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Joana A.

Desde que me conheço que digo: tenho três sonhos na minha vida: casar, ir à Índia e ser mãe. Os dois primeiros já realizados e com a felicidade de poder dizer: realizados com o homem da minha vida.

Eu sou a Joana, tenho 33 anos e venho-vos contar a minha história! Porque todas as histórias aqui lidas me ajudaram e por isso sinto, que posso e devo ajudar outras mulheres e homens.

Em Outubro de 2022, decidimos que íamos ser pais. Um filho não se compra num supermercado, como sabiamente uma grande e querida amiga me disse uma vez. Por isso a decisão de ser pais, começa com a intenção de o ser, e esperar para ver, se a vida tem este capítulo escrito na história das nossas vidas, importa aqui saber, que sempre senti que este seria
o sonho que me traria algumas dificuldades em realizar. Nesta altura descobrimos que teríamos de esperar 6 meses, derivado de um contratempo. Chorei muito, mas acreditei que a espera me queria dizer alguma coisa.

Passados os seis meses, sem pressas e sem ansiedade, começámos as nossas tentativas. Em Junho de 2023, dia 14, descobrimos o nosso positivo! Muitos enjoos, impossibilidade de trabalhar, não conseguia perceber se estava feliz ou extremamente chateada por não conseguir
estar a usufruir da vida a crescer dentro de mim! O nosso filho! Fizemos a primeira ecografia às 7 semanas, ouvimos o coração forte e pela primeira vez uma luz muito grande invadiu todo o meu corpo. Os dias foram passando, contámos a muito poucas pessoas, os nossos pais souberam, pois eu vomitava dia e noite, e para tranquilizá-los contámos a verdade. A quem contámos, sempre dissemos: “calma, é muito cedo e pode não dar certo.” Dizíamos sempre isto, porque, na verdade, tínhamos os pés bem assentes na terra. Temos dentro do nosso círculo de amigos, amigos estes que são a família que escolhemos, que passaram por duas perdas gestacionais até terem o menino que tem sempre uma palavra bonita para nos dizer.

A história deles sempre me comoveu bastante, pela força, resiliência e o amor entre os dois. Quando fizemos as 12 semanas de gestação, senti que um peso me tinha saído de cima, e pensava, não perdi o meu filho, mas logo de seguida começou a ansiedade, será que está tudo bem? Tínhamos a ecografia marcada das 12 semanas, mas, nesse dia, foi greve dos médicos e
ficou remarcada para dois dias depois. Mas quis a vida que, nesse dia de manhã, tivesse um corrimento ligeiramente cor-de-rosa, que me deixou em alerta, e por tal motivo decidimos após o trabalho (enjoos tinham melhorado bastante por volta das 11 semanas), ir à urgência saber se
estava tudo bem.

No hospital, a médica (sempre querida), fez uma primeira análise e disse que não tinha sangue e o colo do útero estava fechadinho, mas que iriamos fazer na mesma uma eco. O meu coração acalmou. Ao deitar na maca e ao colocar o ecógrafo na minha barriga, não se via nada…comecei a tremer e a médica justificou que o ecógrafo da urgência não era o melhor do mundo, pelo que teríamos que fazer eco endovaginal. Quando começou, o ecrã virado para mim, percebi logo que o tamanho não seria de um bebé de 12 semanas e expressei isso mesmo.

Antes de me dizerem a mim alguma coisa, disse eu: “o bebé é muito pequeno para 12 semanas não é?” e a médica respondeu: “oh Joana, não tenho boas notícias, temos um bebé com medição de 9 semanas e 5 dias e não encontro batimentos”… não chorei, não disse nada, veio outra médica confirmar o que já tinha sido dito. Só pedi para o meu marido entrar e assim foi. Aborto retido. Não foi aborto espontâneo, como achei durante 12 semanas que poderia acontecer. Apenas nesse dia, muito já noite fora, é que chorei e comecei a questionar: mas porquê?

Fiz a medicação em casa para a expulsão. Os piores momentos da minha vida até ao dia de hoje. Muito sangue, muitas dores, e o momento que senti que era sem dúvida o saco gestacional, com o meu filho, a ser expulso. Grata ao mundo pelo homem maravilhoso que tenho ao meu lado que nunca me deixou desamparada. Se ele pudesse, eu sei, que sem hesitar
teria trocado comigo.

Passados 4 dias voltei ao hospital, ainda tinha restos ovulares, mas já sem o saco, sem o meu filho… fiz novamente medicação para ajudar a sair o restante e ajudou (mas pouco). Fomos de férias, para tentar ultrapassar o que nos tinha acontecido. Não era esquecer, porque nunca vamos esquecer que um ser me escolheu para ser casa durante 12 semanas, nos quais quase 10 o seu minúsculo coração bateu dentro de mim.

Infelizmente, quis a vida que os meus restos ovulares saíssem apenas quase 3 meses depois da notícia da perda. Foram longos 3 meses, com dores diárias, sangramento diário, e um tentar diário que tudo está bem e vai ficar bem. Nunca escondi a ninguém o que me aconteceu.

Sou a primeira a querer contar, e sei que é preciso coragem para tal. Mas precisamos de normalizar a perda. A gravidez está longe de ser igual às novelas, as histórias todas bonitas e românticas que vemos nos filmes. Uma em cada quatro mulheres que engravidam, passam por isto. Umas mais cedo, outras mais tarde, outras depois das 12 semanas e todas sofrem. Umas mais, outras menos, mas sofrem. Até as que escolhem interromper a gravidez por vontade própria. É um processo doloroso e está longe de ser normal, como nos querem fazer acreditar.

Vou ser eternamente grata, ao meu primeiro filho, por me ter ensinado tanto, mesmo sem nunca o ter sentido nos meus braços, no meu colo.
Agora, é seguir em frente e esperar por algo que sinto e sei: o meu filho vai voltar e eu vou tê-lo nos meus braços, ver crescer e ensinar-lhe todos os dias: com amor, tudo vale a pena!

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