Decidimos parar de tomar a pílula. Estávamos preparados para dar início à aventura da nossa vida.
Fiz um teste de gravidez. Minto. Fiz dois.
Um tradicional que me indicou dois traços bem fortes e um digital que me indicou que estaria grávida há mais de três semanas.
Fiquei nervosa, mas feliz.
Há algum tempo que sentia algumas cólicas.
Completamente suportáveis e do que já tinha lido, um sintoma comum de uma gravidez inicial.
Para descargo de consciência, vamos marcar consulta o mais rapidamente possível para saber se está tudo bem e podermos respirar de alívio e sermos felizes por inteiro.
Consegui consulta dois dias depois.
“Não vejo nada no útero. Desconfio que esteja noutra cavidade..”
Já tinha lido sobre gravidez ectópica.
Naquele momento caiu-me o mundo. Não podia ser.
Não me podia estar a acontecer a mim.
Uma mulher saudável, de 29 anos, primeira gravidez. E agora?
Fui para a urgência do hospital.
Tinha de ser novamente examinada para perceber a situação e a “solução”.
Gravidez tubária.
O embrião, o feto, o nosso bebé, a nossa sementinha de 5 semanas e 7 dias tinha-se alojado na minha trompa esquerda. Cresceu e fez com que houvesse uma ruptura.
“Coágulos, coágulos. Ela tem a barriga cheia de sangue”
Comecei a entrar em pânico.
Entrei na urgência por volta das 17:00, às 19:00 estava a vestir uma bata, a assinar um termo de responsabilidade e a saber que ia para cirurgia (pela primeira vez na minha vida), sem saber qual seria o desfecho. Sozinha (Covid).
Deixei de ver e comecei a desfalecer. Que medo avassalador.
O meu bebé foi sacrificado por não ser uma gravidez viável sendo ectópica e a minha trompa retirada.
Em recuperação, já em casa, abria as redes sociais e era o raro o dia que não dava de caras com o anúncio de uma gravidez. O meu coração ficava do tamanho de uma ervilha.
Desde sempre que imaginavamos cenários na nossa cabeça de como iríamos contar à família e amigos. Meses depois uma amiga foi mãe.
Chorei, chorei, chorei. Sentia uma angústia… Estava feliz por ela mas também tinha inveja.
Chorava porque não queria estar a sentir aquilo mas não conseguia controlar.
Os meses vão passando, a vida lá fora segue, as pessoas deixam de perguntar como estás e ali estás tu, perdida na tua própria dor a tentar encontrar um porquê que não existe.
Dava por mim a pensar que apesar de no sítio errado, o meu filho estava a crescer, saudável e que não era justo.
Via mulheres que perdiam os filhos a meio, ou mesmo no fim de uma gestação e perguntava-me se era justo sentir-me assim, com uma gravidez de cinco semanas.
Sentia que não me podia comparar. Que a dor seria muito maior e que a minha comparando não era nada.
Mas, agora consigo, com plena lucidez mental, perceber que não se comparam dores.
Não há dores maiores ou mais pequenas.
Esta dor foi e é a minha.
É o meu luto.
Cinco meses depois, após uma salpingectomia unilateral, estou com fé que o universo me vai permitir ser mãe e não me fará passar por tamanha dor novamente.
Tenho medo.
Mas o sonho de ser mãe é maior.