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Jennifer

Partimos para uma segunda gravidez, na esperança inocente de tudo correr bem outra vez.

Grande felicidade: estava grávida de gémeos!

Tudo a correr lindamente até à ecografia morfológica. Naquele dia, tinha ecografia no público de manhã e ecografia no privado de tarde, calhou assim. Por essa razão, fui sozinha à ecografia da manhã porque o meu marido viria comigo de tarde.

Alguns minutos depois de começar o exame, soube logo, não sei como, mas soube logo que algo não estava bem.

Passaram uns 20 minutos e ganhei coragem de perguntar à médica, que me disse para aguardar até ao final do exame, mas que as notícias não eram boas.

Comecei a tremer, sozinha. Só queria ter o meu marido comigo ali, como é que fui para ali sozinha?

Terminou o exame, e mesmo antes de chamar uma colega para confirmar o diagnóstico, a médica disse-me que se fosse uma gravidez única seria para terminar já.

Amniocentese a cada um dos bebés, opinião de mais dois médicos e dois ecocardiogramas fetais. Um menino com Síndrome de hipoplasia do coração esquerdo e uma menina aparentemente saudável.

Desde as 21 até às 32 o meu bebé cresceu, sentenciado, para dar oportunidade à irmã. E a culpa…

O procedimento de fecticídio selectivo foi mau, muito mau. 3 dias de tentativas, 5 buracos na minha barriga, cada picada horrivelmente dolorosa, uma preocupação gigante da agulha atingir a menina.

Pude pegar ao colo o meu filho, dar-lhe um beijo, despedir-me dele e tirar-lhe uma fotografia.

Quando finalmente a médica encontrou a posição certa para soltar o líquido, o visor da máquina de ecografia ficou bem em frente à minha cara. Vi o coração do meu bebé parar, propositadamente, diante dos meu olhos.

Mais duas semanas passaram até ao trabalho de parto acontecer naturalmente. Primeiro o meu filho e passadas umas horas a minha filha. Graças à enfermeira anjo que me acompanhou, posso dizer que tive um parto tranquilo, humanizado e sem dor. Pude pegar ao colo o meu filho, dar-lhe um beijo, despedir-me dele e tirar-lhe uma fotografia. Tenho as suas cinzas em casa, junto da sua família.

Depois da morte do meu bebé precisava de parar, ficar no escuro, deitada, chorar, mas não pude fazer nada disso. Seguiram-se os dias na neo, acordar de 3 em 3 horas para a alimentar, meses sem dormir, mais um internamento, bronquiolite, covid…

Agora, a fazer um ano desde o nascimento dos meus bebés, sinto que preciso de ajuda. Comecei a ter ataques de pânico e tenho completa consciência que estou traumatizada. Será o meu próximo passo, cuidar de mim.

Amo tanto os meus filhos.

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