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Andreia C

A nossa história de amor começou no dia 6 de Junho de 2022, quando fiz um teste de gravidez e deu positivo.Não queria acreditar e fiz 3 testes diferentes. Todos eles deram positivo. 

Foi o primeiro teste de gravidez que fiz. Apesar de já estarmos a tentar há cerca de 6 meses, nunca tinha tido um atraso menstrual. Também não tive atraso menstrual nesse mês mas, chamem-lhe intuição, eu sentia-me gravida. E estava. 

Lá estava o nosso positivo. O nosso grande sonho estava a começar.

Tinha uma consulta com o meu ginecologista nesse mesmo dia e disse-lhe que tinha feito um teste de gravidez que deu positivo. Ele receitou-me logo vitaminas e disse para voltar dali a 15 dias, porque ainda não se via nada. Estava grávida de cerca de 4 semanas. Quinze dias depois voltei e lá estava o saquinho no útero. Quinze dias depois e já consegui ouvir o bater do seu coraçãozinho.

Contamos a novidade aos avós que ficaram tão felizes. Afinal de contas seria o primeiro neto tanto dum lado, como do outro.

Começamos a comprar roupinhas, a pensar em nomes e a fazer mil e um planos na nossa cabeça. 

Eu era luz. Luz e sonhos. Eu radiava alegria e felicidade para onde quer que eu fosse. Sentia-me forte. Sentia-me a super mulher. Sentia que nada nem ninguém me podia machucar, porque dentro de mim eu gerava vida. O meu filho. E sentia-me poderosa. 

Sempre achei que quando estivesse grávida me fosse sentir frágil e fraca, mas não, foi o tempo que eu me sentia mais forte… Acordava todos os dias e dizia “bom dia, meu amor, mais um dia juntinhos”.

Fazia mil e uma festinhas ao longo do dia na minha barriga. E gostava de a ver crescer. Os sábados ganharam mais cor pois acrescentava mais uma semana de vida ao meu “docinho de marmelada”, (eu gostava de o chamar assim). Media a barriga todos os sábados e lembro-me perfeitamente de ficar toda contente por ela aumentar 1cm por semana.

Chegou o dia da ecografia do 1º trimestre. Estava tão nervosa. Estava tão tensa que a médica me mandava sempre relaxar, mas eu não conseguia. Só relaxei no final quando ela me disse que estava tudo bem. Aí, o meu coração relaxou. 

Foi a melhor sensação da minha vida e estava grávida de mais quase uma semana do que eu estava a contar.

Fiz um diário online onde escrevia tudo o que estava a sentir e um bocadinho do meu dia a dia da gravidez, para mais tarde recordar. 

Tudo corria bem. Contámos à família. Já estávamos a decidir os padrinhos. Os nomes já estavam escolhidos tanto para menino como para menina. 

Tudo era um sonho tornado realidade. 

Fui à médica para saber se podíamos ir de férias em Agosto. Ela disse que sim, e fomos felizes e radiantes da vida. Tirámos tantas fotos na praia com a minha barriguinha que já se começava a notar (17 semanas). Estávamos tão felizes! Olho para trás e só queria voltar a sentir a mesma felicidade.

Regressámos de férias a um domingo, na segunda seguinte fomos ao obstetra que disse que estava tudo óptimo com o bebé e que achava que seria uma menina. 

Eu não acreditei. Sempre senti que seria um menino. Intuição de mãe, não sei. Nesse mesmo dia fizemos uma ecografia em 3D e, apesar de pequenino, já se via perfeitamente o nosso bebé tímido e muito simpático (como as médicas o descreviam).

E disseram-nos que muito provavelmente seria um menino. 

Nesse mesmo dia de manhã tinham-nos dito menina e depois menino, estávamos confusos. Mas faltavam apenas 10 dias para a ecografia do 2º trimestre e já tirávamos todas as dúvidas e poderíamos contar à família, que todos estávamos ansiosos para saber se seria uma menina ou um menino. 

Mas não conseguimos chegar a esse lindo momento. 

Nessa quinta feira à tarde comecei com imensas dores de barriga, que não sabia o que seria. Fomos às urgências de um hospital, a médica disse que estava tudo óptimo. Eram apenas gases, mandou-me tomar ben-u-ron e ir embora e, para a próxima, tomar ben-u-ron antes de ir às urgências. 

O meu coração ficou descansado. Afinal de contas tudo estava bem. 

Mas as dores não passavam e, no dia seguinte, fomos a outro hospital (podia ser que tivessem outra opinião).

Fui vista por 2 médicas que disseram exatamente o mesmo, que seriam gases. Também me disseram que tinha o colo do útero demasiado curto para as semanas de gestação que tinha (18 semanas), mas não estavam nada alarmadas. Mandaram-me repousar, mas não estar todo o dia deitada na cama, e receitaram-me progefick. 

Perdi o bebé no dia seguinte em casa. 

O meu bebé simplesmente escorregou por mim abaixo, como se o meu corpo o rejeitasse. Ainda me lembro do horror. Do sangue imenso. Das dores terríveis. 

Chamei a ambulância que me levou para o hospital mais próximo. Lá, tiveram que me operar para retirar a placenta pois não tinha saído. E eu lá estava com o meu bebé ao lado embrulhado num paninho. E eu só queria acreditar que tudo aquilo tinha sido um pesadelo. 

Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”

Lembro me de acordar da anestesia e pensar que tudo aquilo não tinha passado dum pesadelo, mas tudo tinha sido verdade. 

Isto tudo foi em Setembro. Sete meses passaram e eu não consigo esquecer. Sete meses passaram e eu ainda pergunto “porquê?”. Sete meses passaram e eu ainda choro quase todos os dias pelo meu bebé.

Ainda não sei o que aconteceu visto que tudo estava tão bem, o meu bebé mexia, tinha batimentos cardíacos, estava tudo perfeito. 

Fez-se a autópsia onde descobri que era um menino (a minha intuição não tinha falhado) e era perfeito. Sem nenhum problema físico nem cromossómico. Era um menino perfeitamente normal.

E isso custa tanto… Dizem-me que é melhor assim. O menino ser perfeito, porque assim sei que eu e o meu marido temos bebés perfeitos, mas custa tanto saber que perdi um bebé perfeito e saudável.

Ele era tão pequenino. Mais ou menos do tamanho da palma da minha mão. Um bebé pequenino e perfeitinho. 

Seria o nosso Mateus. 

Agora as saudades matam-me por dentro. 

Como é possível ter saudades de momentos que apenas existiam na minha imaginação? Momentos que nunca aconteceram mas eu sonhava que acontecessem.

Como é possível agora sentir-me fraca quando já me senti tão poderosa?

Há 7 meses que eu não consigo sorrir. Nada me traz felicidade. Tudo aquilo que dantes me deixava feliz agora simplesmente não é nada. 

Tudo o que eu queria era o meu bebé. 

Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”. Eu tenho saudades de fazer festinhas na minha barriga, tenho saudades de falar com ele, de sonhar com ele no meu colo, tenho saudades de ver a minha barriga crescer. 

Tenho saudades da felicidade genuína. De sorrir duma coisa simples. 

Hoje o meu bebé teria cerca de 2 meses. E eu só consigo imaginar o seu sorriso, os seus olhos, o quanto eu o amava e amo. 

Imagino a dar.lhe de mamar, a colocá-lo para dormir, a dar-lhe banho, acariciá-lo, dar-lhe beijinhos. Dançar com ele…. 

A minha vida parou em Setembro de 2022. Os dias passam mas a minha alma ficou em Setembro. 

O meu bebé foi-se embora e com ele levou metade de mim. Levou metade do meu coração com ele. 

E agora pergunto me: como voltarei a conseguir ser a mesma pessoa?Alguma vez conseguirei voltar a ser a mesma?

Eu sinto que a vida que estou a viver agora não é a minha vida, eu deveria estar em casa a tomar conta do meu bebé e não a trabalhar e a chorar pelos cantos. Eu não quero viver neste inferno.

As pessoas não percebem esta dor. Dizem : “ah és nova podes ter outro” ou “pelo menos foi no início” ou “foi porque Deus assim quis”.

Mas as pessoas não sabem qual é este sofrimento, esta dor que acorda e adormece connosco. Esta dor no coração que não sai por nada deste mundo. 

Eu não sei o que fazer para deixar de sentir esta dor. 

Agora o meu diário online que dantes escrevia todos os momentos da gravidez, agora é o meu aliado, onde escrevo as minhas tristezas e angústias, onde desabafo e choro o meu filho. 

Vejo todas as meninas que estavam grávidas ao mesmo tempo que eu a ter os seus bebés e eu nada, e eu de colo vazio e pergunto-me: “o que fiz eu de mal?”, “onde é que eu errei?”

Custa tanto saber que o bebé que era tão amado, tão desejado, tão sonhado, simplesmente escorregou por mim abaixo e eu não pude fazer nada para o salvar. 

Só me apetece chorar todos os dias. 

Meu eterno bebé. Meu Mateus, amado sempre.

A nossa história começou a 6 de Junho de 2022 e terminou a 12 de Setembro de 2022. Foram 18 semanas de amor. 

Meu eterno anjinho da guarda. 

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