Em maio de 2020, tivemos a melhor notícia que podíamos ter tido e que esperávamos há 2 anos, estava grávida do nosso primeiro filho! Foi um choque porque parte de mim já não acreditava que seria possível, mas foi o choque mais bonito da minha vida. Sempre quisemos ter um menino, e logo na primeira ecografia pude dar essa notícia ao meu marido, que por causa da pandemia esperava ansiosamente no carro, foi uma alegria!!
Foram nove meses de magia, apesar de não podermos partilhar como gostaríamos por causa da pandemia, mas ver a minha barriga a crescer foi lindo, começar a sentir o nosso menino dentro de mim foi e será sempre das melhores sensações do mundo. Decidimos que o nosso menino se iria chamar Rafael.
Foi uma gravidez saudável, todas as análises e ecografias dentro dos valores normais e o Rafael a crescer cheio de saúde. Em nenhum momento da gravidez me senti nervosa, como muitas meninas partilhavam comigo, estive sempre tranquila e a espera do meu bebé.
Às 38 semanas e meia, mais precisamente na noite de dia 13 de janeiro de 2021, tinha consulta no dia seguinte, sinto que estava a perder líquido…tinha uma rutura pequena na bolsa. Estive sempre calma e a ser acompanhada pelo meu médico que me transmitiu sempre tranquilidade, tinha que esperar o início do trabalho de parto. O bebé estava bem, estava tudo bem.
Fizemos o teste do covid no dia seguinte de manhã, e assim que o resultado veio, negativo, fomos para a maternidade.
Uma equipa espetacular! Estávamos quase a conhecer o nosso Rafael.
Estive sempre bem, até que, tendo em conta as horas que já tinham passado, decidimos iniciar medicação para provocar as contrações. Na noite de 14 para 15 as contrações começaram em grande, são realmente dores muito fortes e, por já não aguentar e ter que descansar decidi levar a primeira dose de epidural. Conseguimos dormir, o Rafael sempre bem (sempre ligada ao CTG).
No dia 15 de manhã comecei a fazer dilatação de uma forma rápida e às 14h já tinha os 10cm, já estava a iniciar a fase de expulsão, muitas dores, insuportáveis, pedi mais uma dose de epidural e fomos para o bloco de partos.
Com a ajuda do médico porque não sentia as contrações, começámos a fazer força. Ele dizia que eu estava a portar me bem, eu estava a fazer toda a força que podia, queria ver o meu bebé o quanto antes. Comecei a ficar muito cansada, e o médico aconselhou a usar ventosas para me ajudar, e assim foi.
Comecei a sentir que a força que eu fazia era inútil e que a ventosa não estava a resultar, nunca mais via o meu bebé..! Ate que 40m depois senti um alívio enorme, uma sensação inexplicável, o Rafael tinha nascido. Senti uma coisa quente com um cheiro maravilhoso, meio doce em cima da minha barriga, eu tinha os olhos fechados, abri, era ele em cima da minha barriga.
Imediatamente percebi que algo não estava bem, as enfermeiras tiraram-no e começaram a limpá-lo, não percebi o que faziam porque elas estavam todas à volta dele. Estava cansada, mas ao mesmo tempo queria que fizessem no contacto pele a pele e nunca mais, foram segundos, mas algo se passava.
Elas encostaram a cabecinha do meu menino a mim e disseram “mãe da um beijinho ao Rafael para nós podermos tratar dele, o pai pode vir connosco”.
O meu marido deu-me um beijo e foi, eu comecei a chorar porque não estava a perceber o que estava a acontecer.
O médico aguardou que a placenta saísse, ajudou um pouco, deu-me poucos pontos, tinha feito uma laceração de 1° grau, fui para o quarto na maca mas, no caminho, a enfermeira perguntou se eu queria ver o meu menino. Eu disse que sim!
Passei por uma incubadora e lá estava ele, quietinho com muito cabelo preto, e o meu marido ao lado.
Fui para o quarto e passado duas horas deixaram-me ir vê-lo, fui pelo meu pé.
Quando cheguei lá o meu coração estava do tamanho de um grão de areia, apertado. E ainda ficou mais, o Rafael estava com os olhos semi abertos, a emitir som como que se estivesse a gemer, a sofrer. Pus os braços dentro da incubadora e toquei-lhe nos bracinhos, nas bochechas…era pouco, eu queria mais, e aquele som eram facadas no meu peito.
A enfermeira e a médica disseram que ele estava com os sinais vitais bem, e que teríamos que aguardar para ver o que ia acontecer, já tinham mudado a fralda o que era bom, tinha feito as necessidades e isso era bom sinal. Mas a mim não me tiravam da ideia que estava tudo mal…
Fomos para o quarto, eu e o meu marido. Estava de rastos, sentia que o meu mundo tinha desabado.
O meu marido foi lá vê-lo mais vezes enquanto eu tentava descansar. Eu queria ir, mas ao mesmo tempo custava-me tanto vê-lo assim que não tinha coragem.
A médica veio ao quarto explicar o que tinha acontecido, tinha havido uma hemorragia cerebral e as próximas horas eram importantes para perceber quais as sequelas.
Eu estava completamente vazia e sem reação, o meu marido estava confiante, dizia me que ele já não gemia, que já se mexia como um bebé normal.
Inevitavelmente, criei uma esperança de que ele tivesse razão.
As 3h da manhã a médica foi lá ao quarto pedir que o pai fosse ver o Rafael, eu acho que meu coração parou naquele momento. A hemorragia não parava…
Quando o meu marido veio eu percebi que algo estava muito mal, fui vê-lo, estava novamente quietinho, com os olhos fechados. Não consegui tocar-lhe, não fui capaz, fiquei lá pouco mais de 5m, não consegui estar ali sem poder dar colo, dar beijos e amor ao meu menino. É certo que não pedi para o fazer, não tinha palavras, não conseguia pensar, nada.
Fomos para o quarto, e eu deitei-me. E fiquei à espera que alguém entrasse no quarto a qualquer altura…
As 6h da manhã entrou a médica e deu-nos a pior notícia do mundo, a que ninguém merece, a que dói mais, aquela que não é suposto. O nosso bebé tinha partido.
Foram minutos, horas, dias de uma dor inexplicável. Tudo parou.. Uma das vezes que saímos do quarto para eu ir fumar, as auxiliares tiraram o berço do quarto. Estava lá o ovo, a mala..
Sair da maternidade sem o nosso bebé é horrível.
Já passou quase um mês e meio. Dói muito, custa muito! Estamos juntos a tentar viver com o que aconteceu, aos poucos vamos conseguir. Nunca vai deixar de doer, nunca me vou esquecer. Mas tenho esperança que um dia consiga lembrar-me do meu menino com um sorriso.
Um comentário a “Sara”
Oh Sara. Sei exatamente o que sente. Sou a mãe da Maria, aqui no blog.
Muita força! Se precisar de desabafar, não exite 😉
@Filipa_silva_lopes