Descobrimos que estava grávida logo no início de dezembro. Ficámos tão contentes! Aos poucos íamos começando a falar em ter mais, porquê ficar só com dois? Sempre quis ter mais filhos, até porque já tínhamos uma menina que andava incansavelmente a pedir um mano.
Contactamos a obstetra que nos acompanhou durante a gravidez da nossa filha, descobrimos em Janeiro que estava com diabetes gestacionais. Até aqui tudo certo, fizemos todas as consultas e ecos e tudo aparentava estar bem.
Disse-nos logo muito cedo que era um menino.
O nosso Elijah. Quase que parecia que a nossa filha tinha adivinhado!
No decorrer da gravidez foi correndo tudo conforme esperado, ia fazendo o controle habitual da glicemia e da tensão arterial, tendo em conta que, na gravidez da minha filha, tive pré-eclâmpsia.
Já com 27 semanas voltámos à consulta de rotina com a nossa obstetra. Fez-me uma ecografia rápida. Enquanto passava o ecografo, fazia-me umas questões que até ali me pareciam tão aleatórias…
Entretanto saiu do consultório muito apressada e levava na mão a eco que me tinha feito. Foi aí que percebi que estava alguma coisa fora do habitual.
Assim que regressou, entregou-me as requisições para uns exames, que pediu que as fizesse ainda naquele dia. Já quase em lágrimas, pedi-lhe que me explicasse o que estava a acontecer ao nosso filho, ao que me respondeu para me manter calma, mas que o bebé estava com uma
anemia fetal severa e que necessitava de perceber se esta condição estaria a afetar algum órgão, mas que nesse momento era tudo o que me conseguia dizer.
Foi na ecografia obstétrica, já com outra médica, que o nosso mundo desabou. Começou a aperceber-se que o bebé não estava bem e que a anemia estava demasiado grave.
Solicitou que chamassem a minha obstetra e entretanto pediu-me os exames anteriores. Ia-me fazendo algumas questões e, assim que a minha obstetra chegou, ouvimo-las conversar, sem percebermos qualquer palavra daquela conversa.
Pediu-nos que esperássemos pelo relatório à porta do consultório da minha obstetra que ela deveria de querer falar connosco. Foi quando a auxiliar nos diz que a nossa obstetra já se tinha ido embora. Ficámos perplexos, nem queríamos acreditar.
Não conseguia parar de pensar em como é que isto acontece e como, como é que tudo isto estava a ser tratado com tanta frieza? Com tanta indiferença?
Regressámos à sala da ecografia e solicitámos à médica que nos explicasse o que estava a acontecer. Caramba, só queríamos respostas e merecíamos! Tudo o que pesquisávamos na internet era assustador e pouco ou nada conseguíamos entender.
Aquela cara, nunca a vou esquecer, explicou-nos que o bebé estava com uma anemia fetal severa e já apresentava demasiados edemas, tinha inclusive problemas no estômago e nos intestinos. Que, por norma, as grávidas com estas condições são direcionadas para uma unidade
do serviço público para fazerem uma transfusão de sangue intrauterino, mas que todas estas informações deveriam de ser explicadas pela minha médica.
A caminho de casa, a nossa obstetra liga-nos a explicar o que estava a acontecer e que teríamos de ir na manhã seguinte logo cedo para outro hospital e tudo o que a outra médica nos disse.
Na manhã seguinte, assim que acordei nem queria acreditar que isto nos estava a acontecer. Só queria que aquele sentimento de que ia perder o meu bebé fosse embora, queria pensar que tudo ia correr bem e que, apesar da condição do nosso menino, nos dissessem que ele ia recuperar.
Assim que chegámos ao hospital fomos realizar uma ecografia obstétrica, confirmava-se a anemia fetal severa e que consequentemente o bebé já apresentava vários edemas.
Voltaram a chamar-nos. Desta vez era um médico que queria falar connosco.
Confesso que nos disse tudo o que precisávamos de ouvir. Bruto, mas sincero e agradeço com todo o meu coração. Iria ser ele a realizar todo o procedimento ao nosso filho, iria ter de fazer uma amniocentese e uma cordocentese para conseguirmos identificar o que estaria a causar a
anemia e só depois é que o bebé iria levar a transfusão de sangue.
Infelizmente assim que se inicia a transfusão de sangue o coraçãozinho do meu menino pára.
Toda a sala de operações fica sem reação possível. Peço para que chamem o meu marido, eu já não conseguia estar ali mais tempo sozinha. Só queria o meu marido, agarrar-me a ele e chorar, oh caramba chorar.
Nem queria acreditar que seria possível. Como é que tal crueldade é
possível? Como é que tudo isto nos estava a acontecer?
Nos dias que se seguiram só queria que entrasse em trabalho de parto. Queria sair dali, precisava de estar com a minha filha, ai, a minha filha, como é que eu lhe iria dizer que o mano estava no céu? E o que iria eu dizer à nossa família? Aos nossos amigos? Como é que iria eu
encarar todas estas pessoas?
Pensava que quanto mais rápido fosse o parto do meu filho e mais depressa o tivesse nos braços mais rápido se acabava o sofrimento. Mas era mentira, claro.
Sempre pensei que o Elijah fosse chorar ao “nascer”, é irrealista eu sei. Agarrei-me à possibilidade de tudo não ter passado de um erro e que aquele bebé tão lindo e perfeito, que esteve dentro de mim durante 27 semanas, conseguisse viver uma vida ao meu lado. Tudo para me conseguir manter calma e mentalmente sã. Mas claro, cada um agarra-se ao que pode.
Todo o tempo que estive com o meu filho é insuficiente para uma vida inteira sem ele.
E irá doer para sempre não ter tido a oportunidade de o ver dormir, de ter visto os seus primeiros passos, de não ter ouvido as suas primeiras palavras ou de não o ver a brincar com a mana.
Resta-nos a caixa das memórias que trouxemos do hospital e que preenchemos com as poucas lembranças que temos do nosso menino as cartas que escrevemos, as fotografias da gravidez e a impressão do pézinho dele.
Será para sempre o nosso Elijah, o nosso menino que esteve connosco pouco tempo mas que deixou uma vida inteira cheia de amor.