Chamo-me Paula, sempre quis ser mãe e desde sempre soube que se
tivesse uma menina se iria chamar Ana.
Casei em maio de 2000. Passado algum tempo começamos a pensar seriamente em ter filhos, mas o tempo passava e eu não conseguia ficar grávida.
Como moro perto de Espanha, fui a uma Clínica a Badajoz onde eu e o meu marido realizámos todos os exames necessários para saber se estava tudo bem connosco.
A 26 de Dezembro de 2002 descobri que estava grávida.
Fiquei tão, mas tão feliz, que liguei a toda a gente: família, amigos, colegas de trabalho…a quem me aparecia à frente. Estava eufórica!
Continuei a ser acompanhada em Badajoz; consultas regulares, ecografias, tudo sempre bem. Descobri que era uma menina, fiquei muito feliz. Não
tive enjoos, nem desejos ou vontades, só uma felicidade que transparecia na minha cara.
Terça-feira, dia 5 de agosto de 2003, estava grávida de 36 semanas, sentia-me cansada, sem posição, mas sempre bem-disposta. Fui à consulta, levantei-me bem, tomei o pequeno-almoço e lá fomos. Na clínica tudo sempre uma simpatia. Ao chegar ao gabinete, o médico perguntou como
me sentia, que já faltava pouco, conversa normal. A tensão arterial é avaliada e estava muito alta, seguimos para a ecografia, silêncio… O médico pergunta-me quando foi a última vez que senti a menina mexer.
Sinceramente não sabia precisar, ela mexia-se pouco. Então ouvi as
palavras que nunca pensei ouvir…”a bebé não tem batimentos, não está viva…”
Não queria acreditar. O que tinha corrido mal? O que se passava? Porquê?
Não sei como consegui sair e passar pela sala de espera sem mostrar a dor que me matava. A sala estava cheia de mulheres grávidas. Não podia, não devia, todas estavam a viver o mesmo sonho que eu.
Fui encaminhada para uma Clínica onde fui muito bem tratada, desde médicos, enfermeiros, auxiliares, todos mostraram compaixão pela minha situação. Eu só chorava, não conseguia perceber…faltava tão pouco tempo.
Deram início à indução do parto, eu só queria que esse tempo passasse, que fosse rápido.
A minha menina nasceu no dia 6 de agosto, parto normal, mas não sofri nada em termos físicos.
O meu marido assistiu ao parto, a menina trazia duas voltas do cordão umbilical no pescoço.
A minha menina era perfeita, linda, vi-a durante breves segundos, hoje com muita pena minha, não consigo recordar a sua cara…
Foram dias muito difíceis, uma dor que me rasgava por dentro, revoltei-me contra tudo, porquê a mim? Tantas perguntas sem resposta.
Voltei a engravidar, uma gravidez muito stressante, mas muito vigiada. No dia 16 de Junho de 2004 nascia o meu menino, o Luís Filipe. A dor suavizou, o amor cresceu. Passados 4 anos, engravidei novamente e no dia 11 de Janeiro de 2009 nasceu o meu menino, Pedro Miguel.
Amo os meus filhos mais que a minha vida, serei sempre mãe de três, pois a minha menina nunca será esquecida.
Hoje, passados quase 20 anos, ainda não entendo o porquê de me ter
acontecido isto, mas aceito, só gostava de ter sido a última mãe a passar por tamanha dor.
2 comentários a “Paula”
Olá Paula. Nunca passei pelo que passou. Não conheço essa dor. Conheço a dor de ver uma bebé perfeita e linda partir a partir no colinho da mãe. Ver a dor dos pais. Sou enfermeira numa neonatologia em Portugal. Estou lá há 5 anos e foi a 1a vez que estive presente num momento destes. Onde trabalho há uma unidade de cuidados intensivos e uma de cuidados intermédios. Eu estou nos intermédios. Não tenho capacidade emocional para estar nos intensivos, onde ver bebés a partir é frequente. Na verdade desejava nunca passar por isso, mas estava lá. É uma dor que não consigo imaginar. Sei que não estamos preparadas para ajudar os pais a suportar essa dor, e lamento. Fiquei muito feliz por ver que o “a amor para além da lua” existe. Gostava de vos abraçar a todas, dizer o quanto lamento terem perdido os vossos tesourinhos, mas no fundo acho que não os perderam. Serão vossos para a eternidade. Nós chamamos-lhes as “nossas estrelinhas no céu”. Para si e para a sua estrelinha, um grande abracinho
Obrigada pela sua mensagem e palavras, Paula! um abraço!