dias: com amor, tudo vale a pena!

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No dia 18 de junho, o meu mundo desmoronou mais uma vez. Eu que estava tão feliz com o meu arco-íris, meu sonhado bebé, que já estava aqui comigo três meses.

Mais uma vez soube que essa gravidez não poderia ir mais para a frente, pois o teu coraçãozinho já não batia mais. Eu te amo e te amei tanto meu filho enquanto estiveste aqui, obrigada por me ter escolhido para ser tua casa nesses 3 meses mais felizes da minha vida.

Que um dia Deus me possa fazer vivenciar isso de novo, mas dessa vez até ao fim, até ter-te aqui nos meus braços para a vida toda.

Ninguém nunca entende a mulher que passa pelo luto do aborto e ninguém nunca irá entender até realmente passar.

Nessa fase todos viram médicos, todos acham que sabem o que dizer. Mas, na verdade, não há nada que possa ser dito, não há nada que supere a dor de perda de uma mãe.

Sim, já me considero mãe, mesmo que não tenhas nascido. Considero-me mãe desde o primeiro positivo, dos dois tracinhos, do “grávida mais de 3 semanas”. Ouvir o teu coraçãozinho pela primeira vez foi a sensação mais bonita e única da minha vida toda. E a minha maior ansiedade era quando que voltaria a ouvir esse coração que, embora tão pequeno, já tinha mudado muito dentro de mim.

Só tenho a agradecer-te, minha estrela mais brilhante, agradecer-te por tudo! Obrigada por me fazer presenciar e sentir um dos sentimentos mais puros do mundo. Por pouco tempo que tenha sido, tenho muito a agradecer.

Talvez nesse momento da minha vida questione até Deus. Não porque a minha fé foi abalada, mas sim porque não entendo: Porquê comigo? O que foi que eu fiz? Será que o meu problema é grave? E porque sinto a dor da revolta. E acho que nesse momento está tudo bem em revoltar-me. Acho que tenho mais a agradecer do que reclamar, mas nesse momento não sei o que agradecer.

Só sei que a dor que carrego é tão grande, só eu sinto. Só sei que a cruz tem ficado cada vez mais pesada para eu carregar. E pergunto-me até quando irei suportar tudo isso.

As minhas lágrimas são a minha única forma de expressar a minha dor, e como dói , dói na alma, dor essa que nenhuma mulher deveria sentir.

Por favor: Guarda-me senhor como a menina dos teus olhos.

Deus me faça forte, porque te adorar é o que me mantém de pé.

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Nunca tive aquele sonho em ser mãe, ter um filho… nada!

No início de 2022, algo deu corda ao meu relógio biológico e essa vontade despertou em mim. Comecei a imaginar-me de barriguinha, de bebé nos braços, as noites mal dormidas, tudo..

Fui dando o meu parecer ao meu namorado. No fim de maio de 2022 decidimos que ia deixar a pílula e assim foi. Começamos os preparativos, marcar consultas, começar a tomar o ácido fólico, fazer análises, avaliar o útero… tudo ok; vamos lá seguir em frente e tentar.

Eu sabia que ia ser uma longa jornada. Entretanto, reduzi o tabaco e em 22 de novembro acordei e decidi não pegar mais num cigarro. E assim foi, nunca mais!

Os meses passavam e o medo de não conseguir engravidar atormentavam-me a cabeça!

Em fevereiro de 2023, 3 dias de atraso (igual às duas últimas menstruações). Mais um dia de atraso e, ao fim do dia de trabalho, fui à farmácia comprar o teste. Dia 23 de fevereiro, acordei nervosa e sem sinais de menstruação. Ok, vamos lá fazer o teste e…. Primeiro teste da minha vida e tão positivo eu vibrei!

Eu tremia por todo lado, não conseguia acreditar! Antes de sair para o trabalho tinha de dizer ao meu namorado, claro! Marcar consulta, tudo bem, mais exames ao sangue etc.. fui ao privado; queria ter a certeza que tinha um bebé dentro de mim, parte de mim não acreditava! Dia 8 de Março, feliz da vida, vi o coraçãozinho minúsculo a bater e a partir daí a minha vida ganhou outro sentido. Eu vivia não só por mim, eu estava a gerar uma vida…uma responsabilidade enorme nas minhas mãos, uma benção!

Todos os dias andava feliz e contente, acho que foram os melhores dias da minha vida! Dia 3 de abril – primeira consulta no hospital. Fui à enfermeira, entretanto o médico chamou, mal sabia eu que o meu sonho estava por um fio…

Após as perguntas e conversa com o médico, fomos ver se estava tudo bem. O médico chamou o pai para vir ver o bebé connosco! Ele veio e… um silêncio ensurdecedor apoderou-se daquela sala, um longo silêncio esquisito. “Catarina, lamento mas não tenho as melhores notícias…”

O meu coração disparou. “O bebé parou de evoluir por volta das 8 semanas e a Catarina já está com 10, não há batimentos.”. E as lágrimas rolaram.

Tive de decidir entre uns comprimidos para provocar um aborto ou esperar que o corpo expulsasse naturalmente. Optei pelos comprimidos, não havia esperanças, não valia a pena a espera do meu corpo reagir! Posso dizer que depois das melhores 10 (6) semanas da minha vida, veio o pior dia e noite da minha vida! Um processo tão doloroso, físico e psicológico… não fazia ideia que ia passar por tudo aquilo.

Apesar de na semana antes da consulta, ter comentado com uma colega que estava com medo de chegar e ouvir “o seu bebé não evoluiu”, nunca quis acreditar que isso me aconteceria! Longe de imaginar a dor que uma mãe sente, por gerar uma vida e não ter a capacidade de evitar perder essa mesma vida!

Uma dor que fica sempre comigo, serei sempre tua mãe meu anjo.

(3-04-2023) 

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A nossa história de amor começou no dia 6 de Junho de 2022, quando fiz um teste de gravidez e deu positivo.Não queria acreditar e fiz 3 testes diferentes. Todos eles deram positivo. 

Foi o primeiro teste de gravidez que fiz. Apesar de já estarmos a tentar há cerca de 6 meses, nunca tinha tido um atraso menstrual. Também não tive atraso menstrual nesse mês mas, chamem-lhe intuição, eu sentia-me gravida. E estava. 

Lá estava o nosso positivo. O nosso grande sonho estava a começar.

Tinha uma consulta com o meu ginecologista nesse mesmo dia e disse-lhe que tinha feito um teste de gravidez que deu positivo. Ele receitou-me logo vitaminas e disse para voltar dali a 15 dias, porque ainda não se via nada. Estava grávida de cerca de 4 semanas. Quinze dias depois voltei e lá estava o saquinho no útero. Quinze dias depois e já consegui ouvir o bater do seu coraçãozinho.

Contamos a novidade aos avós que ficaram tão felizes. Afinal de contas seria o primeiro neto tanto dum lado, como do outro.

Começamos a comprar roupinhas, a pensar em nomes e a fazer mil e um planos na nossa cabeça. 

Eu era luz. Luz e sonhos. Eu radiava alegria e felicidade para onde quer que eu fosse. Sentia-me forte. Sentia-me a super mulher. Sentia que nada nem ninguém me podia machucar, porque dentro de mim eu gerava vida. O meu filho. E sentia-me poderosa. 

Sempre achei que quando estivesse grávida me fosse sentir frágil e fraca, mas não, foi o tempo que eu me sentia mais forte… Acordava todos os dias e dizia “bom dia, meu amor, mais um dia juntinhos”.

Fazia mil e uma festinhas ao longo do dia na minha barriga. E gostava de a ver crescer. Os sábados ganharam mais cor pois acrescentava mais uma semana de vida ao meu “docinho de marmelada”, (eu gostava de o chamar assim). Media a barriga todos os sábados e lembro-me perfeitamente de ficar toda contente por ela aumentar 1cm por semana.

Chegou o dia da ecografia do 1º trimestre. Estava tão nervosa. Estava tão tensa que a médica me mandava sempre relaxar, mas eu não conseguia. Só relaxei no final quando ela me disse que estava tudo bem. Aí, o meu coração relaxou. 

Foi a melhor sensação da minha vida e estava grávida de mais quase uma semana do que eu estava a contar.

Fiz um diário online onde escrevia tudo o que estava a sentir e um bocadinho do meu dia a dia da gravidez, para mais tarde recordar. 

Tudo corria bem. Contámos à família. Já estávamos a decidir os padrinhos. Os nomes já estavam escolhidos tanto para menino como para menina. 

Tudo era um sonho tornado realidade. 

Fui à médica para saber se podíamos ir de férias em Agosto. Ela disse que sim, e fomos felizes e radiantes da vida. Tirámos tantas fotos na praia com a minha barriguinha que já se começava a notar (17 semanas). Estávamos tão felizes! Olho para trás e só queria voltar a sentir a mesma felicidade.

Regressámos de férias a um domingo, na segunda seguinte fomos ao obstetra que disse que estava tudo óptimo com o bebé e que achava que seria uma menina. 

Eu não acreditei. Sempre senti que seria um menino. Intuição de mãe, não sei. Nesse mesmo dia fizemos uma ecografia em 3D e, apesar de pequenino, já se via perfeitamente o nosso bebé tímido e muito simpático (como as médicas o descreviam).

E disseram-nos que muito provavelmente seria um menino. 

Nesse mesmo dia de manhã tinham-nos dito menina e depois menino, estávamos confusos. Mas faltavam apenas 10 dias para a ecografia do 2º trimestre e já tirávamos todas as dúvidas e poderíamos contar à família, que todos estávamos ansiosos para saber se seria uma menina ou um menino. 

Mas não conseguimos chegar a esse lindo momento. 

Nessa quinta feira à tarde comecei com imensas dores de barriga, que não sabia o que seria. Fomos às urgências de um hospital, a médica disse que estava tudo óptimo. Eram apenas gases, mandou-me tomar ben-u-ron e ir embora e, para a próxima, tomar ben-u-ron antes de ir às urgências. 

O meu coração ficou descansado. Afinal de contas tudo estava bem. 

Mas as dores não passavam e, no dia seguinte, fomos a outro hospital (podia ser que tivessem outra opinião).

Fui vista por 2 médicas que disseram exatamente o mesmo, que seriam gases. Também me disseram que tinha o colo do útero demasiado curto para as semanas de gestação que tinha (18 semanas), mas não estavam nada alarmadas. Mandaram-me repousar, mas não estar todo o dia deitada na cama, e receitaram-me progefick. 

Perdi o bebé no dia seguinte em casa. 

O meu bebé simplesmente escorregou por mim abaixo, como se o meu corpo o rejeitasse. Ainda me lembro do horror. Do sangue imenso. Das dores terríveis. 

Chamei a ambulância que me levou para o hospital mais próximo. Lá, tiveram que me operar para retirar a placenta pois não tinha saído. E eu lá estava com o meu bebé ao lado embrulhado num paninho. E eu só queria acreditar que tudo aquilo tinha sido um pesadelo. 

Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”

Lembro me de acordar da anestesia e pensar que tudo aquilo não tinha passado dum pesadelo, mas tudo tinha sido verdade. 

Isto tudo foi em Setembro. Sete meses passaram e eu não consigo esquecer. Sete meses passaram e eu ainda pergunto “porquê?”. Sete meses passaram e eu ainda choro quase todos os dias pelo meu bebé.

Ainda não sei o que aconteceu visto que tudo estava tão bem, o meu bebé mexia, tinha batimentos cardíacos, estava tudo perfeito. 

Fez-se a autópsia onde descobri que era um menino (a minha intuição não tinha falhado) e era perfeito. Sem nenhum problema físico nem cromossómico. Era um menino perfeitamente normal.

E isso custa tanto… Dizem-me que é melhor assim. O menino ser perfeito, porque assim sei que eu e o meu marido temos bebés perfeitos, mas custa tanto saber que perdi um bebé perfeito e saudável.

Ele era tão pequenino. Mais ou menos do tamanho da palma da minha mão. Um bebé pequenino e perfeitinho. 

Seria o nosso Mateus. 

Agora as saudades matam-me por dentro. 

Como é possível ter saudades de momentos que apenas existiam na minha imaginação? Momentos que nunca aconteceram mas eu sonhava que acontecessem.

Como é possível agora sentir-me fraca quando já me senti tão poderosa?

Há 7 meses que eu não consigo sorrir. Nada me traz felicidade. Tudo aquilo que dantes me deixava feliz agora simplesmente não é nada. 

Tudo o que eu queria era o meu bebé. 

Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”. Eu tenho saudades de fazer festinhas na minha barriga, tenho saudades de falar com ele, de sonhar com ele no meu colo, tenho saudades de ver a minha barriga crescer. 

Tenho saudades da felicidade genuína. De sorrir duma coisa simples. 

Hoje o meu bebé teria cerca de 2 meses. E eu só consigo imaginar o seu sorriso, os seus olhos, o quanto eu o amava e amo. 

Imagino a dar.lhe de mamar, a colocá-lo para dormir, a dar-lhe banho, acariciá-lo, dar-lhe beijinhos. Dançar com ele…. 

A minha vida parou em Setembro de 2022. Os dias passam mas a minha alma ficou em Setembro. 

O meu bebé foi-se embora e com ele levou metade de mim. Levou metade do meu coração com ele. 

E agora pergunto me: como voltarei a conseguir ser a mesma pessoa?Alguma vez conseguirei voltar a ser a mesma?

Eu sinto que a vida que estou a viver agora não é a minha vida, eu deveria estar em casa a tomar conta do meu bebé e não a trabalhar e a chorar pelos cantos. Eu não quero viver neste inferno.

As pessoas não percebem esta dor. Dizem : “ah és nova podes ter outro” ou “pelo menos foi no início” ou “foi porque Deus assim quis”.

Mas as pessoas não sabem qual é este sofrimento, esta dor que acorda e adormece connosco. Esta dor no coração que não sai por nada deste mundo. 

Eu não sei o que fazer para deixar de sentir esta dor. 

Agora o meu diário online que dantes escrevia todos os momentos da gravidez, agora é o meu aliado, onde escrevo as minhas tristezas e angústias, onde desabafo e choro o meu filho. 

Vejo todas as meninas que estavam grávidas ao mesmo tempo que eu a ter os seus bebés e eu nada, e eu de colo vazio e pergunto-me: “o que fiz eu de mal?”, “onde é que eu errei?”

Custa tanto saber que o bebé que era tão amado, tão desejado, tão sonhado, simplesmente escorregou por mim abaixo e eu não pude fazer nada para o salvar. 

Só me apetece chorar todos os dias. 

Meu eterno bebé. Meu Mateus, amado sempre.

A nossa história começou a 6 de Junho de 2022 e terminou a 12 de Setembro de 2022. Foram 18 semanas de amor. 

Meu eterno anjinho da guarda. 

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26-02-2023: o pior dia da minha vida!


Com um único corrimento transparente com alguns raios de sangue, dirigi- me ao hospital apenas por descargo de consciência…

Cheguei feliz com uma barriguinha espevitada nesse dia para 12 semanas e 3 dias.
Quando chamada para observação, a médica, ainda interna, comentou que não sabia mexer numa das máquinas e, quando fizemos a primeira eco, decidiram passar para outra máquina.

Foi tudo tão rápido que fiquei sem acreditar que o meu tão sonhado bebé estava morto dentro de mim há quase 3 semanas.
Os enjoos continuavam e o dr Google dizia que eram boas notícias. Era a gravidez a evoluir.

Apesar de um início de gravidez muito turbulento, em que me separei do pai do meu bebé por me ter pedido que abortasse, de muito ter chorado, de dois picos de tensão alta, nada fazia prever este desfecho.

Era na sexta que ia fazer a ecografia do primeiro trimestre…
Dada a notícia chorei compulsivamente e optei por ficar internada …

Era isso ou ir para casa e preocupar ainda mais a minha mãe que também já sonhava com este feijãozinho.
Não voltei a sangrar nesse dia e só queria estar sozinha!

Sinto-me vazia, como se o meu futuro idealizado tivesse agora sido cortado em mil pedaços e tivesse manchado.

Estava sozinha e com medo. Nessa noite não dormi, pedi muito a todos os contactos que pude que me fizessem mais uma ecografia, queria muito uma segunda opinião, a máquina podia ter algum problema, pensei… ou talvez o feto tivesse realmente menos semanas porque eu não era regular…

Fiz então a ecografia antes de iniciar o restante tratamento… uma médica amorosa e paciente, mostrou-me tudo e explicou-me tudo. Fez toda a diferença. Ainda muito chorona, mas já mentalizada !

Só à noite é que as duras cólicas vieram e o corpo pedia-me que fizesse força…

Duas vezes a fazer uma força lá do fundo das costas e dois enormes coágulos saíram; era o meu bebé com toda a certeza!

Tranquiliza-me a fé de que o bebé cumpriu a sua missão e, apesar de tudo, continua a ser ele que me tornou mãe! O meu bebé só aprendeu a voar.

Voltei a observação e, apesar do bebé já não estar lá, ainda tinha muita coisa para sair, mais um ciclo de tratamento para ver se conseguimos evitar uma ida ao bloco!

Tive alta, confiaram que o meu corpo se encarregaria do resto e não tive de passar pelo medo que a anestesia já me estava a causar.

Ontem foi o único dia que não chorei, sentia-me tão culpada por isso … simplesmente estava vazia!

Com a alta, despedi-me daquela cama com um colo vazio, o sonho de sair com o amor da minha vida no ovinho deu lugar a uma dor nas entranhas, a um desgosto de alma e um coração em milhares de pedaços. Estou em casa, voltei à realidade e nada assusta tanto…

Tive dores fortes, mas a dor de não ter aqui o meu bebé é mais forte do que tudo….apesar de ter ficado pelas 9 semanas e eu só ter descoberto quase 3 semanas depois, o meu ratinho de 4 cm tornou-me Mamã.

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Estamos a tentar engravidar há 7 anos. Um ano depois de tentarmos naturalmente, sem sucesso, começamos a ser acompanhados em PMA no CMIN, e assim foi durante 5 anos.

O diagnóstico era apenas que eu não ovulava. Começamos por coito programado, passámos para Inseminação e duas FIV sem sucesso. Os médicos apenas encolhiam os ombros, diziam que não percebiam o que se passava e à minha pergunta sobre se existia um exame para explicar as falhas de implantação, foi-me dito que não, que a explicação era que os meus óvulos não tinham qualidade.

Entretanto emigramos, mas o desejo de ter filhos não esmoreceu e, no meio de tudo, tive a sorte de encontrar uma equipa médica fantástica que fez todos os exames possíveis para detetar o motivo. E assim foi, após uma esteroscopia, foi-me detetada uma endometrite crónica que, segundo o que investiguei, poderia explicar as falhas de implantação.

Após tratamento e resolução, fiz mais uma FIV e o primeiro positivo chegou no dia 16 de Novembro de 2022. Infelizmente na primeira ecografia começaram os pesadelos pois não conseguiam ver os batimentos cardíacos. No entanto, como o feto era pequeno, poderia ser normal. Disseram para regressar ao fim de uma semana e nessa segunda eco as desconfianças confirmaram-se e o nosso mundo despenhou-se. Fui do céu ao inferno no espaço de um mês. Como foi aborto retido tive que tomar medicação para o sangramento ocorrer.

Foi um Natal muito triste pois já me tinha imaginado a contar a minha avó  e à minha enteada, que tanto quer um irmãozinho. Teria sido triste em qualquer altura do ano, mas nesta altura tem um peso ainda maior.

Neste momento, a minha cabeça está recuperada, mas quando estou sozinha só me apetece chorar, parece que o meu coração vai rebentar. 

Por um lado, fiquei feliz por ter tido uma explicação para a minha infertilidade, mas este acontecimento cravou uma faca no meu coração.

Não vou parar de tentar mas o medo só aumentou e às vezes chego a pensar se será saudável para mim.

O que me dá alento é ter um marido que me apoia, assim como os meus pais e uma enteada que me deu, inconscientemente, força para suportar todos estes anos e que é uma filha que tenho no coração.

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Hospital muito confuso, em contentores. Tiro senha para ginecologia e obstetrícia e fui para uma grande sala de espera. Chamam-me e vou para lá com pressa, por não saber onde era e com medo de chegar atrasada.

Ainda tive de aguardar algum tempo para entrar, mas entretanto sou chamada à enfermagem e faço todos os procedimentos, e informam-me dos riscos por não ser imune à toxoplasmose. Volto para a pequena sala de espera e poucos minutos depois sou chamada para o gabinete da médica. 

Tirei a parte inferior da roupa e começamos a ecografia, ainda não era a de 1° trimestre, mas sim para ver se estava tudo bem. 

Mal vi o bebé, o primeiro pensamento foi logo de orgulho “o meu bebé cresceu tanto!”. A última vez que o tinha visto tinha sido às 8 semanas e no dia 19 de Outubro, faria as 10 semanas.

No entanto, reparei que a médica ficou muito calada e, mal me apercebi disso, ouço das piores coisas que já ouvi na vida “lamento, mas tenho más notícias para si… O bebé está morto, não tem batimentos cardíacos”. O tempo parou durante uns segundos e fui sentindo um aperto cada vez maior, como se todo o meu mundo estivesse a desabar.. 

A médica chamou uma colega para confirmar o diagnóstico e não teve dúvidas. Enquanto a médica me explica as partes do corpo do bebé e onde o coração deveria estar a bater, sinto as lágrimas a chegar aos meus olhos, mas ao mesmo tempo tento segura-las. Tinha de ser forte ali, quando fosse embora choraria tudo o que teria de chorar. 

Mas, infelizmente, ainda faltava um bom bocado para ir embora… Depois da ecografia, sentei-me com a médica, e explicou-me quais seriam os procedimentos seguintes, que teria de ser internada para que o aborto fosse completo (fiz um aborto retido).

lamento, mas tenho más notícias para si…

Depois de tudo explicado, começou logo o primeiro problema, a médica não conseguia passar a baixa médica, por não ter todos os dados actualizados no centro de saúde, obrigando-me a ter de ir lá para ter uma consulta e atualizar o necessário, para poder fazer o meu luto e ter o meu descanso durante 28 dias. Para além disso, para ser admitida na Obstetrícia no dia seguinte teria ainda de fazer um teste COVID.

Por último, tinha ainda de tomar um comprimido já, para preparar para o dia seguinte, mas como já não comia nada no espaço de 2h, mandaram-me ir comer qualquer coisa e regressar para tomar o comprimido. Assim o fiz. Fui comer umas bolachas de máquina vending mais próxima e voltei para a sala de espera da obstetrícia, rodeada de grávidas e eu a pensar no meu pequenino, que não conseguiu sobreviver, enquanto as mulheres ao meu lado estariam perto de ter um filho/a nos braços. Inveja e tristeza, foi o que senti nesses minutos.

Pouco tempo depois (que a mim me pareceu muito), uma auxiliar vem com o tal comprimido e depois de o ter tomado diz que tenho de fazer o teste COVID, num outro edifício (e eu sem conhecer o espaço visto ser a minha primeira vez lá). Não sei se foi a minha profunda tristeza ou a minha cara de ignorante enquanto ela me explicava o caminho, mas aí uma outra auxiliar disse “eu levo-a lá”. Como estava sozinha, perguntou-me várias vezes se tinha alguém para me levar embora, se precisava de alguma coisa e tentou animar-me durante o caminho todo, mas sem sucesso. Eu só lhe dizia “eu só quero ir embora”. 

Quando chegamos ao local, ela fez questão em aguardar por mim, caso eu precisasse dela. 

O médico que me fez o teste foi pouco afável, mas profissional. Depois de terminado, lá estava a auxiliar à minha espera e perguntou-me se precisava de alguma coisa enquanto voltávamos para o local inicial. Disse -lhe que a médica não conseguia passar a baixa a partir do próprio dia por não ter os dados, mas que em princípio não precisava de uma justificação de falta ao trabalho porque no dia seguinte ma passaria no internamento. A auxiliar disse-me que poderia precisar e pediu me para aguardar no exterior e que iria pedir uma justificação num instante para que eu pudesse ir embora. Foi extremamente rápida e em pouco tempo já estava a caminho do meu carro, para poder ligar ao meu namorado e a minha mãe e dar-lhes a notícia. Não sei o nome dela, mas ela foi a melhor profissional que me atendeu no hospital da cidade, sítio que nunca irei querer voltar para o resto da minha vida.

Finalmente saí das instalações e liguei primeiro a minha mãe, onde só conseguia dizer “o bebé está morto! Morreu!” no meio de tanto choro e soluço. Pouco mais consegui dizer e liguei depois ao meu namorado. Pouco mais lhe consegui dizer também, mas ele apenas me disse, muito prontamente: “onde estás? Fica aí, vou ter contigo”.

Enquanto aguardava por ele no carro, só pensei em me conter durante uns minutos, só para poder informar no trabalho que já não iria trabalhar no próximo mês, a partir do dia em questão e o motivo. Liguei a uma das minhas supervisoras, disse lhe que iria ser extremamente breve por não saber se conseguia aguentar mais tempo ao telefone e expliquei lhe tudo muito resumido, mas com tudo o que precisava de saber. Garanti-lhe que não precisava que alguém fosse ter comigo, o meu namorado já estava a caminho.

De casa até ao parque de estacionamento onde estava, ainda são uns 10/15 minutos, mas acho que ele fez isso em metade do tempo, porque pouco depois de ter acabado a chamada ele apareceu. Só me lembro de chorar abraçada a ele para libertar algum do peso que tinha em cima.

Ele, sendo a melhor pessoa do mundo para mim, só me dizia, “vamos conseguir. Nós somos fortes. Vamos ter lindos filhos. Vamos ultrapassar isto.” Nunca duvidei disso.

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Em 2009 nasceu a minha primeira filha. Depois disso tive três perdas. Uma história como tantas outras. Porém única, é a minha.

Quando era adolescente dizia que a pior notícia que eu poderia receber na vida era saber que não poderia ter filhos. Felizmente, quando senti o chamamento da maternidade pela primeira vez, tudo correu bem; com alguns percalços durante a gravidez, mas nada que abalasse verdadeiramente o meu estado de graça.

A 16 de Fevereiro de 2009 nasceu a Sofia! Que momento tão feliz!
Ainda no bloco de partos, logo depois da Sofia nascer, já estávamos a combinar o nosso segundo filho! Prevíamos dar um/a irmão/ã à Sofia quando ela tivesse dois anos. Tudo tão perfeito.

Passados esses dois anos, a crise de 2011 assombrou verdadeiramente os nossos sonhos. Estávamos os dois desempregados e ter outro/a filho/a nesse momento não era de todo sustentável. Sonho adiado.

Em 2013 consegui finalmente trabalho depois de um longo período de desemprego, num colégio privado. Precisava muito de trabalhar, tanto pela necessidade financeira, como pela valorização enquanto pessoa útil e profissionalmente ativa. Sou uma pessoa que precisa de ter um emprego fora de casa e ser professora faz-me tão feliz! O trabalho a contrato e a necessidade de manter o emprego adiaram novamente o sonho de voltar a ser mãe – não podia correr o risco de não me renovarem o contrato.

Sem dar conta, já estava com 39 anos. O tempo voa! Tudo o resto passou para segundo plano… o desejo de ter outro/a filho/a era superior a tudo. Era um sonho nosso, inicialmente a dois, a três logo que a Sofia começou a pedir um/a irmão/ã por volta dos 3 anos de idade. Era este o momento. Decidimos tentar.

Demorou cerca de oito meses. Desconfiava que poderia estar grávida, mas isso era tão importante para mim que decidi deixar o teste para um dia especial, o dia do meu aniversário: 40 anos. Deu positivo! Felicidade transbordante. Queríamos muito contar à Sofia, mas decidi esperar, exatamente pelo conhecimento de situações de perda gestacional das quais tinha conhecimento, longe de pensar que seria essa a minha situação.

25 de Julho de 2016, uma ligeira perda de sangue. Nos dias seguintes a hemorragia aumentou e, depois de observada no hospital, a pior das notícias, o bebé não tinha batimentos. O meu mundo ruiu… Tive que tirar o meu bebé de dentro de mim, não havia qualquer milagre que lhe devolvesse a vida.

Provocaram-me o parto e passei por um longo processo de expulsão do meu bebé, doloroso fisicamente, destruidor emocionalmente. Expeli o meu bebé inteiro. Vi-o naquela aparadeira… Tão difícil passar por isto. Tão horrível. E mais difícil ainda porque todo este processo acontece na maternidade, ao lado de parturientes que acabaram de ter os seus bebés, a ouvir choros dia e noite. Temos que lidar com a nossa tristeza ao lado da alegria dos outros. É tão bom ver pessoas felizes! Mas nesta situação aumenta exponencialmente a nossa dor. Chorei. Chorei muito. Durante muitos dias. Senti-me culpada. Procurei justificação nos meus atos para o sucedido. Seria a medicação para a enxaqueca, seria o saltinho que dei no passadiço, seria pegar na bacia cheia de roupa para estender? Um sentimento desesperante.

Temos que lidar com a nossa tristeza ao lado da alegria dos outros.

Passado algum tempo, recebi o resultado das análises. O meu bebé estava com malformações e foi essa a causa do abortamento. Não tinha sido culpa minha. E as frases repetiram-se “Foi melhor assim.”, “A natureza sabe o que faz.”, “Isto acontece muitas vezes, é mais frequente do que imagina.”. Uma tristeza imensa e um vazio escondido tomavam conta de mim. Mas estava tudo bem fisicamente e podia tentar novamente. Decidimos tentar acreditando que desta vez ia correr tudo bem.

Em Novembro de 2016 voltei a engravidar. Uma felicidade contida e um medo incontrolável de ver sangue cada vez que ia à casa de banho. Tentei ser o mais positiva possível, acreditar, eu queria tanto o meu bebé! Até que, em Dezembro, na semana antes do Natal, acontece o que eu tanto temia: perda de sangue.

Na ecografia não dava para ter a certeza se estava em processo de abortamento, o embrião ainda era muito pequenino, e nesta fase nem sempre se consegue detetar os batimentos cardíacos. Teria que esperar e ver o que acontecia com o meu corpo. Dias terríveis se seguiram. A hemorragia aumentou e fui percebendo o que estava a acontecer. No dia em que abortei espontaneamente em casa, a Sofia falava constantemente que queria um/a irmão/ã, perguntava-me porque é que eu não tinha um bebé, dizia-me que eu não tinha um bebé porque não queria. Mais um dia terrível, insuportável. Duas dores simultâneas: perder o meu bebé e ser pressionada pela Sofia, que não sabia o que se estava a passar.

Tantos momentos de tristeza profunda, choro, noites sem dormir. E o silêncio. Um silêncio que me dilacerava, mas evitava falar deste assunto. Não por vergonha, que nunca a senti, não sou menos mulher, menos mãe, nem menos ser humano por isto que me aconteceu. Silêncio para proteger a Sofia, queria preservá-la deste sofrimento atroz, silêncio para não impressionar os outros negativamente, o facto de me ter acontecido não devia influenciar o seu estado, silêncio por sentir falta de abertura para me expressar e poder desabafar. Tive algumas pessoas comigo nestes momentos, mas eu sentia que não tinha o direito de incomodá-las com o que eu sentia.

O tempo passou. Decidimos tentar novamente. Queremos tanto um bebé!

Desta vez demorou mais tempo a engravidar, quase um ano. Neste período de tempo vivi sufocada pelo desejo de ser novamente mãe, passei a conhecer o meu corpo e todos e quaisquer sintomas, sabia o meu período fértil, contava os dias do meu ciclo menstrual, estava obcecada por algo que deveria ser natural, mas o meu relógio biológico exercia uma pressão incontrolável sobre mim.

Em Dezembro de 2017 percebi que estava grávida, fiz o teste e deu positivo. Felicidade contida e uma grande esperança de que à terceira é de vez, vai correr tudo bem. Mas não correu. Em Janeiro, numa consulta, soubemos que o bebé tinha parado de desenvolver às 8 semanas, não havia qualquer hipótese de esta gravidez progredir. Mais uma semana de espera. Tão difícil viver com um bebé morto dentro de mim…Mais uma vez tive que ir tirá-lo ao hospital. Desta vez a maternidade estava cheia. Colocaram-me neste processo de abortamento num quarto dentro do bloco de partos, resguardada. Sozinha… tão sozinha… e a ouvir e a ver recém-nascidos… A dor foi tão grande.

As noites e as viagens de carro eram a chorar. Cheguei a ter de encostar o carro para chorar. A pressão da Sofia para ter um/a irmão/ã aumentava, culpava-me de não querer ter um bebé, de não acreditar que conseguia ter um… Não suportava mais este sofrimento escondido. Tive que lhe contar o que se passou. Queria resguardá-la desta dor mas era insuportável. Chorámos as duas. Sofreu e percebeu que afinal eu não tinha culpa. Como eu queria ter evitado isto…

Tenho muitos irmãos e sei como é maravilhoso ter irmãos. Uma das maiores tristezas que carrego é não ter conseguido dar um/a irmão/ã à Sofia. Sonhei que crescessem juntos e construíssem uma relação forte e cúmplice. Não consegui dar-lhe o maior presente que uma criança pode ter…

Em Março de 2020 com o início da pandemia pensei “Não é uma boa altura para ter bebés, se calhar é melhor voltar a tomar a pílula” mas logo de seguida pensei “mais de um ano sem pílula e não engravidei, não vai ser agora que vai acontecer.” Não pensei mais no assunto. Em Abril de 2020, com 43 anos, percebi que estava grávida. Tive muito medo de uma nova perda e da pandemia que estava no início e era por si só assustadora.

Felizmente correu tudo muito bem. A minha bebé arco-íris nasceu em Janeiro de 2021, tinha eu 44, é saudável e super bem desenvolvida. Está quase a completar 2 anos de traquinices e muito amor.

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No dia 11 de Novembro de 2021 descobri que a minha vida ia mudar por completo, chegou o tão sonhado positivo. Pais de primeira viagem fomos à médica de família que nos marcou as consultas no público, como pensei que estava tudo bem fiz a minha vida normal até à consulta no público (a minha irmã já tinha sido seguida dessa forma e tudo correu bem).

No dia 20 de Dezembro 2021 ansiosos pela ecografia para ver o nosso bebé e a médica quando faz a ecografia muito fria diz “não existe bebé, nunca fez nenhuma ecografia? ” e eu respondo que não e ela diz “não sabe que tem que ir ao privado antes desta consulta”. Eu sem chão e ela manda-me embora para as urgências para ir tomar comprimidos para expulsar o saco gestacional sem explicações. Fui para os urgências sem saber o que se passava, só chorava e aí foi-me explicado que era uma gravidez anembrionária. Nunca tinha ouvido falar em tal coisa.

Fiz a expulsão em casa e foi terrível. Estava cheia de dores físicas e psicológicas (fazia anos dia 21 de Dezembro onde tinha planeado contar a todos da gravidez). Os médicos disseram que a probabilidade de ter repetição de anembrionária era muito baixa e que a probabilidade de aborto era a normal. Contudo, diziam eles muito raro acontecer duas vezes seguidas.


Decidimos voltar a tentar e, no dia 22 de Maio, descubro que estou novamente grávida. O medo era imenso, marquei logo com uma ginecologista no privado, fazia ecografia de 15 em 15 dias. Não contámos a ninguém porque o medo de correr mal era imenso. A barriga começava a aparecer e eu sempre a dizer que estava a ficar gordinha. A médica sempre a dizer que estava tudo bem. Fiz a última ecografia o bebé tinha 11s4d a médica fez as medições todas e disse que estava tudo bem. Pela consulta no público o bebé estaria com 13s2d. Lá fomos nós dia 25 de Julho todos contentes porque eu tinha visto o bebé e convenci o meu marido que estava tudo bem.


Entramos, a médica coloca o ecógrafo e eu não ouvi o coração do bebé e ela diz “papás infelizmente o bebé parou”. Eu gritei que não podia estar a acontecer de novo, eu tinha visto o bebé uns dias antes. E ela diz “parou com 12s, tem um aborto retido e precisa ir para as urgências para retirar”. Fico sem chão novamente e aí entro nas urgências a chorar compulsivamente. Dão-me um comprimido e mandam-me voltar 2 dias depois para ser internada.
Foram os dias mais longos da minha vida, saber que o meu bebé estava morto e eu sem poder fazer nada.

Fui internada colocaram os comprimidos vaginais para a expulsão e fiquei sozinha entre 4 paredes cheia de dores e sempre a ouvir corações dos outros bebés que estavam ali para nascer. Senti a bolsa a rebentar passadas umas 7h. Chamei a enfermeira e passado alguns minutos sinto o bebé a sair e eu sem um enfermeiro ou médico para me ajudar.

Tão pequenino, mas era o meu bebé.

Chamei novamente e lá o levaram para fazer os testes necessários, nunca me vou esquecer dele: o meu menino mais lindo.
Vai estar para sempre no meu coração.

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Decidimos parar de tomar a pílula. Estávamos preparados para dar início à aventura da nossa vida.

Fiz um teste de gravidez. Minto. Fiz dois.

Um tradicional que me indicou dois traços bem fortes e um digital que me indicou que estaria grávida há mais de três semanas.
Fiquei nervosa, mas feliz.

Há algum tempo que sentia algumas cólicas.
Completamente suportáveis e do que já tinha lido, um sintoma comum de uma gravidez inicial. 

Para descargo de consciência, vamos marcar consulta o mais rapidamente possível para saber se está tudo bem e podermos respirar de alívio e sermos felizes por inteiro.
Consegui consulta dois dias depois.
“Não vejo nada no útero. Desconfio que esteja noutra cavidade..”
Já tinha lido sobre gravidez ectópica.
Naquele momento caiu-me o mundo. Não podia ser.
Não me podia estar a acontecer a mim.

Uma mulher saudável, de 29 anos, primeira gravidez. E agora? 
Fui para a urgência do hospital.

Tinha de ser novamente examinada para perceber a situação e a “solução”.
Gravidez tubária.
O embrião, o feto, o nosso bebé, a nossa sementinha de 5 semanas e 7 dias tinha-se alojado na minha trompa esquerda. Cresceu e fez com que houvesse uma ruptura.
“Coágulos, coágulos. Ela tem a barriga cheia de sangue”
Comecei a entrar em pânico.
Entrei na urgência por volta das 17:00, às 19:00 estava a vestir uma bata, a assinar um termo de responsabilidade e a saber que ia para cirurgia (pela primeira vez na minha vida), sem saber qual seria o desfecho. Sozinha (Covid).

Deixei de ver e comecei a desfalecer. Que medo avassalador.
O meu bebé foi sacrificado por não ser uma gravidez viável sendo ectópica e a minha trompa retirada.

Os meses vão passando, a vida lá fora segue, as pessoas deixam de perguntar como estás e ali estás tu, perdida na tua própria dor a tentar encontrar um porquê que não existe. 

Em recuperação, já em casa, abria as redes sociais e era o raro o dia que não dava de caras com o anúncio de uma gravidez. O meu coração ficava do tamanho de uma ervilha.
Desde sempre que imaginavamos cenários na nossa cabeça de como iríamos contar à família e amigos. Meses depois uma amiga foi mãe.
Chorei, chorei, chorei. Sentia uma angústia… Estava feliz por ela mas também tinha inveja.

Chorava porque não queria estar a sentir aquilo mas não conseguia controlar.

Os meses vão passando, a vida lá fora segue, as pessoas deixam de perguntar como estás e ali estás tu, perdida na tua própria dor a tentar encontrar um porquê que não existe. 
Dava por mim a pensar que apesar de no sítio errado, o meu filho estava a crescer, saudável e que não era justo.
Via mulheres que perdiam os filhos a meio, ou mesmo no fim de uma gestação e perguntava-me se era justo sentir-me assim, com uma gravidez de cinco semanas.
Sentia que não me podia comparar. Que a dor seria muito maior e que a minha comparando não era nada.

Mas, agora consigo, com plena lucidez mental, perceber que não se comparam dores. 
Não há dores maiores ou mais pequenas. 
Esta dor foi e é a minha. 
É o meu luto.

Cinco meses depois, após uma salpingectomia unilateral, estou com fé que o universo me vai permitir ser mãe e não me fará passar por tamanha dor novamente. 
Tenho medo. 
Mas o sonho de ser mãe é maior.