O tempo acaba por acalmar a dor, aprendemos a viver com essa dor, mas não deixa de existir.
Eu perdi duas gravidezes. A primeira, há 12 anos, foi uma gravidez ectópica. Não me lembro bem quanto tempo durou. Só me recordo da sensação de que algo dentro da minha barriga estava a rebentar. A dor era tal que cheguei a perder os sentidos.
Depois o internamento. Estive lá durante 3 dias em que fazia exames diariamente de manhã e à tarde para se saber como estava a evoluir a gravidez até que as dores pararam e os médicos me disseram que o embrião tinha descido para o útero, mas que a gravidez era inviável e teria que esperar até que o corpo o expulsasse.
Não sei dizer quantas semanas passaram até que me voltaram a internar e provocaram o parto. Todo o processo foi feito na enfermaria, mas completamente sozinha…
Passado um ano voltei a engravidar mas desta vez a ferida ficou mesmo muito, muito funda.
De mão dada ao meu marido e ouvir uma voz muito doce da médica a dizer “já faleceu”
Ainda hoje tenho pesadelos com o que passei. Na ecografia das 13 semanas o médico detectou que algo não estava bem com o bebé. As medidas do bebé não estavam correctas e enviou-me para a consulta de diagnóstico precoce.
Aqui eu e o meu marido fomos muito bem recebidos. Explicaram-nos tudo o que estava a acontecer, o que significavam aquelas medidas e o que nos iram fazer. Voltei a repetir a ecografia e passado 2 ou 3 dias fiz a amniocentese. A imagem que ficou gravada na minha cabeça foi de estar deitada numa maca, de mão dada ao meu marido e ouvir uma voz muito doce da médica a dizer “já faleceu”.
Depois segue-se novo internamento, provocarem-me novamente o parto, tudo novamente sozinha e para piorar um pouco mais a situação desta vez vi o feto e fui eu que chamei a enfermeira após a expulsão.
Até hoje guardo aquela imagem horrível. Tinha 18 semanas de gestação. Fiquei a saber que o bebé tinha trissomia total, ou seja, todos os cromossomas eram a triplicar. É uma alteração genética raríssima. No ano anterior não tinha existido nenhum caso em Portugal, naquele ano houve apenas o meu e no ano seguinte houve 2 casos. Eu e o meu marido fizemos estudos genéticos e depois voltámos a tentar engravidar.
Atualmente temos dois rapazes, um de 10 anos e outro de 6. São uns meninos lindos, saudáveis e bons traquinas como todas as crianças devem ser.
Espero que ao partilhar a minha história possa ajudar alguém. Pelo menos e sinto que me ajuda a lidar melhor com o que passei.
Quando um casal resolve procurar ajuda para a Infertilidade, o primeiro passo é contatar o seu médico de família. No entanto, as listas de espera do Sistema Nacional de Saúde levam, por vezes, à procura por ajuda em hospitais e clínicas privadas.
Embora sendo uma opção de custos avultados, compilámos uma lista de centros de procriação medicamente assistida:
Por favor, note que estas clínicas e hospitais são apenas indicações e recomendações. Para mais informação procure detalhes junto do seu médico de família.
Existem várias possibilidades que afetam a (In)fertilidade de uma pessoa ou casal. Estas podem, ou não, estar associadas a anomalias quer no sistema reprodutor feminino ou masculino. Para além disso, considera-se que em cerca de 30% dos casos, ambas as partes contribuem para a dificuldade em engravidar. Assim, a investigação deverá ser feita ao casal. Por isso, neste artigo, falaremos das possíveis causas e percursos na batalha com a infertilidade.
Os médicos de família são, frequentemente, o primeiro ponto de contacto das pessoas e/ou casais com dificuldade em conseguir uma gravidez autónoma.
Entre outros, os fatores que afetam a infertilidade são:
Fatores femininos (cerca de 30% a 40%)
Disfunção ovulatória,
Lesão ou obstrução das trompas
Endometriose
Patologias e/ou anomalias no útero
Menopausa precoce
Fatores masculinos (cerca de 30% a 40%):
Alterações na qualidade do esperma
Disfunções na ereção e ejaculação
Patologias do testículo, dutos, epidídimo e próstata
Fatores Mistos (cerca de 20%):
Neste caso, os dois elementos do casal são responsáveis.
Tal como a gravidez, a infertilidade pode ser influenciada por fatores pessoais como:
A idade da mulher (de forma significativa depois dos 35 anos)
Consumo de tabaco, álcool e drogas
Medicação que a mãe esteja a tomar
Hábitos alimentares e estilos de vida
Etc.
Em aproximadamente 10% dos casos, não se conseguem apurar as causas.
Enquanto que a infertilidade se traduz na dificuldade em engravidar ou de conseguir que uma gestação chegue ao seu termo, já a esterilidade é a incapacidade de um indivíduo ou de um casal obter uma gravidez. Estes não são sinónimos.
A nossa família começou em 14.02.2014, quando inesperadamente eu e o pai descobrimos que o Dinis vinha a caminho. Depois do choque inicial, instalou-se aquele sentimento bom de que se ia realizar um sonho, há muito esperado.
Sempre fui uma grávida muito consciente, soube sempre que coisas más acontecem e sobretudo na primeira gravidez, tive sempre algum receio. A 03.11.2014 nasceu o Dinis e eu tornei-me mãe. Soube desde o primeiro momento que o meu coração era dele e que tinha nascido para isto. Aliás disse logo ao pai que sabia que não ficaríamos por ali. Na realidade, o nosso desejo sempre foram os três filhos, mas ouvimos sempre relatos de quem acaba por desistir, porque isto não é fácil.
O primeiro ano de vida do nosso Dinis foi muito desgastante e difícil, e nada cor-de-rosa, como toda a gente fazia parecer. No entanto, perseveramos e em 2017 engravidei novamente. Foi uma gravidez tranquila q.b., com alguns sobressaltos já no fim, mas senti-me muito mais descontraída. E foi então que em 03.01.2018 nasceu a Laurinha. A menina que eu não sabia que queria ter, porque sempre me imaginei mãe de três rapazes.
Foram anos complicados com duas crianças pequeninas, mas justamente quando começava tudo a acalmar, decidimos avançar com o nosso sonho e completar a nossa família. Foi assim que planeamos ter o nosso terceiro bebé. E claro que se tudo correu bem até agora, porque seria diferente?
Soubemos que era uma menina e ficamos felicíssimos. A Pilar vinha a caminho.
Tivemos os mesmos cuidados que das outras gravidezes, fomos acompanhados pela mesma obstetra e fizemos inclusivamente um seguro para ter a bebé no privado. Como da última vez o parto foi um pouco atribulado, decidimos procurar uma alternativa. Certo é que o sítio de onde “fugi”, foi onde fui encontrar todas as respostas. Ironias da vida…
Tudo corria lindamente e tinha uma barriga muito grande que exibia com orgulho. Soubemos que era uma menina e ficamos felicíssimos. A Pilar vinha a caminho.
Por voltas das 28 semanas, a nossa obstetra reparou que existia uma coisa mínima no coração e quis descartar qualquer situação, só mesmo por prevenção. Assim sendo, encaminhou-nos para um ecocardiograma fetal. Lá confirmaram que efetivamente existia algum “bloqueio”, mas que poderia estar associado a algum alimento que estivesse a consumir em demasia. Eu sempre soube que não era de nenhum alimento e nesse mesmo dia “deixei de respirar”. Eu sabia que algo se passava. Ficou acordado repetir o exame passadas duas semanas. A minha Obstetra decidiu antecipar a ecografia do 3º trimestre para eu ficar mais descansada. Lembro-me que saí de casa feliz da vida, afinal ia ver a minha querida menina. Esse dia mudou a minha vida para sempre.
Quando iniciei a ecografia, comecei logo a achar que algo não estava bem. A minha obstetra estava muito calada e media e revia tudo, vezes sem conta. Às tantas diz me que algo não se estava a desenvolver como era esperado no cérebro da bebé! Eu fiquei em choque, como assim no cérebro? Não era no coração? A Obstetra foi rever os resultados da 2ª ecografia para ver se se tinha enganado em alguma coisa. Tentou ver a menina em 4D para ver se existia alguma anomalia visível, mas não, era linda a nossa Pilar. De repente eu desatei a chorar e a minha Obstetra de mão dada a mim, não conseguia esconder o seu desespero. Depois disso, já só me lembro de chamarem o Pai para me ir buscar e seguir para o Hospital. Só tive tempo de ir a casa, preparar as coisas e despedir-me dos meninos. Nunca até à data os tinha deixado e custou me mesmo muito. Ficaram com a minha mãe que cuidou deles com todo o amor, sem nunca demonstrar o sofrimento horrível que passava ao ver a sua “menina”, única filha, a sofrer desta maneira.
Seguimos para o hospital e em poucos minutos chegou o diagnóstico: aneurisma da veia de Galeno e insuficiência cardíaca severa. É uma condição extremamente rara e com um prognóstico extremamente reservado. Aprendi mais tarde, com horas e horas de estudo, que muitas vezes só é detetado no nascimento. Seguiram-se momentos em que nos traçaram os piores cenários possíveis, mas eu segui forte.
Jamais iria interromper a gravidez. Ficamos internadas e o nosso caso foi a referenciação nacional. Foram contactados hospitais no estrangeiro e eu, nós, estávamos dispostos a tudo para salvar a nossa filha. A partir do momento em que entrei naquele hospital, posso dizer que entrei em modo de sobrevivência. Eu não pensava em mais nada que não fosse fazer o possível e o impossível pela nossa filha. Dia após dia a ouvir os piores cenários e sempre firme e forte. Toda a nossa esperança se depositava em alguém se predispusesse a operar a nossa menina. Ela mantinha-se estável e ativa. A nossa menina lutou com uma guerreira, ela queria viver. Dias depois chegou o veredicto: “a única opção que nos deram foi tentar mantê-la viva até aos 6 meses e depois operar”.
Como assim tentar mantê-la viva? Este ser gerado do amor, o nosso bebé, ia deixar o quentinho da minha barriga para a tentar manter viva? Sem existir qualquer perspetiva de que se conseguisse recuperar? Sem saber se poderia brincar com os irmãos? Vir ao mundo para ficar no hospital ligada às máquinas por 6 meses, no melhor cenário possível, sem sabermos sequer se conseguiria suportar a cirurgia e se correria bem? Mas que raio de solução é essa? Eu sou licenciada em Direito e dos primeiros conceitos que aprendemos quando entramos na Universidade é o conceito da “dignidade da pessoa humana”. Quando ouvi estas palavras, os meus instintos começaram a gritar e luzes vermelhas acenderam-se, isto não é DIGNO para um ser tão amado e desejado.
A minha vontade era fazer tudo o que pudesse para a ter ao pé de mim, mesmo que o desfecho fosse o pior possível, como me diziam. Mas que tipo de mãe seria eu? Seria um ato extremamente egoísta da minha parte. E assim depois de dois dias completamente isolada no quarto do hospital, só com visitas esporádicas do pai, porque se plantava à porta do hospital e lá o deixavam entrar, devido ao caso que era, decidi que iríamos interromper a gravidez. No dia em que tomamos essa decisão senti-me destroçada por dentro e sabia que essa decisão me iria destruir para o resto da vida, mas a outra opção também não seria capaz de suportar. Tomei a minha decisão e comuniquei como queria que tudo se processasse, caso contrário pedia alta e ia procurar um local que me desse dignidade, a mim e a minha filha.
Que me sinto eternamente grata por me teres escolhido para tua mãe e que um dia voltaremos a estar juntas.
Felizmente cumpriram com tudo e assim no dia 02.06.2020 a Pilar partiu dentro do quentinho da minha barriga, a ouvir somente o bater do meu coração destroçado por a perder. No dia 03.06.2020, mais uma vez o dia 03 como os irmãos, a Pilar “nasceu”, e eu completamente “dopada” tive a secreta esperança de a ouvir chorar. Mas nada, só silêncio. Naquele dia a Pilar deixou a minha barriga e eu abandonei o lado da maternidade em mim. Fiz uma laqueação. Não podia conceber voltar a passar por uma experiência daquelas.
Momentos depois, aconteceu o nosso primeiro encontro, única altura durante toda este processo em que tive alguma paz, a Pilar conheceu o calor do nosso colo e o nosso amor por ela. Peguei na nossa menina e só pude pedir desculpa, por não a ter conseguido salvar. Nesse momento a “Rita” que existia, desapareceu e nunca mais vai voltar. Parte de mim partiu com ela. Mas o AMOR, esse continua aqui no meu peito e nunca, jamais irá desaparecer. Amo-a com todas as minhas forças e é nela e nos irmãos que vou buscar força para me levantar todos os dias e seguir.
Quero muito que eles se orgulhem de mim. Como podem ver lá por ser a terceira viagem ninguém está livre de um desfecho destes. Ouvi constantemente no hospital a pergunta: “É o primeiro?” e tive de responder sempre: “é a terceira!”. Como se isso diminuísse o meu sofrimento. Depois de sair do internamento, passei, e ainda passo, momentos muito duros. Há muitos dias em que o “escuro” volta e me quer engolir, mas tento valorizar os dias bons.
Muitas vezes me pergunto como vou viver com esta dor no meu peito, com este vazio que nunca nada vai preencher, com esta saudade que nunca cessa. Não sei, só sei que vou falar sempre em ti meu amor. Que me sinto eternamente grata por me teres escolhido para tua mãe e que um dia voltaremos a estar juntas. Vou falar sempre em ti, todos os dias da minha vida, e em mim viverás para sempre. Esta é a nossa história minha princesa e é sobre AMOR, RESILIÊNCIA, RESPEITO e DIGNIDADE.
Ao fim de alguns meses, depois de 2 perdas, chega o tão desejado positivo. Desde o momento em que descobri que estava grávida, eu passei a amar um ser, um feijãozinho que crescia dentro de mim. Em todas as eco eu ia super ansiosa por boas notícias.
No dia em que ouvi o teu pequeno coraçãozinho a bater, o meu peito encheu-se de alegria foi um sentimento que não dá para descrever. A partir daí o meu e o teu coração batiam em sintonia, como se fosse só um. Nós fazíamos planos, já tínhamos alguns nomes, mas tudo o que mais queríamos era que viesses com muita saúde e perfeitinho. Eu sempre falei no masculino porque dentro de mim era um menino, Duarte seria o teu nome já eras tão amado.
Mas essa alegria não iria durar muito tempo… Algumas semanas depois eu tenho a pior notícia que me podiam ter dado… O meu bebé deixou de crescer e o teu pequeno coração não aguentou…10 semanas…
Os dias que se aproximam não são fáceis, mas eu não vou deixar de lutar pelo meu bebé.
Eu sei que ainda vou ter o meu bebé arco-íris e tal como eu sonho, um menino lindo de cabelo moreno como o pai e de pele clara como a mãe….
Que não me falte, saúde, fé, esperança, coragem e amor para eu ter o meu bebé nos meus braços…
Sei que onde estiveres estás a olhar por nós e serás mais uma estrelinha mais brilhante no céu, e o meu anjo da guarda…..
Independentemente do tempo da gravidez, uma perda, vem sempre com o seu peso físico e emocional. Assim, neste artigo, escrevemos sobre uma complicação de uma das perdas gestacionais precoces mais comuns: o aborto retido.
Geralmente, entre a oitava e a décima segunda semana da gestação é confirmado, em consulta, que o bebé, infelizmente, morreu no útero. Este é, muitas vezes, chamado um aborto incompleto.
Nestes casos, o corpo retém o saco gestacional, embrião e outros tecidos, demorando semanas (por vezes meses) a libertá-los naturalmente.
Por norma, quando se recebe esta terrível notícia, a equipa médica vai recomendar, primeiramente, deixar que o corpo aja de forma natural. Por outro lado, se não for esse o caso, poderão dar-lhe medicação. Esta serve para estimular a expulsão de material e feto do útero.
Na eventualidade deste método não funcionar, há como alternativa um procedimento cirúrgico para limpeza uterina.
Por vezes, algumas mães escolhem o tratamento de esvaziamento uterino imediatamente. Afinal, este é mais rápido e oferece algum controlo sobre a situação. Contudo, não deixa de ser um procedimento invasivo que poderá provocar consequências na mulher. Assim, tire, por favor, tempo para discutir com o seu ginecologista ou obstetra as suas opções. Desta forma, ficará mais confiante de que está a tomar a decisão mais acertada para si.
Aborto Retido: Causas e Sintomas
Tal como num aborto espontâneo, este pode trazer consigo alguns sintomas, ou ser assintomático. Por isso, em alguns casos, passam-se semanas sem que as mães percebam que a gravidez não está a evoluir.
Além do mais, por vezes os sinais de gravidez, como enjoos e desconforto continuam. Assim, torna-se muito difícil a sua descoberta. É, portanto, importante que a sua gravidez seja devidamente acompanhada e que vá a todas as consultas.
Os sinais mais comuns de aborto retido são:
Sangramento vermelho vivo ou acastanhado
Dor pélvica
Desaparecimento de sintomas gestacionais
Ausência de continuação de crescimento da barriga
Semelhante a outras perdas, as causas para um aborto retido passam por:
Apesar de esta ser uma experiência traumática e de grande peso emocional, não há razões para perder a esperança. Há muitas mães que têm posteriormente gravidezes de sucesso e sem complicações.
No entanto, procure ajuda se precisar. Embora seja uma experiência solitária, não tem de sofrer sozinha.
Estaríamos quase, quase a nascer, se tudo tivesse corrido bem, mas em vez disso nascemos antes… dezembro de 2020. A nossa mamã e papá foram muito corajosos, preferiram sofrer sozinhos do que nos ver sofrer. A mamã conta tudo.
O meu nome é Telma, tenho 36 anos e carrego comigo a maior dor que uma mãe pode suportar, a perda de um filho, sim porque para mim é e sempre serão filhos. Os meus filhos!
Foram precisos 6 anos para conseguirmos engravidar, entre consultas e tratamentos lá conseguimos o nosso tão desejado positivo a 23 de Julho de 2020, fruto de uma FIV e consequentemente TEC, onde transferimos dois embriões. Foi uma alegria quando soubemos que estava grávida e ainda para mais de Gémeos.
Fizemos todos os exames e mais alguns, desde análises, ecografias de trissomias até o NEOBONA nós fizemos, afinal não podíamos correr o risco de alguma coisa correr mal, tanto tempo à espera dos meus meninos.
Tudo correu bem, até à Morfológica, onde foi detetada, em ambos os meus meninos, uma cardiopatia muito grave, não era viver mas sim sobreviver.
Ficámos sem chão, não podíamos acreditar, fomos a vários médicos e todos nos disseram o mesmo. Muitas consultas, medicação, operações e nunca nos garantiram que sobreviveriam sequer à primeira intervenção cirúrgica.
Nenhuma mãe ou pai acredita às primeiras no que os médicos lhes dizem, não é o que esperamos e muito menos o que desejamos para os nossos filhos, foi preciso tentar não pensar com o coração e sim pensar com a cabeça o que era melhor para eles, e infelizmente o melhor para os meus meninos não o era para nós.
Tomámos, assim, a difícil decisão de interromper a gravidez. Os nossos filhos deixaram-nos a 16 de dezembro e a expulsão foi a 17. Apesar de tudo termos feito por eles, sinto uma dor cortante.
Tenho um colo vazio. São dias difíceis, muito difíceis.
Gostava também de contar a minha história. Sou a Ana Sofia Silva tenho 35 anos. Durante seis anos andei na luta com a infertilidade.
Passei por alguns tratamentos de fertilidade. Mudei para uma clínica em Lisboa onde consegui o meu positivo em junho de 2020. Passei uma gravidez tranquila. Vim para casa às 16 semanas.
Trabalho no atendimento ao público. Vim para casa por causa da covid. Estava tão feliz.
Passei o meu tempo em casa a decorar o quartinho a tratar de tudo para o meu menino.
No dia 15 de janeiro de 2021 fui ao hospital privado consulta das 36 semanas está tudo bem, mas estava com algumas contrações. Não tinha dor. A médica mandou-me fazer repouso e tomar um medicamento para as contrações diminuírem. Tomei a medicação e vim para casa.
No dia seguinte, o bebé mexia muito, mas como ele se mexia muito normalmente achei normal. Na tarde de sábado achei que se estava a mexer menos, mas a médica disse que era normal. A medicação ia baixar-me as tensões e eu pensei que fosse disso.
Estava tudo tão bem. Estava tudo pronto para ele nascer por volta das 38 semanas.
Quando fui à consulta das 37 semanas fui fazer as cintas e a enfermeira não estava a encontrar batimentos. Entretanto chegou a médica eu já estava em pânico e confirmou que o bebé não tinha batimentos cardíacos.
Como é possível perguntei eu. Estava tudo tão bem. Estava tudo pronto para ele nascer por volta das 38 semanas.
O meu mundo desabou. Fiz uma cesariana.
Quando acordei ainda tinha a esperança que ele estivesse ao meu lado vivo, que tudo fosse um mero engano. Não consegui ver o meu bebé. Na altura pensei que seria o mais apropriado uma vez que ia ter que me levantar depois desta perda. E não sabia se o conseguia fazer se o visse.
Hoje não sei se o deveria ter visto. Passaram 7 semanas. O meu coração está despedaçado. Nunca pensei que estas coisas aconteciam. A médica disse que foi o cordão à volta da barriga. Mandamos fazer autópsia. Ainda não sabemos o resultado. Olho para as outras pessoas com os seus bebés e digo muitas vezes: como é que é possível isto ter acontecido?
Os bebés não morrem.
Tenho tudo no quartinho do Tiago, na esperança de voltar a ser mãe. Sou mãe de um anjo. Sou mãe de colo vazio.
No início de 2021, que toda a gente desejou ser o ano em que começam a acontecer coisas boas, descobri que tinha ficado grávida. Embora não tivesse sido uma gravidez planeada, já não usava contraceptivos há algum tempo, portanto era algo para que estava preparada. A notícia veio com surpresa, mas muita alegria. Achei que era uma premonição, 2021 é o ano em que tudo muda para melhor.
Não tinha ideia de quando tinha ficado grávida, e como estava com spotting muito leve fui fazer uma ecografia e recebi a notícia: 6 semanas, batimento cardíaco normal, lá estava o meu feijãozinho a nadar de um lado para o outro e a piscar.
Nesse dia tudo mudou. Íamos ser pais! Disseram-nos que após ver um batimento cardíaco a probabilidade de perda gestacional desce para os 3% a 4%.
Sou relativamente jovem, saúde exemplar, hemoglobina perfeita, sem diabetes, pressão arterial normal, ácido fólico no máximo, nada que indicasse qualquer risco. Sentimos-nos confiantes para contar à família mais próxima e aos nossos melhores amigos.
O meu corpo estava-se a adaptar muito rápido, nas semanas seguintes o meu peito cresceu imenso, já tinha uma barriguinha super fofa. Todas as noites adormecia a fazer festinhas “ao meu bebé” e a falar com ele baixinho.
O spotting leve eventualmente parou, a enfermeira disse-me que eram óptimas notícias, provavelmente um vaso sanguíneo mais sensível ou restos do sangramento de implantação.
Além de alguns enjoos estava a ter a gravidez perfeita. Ao final de 3 semanas fomos fazer nova ecografia.
Estávamos super entusiasmados para ver o nosso bebé outra vez! Sentámo-nos com a enfermeira, verificamos a pressão sanguínea, tudo óptimo, continua tudo perfeito.
Começa a ecografia, o feijãozinho brilhante não está em lado nenhum.
Após uns segundos em silêncio ela pergunta se pode fazer uma ecografia intravaginal que é mais exacta. Respondo que claro que sim, quero ver o meu bebé!
Mais silêncio… Já a prever o que vem a seguir pergunto se está tudo bem. A cara da enfermeira mudou… Pede desculpa, não encontra o batimento cardíaco. Aqui está o bebé, mas não mexe. Desta vez já consigo ver a cabeça, os bracinhos e as perninhas mas está quietinho, não nada, não pisca. “Não é culpa de ninguém, 90% das vezes são problemas nos cromossomas e é inevitável!” … E nos outros 10%? Silêncio…
Disseram-me para voltar para casa e descansar. É muita informação. Choro durante 2 dias, faço festas no meu bebé e desejo que seja um erro, peço-lhe desculpa, digo-lhe que vai ficar tudo bem.
Tenho três opções: esperar que a natureza faça o seu trabalho (opção ideal), provocar o aborto com medicação (opção intermédia, supõe menos riscos), fazer uma curetagem (pode interferir com gravidezes futuras, menos aconselhável).
Dizem-me: “O pior já passou”, “És jovem e saudável!”, “Tens outro!”, “Não era nada, eram só células!”, “É normal!”
Ao final de mais de duas semanas sem nada acontecer, volto à ginecologista que me aconselha a fazer o aborto com medicação em casa.
Vou para casa, tomo as primeiras doses de comprimidos – náusea, mal estar, vómitos. Ao final de 36 horas devo inserir o misoprostol. Em apenas uma hora começo a ficar com dores horríveis, cólicas que não passam com nada, parece que me estão a arrancar as entranhas. Ao final de duas horas começa o sangramento.
É horrível, intenso, nada me preparou para o que vem a seguir; pedaços do tamanho de ameixas a sair misturados com sangue, sangue na sanita, no chão, em todo o lado, cada vez que me mexo com as dores sai mais sangue. Acabo por me deitar na banheira para tentar acalmar a dor e controlar a sujidade. Acabo por estar 2 horas sentada numa poça de sangue que não para de aumentar.
Finalmente as dores acalmam e penso que o pior já passou. Levanto-me para tentar colocar um penso higiénico e poder ir para um lugar mais confortável, quando cai no chão o meu saco gestacional. Do tamanho de uma pequena laranja.
Fico em pânico. O meu marido ajuda-me a tomar banho, vestir e deitar e vai limpar a casa de banho. Continuo a perder mais de 1 penso higiénico de sangue a cada 10 minutos, não consigo ter roupa vestida sem a sujar. Continua por mais 2 horas, cada vez que vou à casa de banho trocar o penso sinto pedaços a saírem de dentro de mim. Eventualmente reduz para a quantidade de um período normal. Consigo finalmente deitar-me, comer descansar.
Dizem-me: “O pior já passou”, “És jovem e saudável!”, “Tens outro!”, “Não era nada, eram só células!”, “É normal!”
Se o pior já passou porque é que eu sinto que está apenas a começar? Se sou jovem e saudável porque raio estou nos 3%? E se não tiver outro e apenas passar por tudo outra vez?
Se eram só células porque é que tinha um batimento cardíaco, porque é que falei com ele todos os dias até adormecermos juntos? E se é normal… porque é que me sinto num poço sem fundo e não vejo forma de sair daqui?