Eu queria partilhar a minha história.
Ainda me dói e eu quero falar sobre o nosso “biscoitinho” …
Ainda quero gritar para o mundo e dizer que o nosso biscoitinho estava vivo…
estava dentro de mim..
e tão amado por nós, pai e mãe.
Era minha segunda gravidez perdida…Duas seguidas – na primeira foi um aborto espontâneo às 6 semanas.
Na segunda vez já foi com muita dor.. Aconteceu muito recentemente, no dia 25 de março 2024.
Estávamos tão felizes e queríamos ver como tu estavas no primeira eco, eu estava já com 13 semanas. Eu já tinha ouvido teu coração antes na semana 8 e estava tudo bem. Tu fizeste algumas danças dentro de mim e depois começou a nossa viagem! Eu estava tão feliz!
Eu e teu pai falávamos contigo todos dias, já imaginávamos como serias. O teu pai não queria saber se eras menina ou menino, queria uma surpresa.
Na semana 11 de minha gravidez, acordei e não sentia as minhas mamas. Assustei-me muito.
Mas claro que sempre tinha esperança e não pensava que poderia perder o meu feto, o nosso biscoitinho. Tinha uma consulta no centro de saúde com o médico de família. Ele dizia que “Tudo bem, é normal não sentir mamas…vai correr tudo bem”
No dia 25 de março, tínhamos marcado uma eco às 8:30 de manhã. Acordei esta noite com um pesadelo que tinha sangue nos meus cuecas … Fui à casa de banho e no papel vi um pouco cor de rosa…
O meu coração já sentia que alguma coisa não corria bem.
Mas ainda não imaginava.
No eco, apanhei uma médica muito doce e humana. Ela começou mexer e tocar minha barriga com mais força…
Depois dizia “Infelizmente, não tenho boas notícias”. Vou lembrar esta frase sempre …
Uma Gravidez – não evolutiva: parou na semana 11 …
Chorei muito. Chorámos. Não lembro-me muito bem este dia…
Fomos ao parque e sentámos numa pedra.. Estava sol e quentinho e os nossos com corações estavam partidos. Eu tive um grande apoio do meu marido. Nós passámos juntos este processo todo.
No dia seguinte, tivemos consulta com uma médica – que parecia um “robot”. Falou comigo como se eu fosse “um armário” e o meu feto morto dentro de mim não fosse nada. Era uma pedrinha ou qualquer coisa que ela achava. Eu chorei muito.
Deram-me um medicamento, disseram que preciso voltar no dia seguinte, fazer expulsão no hospital e tomar mais um medicamento. A enfermeira disse-me que seria muito pouco provável acontecer alguma coisa nessa noite. O meu marido perguntou o que poderia fazer e se iria acontecer em casa. A doutora disse que podíamos apanhar o feto numa caixa plástica para levar depois ao hospital (ela queria fazer exame de estudo do feto).
Em casa, quando fomos dormir, eu já sentia algumas espasmos e tomei ibuprofeno.
Acordei às 3 de manhã com dores.
Tomei benuron, não funcionou.
Às 3:30 de manhã já começou um processo muito triste e difícil.. Senti muitas contrações, fortes. Lembro-me que não sentia as minhas orelhas, tudo no meu corpo doía, queria vomitar. O meu marido acordou e eu já gritava tanto.
A médica não me explicou o processo, eu não sabia nada sobre isto…
Só vi um pouco no internet. Vi que tem sair o feto e depois a placenta…
Tive um parto na caso de banho em minha casa, com uma caixa plástica preparada perto de mim ..
Eu vi e senti que a água começou a sair, depois eu vi outra “coisa”. Não percebi logo que era o meu biscoitinho…saiu. Apanhei-o no caixa, não sei como. Mas apanhei.
Tentei ver o que estava dentro de caixa. Vi uma mão e dedos pequeninos.. Do meu biscoitinho. Gritei tanto.
Dez minutos depois começou grande dor e contrações. Devia ser a placenta a sair… Saiu uma grande coisa com sangue de tamanho como minhas duas mãos. Depois logo me senti melhor… Acabou às 4:30 da manhã.
Meu querido marido tentou vestir-me para me levar ao hospital.
Mas eu não conseguia parar o processo. Já começou, já precisava acabar. Explorar meu feto, o nosso amor e o nosso sonho.
Fomos para hospital. As pessoas que estavam lá não nos receberam bem. A enfermeira gritou comigo.
Fizeram eco, já estava tudo limpo, não precisava nenhuma cirurgia.
Fizeram um vacina de imunoglobulina ( estou RH negativa , meu marido RH positivo) e fizeram também um shot de Diclofenaco. Eu senti-me logo melhor.
Fomos vazios. Em casa dormi muito. Chorei muito. Chorámos muito. Falamos sobre o biscoitinho, muito. Lembramos muito. Meu marido disse “EU AMO-TE muito meu Biscoitinho”. Nunca nos vamos esquecer de ti!
Depois senti mais 2-3 dias muitas dores físicas, depois muitas dores psicológicas…
Uma semana depois, estava no autocarro onde eu estava antes com o meu biscoitinho e chorei muito. Queria cantar para toda gente que estava no autocarro que o meu biscoitinho já morreu. Eu estou já não igual como estava na semana passada no mesmo autocarro com mesmas pessoas.