Hoje quero deixar o meu testemunho aqui, na esperança de confortar um pouco o coração de alguém!
Sei que quando navegamos por águas agitadas a tempestade parece não ter fim à vista, tive dias em que o barco naufragou e eu me senti tão exausta de nadar contra a força das ondas que senti que a qualquer momento ia perder a força na braçada e me ia deixar afogar.
Mas hoje agradeço por cada dia que cai e levantei, pela resiliência que sempre alimentei pelo amor e o desejo de ser mãe.
Em 2020 decidimos que queríamos ser pais. Por motivos de trabalho, cometemos o erro de adiar o início das tentativas quase um ano.
Hoje, digo-vos, nunca adiem os vossos desejos, por motivos que não sejam de força maior… Adormeci muitos dias arrependida de o ter feito!
Em Julho de 2022, descobri que estava grávida, estávamos a tentar esta gravidez já há algum tempo e ficamos super felizes! Senti-me maravilhosa por saber que tinha um ser a crescer dentro de mim…
Na primeira consulta com o obstetra ouvi o que nunca vou esquecer “lamento, mas não está a evoluir bem”: tínhamos uma gravidez não evolutiva, um aborto retido.
Precisei de ir para a maternidade induzir a expulsão e, sinceramente, foi das coisas mais terríveis que passei: ver cair na sanita, o que deveria ser o meu filho a crescer no meu útero.
A dor física foi grande, mas a psicológica foi difícil de suportar… A verdade é que, até ao dia do suposto nascimento deste bebé, o meu sofrimento era grande, não conseguia ver grávidas, nem bebes pequeninos sem chorar.
A frustração de começar tudo de novo, a incerteza de saber se algum dia iríamos conseguir…
Mas, assim que possível começamos logo a tentar de novo. No entanto, eu sentia que psicologicamente estava em baixo e acabei por procurar uma médica de acupuntura especialista em fertilidade que foi a minha sorte grande!
Melhorei bastante a nível psicológico e consegui regular bastante o meu ciclo. Três meses depois (junho 2023) estava novamente grávida.
Mas…tive uma perda de sangue e verificou-se outro aborto, desta vez com suspeita de não ter implantado bem. Não desistimos, e no ciclo seguinte, eu estava novamente grávida, mais uma perda de sangue, várias idas à maternidade, e mais um aborto espontâneo (Agosto de 2023).
Nesta altura, apesar de devastada, senti que iríamos dar outro passo, porque ao terceiro aborto seríamos encaminhados para a maternidade para fazer o estudo do nosso caso. Sinceramente, neste momento, nós já só queríamos uma resposta, uma solução!
Informei-me e infelizmente as consultas estavam a demorar cerca de 6 meses. Não queríamos esperar tanto tempo, mas estávamos desesperados com o facto de podermos voltar a abortar.
Decidimos então procurar um especialista em fertilidade, com a esperança de podermos começar a analisar alguma coisa enquanto não éramos chamados para o estudo da maternidade. O médico achou que eu poderia ter uma inflamação numa trompa e medicou-me, depois poderia voltar a tentar.
Em novembro, descobrimos uma nova gravidez e, só quem passa pelo mesmo, percebe o medo que se sente neste momento. A felicidade típica desta fase dá lugar ao desespero de conseguirmos manter este bebé. Confesso que achei que iria abortar de novo, mas a minha princesa resistiu…(pelo tratamento à trompa, pela aspirina que entretanto estava a tomar ou porque o universo assim desejou).
Em dezembro o nosso médico suspeitou na eco de uma alteração genética, que acabou por não se verificar. Em janeiro, suspeitou-se de um problema no intestino que também acabou por desaparecer. Pensava todos dias que desta vez não me recuperava se algo viesse a não correr bem.
À minha volta todos queriam saber o sexo, eu só queria saber se estava tudo bem, e as semanas entre consultas eram uma contagem decrescente.
Confesso que não consegui viver a gravidez de forma normal, o medo acompanhou-me sempre. Gerar uma vida é tremendamente empoderador, mas muitos dias não o consegui sentir dessa forma… É duro, não minto, senti muita vez que me tiraram o direito a viver a maternidade em pleno.
Em Fevereiro fui chamada para o estudo do hospital, entretanto verificou-se que eu tinha trombofilia, e foi necessário levar injeções diárias.
A minha filha nasceu às 38+4 de parto normal, depois de 3 dias em indução por causa do fluxo do cordão não estar a 100%, foi mais um teste à minha resiliência e à capacidade de suportar a dor, porque o meu útero não queria colaborar.
Mas graças à minha força, às equipas maravilhosas da maternidade BB que se cruzaram comigo, e ao companheiro sempre incansável que tenho a meu lado a nossa pequenina nasceu saudável e cheia de força de viver.
Esperámos tanto por ela e finalmente termos a nossa riqueza nos braços é verdadeiramente o melhor do mundo (mesmo cheia de olheiras e com 3h de sono).
Como a minha avó dizia “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca chegue!” Não desistam!
Foi assim que dizia a minha psicóloga quando a procurei. Hoje, consigo dizer quer foi um ato de amor, pelo meu Salvador.
Decorria o ano 2023, fevereiro, quando realizei um teste de farmácia com alguma esperança e o positivo chegava.
Era segunda-feira de carnaval, tinha ido renovar o cartão de cidadão do meu filho mais velho (sim, para mim, o meu Martim é o mais velho).
Após a renovação, fui à farmácia e comprei um teste. Fui para casa e com alguma esperança fiz o teste. POSITIVO.
Não cabia em mim de felicidade. O Martim estava comigo e foi o primeiro a saber. De seguida, liguei à minha melhor amiga e depois à minha irmã. Era para fazer uma surpresa ao meu marido, mas não conseguia disfarçar mais e tive que contar. Fomos à minha obstetra, fiz ecografia e estava de 6 semanas. Já se via o coração a bater.
Após isso, fui chamada para as consultas na maternidade. Era dia 3 de Abril quando entrei naquela sala sozinha, pois a minha mãe tinha ido com o Martim comer alguma coisa. Assim que ouço o meu nome liguei para virem. Felizmente, não chegaram a tempo de verem, digo isto por causa do meu Martim. Estava de 9 semanas e o embrião não tinha desenvolvido, e já estava morto. Sofri um aborto retido. Foi-me dada medicação para expulsar.
Vim para casa, acabando por expulsar já em casa.
Não posso dizer que o dia 3 foi o pior dia, porque para pior dia, foi mesmo o dia 28 de Dezembro de 2023.
Após todo o procedimento ter corrido bem, tive “autorização” para uma segunda tentativa e assim o fizemos.
Era Agosto, 5 de Agosto de 2023 fui fazer o Beta HCG para ter a certeza, pois estava atrasada na menstruação e não existia sinais que iria menstruar.
Eram 14:30 mais ou menos quando me chega um e-mail com o resultado. POSITIVO
Entrei num misto de sentimentos, o meu marido estava comigo. O primeiro passo foi ligar à minha obstetra e dizer. Pediu que no dia 20 me dirigisse ao serviço de urgência da maternidade para me ver. Logo aí tomamos a decisão de não contar a ninguém, pois o medo era tanto.
Então lá fomos nós ver o nosso bebé e estava tudo bem. Ela questionou-me sobre qual o meu medo e eu rapidamente disse: “passar pelo mesmo que tinha passado em Abril”. Tranquilizou-me pediu para eu ir lá no dia 30 para ser vista novamente. E lá fui eu no dia 30. Continuava tudo bem.
Fui chamada novamente para consulta na maternidade no dia 29 de Setembro, já estava de 12 semanas. Fui à consulta e ecografia, onde nos disseram que seria um rapaz e que estava tudo bem. Decidimos então contar a família nesse mesmo dia, já que o pai fazia anos e aproveitamos e contamos.
Estava tudo a correr bem, mesmo estando com diabetes gestacionais.
Chegou a eco do 2º trimestre. Ja estávamos em Dezembro, dia 6, quando fui realizar a eco. O Salvador não colaborava muito nas ecos. Era do contra, como eu dizia. A médica pediu para eu vir caminhar um bocadinho e comer qualquer coisa para ver se corria melhor da segunda vez. E assim o fiz.
Entrei, ele já estava mais colaborante. Quando a Dra me diz que ia chamar um colega para ajudar, pois existia ali um problema nos rins, o meu coração parece que parou. Veio o colega que confirmou mesmo que os rins estavam afetados. Um rim displáxico e o outro com uma dilatação muito grande.
Foi-me proposto a realização da amniocentese. Realizei-a logo no dia, e foi-me falado no pior desfecho possível: interromper a gravidez.
Logo aí entrei em negação, para mim o Salvador nascia e ponto final.
Procuramos uma segunda opinião médica, e o Dr. disse logo que não havia muito a fazer, para partimos mesmo para a interrupção. Mais uma vez entrei na fase da negação.
Dia 20 de Dezembro, a minha obstetra faz eco e só me diz que não havia muito a fazer, pois o Salvador estava a perder líquido. Então tomei a decisão de interromper. Já estava de 24 semanas. Foi a conselho médico e foi aprovado.
Desde o dia 6 que contei tudo ao meu Martim.
No dia 27 fui a maternidade para sedação do Salvador e tomar medicação. Pedi ao Dr. para o ver pela ultima vez e assim o fiz. Neste dia,pouco havia a fazer,pois a placenta ja se estava a “colar” a ele.
Estava sozinha naquela sala, sem apoio do marido, mas com uma enfermeira excelente, que, no fim da sedação, me deu o “colo” para chorar.
Vim para fora, onde reuni com ela e com o meu marido. Colocaram-nos algumas questões e fizeram a explicação de todo o processo que aconteceria no dia seguinte.
Foi-me colocada a questão se eu queria ver após o nascimento, ao qual respondi prontamente que sim.
E se queríamos fazer funeral, e a resposta foi a mesma sim.
A parte difícil veio quando cheguei a casa e falei com o Martim que, na altura, tinha 13 anos. Como sempre soube tudo do que se passava com o irmão e quis a opinião dele, se trazíamos ou não o mano (realização do funeral). Foi então que percebi que, afinal, ou Martim não tinha percebido bem ou então entrou em negação como eu. Ele só me respondeu: “não o vais trazer?” E eu disse: “não filho, quando o mano nascer já vai nascer sem vida”.
Ele olhou para mim e disse:” então trás e mete ao pé do bivô”.
Dia 28 de Dezembro, com 25 semanas, chego à maternidade pelas 9h acompanhada pelo meu marido e pela minha irmã. Faço inscrição no serviço de urgência, entro explico o que iria fazer e são-me colocados os comprimidos para iniciação de trabalho de parto.
Após isso, vem um auxiliar para me levar para o quarto. Despeço-me da minha irmã a chorar e vou. O meu marido acompanhou sempre.
Após já estar pronta para o que viria a seguir, vem a Dra. da genética ter connosco a dar conhecimento do resultado da amniocentese. Estava limpa, disse ela. O Salvador não tinha nada a não ser mesmo a situação dos rins, que era incompatível com a vida.
Às 18h, sou reavaliada pela Dra onde diz que iria para a sala de partos para levar a epidural.
Sempre que tinha dores, as enfermeiras davam-me medicação, diziam elas que eu não precisava de sofrer, pois a maior dor já estava a ter: a perda o meu filho.
Quando cheguei à sala de partos, já não dava para levar a epidural, pois o Salvador estava mesmo para nascer. Foi o pior momento: entrei em negação, encolhi-me toda para ele não nascer.
Mas o meu corpo fez tudo contra a minha vontade naquela altura. Senti “vontade” de me virar para cima, e fui eu que disse “ele está a nascer”.
O silêncio naquela sala era tão grande. Não havia choro e a minha reação foi logo dizer que o queria ver. Responderam que sim que só o iam limpar e que já o traziam.
Passado algum minutos e após eu ter explusado a placenta, chega o tão desejado momento. Vê-lo.
Retiraram o que ele trazia a protegê-lo e eu via ali o meu filho, o meu Salvador.
Mal o vi, só lhe pedia desculpa de o ter matado. Toquei e pedi para lhe pegar ao colo. Foi dos momentos mais mágicos e mais triste que tive. Ele estava ali comigo, mas não chorava.
Dia 29 tive alta, e é uma dor tão grande vir embora de colo vazio.
O passo mais importante que dei foi procurar ajuda. Liguei logo a psicóloga e a primeira coisa que disse na consulta foi: “Dra, matei o meu filho”.
Mas, hoje, felizmente graças ao acompanhamento e à vontade, consigo dizer que não o matei, mas sim, que tive um ato de amor pelo meu Salvador.
Ele esta lá em cima com o bivô, na nuvem de amor que eles criaram e estão a olhar por nós.
Quanto ao meu Martim, também ele é acompanhado por uma psicóloga, e hoje fala do irmão com muito orgulho, embora nada do que idealizou se tenha realizado.
Para mim, o Martim será sempre o irmão mais velho.
Quando me casei em 2007 queria engravidar rápido, mas não consegui. Por 3 anos tentamos naturalmente até procurar ajuda médica. Foram muitos os exames até chegar à conclusão que uma tuba uterina estava totalmente obstruída.
A médica disse que a chance da outra adoecer e obstruir também era muito grande e deu-nos a opção de uma FIV, o que estava fora da nossa realidade. O procedimento e medicação são muitos caros. Aconteceu em 2014 se eu não estiver enganada e seguimos na luta sem conseguir engravidar naturalmente. Fui atrás de conseguir uma vaga pelo SUS na Unicamp para tentar alguma solução na infertilidade.
A fila é bem grande e, para minha surpresa, no ano de 2020, consegui a vaga e começamos a tratar e seguir para cirurgia para tentar desobstruir as trompas. Foi um milagre: as trompas estavam perfeitas…Tenho exame de imagem, mostrando a trompa obstruída e eu creio foi Deus que me curou.
Seguimos na tentativa com coito programado e nada. Depois de um tempo fizemos uma inseminação e nada, depois de mais um tempo outra e nada.
Depois de 4 anos nessa luta muito desgastante psicologicamente e financeira, porque pagava pela medicação e não é barato….eu e o meu esposo decidimos desistir do tratamento e entramos no processo de adoção. Em menos de 1 ano, acredite, eu engravidei naturalmente, e, infelizmente perdi o bebe com 10 semanas, mas ascendeu uma esperança de ter meu bebê da barriga era meu sonho e fizemos mais uma inseminação e engravidei de uma menina.
Nasceu prematura extrema com 27 semanas porque tive muitas complicações de saúde e uma trombose descoberta só às 25 semanas. As medicações não faziam mais tanto efeito a minha pressão subiu muito, nada controlava tive embolia pulmonar fui para a UTI 3x e, por fim, os médicos decidiram interromper minha gravidez para eu não morrer e a neném também…
Ela nasceu com 675 gramas e ficou 4 meses na UTI neonatologia. Enfrentou muitos desafios, mas venceu pela Glória de Deus e está hoje linda com 1 ano e 3 meses!
Digo que para Deus não existe impossível! Ela realiza desejos do coração não desista do seu sonho de ser mãe!
Tenho vindo a partilhar a nossa história com muitas pessoas, família, amigos, conhecidos do Instagram, mas senti necessidade de a fazer chegar a mais pessoas.
Não sei se por mim, se por ti que estás a ler, ou se por alguém que, ainda sem coragem de ler sobre o assunto, um dia chegue aqui.
A nossa história começou em 2019. Conheci o homem com quem tive de imediato a certeza que casaria e teria filhos. Fiz logo todas as análises de pré concepção. Como tinha tirado um ovário aos 18 anos, por ter um quisto significativamente grande, queria garantir que, quando quiséssemos ser pais, porque o se aqui não estava em questão, tudo estaria ok para isso.
E assim foi. Em junho de 2022 casámos. Foi o melhor dia das nossas vidas, felicidade essa que acreditamos que nem um filho trará. Este é o nosso sonho, esta pessoa que temos ao nosso lado.
Deixei de tomar a pílula no dia do nosso casamento, completamente inconsciente, a meio de uma caixa! Passei a lua de mel toda no vai, não vai de menstruação, mas sem stress. Tínhamos tempo!
Desde sempre que achei que seria difícil engravidar. Apesar de todos os médicos dizerem que não era um problema, eu acreditava que só com um ovário as coisas seriam mais difíceis.
Setembro de 2022 o nosso primeiro positivo. Não fiquei radiante! Disse logo ao meu marido para que não ficasse super feliz, porque era bom de mais para ser verdade.
Fomos à ecografia às 7 semanas. Saco gestacional no sítio, mas apenas de 5 semanas. “Pode acontecer.”, dizia a médica,”teremos de repetir daqui a 15 dias para ver se há evolução”.
Decidimos contar aos pais e irmãos, já com a consciência de que poderia não evoluir. E assim foi. Em novembro confirmámos: gravidez anembreonaria, temos de provocar o aborto.
Optámos por fazer a medicação em casa dos meus sogros. Sabíamos que ia ser doloroso e não queríamos guardar recordações desse momento em nossa casa.
Correu tudo bem, expulsei no próprio dia, e bola para a frente.
Março de 2023 estava grávida outra vez. Nem queríamos acreditar. Era desta!!!
28 de março, o meu dia de anos, uma terça feira! Acordei, fui trabalhar, sem saber que seria o pior dia da minha vida, da nossa vida.
Por volta das 11h deu-me uma dor que me tirou todas as forças. Corri para o WC e nada. Zero!
Chamei a diretora da escola onde trabalho (sim, sou educadora de infância) e esta ligou de imediato ao meu marido. Nem 5 segundos e lá estava ele. Ele e a ambulância atrás de si.
Fomos para o CMIN, tinha sido seguida lá na interrupção da 1a gravidez.
Fazemos ecografia à chegada. Nada, nem saco, nem embrião, nem líquido. “Como sabe que está grávida?” pergunta a médica que nos recebeu nas urgências. “Fiz um teste e deu positivo!” “Ah, então são sabe se está grávida mesmo” responde a médica. (OBVIAMENTE QUE ESTOU GRÁVIDA!!!)
Chamam outros médicos para ver a eco. Um médico, não nos lembramos do nome diz “se tem teste positivo, está grávida! Mas realmente muito estranho, nada se vê nem se encontra.”
Pedem para ficar por perto que vou fazer análises e demora cerca de 2 horas até termos os resultados. (Atenção que ainda estamos no meu dia de anos)
Eu, o meu marido e a minha mãe, lá ficámos. Encontrámos amigos, rimos de tudo aquilo e continuámos com a mesa do jantar de anos marcada.
Por volta das 14h tenho uma quebra de tensão enorme, aparece a enfermeira e levam-nos para nova ecografia. Muito líquido solto. Voltam a chamar muitos médicos, gravidez ectopica é o mais provável. Mais pessoas começam a chegar, pai, irmão, sogros que estavam cá para festejar o meu aniversário, etc…
“Mas o que é isso? Vão me tirar o que tenho aqui? Nem pensem, não deixo. Não têm a certeza? Descubram, mas ninguém me abre.”
“Tem a certeza? Sabe que pode morrer? Tem de assinar um consentimento a dizer que não quer intervenção.” E eu assinei! Isto sem o meu marido ao meu lado, “porque o marido tem de ficar no lado do computador….”
Lá passaram as horas, dor forte no ombro esquerdo, hemorragia interna brutal, operação de urgência…. Tudo acabou bem. O embrião ficou no coto da trompa que tirei aos 18 anos. O lado “bom” continua funcional para continuarmos a tentar de forma espontânea. Ufa! Bola para a frente outra vez!
Fomos a especialistas, clínica Alberto Barros, Porto clínica, … “São azares, vocês engravidam, continuem a tentar”. “Umas análises hormonais podem fazer…”
Antimulleriana (reserva ovárica) 0,17, muito baixa, “mas a verdade é que engravidam, continuem a tentar.” E assim fizemos.
Agosto de 2023 grávida outra vez.
Descobrimos numa ida às urgências no hospital de Abrantes, por outros motivos e nem quisemos acreditar. “É desta, à terceira é de vez!” dizíamos nós a toda a gente!
Fizemos ecografia na maternidade de Abrantes e nada, apenas líquido no fundo do saco. Beta positivo, historial de gravidez ectopica, digo que costumo ter ascite e então “Vamos fazer uma punção para perceber o que é este líquido.”
E lá se confirmou. Não era sangue, respirámos de alívio. Era desta, tínhamos a certeza.
Repetimos ecografia e beta na semana seguinte. Beta a descer, continua sem se ver nada ecografia. Infelizmente não deixaram o meu marido entrar. Ouço coisas do “género” (ponho género para não chocar, pois foi literal o que eu ouvi) “isto? Isto é infertilidade. Este ovário é miserável. É uma inconsciente por estar a tentar de forma natural, está a pôr a sua vida em risco, nunca vai ser mãe de forma natural.”
Caiu-me o mundo, todo! Sozinha naquela sala com o médico (se se pode chamar médico a essa pessoa) e com a enfermeira, que estava branca, sem qualquer reação. Saí daquela sala sem verter uma lágrima. Esperei entrar no elevador para dizer ao meu marido “nunca seremos pais de forma natural, sou infértil”. O meu marido ficou possuído, queria entrar por lá a dentro e desfazer aquele senhor, mas optámos por fazer uma queixa à ordem dos médicos e assim foi.
Voltámos para o Porto, aos nossos médicos de referência, fizemos estudo genético, mais mil analises, tudo ok. Sem qualquer incompatibilidade. Bola para a frente, mais uma vez.
Conhecemos o nosso novo médico nos Lusíadas, que nos referenciou para o CMIN e começámos a ser seguidos lá. Fizemos os exames todos, comecei a tomar tromalyt, poderia ajudar.
Falaram-me no Ponto de Fertilidade, a quem devo muito, lá comecei eu a acupuntura, desta vez estava decidida a fazer tudo o que estava ao meu alcance.
Ficámos 7 meses em que não conseguimos engravidar. Chorava quase todos os dias. Já tinhamos passado por muito, 3 abortos, 7 meses de tentativas sem sucesso. Finalmente referenciados para PMA fomos a uma consulta, não ficámos satisfeitos com o que nos ofereciam, mais os tempos de espera.
A nossa médica de família e a minha psicóloga, a quem devo toda a minha sanidade, acharam que seria bom eu tirar uns tempos, ficar de baixa, descansar, tratar de mim, de nós. E assim foi.
“Não queríamos acreditar! Era um milagre!”
Fomos a mais umas clínicas no Porto. Ouvimos coisas como “o seu ovário está adormecido, provavelmente não irá funcionar este mês. O ideal é ovodoação.” Ok, conformados, aceitamos e decidimos “vamos avançar para tratamento. Vamos a Vigo! Falam tão bem de Vigo, que é lá que vamos” (sem querer desvalorizar todos os médicos que tínhamos em Portugal até agora).
Encontramos uma médica na IVI, a quem lhe agradecemos a calma que trouxe aos nossos corações. “O ovário está ótimo, funciona perfeitamente, tem aqui um folículo que rebentou ou vai rebentar, ainda podem engravidar naturalmente este mês.”
Maio 2024, esperava ansiosamente a menstruação para começar a estimulação para FIV, e esta nunca mais chegou. Atrasou um dia, dois dias, e eu não aceitava. Fomos para Cristelo, para estar mais perto de Vigo, com as injeções atrás (se alguém precisar, ou souber a quem eu possa doar, tenho as injeções no frigorífico e não vou utilizar), e continuava sem chegar. Acreditava que era a minha cabeça a atrasar todo o processo. O meu marido dizia que era bom sinal, mas eu não acreditava.
Tinha um teste em casa, mas não o quis fazer, não queria gastar dinheiro. Até que uma amiga, médica, me liga e pergunta como está a correr o tratamento. Quando lhe conto o que se está a passar ela “obriga-me” a ir fazer um beta. Deu positivo, 80 e qualquer coisa… Não queríamos acreditar!!! Era um milagre! “Impossível. Como assim agora? É desta! Não há como, é o destino!”
Fizemos beta de semana em semana, ecografia de 15 em 15 dias, vesícula vitelina, depois embrião, depois coração… É desta!!! Só pode ser.
Às 11 semanas fazemos as análises do 1o trimestre. Uma médica amiga pergunta se queremos fazer uma eco para confirmar as 11 semanas e fazer o trust, e nós pensámos “porque não?”
Embrião ainda de 10 semanas, é normal, mas… Translucência nucal aumentada. A médica tenta suavizar “é sinal de anomalia, mas é muito cedo, pode ser do crescimento, pode desaparecer”.
Às 13 semanas, estamos em Madrid de férias, um ligeiro sangramento. Não sabemos se podemos voltar pois estamos de carro e o repouso poderia ser o mais indicado. Vamos às urgências. Hospital La Paz. Pessoas incríveis e nós confiantes de que seria apenas mais um susto.
Ecografia, bebe sem batimentos, o nosso chão desaparece. Abraçamos, choramos, ouvimos a médica. Voltámos para o Porto. O nosso bebe morreu. O nosso primeiro bebe.
Ligámos aos nossos médicos, fomos diretos para o CMIN onde já estavam à nossa espera e onde nos explicaram todo o processo e nos garantiram que seríamos bem acompanhados.
A minha psicóloga recebeu-me de urgência nessa noite.
Voltámos no dia seguinte para iniciar a medicação da indução do aborto, horas que nunca mais passavam, dores que não são possíveis de descrever e naquele caos penso: “amor para além da lua, eu preciso de partilhar a nossa história, eu preciso que acreditem que é possível e que acontece”. Enviei uma mensagem nesse dia, nesse momento. Eu precisava disso.
O meu marido não me largou um segundo, a minha mãe, o meu pai, os meus irmãos, os meus sogros, os meus cunhados, as nossas famílias e amigos, todos sempre connosco.
O nosso bebe saiu. 4 centímetros de gente. Com tudo. Pernas, braços, mãos, olhos, tudo. 4 centímetros de gente. O nosso primeiro bebe.
Despedimo-nos dele, despedimo-nos da maternidade no dia seguinte, despedimo-nos de mais uma luta, mais um desafio, com o coração cheio de todos os profissionais que nos acompanharam, de todos os amigos, família, conhecidos, etc etc etc. de toda a gente que se emociona com a nossa história e acredita em nós.
Despedimo-nos do nosso bebe com a certeza que foi ele que nos fez acreditar, foi ele que nos fez confiar e é ele que um dia vai dar vida aos seus irmãos.
Sabemos disso, temos a certeza disso. E queremos que tu também tenhas, tu que nos lês! E finalmente, bola para a frente, mais vez…
Posso resumir a minha história… em 2006 tive o meu primeiro bebé. Eduardo de seu nome, nasceu parto normal pélvico com 37+5, no dia 15 de outubro. Mas nasceu morto. Morreu nesse domingo de manhã. Pouco tempo depois em 2008 nasceu a primeira bebé arco-íris!
Mafalda nasceu dia 20 de junho às 38+1 por cesariana e correu tudo bem. Uma adolescente traquina e maravilhosa como todos os nossos filhos. Agora, em 2023, nasceu a Margarida em 09 de Agosto com 39 semanas e por cesariana. Uma gravidez com anemia, diabetes e pré-eclâmpsia.
A Margarida nasceu e, assim que saiu dentro de mim, passado uns horríveis 45 minutos vieram dizer que ela é deficiente visual. Caiu tudo ao chão.
A Margarida tem duas doenças raras e uma delas causou mal formação ocular e ela é cega. Hoje com 8 meses não é fácil aceitar.
É um luto por não ter a filha perfeita e tão desejada. Mas à nossa maneira tentamos fazer com que ela seja o mais feliz possível.
Pensei mil vezes se partilharia a minha experiência. Talvez por ser ainda fresco, talvez por não querer reviver tudo. Mas acredito também que possa ajudar alguém com a minha partilha.
Dia 17 de fevereiro, após 8 meses de tentativa, descubro que estou grávida do meu segundo filho.
Ficámos extasiados porque era muito desejado e eu amei o meu filho desde os dois trocos no teste de gravidez.
Sonhei com o futuro, sonhei com o poder dar um irmão ao mais velho, aniei pelas dificuldades de ter dois também.
Dia 19 de Março vejo um corrimento acastanhado. Corri para as urgências da MAC onde me disseram que tanto poderia ser aborto como não ser. Assim, só. Sem mais detalhes, aconselhamento, acompanhamento. Estaria de 8 semanas.
O meu mundo, o nosso, desabou.
Uma semana depois marquei eco no particular porque a ansiedade era muita.
Estava tudo ok. 9 semanas e sem perceberem a razão do corrimento.
Às 10 semanas tive a eco com a obstetra. Batimento cardíaco e desenvolvimento normal. Gravidez evolutiva, disseram.
Às 11 semanas e 3 dias o corrimento passou para sangue vivo. Urgências de novo. Sem batimento cardíaco: “Vá para casa para expulsar. Há de ter umas dores típicas menstruais”.
Morri ali um bocadinho. Morremos. Chorei. Dois dias depois comecei a ter dores horríveis. Não de menstruação, mas contrações horríveis. Tremores, suores, hemorragia intensa, muito choro junto. Até sentir que o meu filho saiu de mim.
Não percebo até hoje a falta de acompanhamento que tive a nível clinico. Não percebo como resumem tudo a ” daqui a dois meses tenta de novo”.
Acabei de perder o meu bebé, o meu sonho, um pedaço de mim e do meu amor.
Ainda hoje dói e ainda hoje sinto que tudo foi surreal, como se me visse de fora a viver isto tudo.
A todas as mulheres que passam por isto em silêncio, porque ainda é tabu, porque é desvalorizado, muita força.
De uma coisa estou certa, seremos sempre mães destes bebés que não pegámos no colo. ❤️
(15-12-2023) Olá. Sou a Mariana, tenho 29 anos e sonho ser mãe desde que me lembro gente.
Sempre sonhei ser mãe. Sempre. Tenho memórias, do alto dos meus 5 anos, de ter sempre todas as bonecas grávidas, preenchia-lhes a barriga com pedacinhos de papel. Ou eu própria, punha uma almofada debaixo da camisola. Dava biberão, mudava fraldas, dava banho, embalava, punha a dormir, eles “choravam”, lá ia eu …
Cresci. Tinha 23 anos quando engravidei pela primeira vez. Não era o plano na altura, tinha ido morar sozinha, começado a trabalhar e engravidei. Fiquei em êxtase! Estava grávida! Mesmo a morrer de medo, a morrer de tudo, transbordava, transpirava alegria. Mas foi sol de pouca dura. Mais tarde venho a descobrir que havia 99.9% de chance de vir a ser uma pessoa (o bebé) muito doente, e tive de tomar a decisão que, até hoje, foi a pior da minha vida, travar aquela gravidez e assinar por isso. Não basta tudo, ainda temos de assinar um papelinho, “assine na linha abaixo, pf”.
Morri por dentro. Senti-me morta muito tempo, mesmo muito.
Até que conheço o meu marido. Depois de andar um ano a deambular existência (a minha), conheci-o. E foi por esta história que começamos. Ele ajudou-me, ajudou-me imenso a aceitar aquele aborto. Um ano depois, ainda chorava nos braços dele como se tivesse sido ontem. Passaram meses, muitos meses, até que fosse capaz de voltar a sorrir com a alma e coração, mas consegui! Consegui e conseguimos.
Ironia do destino, ou não, mal sabíamos o que nos esperava.
Decidimos então abrir portas a tentar o nosso próprio bebé. E conseguimos! Uns meses mais tarde, estava grávida. O que eu saltei de alegria! Mas durou pouco. Às 6 semanas comecei a sangrar, urgências, anembrionária. Não podia ser possível… Como era possível?! Era. Mais uns meses de profunda escuridão.
Quase um ano depois, continuava sem engravidar. Fomos a uma clínica, N exames, diagnóstico: endometriose!
Mas como podia ser possível?! De repente, parecia um ataque direto, uma guerra aberta ao maior, quase único, sonho da minha vida: ser mãe.
Avançamos para FIV. Transferimos 2 embriões. Ambos nidaram, estávamos grávidos! Vinham 2 bebés! Não… Não vieram. Nem 2 nem 1 nem nenhum. Aborto espontâneo, estava de poucas semanas.
Aqui, honestamente, quase acreditei em bruxaria, não era normal. Não podia ser normal, de certeza que tinha sido escolhida por Deus.
Em baixo, mesmo muito em baixo, vivia o mês dos meus anos e o período não vinha. De certeza que era do aborto dos gémeos. Era normal atrasar. Nunca tinha abortado de 2 por isso, de certeza que era normal um atraso de duas semanas. Não. Estava grávida!
Engravidei logo no mês da perda dos gémeos. Naturalmente. Depois da punção, da transferência, depois de tudo, ali vinha ela! A nossa menina, a Mel!
Medo. Os sentimentos dominantes eram medo e angústia. Sempre angustiada. Sempre. Não tive um único dia de paz. Sentia e achava sempre que ia acabar mal. E o tempo foi passando… 8 semanas, 10 semanas, 12 semanas, é uma menina, 14 semanas, 16 semanas… “Há qualquer coisa no coração dela, mãe”. Hum?! O que é “qualquer coisa”?
Entramos numa pescadinha de rabo na boca. Hospital, ecografias, médicos, vários, diferentes, hospital, ecografias, fomos de férias! Ou íamos morrer de nervos e ansiedade e de tudo, precisávamos de desanuviar. Fomos. E foram as piores férias das nossas vidas.
Senti-me mal, mas mal, mal ao ponto que ainda hoje tenho dificuldade em explicar. Deixei de comer, beber, dormir, ter forças nas pernas, senti que tinha morrido por dentro, literalmente. Senti. Eu sabia. Eu sabia… Hospital. Ecografia. Sozinha, porque estávamos em pandemia. Silêncio. 3 minutos de ecografo na barriga, eu olhava fixamente para o teto enquanto sentia a angústia da médica no ar, a quantidade de vezes que ela olhou para mim, em busca do meu eye contact, mas eu não queria! Porque sabia… Sabia-o. E perguntei (mantendo os olhos no teto) “então doutora? Tudo bem?”. Ela: não… Não Mariana… O coração da sua bebé parou. Não me mexi. Levei as mãos ao peito e senti alívio! Respirei o último fôlego de alívio, antes de cair na depressão profunda, mas o primeiro desde os últimos 6 meses. A minha filha estava livre. Livre do sofrimento em que tinha entrado. Estava em paz, sem vida, dentro de mim, mas em paz. Minha filha, minha bebé. E foi a vez do meu coração parar.
Deprimi. Deprimi, mas não parei. 3 meses depois fui operada a uma endometriose, “das piores já vistas” pela minha médica. Perdi intestino, outras partes de órgãos, mais de duas dezenas de focos, foi de tal ordem que poderia perder a capacidade de engravidar naturalmente e perdi.
(18-4-2024) Mais processos de PMA, FIV, punção, transferências. Mais perdas! Mais falhanços. Até Julho de 2023. Último embrião, probabilidade quase nula. Foi por descargo de consciência e voilá, positivo! Mas sem festejos. Sem nada. Quase toda a gravidez sem acreditar. Cheia de medo, muitos sustos, muita medicação, muito hospital, médicos e N opiniões. Foram 38 semanas e 3 dias. 38 semanas e 3 dias do amor mais profundo, do mais bonito, do mais intenso, do que carrega baterias de forma ímpar, do melhor do mundo, o meu filho, o Afonso. Meu perfeito, amado e desejado filho. Chegou dia 3 de abril e com ele veio a paz e o acalmar do coração que mais precisava: sou mãe, do ser mais belo do universo.
Esta comunidade, Amor para além da Lua, deu-me luz, deu-me esperança, deu-me o que mais nada deu pelas corajosas partilhas de outras mães. Hoje, espero que seja o meu testemunho a dar luz a alguém.
Com todo o amor para além da lua, a ti, filha. Com todo o amor do mundo, a ti, filho.
Ainda me dói e eu quero falar sobre o nosso “biscoitinho” …
Ainda quero gritar para o mundo e dizer que o nosso biscoitinho estava vivo…
estava dentro de mim..
e tão amado por nós, pai e mãe.
Era minha segunda gravidez perdida…Duas seguidas – na primeira foi um aborto espontâneo às 6 semanas.
Na segunda vez já foi com muita dor.. Aconteceu muito recentemente, no dia 25 de março 2024.
Estávamos tão felizes e queríamos ver como tu estavas no primeira eco, eu estava já com 13 semanas. Eu já tinha ouvido teu coração antes na semana 8 e estava tudo bem. Tu fizeste algumas danças dentro de mim e depois começou a nossa viagem! Eu estava tão feliz!
Eu e teu pai falávamos contigo todos dias, já imaginávamos como serias. O teu pai não queria saber se eras menina ou menino, queria uma surpresa.
Na semana 11 de minha gravidez, acordei e não sentia as minhas mamas. Assustei-me muito.
Mas claro que sempre tinha esperança e não pensava que poderia perder o meu feto, o nosso biscoitinho. Tinha uma consulta no centro de saúde com o médico de família. Ele dizia que “Tudo bem, é normal não sentir mamas…vai correr tudo bem”
No dia 25 de março, tínhamos marcado uma eco às 8:30 de manhã. Acordei esta noite com um pesadelo que tinha sangue nos meus cuecas … Fui à casa de banho e no papel vi um pouco cor de rosa…
O meu coração já sentia que alguma coisa não corria bem.
Mas ainda não imaginava.
No eco, apanhei uma médica muito doce e humana. Ela começou mexer e tocar minha barriga com mais força…
Depois dizia “Infelizmente, não tenho boas notícias”. Vou lembrar esta frase sempre …
Uma Gravidez – não evolutiva: parou na semana 11 …
Chorei muito. Chorámos. Não lembro-me muito bem este dia…
Fomos ao parque e sentámos numa pedra.. Estava sol e quentinho e os nossos com corações estavam partidos. Eu tive um grande apoio do meu marido. Nós passámos juntos este processo todo.
No dia seguinte, tivemos consulta com uma médica – que parecia um “robot”. Falou comigo como se eu fosse “um armário” e o meu feto morto dentro de mim não fosse nada. Era uma pedrinha ou qualquer coisa que ela achava. Eu chorei muito.
Deram-me um medicamento, disseram que preciso voltar no dia seguinte, fazer expulsão no hospital e tomar mais um medicamento. A enfermeira disse-me que seria muito pouco provável acontecer alguma coisa nessa noite. O meu marido perguntou o que poderia fazer e se iria acontecer em casa. A doutora disse que podíamos apanhar o feto numa caixa plástica para levar depois ao hospital (ela queria fazer exame de estudo do feto).
Em casa, quando fomos dormir, eu já sentia algumas espasmos e tomei ibuprofeno.
Acordei às 3 de manhã com dores.
Tomei benuron, não funcionou.
Às 3:30 de manhã já começou um processo muito triste e difícil.. Senti muitas contrações, fortes. Lembro-me que não sentia as minhas orelhas, tudo no meu corpo doía, queria vomitar. O meu marido acordou e eu já gritava tanto.
A médica não me explicou o processo, eu não sabia nada sobre isto…
Só vi um pouco no internet. Vi que tem sair o feto e depois a placenta…
Tive um parto na caso de banho em minha casa, com uma caixa plástica preparada perto de mim ..
Eu vi e senti que a água começou a sair, depois eu vi outra “coisa”. Não percebi logo que era o meu biscoitinho…saiu. Apanhei-o no caixa, não sei como. Mas apanhei.
Tentei ver o que estava dentro de caixa. Vi uma mão e dedos pequeninos.. Do meu biscoitinho. Gritei tanto.
Dez minutos depois começou grande dor e contrações. Devia ser a placenta a sair… Saiu uma grande coisa com sangue de tamanho como minhas duas mãos. Depois logo me senti melhor… Acabou às 4:30 da manhã.
Meu querido marido tentou vestir-me para me levar ao hospital.
Mas eu não conseguia parar o processo. Já começou, já precisava acabar. Explorar meu feto, o nosso amor e o nosso sonho.
Fomos para hospital. As pessoas que estavam lá não nos receberam bem. A enfermeira gritou comigo.
Fizeram eco, já estava tudo limpo, não precisava nenhuma cirurgia.
Fizeram um vacina de imunoglobulina ( estou RH negativa , meu marido RH positivo) e fizeram também um shot de Diclofenaco. Eu senti-me logo melhor.
Fomos vazios. Em casa dormi muito. Chorei muito. Chorámos muito. Falamos sobre o biscoitinho, muito. Lembramos muito. Meu marido disse “EU AMO-TE muito meu Biscoitinho”. Nunca nos vamos esquecer de ti!
Depois senti mais 2-3 dias muitas dores físicas, depois muitas dores psicológicas…
Uma semana depois, estava no autocarro onde eu estava antes com o meu biscoitinho e chorei muito. Queria cantar para toda gente que estava no autocarro que o meu biscoitinho já morreu. Eu estou já não igual como estava na semana passada no mesmo autocarro com mesmas pessoas.
Apareceste-me num sonho e uns meses depois tornaste-te a nossa realidade.
Recebemos a notícia da tua existência como uma bênção e, embora o medo e a ansiedade tomassem conta de mim, agarrei-me a ti com todas as forças.
No dia em que recebemos a notícia de que não tinhas conseguido, o mundo desabou novamente e o teu papá mais uma vez foi o pilar.
Desculpa, meu amor, por não ter a força que todos esperavam. Não consegui ainda contar aos manos.
Já todos te amamos tanto que dói demais deixar-te ir… Queria ter fé, queria ser forte, queria tanto que tu conseguisses, por ti, por nós…
Fica o tempo que precisares, serei sempre a tua casa, e por mais anos que viva, tu viverás em mim.
Hoje ainda não aceito, talvez não aceite nunca… a dor essa vai doer sempre, mesmo que me digam que todos os dias vai doer menos um bocadinho. Eu tenho a certeza que não… a dor vai estar sempre cá, a mamã é que vai aprender a lidar com ela e a camuflar com um sorriso, pelos manos, pelo papá e pela tua memória…
Obrigada por teres feito de mim casa, por me teres escolhido, e embora não te carregue no colo, irei carregar-te sempre no coração.
No dia 15 de fevereiro de 2022 descobri que estava grávida. Um bebé planeado e desejado sendo que não podíamos estar mais felizes. No entanto, sou da área da saúde e como sei que muita coisa pode não correr/estar bem mantive sempre alguma ansiedade até à ecografia do 1° trimestre.
Esta ecografia confirmou os meus receios e apesar da ecografia em si estar bem, os valores do rastreio bioquímico estavam muito altos havendo alta possibilidade de alguma síndrome. Fomos aconselhados a realizar a colheita para dna fetal que para nossa grande alegria veio normal e descansou os nossos corações. Até à segunda ecografia. Uma malformação. Fizemos amniocentese e ficamos de repetir novamente a ecografia. Mais uma nova malformação. E finalmente o resultado da amniocentese que confirmou o nosso maior receio.
O coração do meu Tomás parou dia 8 de Julho e o seu parto foi no dia 9 de julho de 2022. Os dois dias mais difíceis da minha vida. Assim como os seguintes em que tudo parecia cinzento e as lágrimas caiam umas atrás das outras de forma incessante.
Escrevo hoje com a minha bebé arco-íris nos braços para recordar o meu Tomás. A dor melhora mas nunca desaparece e o Tomás está no meu coração todos os dias e nunca será esquecido. O meu filho mais velho.
No entanto, deixo uma mensagem de esperança a quem está neste momento a passar por algo semelhante. Melhores dias virão e os vossos corações serão eventualmente apaziguados. Os dias de sol eventualmente serão em maior número que os cinzentos. E nos nossos corações ficarão a memória e a saudade. Para sempre.