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Renata

Renata, testemunho

O meu feijãozinho, como lhe chamava no início da gravidez, nasceu sem vida no dia 12 de fevereiro de 2020. Foi no dia 31 de janeiro que me puxaram o tapete e a minha vida levou uma reviravolta. Senti que levei uma valente chapada na cara. Primeiro estava a fazer a ecografia do 2º trimestre e feliz da vida a ver o meu bebé a mexer-se energicamente com o médico a contar cada um dos seus dedos dos pés e das mãos. E pouco tempo depois tinha o médico a perguntar-me se eu tinha a certeza em relação ao sexo do meu bebé e de quantas semanas estava. Tudo mudou e senti que algo estava errado. O médico explicou que o bebé era pequeno para o tempo que tinha e que o melhor era ser vista num outro hospital. As lágrimas escorriam-me pela cara e senti o meu mundo desabar. O princípio do fim. Eu não o sabia e tinha alguma esperança, não muita, mas alguma. Liguei ao meu médico que o primeiro que fez, quando eu já me sentia culpada, foi culpar-me. Depois viu o quanto era grave e já falou comigo de outra forma. Fui pedir uma segunda opinião com os resultados da ecografia. Encaminharam-me para um outro hospital para fazer uma nova ecografia. Ouvi o confirmar de tudo. O meu filho tinha restrição de crescimento precoce com ambiguidade sexual. O médico foi muito cuidadoso e explicou-me o que era e as opções que tinha. Aconselhou a interromper a gravidez porque a minha gravidez não tinha futuro… Recolheram informação, tiraram-me sangue enquanto ainda estava em choque, fizeram amniocentese para tentar perceber o que aconteceu. Deram-nos a entender que iam fazer tudo por tudo para tentar perceber o que provocou a restrição de crescimento. Assim o foi. Ainda o estão a fazer. Já fizeram imensos exames, todos inconclusivos. “Podemos nunca perceber o que aconteceu”, avisaram-nos.

Esta é a história do meu feijãozinho e a minha história. Perdi a inocência e a ingenuidade. Quando tudo aconteceu, pouca orientação tinha, pouca informação, sabia 0 sobre gravidez e o que fui percebendo sobre todo o processo tive de perguntar porque se não ninguém me explicava. Sofri as mudanças no meu corpo, senti um vazio enorme e uma dor emocional que parecia que não tinha fim e que se sobrepunha a toda e qualquer dor física que alguma vez tenha sentido. Pensei “alguma vez isto vai passar?”. Agora, vejo a luz ao fundo do túnel, com apoio psicológico, que foi fundamental, e com o apoio da Claudia, e também da Rita, que entretanto conheci, estou a (sobre)viver um dia de cada vez, a aprender a ter esperança, a conviver com o meu luto.

3 comentários a “Renata”

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