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J. & A.

Estávamos de férias quando notei que tinha um atraso de 5 dias e pensei que já devia ter vindo o período, tendo em conta que sou regular. Numa dessas noites, passo na farmácia e faço o teste pela manhã; o qual dá positivo: duas linhas já bem demarcadas.

No dia seguinte pensei, “ok, se calhar é melhor avisar o nosso obstetra”. Enviei uma mensagem de WhatsApp com a imagem do teste, à qual o nosso obstetra responde a felicitar-me e a dizer-me que deveria iniciar iodo e ácido fólico, coisa que não estava a fazer, pois não tinha sido planeado ao contrário da B. e da M., em que foi tudo planeado ao milímetro e correu tudo ok.

Depois combinamos que, três semanas mais tarde, faria a consulta de vigilância e confirmação da idade gestacional.

Sentia-me com energia, sem grande fome e sono, apenas tinha o peito dorido. Numa dessas noites nas férias, senti moinhas fortes e arrepios de frio, mas não liguei. Pensei: “isto faz parte”.

Chegado o dia da consulta, estava ansiosa, pois pressentia que algo não estava bem (sentia que estava a ser diferente das outras vezes, sentia-me menos grávida, com menos sono, sendo um dos meus sintomas). O obstetra mediu a tensão estava bem, o peso estava ok e depois dirigi-me para a máquina de ecografias.

Quando o obstetra me coloca a sonda vaginal, olho para o ecrã e tenho dificuldade em ver o saco gestacional. O obstetra, muito sério, chega o aparelho para mais perto de si e diz-me que lhe parece uma gravidez inicial. Eu não fiquei nada convencida, pois, pelas minhas contas, estaria de 8 semanas e já daria para ver um embrião e ouvir um coração a bater, mas vi apenas um saco pequenino e uma vesícula vitelina.

Eu sabia que algo estava errado, pelas contas estaria de mais tempo e a intuição não me falhou.


No entanto, o obstetra mandou-me ir ter com ele na semana seguinte ao hospital para confirmarmos a evolução desta gravidez.

No dia combinado, fui ao hospital e as minhas desconfianças confirmavam-se: tinha uma gravidez anembrionária.

Eu sabia que algo estava errado. Pelas contas estaria de mais tempo e a intuição não me falhou aqueles arrepios já podiam ser o início de um aborto.

Nesse momento tive de decidir, ou esperar que tudo se desse espontaneamente ou induzir com misoprostol.
Eu decidi pelo misoprostol e compareci em jejum no dia previsto.

Depois da medicação, e muitas horas de espera fui com obstetra até ao ecógrafo para vermos como estavam as coisas. Disseram-me que estava limpa e podia ir para casa e que teria de fazer eco 3 semanas depois para avaliação. Chega o dia da ecografia, o ecografista diz-me que o útero está muito heterogéneo e que ainda tinha restos ovulares.

Em conversa com o meu obstetra decidimos que eu iria para um privado fazer a histeroscopia, onde ele em tempos me fez os partos.

Ando há 3 meses em processo de aborto, que só terminará com uma nova eco de avaliação onde terei a luz verde do obstetra.

Não basta o sofrimento que um aborto provoca, senão todo o processo. Esperamos o nosso bebé arco-íris.

Fé.

Um comentário a “J. & A.”

Eu passei por uma gestação anembrionaria. Eu engravidei com um DIU. Porém no momento em que o teste deu positivo, senti algo inexplicável. Um amor que não consigo descrever. Mas minha alegria não durou muito tempo. Uma semana depois veio a notícia de que provavelmente a gestação não iria evoluir. Tive que esperar mais uma semana para confirmar a não evolução da gestação e tomar a decisão de esperar a perda espontânea ou fazer o uso do misoprostol. Escolhi a segunda opção, pois pensar em levar a gestação adiante e esperar a perda espontânea só iria me causar mais dor. Fazem 3 meses, e eu ainda sinto a dor dessa perda. E a sensação que tive é que talvez as pessoas não entendam, só porquê pensam que não tinha um embrião a dor não deveria ser sentida. Eu acho que deveriam falar mais sobre esse assunto.

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