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Claudia

Claudia, testemunho, sonho

Durante a gravidez, sempre brinquei que a minha bebé ia sair à mãe e comer de tudo. Ao contrário de duas outras grávidas que estavam mais ou menos com o mesmo tempo que eu, não sofri, nunca, de enjoos ou desejos.

Numa consulta de rotina, depois de conversas, medidas, peso e um chá – bem à moda britânica – a parteira não conseguiu encontrar um batimento cardíaco. “Isto não é nada, estamos aqui com o dopler e a tua placenta é anterior, vais ao hospital, fazem-te a ecografia e vês logo o bebé a rir-se para ti”. Com medo, mas esperançosa, fui receber as notícias que ninguém quer ouvir “Lamento, mas não há batimento, o médico vai vê-la daqui a nada”.

Não chorei; não era possível.

Nos meus ouvidos eu ouvia o meu próprio coração – tum-tum tum-tum tum-tum- como é que o meu podia bater tão forte se o dela tinha parado? Confirmaram que ela tinha morrido e discutiram em breve as minhas hipóteses. Entretanto, tinha de ligar ao pai, ir para casa e voltar no dia seguinte para começar o processo de indução. Ao telemóvel, não sei sequer se disse alguma coisa. Acho que o som que saiu de mim foi o meu coração a partir-se e choro. Nada mais.

No dia seguinte, incrédulos e em choque, fomos para a maternidade para ser induzida. À meia noite e vinte e dois, do dia 22 de Fevereiro, a Charlie veio ao mundo, em silêncio, pequenina e perfeita.

Tal como qualquer mãe que dá à luz naturalmente, fiquei no hospital 2 dias.

Tudo o que se seguiu foi inacreditável. Registar a morte. Planear o funeral. Não ter ninguém presente (por causa do Covid não se podia viajar) na cerimónia e durante a recuperação. Não ter a bebé comigo.

A solidão, a dor, o luto, a perda. Tudo ondas no meu mar.

Hoje, continuo a aprender a viver esta nova realidade em que a Charlie está presente mas no meu pensamento e na esperança que na partilha da sua vida e morte com outros, possa continuar e mostrar todo o amor que tenho e que a vida depois da perda é possível.

4 comentários a “Claudia”

Gratidão pela partilha… Nãohá palavras, mas ficam os gestos e a certeza de que o legado da Charlie continuará em muitos corações e ações.

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