A minha vida, a minha Íris.
Hoje vou contar-vos a história da minha vida (a minha Íris). A Íris é o meu bebé arco-íris, depois de um aborto espontâneo e de uma gravidez anembrionária.
Dia 14/04/2022 veio o resultado positivo. Quando olhei para o teste nem queria acreditar, mas lá estava “grávida 1-2 semanas”. A alegria misturava-se com o medo mas algo me dizia que era desta, que o meu bebé tinha vindo para ficar.
No dia 23/05 fiz a primeira ecografia, no privado. Enquanto me sentava na marquesa, rezava para que o meu bebé estivesse ali. Assim que ligou o monitor ali estava ele, o pequeno ser que iria mudar a minha vida para sempre. Quando ouvi o coração bater eu e o pai chorámos, chorámos muito. Ali estava o som mais perfeito do universo, o coração do nosso bebé.
Tínhamos decidido que só queríamos saber o sexo no dia do parto porque era indiferente, o importante é que ele estava ali a crescer forte. As semanas foram passando, a barriga ficava gigante a olhos vistos, e a cada ecografia, lá estava o nosso baby a crescer. A ecografia morfológica estava perfeita; o nosso sonho tornado realidade. Dia 18/08, fui com a minha sogra fazer uma ecografia 4D e tinha informado que não queria saber o sexo mas, assim que ligaram o monitor, a primeira coisa que se viu foi que era uma menina. Estava ali e era impossível não perceber o que era e, nesse dia, soube que a minha Íris estava a caminho.
Dia 29/08 fui jantar fora com o meu marido e um casal amigo. Depois das entradas, levantei-me para ir à casa de banho e senti um pouco de líquido, mas como a Íris estava alojada em cima da minha bexiga pensei que fosse um pequeno “descuido”. Quando cheguei à casa de banho, a mesma estava ocupada e então começou a sair um jorro de água pelas pernas abaixo. Eu estava de vestido e lembro-me de ter entrado na casa de banho dos homens, que estava vazia, em pânico. Peguei no telemóvel e liguei ao meu marido que veio logo ter comigo, disse-lhe que a bolsa de água tinha rebentado, ele disse que era impossível, mas chamou o INEM,.
Chegamos ao CMIN e eu já só chorava. Estava naquele dia com 23 semanas e 4 dias.
A médica de urgência fez uma coleta do líquido e confirmou que era líquido amniótico. Fizeram uma eco e o coração da minha filha batia e ela mexia-se normalmente. Passámos essa noite no núcleo de partos para ver se eu iria entrar em trabalho de parto, mas os médicos tinham explicado que o limite da viabilidade eram as 24 semanas e que dificilmente a Íris sobreviveria se nascesse naquele momento. Rezei e pedi ao universo para que a minha menina se mantivesse dentro de mim, para eu a proteger e para que ela pudesse crescer mais um pouco. Consegui manter a gravidez durante mais algum tempo, estava tudo a correr dentro do previsto, mas a 11 de Setembro (com 25 semanas e 3 dias), a Íris decidiu nascer.
Disseram-me depois do parto que ela decidiu viver, pois a bolsa estava com uma infeção que tinha passado para ela e para mim, se ela não tivesse nascido naquele dia provavelmente não tinha sobrevivido.
No dia 11/09 às 16:43, nasceu a minha vida, de uma cesariana de urgência caótica, a Íris nasceu com 31 cm e 620gramas, pequenina em tamanho, mas enorme em força.
Os primeiros 15 dias foram muito complicados, ali estava ela numa incubadora, com ventilador e cheia de fios e medicação que a mantinham perto de mim, perto de nós… Com 15 dias a minha vida teve uma infeção no intestino e os médicos disseram que a probabilidade de ter de ser operada era grande e eu, lavada em lágrimas, mais uma vez implorei a Deus e ao universo que protegesse a minha filha.O antibiótico começou a fazer efeito, a Íris melhorava a olhos vistos, ganhava peso, era super ativa e reagia ao toque e à fala, principalmente ao meu.
Todos os dias chegava à beira dela e dizia “Bom dia vida, mais um dia para vencermos? A mãe ama-te muito meu amor” e ela, invariavelmente, sorria e apertava a minha mão, com aquela mãozinha dela perfeita.
A Íris foi aumentando a quantidade de leite materno que tomava pela sonda e eu de 3 em 3 horas tirava leite para ela. Conseguia sempre tirar cerca de 100ml, às vezes mais.
A 11/10, dia em que a minha vida fez um mês, já estava com 11 ml de leite, sem alimentação parentética, sem soro, só o leite da mãe e com mais de 800 gramas de peso. Nesse dia, chegamos lá eu e o pai, eu disse-lhe o bom dia dela, falamos com a médica que nos disse que a Íris estava a progredir muito bem, tinham feito análises, ecografia e raio x e tudo estava bem, incluindo o pulmão dela que sempre foi o calcanhar de Aquiles da minha menina. Estava a progredir favoravelmente,
Por volta das 13:00, a Íris, do nada, começou a fazer baixas saturações de oxigénio… as máquinas começaram a apitar, a médica chegou perto dela e mudou-a de posição para ver se ela melhorava, mudaram o tipo de ventilação mas nada fazia com que a saturação subisse, eu e o pai ali a olhar para ela, que continuava rosada e a mexer-se como se não se passasse nada… a médica pediu para mudarem o oxímetro, pois devia estar avariado porque os valores do monitor não correspondiam à cor nem à atividade da minha filha. A enfermeira mandou sair os pais todos e, mais uma vez, fiquei eu e o meu marido a pedir a Deus que protegesse a minha menina, que não permitisse que nada de mal lhe acontecesse, que não me tirasse o meu milagre.
Os minutos foram passando e ninguém nos vinha chamar nem dar notícias e, a cada pessoa que eu via a passar, o meu coração ia ficando mais apertado.
Às 14:10 tive uma crise de choro, a pior que tinha tido desde que a minha filha nasceu. Às 14:20, a diretora do serviço de neonatologia entrou na sala onde aguardávamos, fechou a porta e disse as piores palavras que qualquer mãe ou pai podem ouvir “a equipa fez de tudo mas a Íris não resistiu”
O meu mundo desabou, não queria acreditar. Como podia ser, se ela estava tão bem? Se estava a progredir… tinham acabado de me dizer isso e agora não a tinham conseguido salvar? Nada fazia sentido. Pedi para ver a minha filha, a nossa filha e levaram-nos até ela. Ao caminhar pelo corredor, estupidamente, tinha a esperança que ia chegar lá e eles se tinham enganado, que não era a minha Íris… quando entrei na sala e vi a minha vida deitada dentro da incubadora, imóvel e todas as máquinas desligadas, o meu coração parou e caí de joelhos ali em frente, sem forças e sem vontade para continuar.
A minha vida estava ali, os meus sonhos estavam ali como é que de repente fico sem ela? O meu marido (a minha rocha, o meu porto de abrigo) tirou-a da incubadora para o colo dele e depois colocou-a no meu colo. Eu beijei-a, abracei-a, cheirei-a, e disse-lhe o quanto a amava, o orgulho que tinha nela e que ela era a bebé mais perfeita do mundo. Agora sem todos aqueles tubos e fios, eu e o pai pudemos ver claramente que ela era a cara do pai, mas tinha as minhas bochechas. Ficámos ali, junto dela o tempo que quisemos a abraçá-la e a dar-lhe beijos. As minhas irmãs e um dos meus irmãos puderam vir também para se despedir dela. Foi a primeira vez que a viram fisicamente, foi um golpe duro para eles, mas todos dizem que conseguiram assim ver a perfeição que era a minha filha.
A dor é gigante, avassaladora, mas o amor é invisível e está sempre connosco e a Íris é isso, é amor. Está sempre comigo a cada segundo do dia. Peço-lhe todos os dias para me ajudar a vencer aquele dia. Todos os dias continuo a acordar e a dizer: Bom dia vida, mais um dia para vencermos? A mãe ama-te muito, meu amor”
7 comentários a “Andreia C.”
A minha história com a minha vida ❤️ vai ser sempre o capítulo mais bonito e o mais triste da minha vida
Não existem palavras que se possa dizer para aliviar a dor da maior e mais dolorosa perda, perder um filho. Só há amor, a tua íris é amor, tu foste sempre feita de amor e eu amo-te amiga
muita força. A Íris está lá em cima a olhar pelos Pais. Um xi
Andreia, espero q consigas superar de alguma forma a dor lancinante que deves sentir.
Chorei ao ler a história da tua pequena Iris.
Ela estará contigo sempre e tenho a certeza que ela quer que a mãe seja feliz.
A vida traz-nos dissabores tão inesperados e que nos deixam com tanta vontade muitas vezes de nem estar aqui mas se ainda estamos, é porque tem um propósito.
Um beijinho muito grande
Eu nem tenho palavras Andreia! Só me caem lágrimas… Que a vossa Íris vos dê todos os dias a força necessária para continuarem esta caminhada. Beijinho
Andréia sei que neste momento difícil, não há palavras ou gestos que consigam aliviar uma dor tão grande quanto a causada pela partida antecipada de uma filha, mas quero te dizer e quero que saibas que estou aqui para o que precisarem.Todos os que partem permanecem na memória daqueles que os amam e nunca serão apagados dos nossos corações. Assim espero que consigas encontrar algum conforto na ideia de que a tua querida menina se foi por ter cumprido sua missão na Terra.
Força minha amiga
Não há palavras meu amor para poder confortar o teu coração, mas a tua Íris está a olhar por vós e vais conseguir ultrapassar,(nunca esquecer) tu és uma guerreira e a tua Íris esteja onde estiver, está orgulhosa da mãe, beijinhos para vocês saúde e muita coragem, princesa da tia