O nosso caminho juntos começou quando, em fevereiro, tive o nosso positivo! Chorei tanto de felicidade! No início deu medo, fiquei extremamente aflita pois queria dar o meu melhor e tudo era novidade. O nosso primeiro bebé, e desde logo o amor da nossa vida!
Foi um início duro, com muitas náuseas, enjoos, e onde a minha energia vital estava toda dirigida a ti, filho. Não tinha energia para mais nada.
Com o tempo, as coisas foram melhorando e voltei a ser eu mesma, e tudo corria bem contigo. As semanas foram passando e perto das 18 semanas tive aquela que tantas vezes disse ser “a melhor sensação da vida”: sentir-te pela primeira vez, Manel. O pai tanto tempo passava com a mão na minha barriga para ter um bocadinho daquele elixir da felicidade que tu me davas.
Os momentos contigo foram os melhores de sempre, foste a minha melhor companhia, já tínhamos uma rotina tão boa, tão nossa. As conversas, a música que ouvia contigo antes de dormir, tudo me faz falta. E não entendo…Quero entender o propósito de tudo o que nos aconteceu depois, mas quando penso em ti e em todos os momentos bons fico tão triste e revoltada. E não é suposto, tu foste e és felicidade! Com a notícia da tua chegada fizeste de todos nós à tua volta pessoas felizes, cheios de amor por ti.
Com 21 semanas e 6 dias fomos fazer a Morfológica. Ainda tremo quando recordo o corredor, a sala e a médica insistentemente a procurar “algo”. No fim, quando me olhou nos olhos e disse “Algumas coisas não estão bem!” , o nosso mundo gelou! Após orientações seguiu-se amniocentese e posteriormente uma ressonância magnética fetal.
Todos os dias neste intervalo de exames foram pesados, muito pesados. Eu e o pai tínhamos o peso do mundo no coração, as noites de pouco ou nenhum descanso e muita ansiedade. Chegou o dia da RM, às 23 semanas, e após o exame a médica falou conosco e o pesadelo confirmou-se.
O nosso menino tinha um problema grave no Sistema Nervoso Central, que lhe iria infligir uma vida de sofrimento, preso no seu próprio corpo e onde estaria limitado em muitas coisas. Chorámos tanto nessa noite…por ti, por nós, pelos nossos sonhos e expectativas completamente destruídos. Tínhamos de tomar a pior decisão da nossa vida, até porque estávamos em contra relógio até às 24 semanas.
Após falar com a médica que nos acompanhou e após nos ser dirigida mais informação, a nossa decisão foi tomada cheia de dor, mas também cheia de amor… O nosso amor por ti, Manel. Tinhas direito a uma vida plena, onde poderias fazer o que os outros meninos fazem, ter todas as oportunidades e mais algumas, não era justo para nós e não era justo para ti que assim não fosse.
Após assinar aquele maldito papel e ter recebido informação sobre o que iria acontecer depois, eu e o pai descemos daquela maternidade em lágrimas e muita, muita revolta. Chegámos ao carro e continuámos a chorar abraçados por largos minutos e a tentar digerir que teríamos de te dizer adeus, o adeus mais doloroso! Que crueldade!
Chegámos a casa, envolvidos num sentimento de impotência e de uma dor sem fim na alma, mas queríamos despedir-nos de ti enquanto ainda te tínhamos conosco. Enquanto o teu coração ainda batia dentro de mim! O pai foi tão bom para nós em tudo, acho que sabes isso, ele foi a âncora do maior navio do mundo e esteve sempre lá. Fomos tirar fotos, comprámos as comidinhas que ainda não tinhas “provado” e tentámos dar-te o mimo que merecias. A demora acabou por ser maior que o suposto, e aguardámos uma semana até ser chamada para estar no hospital e dar início ao processo.
O dia 30 de junho chegou, dei entrada na maternidade e esse foi o pior dia desde que me lembro. Nem dores de parto, nem outras dores da vida me doeram como este dia doeu. O meu coração ficou por metade nesse dia, e a metade mais bonita foi a que foi embora!
Após internamento a parte mais dolorosa de todas, silêncio… Despedida! Estava na maca, a sala estava numa escuridão refrescante, estava perto da médica o suficiente para ter a minha mão sobre a perna dela, do outro lado a enfermeira. Fechei os olhos e enquanto elas faziam o seu trabalho, do início ao fim estive sempre a murmurar “a mãe ama-te muito, a mãe ama-te muito, a mãe ama-te muito…” Queria que levasses contigo esta certeza Manelinho!
Neste momento o pai não podia estar conosco, nos momentos seguintes sim. No meio de tudo tivemos sempre conosco pessoas cuidadosas que nunca me deixaram sentir sozinha, médicos, enfermeiras e auxiliares que fizeram o que sabiam e podiam para minimizar o nosso sofrimento.
Só lhes posso agradecer, sempre!
O pai esteve connosco até às 22h. E no dia seguinte de manhã já estava lá novamente. E foi no dia seguinte que se iniciou a indução do parto. Dores, tremores, mais dores, frio e mais dores. Foi assim a tarde até que levei epidural, (algo que não seria suposto) por as dores estarem a ser muito fortes. Aliviou muito até ser hora do pai ir embora, já eram quase 23h, ele foi e as dores voltaram.
Ainda estive algum tempo com dores e contrações cada vez mais insuportáveis, tudo era uma grande novidade para mim, tudo! Voltaram a dar-me medicação e voltei a descansar…Pouco. Eram 03:15 acordei e senti que eras tu…Algo estava diferente… chamei e as enfermeiras confirmaram, ia ver-te filho!
Apesar de toda a dor, a minha única alegria naquele momento…Ia ver -te. E vi… Estavas tão quentinho no meu peito. O meu menino lindo!
O resto, foi o resto… Perceber se estava tudo bem comigo, informações sobre o que se iria passar com o meu corpo, recomendações, alta médica, um colo vazio e um coração cheio de amor por ti.
Os dias seguintes foram difíceis, ainda são, passou pouco mais de quinze dias.
As perguntas são muitas, a culpa foi inevitável e ainda o é… Apesar de estarmos a trabalhar nisso! Quero encontrar paz, estar em paz comigo e com os outros. Vamos caminhando e tento todos os dias voltar a sorrir à vida! A nossa família toda tem sido um suporte incrível. Mas este é um processo tão solitário.
A ti meu Manelinho só tenho a agradecer. Vieste dar-me e ensinar-me muita coisa boa e a mais linda de todas elas, a ser Mãe! Obrigada por me teres escolhido, por não teres desistido de mim. Quero muito acreditar que um dia, num lugar onde já não existir tempo, vamos voltar a encontrar-nos e aí, nunca mais vais sair do meu colo.
Amo-te
A tua mãe.
Um comentário a “Cristina”
Que lindas palavras!
É realmente um privilégio, estes anjinhos nos terem escolhido para sermos suas mães.
Beijinho enorme, no seu coração