4 de Abril de 2018, 38 semanas, 4 dias. O dia estava cinzento e era dia de um dos últimos CTG’s. O pai pressentia e só dizia “leva a tua mala e a do bebé”, e eu sempre dizia que não era o dia.
Facto é, que, nos últimos dias, eu já não o sentia com a mesma força e movimentos, mas normalizei por estar mesmo no fim e ter pouco espaço.
Inicio do CTG, depois de ter contado que não sentia tantos movimentos, deram-me prioridade e logo fomos atendidos. Após uns minutos, percebi na cara de todos e na quantidade de médicos e enfermeiros que vierem ver, que algo não estava bem. Deram-me um chupa e as expressões mantinham: os batimentos cardíacos estavam realmente muito fracos, tive medo, muito medo. Fiquei internada para vigilância e, se os batimentos estabilizassem, iríamos iniciar o trabalho de parto. Era naquele dia que ele ia nascer: o pai tinha razão.
Recordo-me de perguntar o que ia acontecer a seguir. Responderam que primeiro vigilância e logo após indução. Não queria nada e pedi que não me fizessem cesariana, não por medo, mas porque queria muito senti-lo nascer (mais tarde culpei-me muito, mas hoje em dia, está resolvido dentro de mim).
Ficamos em vigia até ao momento que paro de ouvir o CTG, chamo para me ajudarem. Vem um enfermeiro e encontra batimentos. 5 minutos depois e acontece igual…vem mais um enfermeiro e mais um e mais um, até que o pesadelo começa; não conseguiam encontrar batimentos, sem ninguém perceber muito bem o que se estava a passar pois a gravidez foi sempre super normal e tranquila e vigiada.
Tinha a equipa médica toda à minha volta, sentia nas caras deles e na expressão corporal que não estava bem. Ouvi para prepararem cesariana, naquele momento eu só queria que tudo acabasse bem e com ele nos meus braços. Vamos ao ecógrafo e ouvi alguém dizer “nada de batimentos”, o meu mundo desabou, parecia uma filme de terror. Todos corriam de um lado pra outro e vamos para uma cesariana de urgência. Não havia tempo para mais nada. Eu só tinha que me deixar ser anestesiada, e o que eu resisti porque me faltava o ar…até que me disseram ao ouvido “pensa em coisas bonitas”. Consegui e deixei-me ir… a partir daqui eu não sei de absolutamente mais nada.
Acordo sozinha, numa sala fria e cinzenta, olho em volta e nada, sozinha… Ao longe vejo chegar a mesma pessoa que me disse “pensa em coisas bonitas” com os olhos cheios de lágrimas. Eu só queria ouvir “está tudo bem”, mas não estava. Em loop pergunto “o meu menino?” e as lágrimas caem-lhe no rosto, abana a cabeça e percebi o que tinha acontecido (ela não podia dar-me aquela informação, mas também não podia deixar sem saber, era desumano). Naquele momento deixei-me ir e entreguei-me à dor e “bebedeira” que a anestesia me causou… horas no recobro e uma equipa brutal e espetacular que cuidou de mim até me “arranjarem” uma cama sem ser na maternidade. Felizmente tiveram esse cuidado comigo.
Deixaram-me receber visitas, e eis quando chegam as médicas que queriam a todo o custo explicar me o que aconteceu. Eu naquele momento não queria saber de nada, pois estava demasiado fraca. Parecia que queriam “desculpar” o sucedido, mas não havia nada para explicar, foi assim que ele escolheu…
E o motivo foi um nó verdadeiro no cordão. Aí eu entendi o porquê da falta de movimentos dele. Chorei, chorei, chorei até não ter mais forças. Já na enfermaria acordei e aí a culpa, a raiva, a revolta, e o “porquê a mim?” deram conta de mim… foram meses difíceis de não conseguir enfrentar pessoas, grávidas, familiares a pedirem que colocasse o hospital em tribunal e não me recordo de alguém me perguntar o que eu precisava.
As pessoas são cruéis, não fazem por mal mas para se proteger, mas dói ouvir “és muito nova, fazes outro”, “é porque não tinha que ser”, “podia vir com problemas, foi melhor assim”, ou “é a vida”. Felizmente, hoje em dia eu troquei o “porquê” por “para quê” e estou-lhe muito grata por tudo o que passei/passámos. Foi uma aprendizagem brutal, demorou algum tempo a sair do fundo, mas o caminho faz-se caminhando…
Ao Amor, será sempre a mensagem.