Ainda há muito desconforto e inquietação sobre como lidar com amigos cuja gravidez não resultou num bebé saudável em casa. Para além da perda em si, há uma quebra nos sonhos, desejos e conversas que inundavam os pais. Por isso, é importante sobretudo saber o que (não) dizer.
O que (não) dizer:
“Tu ainda és nova. Vais ver que vais engravidar outra vez num instante e vai tudo correr bem!”
Antes de mais, há certas coisas a entender aqui: quando uma mulher perde um bebé, não há nenhum outro que o possa substituir. Assim, o que esta frase faz é minimizar a vida que se perdeu aos olhos do pai e desta forma desvalorizar a dor que os pais sentem. Lembre-se, especialmente se já tiver sido mãe, que, para estes pais, este bebé é amado, é uma pessoa e uma vida.
“Agora, o bebé está num lugar melhor” ou “Agora tens um anjinho a olhar por ti/vocês” ou qualquer variação religiosa.
Entenda-se, todos os pais percebem que a ideia principal de frases como esta é dar conforto. Desta forma, alguns vão apreciar este tipo de linguagem. Mas imagine que os pais não ligam a religião? Ou o peso que estas frases têm para os pais – muitos podem ouvir: não merecias este bebé, é melhor onde está.
“Foi o melhor. Se não vingou é porque não tinha de ser. Se calhar havia algo de errado com o bebé.”
Muitos pais são alertados cedo da probabilidade (ou confirmação) que o seu bebé vai ter uma deficiência. Mesmo sendo uma notícia difícil, os pais preparam-se para isso (ou tentam). Quando se está grávida, o amor pelo filho é incondicional. NA maioria das vezes, não há dúvida para os pais que o que eles querem é que o filho nasça… Apesar de não ser fácil para muitos pais, isso não dita o amor que sentem pelos filhos.
“Tudo acontece por uma razão”
Embora comum, esta é uma expressão agridoce. Eventualmente todos a dizem a na vida em relação a quase tudo. Sim, é um facto. Tudo acontece porque houve um motivo. Mas nesta altura não é o que os pais querem ouvir.
Primeiro, porque pode-se nunca descobrir o porquê. Segundo, os pais, especialmente a mãe, vai carregar um sentimento de culpa consigo. Por exemplo, vai julgar-se por não conseguir levar uma gravidez a termo. Numa situação destas…esta expressão pode trazer dor, fúria e tristeza.
“Antes agora ao início do que mais tarde” ou “Estavas tão no início ainda nem era um bebé“
Desde o momento que se engravida, o espírito de mãe vem ao de cima. De repente, todas as conversas são sobre o bebé, do bebé e para o bebé. Imediatamente o tempo torna-se relativo. A partir daí, o que importa são os sentimentos e é importante perceber que existe uma perda associada e agir de acordo com isso.
“Ai se fosse eu, não sei se conseguia… Não sei o que faria se fosse comigo”
Pense, sincera e arduamente no que seria para si. Especialmente se já tiver filhos. De seguida, use esse sentimento para criar empatia com os pais. O que gostaria que me dissessem a mim? Para além disto, frases como esta normalmente são seguidas por histórias para os pais, defletindo a atenção deles e da sua dor.
“Devias estar agradecida pelo que tens“
E estamos. Incrivelmente gratos. Mas esse não é o caso. Afinal, se um bebé foi desejado e planeado, ele foi querido. Ele esteve cá e partiu. Desta forma, a gratidão é implícita. Um filho não substitui o outro e frases assim adicionam outra camada de culpa nos pais.
“O tempo cura tudo”
O tempo dá-lhe perspetiva. Dá-lhe espaço entre o que aconteceu e onde você está. O tempo não cura. Esta é uma ferida no coração, não um braço partido. Não se remenda, apenas se aprende a viver com isto. Preste atenção ao seu humor no Natal ou celebrações em família ou até em datas especiais. O tempo traz distância, mas não esquecimento.
O que pode dizer e fazer:
Não desespere! Embora menos seja mais em muitos dos casos, pode usar os seguintes exemplos:
- “Lamento muito.”
- “O que posso fazer por ti? Há algo que te possa ajudar?”
- “Se precisares, estou aqui”
- “Se não te apetecer falar, eu posso só sentar-me aqui ao teu lado e fazer-te companhia.”
O que pode fazer para ajudar nestas alturas:
- Ajudar na lida da casa;
- Trazer comida ou cozinhar;
- Passear os animais, se for o caso;
- Tomar conta de outros filhos que possam ter para dar uma pausa ao casal.
E lembre-se, mantenha o contacto durante os próximos meses. No início haverá sempre pessoas, mas o apoio vai diminuindo com o tempo. Faça questão de se manter próxima(o).
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