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Ana Karolina

Não foi assim que imaginei que tudo terminaria, na verdade nunca imaginei que “chegasse ao fim”.


Todos os meus pensamentos, planos futuros, ou seja, toda minha vida já era sua.
Eu amei gerar você e passar quase 8 meses com você no meu forninho. Eu amava que podia aproveitar enquanto éramos só nós duas, amei cada descoberta, toda ansiedade antes das ecos, amei sentir cada pontapé seu… nossa, como eu amava isso, chegava a passar horas com a mão na barriga só para sentir você.

E o peso da barriga agora se tornou um vazio tão grande que se torna inexplicável, igual ao vazio que restou no meu coração e na minha alma. Dói minha filha, dói tanto não te ter aqui. As 16h de trabalho de parto não chegam aos pés da dor que sinto de não ter você em meus braços.
A cada contração que sentia era um misto de sentimentos, o desejo de que todos os médicos estivessem errados e que você estivesse bem, misturado com o medo e tristeza terríveis por saber que todo aquele esforço seria em vão.
Você foi desejada e muito amada, eu já sonhava como seria seu rostinho, sua pele, seu cabelo, e posso falar?! Você nasceu linda, eu juro que você superou minhas expectativas, veio igualzinha a uma boneca; branquinha, com o nariz perfeito, cabelo lisinho, bem cabeludinha, com os olhos puxados e a boca do seu papai (sim, a mesma que eu enjooei na gravidez).

Te carregar no meu colo daquele jeito e não poder fazer nada me deixa totalmente devastada!
Eu daria minha vida para você, te daria o meu respirar sem pensar nem um segundo.
Queria que você tivesse acordado, meu coração pedia por um milagre, mas Deus não quis assim.
Eu ainda não entendo e me pergunto se um dia isso será possível.
Mesmo sabendo que é errado eu acabo questionando. Como não questionar? Como não perguntar o porquê se a lei da vida são os filhos enterrarem os pais e não o contrário?
Fora os outros milhões de questionamentos que me vêm à cabeça.

Eu imaginava e sonhava em te ver aqui do meu lado no seu berço branco e não consigo acreditar que a realidade foi outra. Aquela cena nunca vai sair da minha cabeça, me entregaram você em um caixão branco e ao invés de te colocar em meus braços e te trazer pro seu lar, tive que deixar você em um cemitério. Meu Deus, como dói!!! A dor rasga a alma e me dilacera por inteiro.

Como seguir a vida? Como viver sabendo que você não teve nem chance disso? São tantas perguntas sem respostas.
O que eu sei é que não conseguiria passar por tudo isso sem o apoio do seu papai. Hoje tenho certeza de que é ele quem eu quero ao meu lado para viver até o fim da minha vida.

Filha, ele é incrível, e nesses dias difíceis não nos deixou nem por um segundo, segurou em minhas mãos e foi meu suporte para não desabar.
Não cabe a mim contar a experiência dele, mas eu sei o que vi.
Vi um homem se tornar pai, se preocupar e te amar incondicionalmente.

Queria que você tivesse tido a oportunidade de conviver com ele e de conhecer o ser humano lindo que ele é. Não me restam dúvidas de que ele seria o melhor pai do mundo pra você.

Saiba que você NUNCA, NUNCA será esquecida. Segure sempre nas nossas mãos e cuide sempre da gente aí de cima, minha Maria Clara.

Sigo aqui com meu luto, chorando sempre que necessário, lembrando de você a cada segundo e sonhando sempre em como seria nosso futuro juntas.


Sobre o luto, prometo a você que não vou me afundar nele, só preciso vivê-lo enquanto for necessário para amenizar a dor. Um dia de cada vez e em passos lentos, mas sobrevivendo.

Maria Clara Abrantes Barbosa.
27/12/2022 – 03:44 – 1.225kg

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