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Ajuda prática Informação útil

Ginecologia e Obstetrícia

Após a perda de um filho(s), e dependendo da experiência de cada um, pode ser muito difícil confiar num obstetra, ou em quem nos acompanha numa gravidez pós-perda. A pensar nisso, compilamos neste artigo uma listagem de profissionais de saúde sensíveis à perda gestacional e neonatal que nos vão sendo recomendados por outras mamãs que com eles lidaram na sua jornada de gravidez pós-perda.

Seja para exames para investigar a causa da morte do bebé ou para preparar e seguir uma nova gravidez e tudo fazer para evitar uma nova perda ter do nosso lado profissionais de saúde sensíveis à perda gestacional e neonatal faz toda a diferença (física ou psicologicamente!).

Assim, esperamos que esta listagem, por zonas do país, vos possa, de alguma forma, ajudar:

Porto e Norte

  • Dr. Pedro Xavier – Ginecologia/Obstetrícia, Medicina da Reprodução, Hospital de São João
  • Dr. Joaquim Gonçalves – Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Lusíadas da Boavista
  • Dr. António Braga – Obstetrícia, Medicina Materno Fetal Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar Universitário do Porto
  • Dr. Gonçalo Inocêncio – Obstetrícia, Medicina Materno Fetal Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar Universitário do Porto
  • Dr. Joaquim Rodrigo – Ginecologia/Obstetrícia, Hospital da Luz de Póvoa do Varzim
  • Dr.ª Cátia Lia Abreu – Ginecologia/Obstetrícia, Trofa Saúde Barcelos e Hospital de Braga

Lisboa e Sul

  • Dr. Jorge Lima – Ginecologia/Obstetrícia, Hospital da Luz Lisboa
  • Dr.ª Filipa Dias Lourenço – Ginecologia/Obstetrícia, CUF Descobertas e Alvalade
  • Dr.ª Filipa Teles – Essence Prime Care
  • Dr. Miguel Raimundo – Ginecologia/Obstetrícia, Hospital da Luz Setúbal
  • Dr.ª Ana Beatriz Godinho, Ginecologia/Obstetrícia, Consultório Médico Dr. Salvado Godinho, Setúbal
  • Dra. Lara Caseiro, Hospital da Luz, Évora

Caso tenha algum profissional que gostava de acrescentar por uma experiência positiva, por favor entre em contacto. Obrigada.

Por favor, note que esta lista está em constante construção e é feita de recomendação de famílias que passaram por perdas e seguiram para gravidezes pós-perda. Desta forma, não nos responsabilizamos pela sua experiência, mas esperamos que receba o apoio que merece e precisa.

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Ajuda prática Perda gestacional

O nosso objetivo é conseguir fundos para adquirir e oferecer caixas de memória a mães e pais de colo vazio. Em Portugal, infelizmente, não há a tradição de oferta destas caixas como em países como Inglaterra ou Espanha. E é precisamente no trabalho de várias associações desses países que nos inspiramos nesta missão que também pretende sensibilizar a sociedade e os profissionais de saúde para este tema.

O que é e o que contém uma caixa de memória? Uma caixa de memória é uma caixa de recordações do bebé. Já existem à venda para bebés que saem de uma gravidez com final feliz: há um saquinho para o primeiro cabelo do bebé, para fotografias e outros registos. Mas e quando não corre bem?

Poder guardar memórias é uma forma de ajudar pais e mães a fazerem o seu luto e terem um espaço de homenagem e onde podem recordar o seu filho(a).

Caixas de memória: o nosso projeto de apoio à perda gestacional

O objetivo inicial é montar pelo menos 25 caixas de memória e entrega-las pessoalmente e, tanto quanto possível, a hospitais e maternidades.

Para isso lançámos uma campanha de crowdfunding que ainda está a decorrer.

O que contêm as caixas de memória?

Geralmente contêm dois peluches, um para os pais e outro que pode ficar com o bebé, duas mantinhas, uma vela, um certificado de vida (para registo do nome, data de nascimento e peso), um caderno e caneta para poder escrever cartas ao seu bebé, um livro para bebés, uma moldura para foto e uma folha para guardar as impressões das mãos e dos pés do bebé.

Para quem se dirige esta iniciativa?

Esta iniciativa destina-se aos casais que passaram por uma perda gestacional ou neonatal para que possam recolher e guardar memórias dos seus bebés sobretudo no hospital. Para quem não tenha tido possibilidade de guardar memórias no hospital, pensamos também em caixas de memória que ajudem no processo de luto para com aquele bebé.

Como nos pode ajudar?

  • Doar um valor na campanha de crowdfunding (cada euro faz a diferença!)
  • Doar itens para as nossas caixinhas; Fale connosco!
  • Partilhar este projeto e campanha!

Muito obrigada!

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Testemunhos Testemunhos Perda Tardia

No início da gestação, eu tive um sangramento e fui para o hospital. Nesse dia descobri que estava com um pequeno descolamento da placenta e o mais assustador: havia uma alteração no meu bebé, transluscência nucal aumentada.

Foi uma gravidez cheia de medos e a cada consulta eu fazia mil perguntas ao médico. Ele explicava que poderia ser algum problema (cardíaco, na coluna ou síndrome de Down eram os mais prováveis) e que não podia fazer nada, a não ser esperar o nascimento do bebé para descobrir o que estava acontecendo. Mas em nenhum momento fui alertada que ele poderia perder a vida, talvez nem o médico deduzisse isso (prefiro pensar assim). 

Com 39 semanas de gestação fui à última consulta, onde ouvimos o coração dele e descobrimos que já estava com 2 dedos de dilatação e com 39 semanas e 5 dias fui para o hospital com contrações. Era dia 11 de Dezembro. Cheguei com 4 dedos de dilatação e logo pulou para 8 e em seguida meu pequeno Antony Samuel “nasceu” na sala de triagem do hospital.

Aquele lugar foi tomado pelo silêncio absoluto, todos apavorados quando viram que o meu bebé estava morto… nem o médico conseguia ter reação. “Faz alguns dias” foi o que ele conseguiu pronunciar para mim. “Pelo menos 3 dias”. 

Meu tão sonhado menino, eu e sua irmã estávamos esperando-o com muita ansiedade, mas Deus precisava dele lá no céu. 

São 4 meses sem meu pequenino e eu ainda não faço ideia de como seguir. 

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Perda tardia Testemunhos Testemunhos Perda Tardia

Não foi assim que imaginei que tudo terminaria, na verdade nunca imaginei que “chegasse ao fim”.


Todos os meus pensamentos, planos futuros, ou seja, toda minha vida já era sua.
Eu amei gerar você e passar quase 8 meses com você no meu forninho. Eu amava que podia aproveitar enquanto éramos só nós duas, amei cada descoberta, toda ansiedade antes das ecos, amei sentir cada pontapé seu… nossa, como eu amava isso, chegava a passar horas com a mão na barriga só para sentir você.

E o peso da barriga agora se tornou um vazio tão grande que se torna inexplicável, igual ao vazio que restou no meu coração e na minha alma. Dói minha filha, dói tanto não te ter aqui. As 16h de trabalho de parto não chegam aos pés da dor que sinto de não ter você em meus braços.
A cada contração que sentia era um misto de sentimentos, o desejo de que todos os médicos estivessem errados e que você estivesse bem, misturado com o medo e tristeza terríveis por saber que todo aquele esforço seria em vão.
Você foi desejada e muito amada, eu já sonhava como seria seu rostinho, sua pele, seu cabelo, e posso falar?! Você nasceu linda, eu juro que você superou minhas expectativas, veio igualzinha a uma boneca; branquinha, com o nariz perfeito, cabelo lisinho, bem cabeludinha, com os olhos puxados e a boca do seu papai (sim, a mesma que eu enjooei na gravidez).

Te carregar no meu colo daquele jeito e não poder fazer nada me deixa totalmente devastada!
Eu daria minha vida para você, te daria o meu respirar sem pensar nem um segundo.
Queria que você tivesse acordado, meu coração pedia por um milagre, mas Deus não quis assim.
Eu ainda não entendo e me pergunto se um dia isso será possível.
Mesmo sabendo que é errado eu acabo questionando. Como não questionar? Como não perguntar o porquê se a lei da vida são os filhos enterrarem os pais e não o contrário?
Fora os outros milhões de questionamentos que me vêm à cabeça.

Eu imaginava e sonhava em te ver aqui do meu lado no seu berço branco e não consigo acreditar que a realidade foi outra. Aquela cena nunca vai sair da minha cabeça, me entregaram você em um caixão branco e ao invés de te colocar em meus braços e te trazer pro seu lar, tive que deixar você em um cemitério. Meu Deus, como dói!!! A dor rasga a alma e me dilacera por inteiro.

Como seguir a vida? Como viver sabendo que você não teve nem chance disso? São tantas perguntas sem respostas.
O que eu sei é que não conseguiria passar por tudo isso sem o apoio do seu papai. Hoje tenho certeza de que é ele quem eu quero ao meu lado para viver até o fim da minha vida.

Filha, ele é incrível, e nesses dias difíceis não nos deixou nem por um segundo, segurou em minhas mãos e foi meu suporte para não desabar.
Não cabe a mim contar a experiência dele, mas eu sei o que vi.
Vi um homem se tornar pai, se preocupar e te amar incondicionalmente.

Queria que você tivesse tido a oportunidade de conviver com ele e de conhecer o ser humano lindo que ele é. Não me restam dúvidas de que ele seria o melhor pai do mundo pra você.

Saiba que você NUNCA, NUNCA será esquecida. Segure sempre nas nossas mãos e cuide sempre da gente aí de cima, minha Maria Clara.

Sigo aqui com meu luto, chorando sempre que necessário, lembrando de você a cada segundo e sonhando sempre em como seria nosso futuro juntas.


Sobre o luto, prometo a você que não vou me afundar nele, só preciso vivê-lo enquanto for necessário para amenizar a dor. Um dia de cada vez e em passos lentos, mas sobrevivendo.

Maria Clara Abrantes Barbosa.
27/12/2022 – 03:44 – 1.225kg

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Testemunhos Testemunhos Perda Precoce Testemunhos Perda Tardia

A nossa história de amor começou no dia 6 de Junho de 2022, quando fiz um teste de gravidez e deu positivo.Não queria acreditar e fiz 3 testes diferentes. Todos eles deram positivo. 

Foi o primeiro teste de gravidez que fiz. Apesar de já estarmos a tentar há cerca de 6 meses, nunca tinha tido um atraso menstrual. Também não tive atraso menstrual nesse mês mas, chamem-lhe intuição, eu sentia-me gravida. E estava. 

Lá estava o nosso positivo. O nosso grande sonho estava a começar.

Tinha uma consulta com o meu ginecologista nesse mesmo dia e disse-lhe que tinha feito um teste de gravidez que deu positivo. Ele receitou-me logo vitaminas e disse para voltar dali a 15 dias, porque ainda não se via nada. Estava grávida de cerca de 4 semanas. Quinze dias depois voltei e lá estava o saquinho no útero. Quinze dias depois e já consegui ouvir o bater do seu coraçãozinho.

Contamos a novidade aos avós que ficaram tão felizes. Afinal de contas seria o primeiro neto tanto dum lado, como do outro.

Começamos a comprar roupinhas, a pensar em nomes e a fazer mil e um planos na nossa cabeça. 

Eu era luz. Luz e sonhos. Eu radiava alegria e felicidade para onde quer que eu fosse. Sentia-me forte. Sentia-me a super mulher. Sentia que nada nem ninguém me podia machucar, porque dentro de mim eu gerava vida. O meu filho. E sentia-me poderosa. 

Sempre achei que quando estivesse grávida me fosse sentir frágil e fraca, mas não, foi o tempo que eu me sentia mais forte… Acordava todos os dias e dizia “bom dia, meu amor, mais um dia juntinhos”.

Fazia mil e uma festinhas ao longo do dia na minha barriga. E gostava de a ver crescer. Os sábados ganharam mais cor pois acrescentava mais uma semana de vida ao meu “docinho de marmelada”, (eu gostava de o chamar assim). Media a barriga todos os sábados e lembro-me perfeitamente de ficar toda contente por ela aumentar 1cm por semana.

Chegou o dia da ecografia do 1º trimestre. Estava tão nervosa. Estava tão tensa que a médica me mandava sempre relaxar, mas eu não conseguia. Só relaxei no final quando ela me disse que estava tudo bem. Aí, o meu coração relaxou. 

Foi a melhor sensação da minha vida e estava grávida de mais quase uma semana do que eu estava a contar.

Fiz um diário online onde escrevia tudo o que estava a sentir e um bocadinho do meu dia a dia da gravidez, para mais tarde recordar. 

Tudo corria bem. Contámos à família. Já estávamos a decidir os padrinhos. Os nomes já estavam escolhidos tanto para menino como para menina. 

Tudo era um sonho tornado realidade. 

Fui à médica para saber se podíamos ir de férias em Agosto. Ela disse que sim, e fomos felizes e radiantes da vida. Tirámos tantas fotos na praia com a minha barriguinha que já se começava a notar (17 semanas). Estávamos tão felizes! Olho para trás e só queria voltar a sentir a mesma felicidade.

Regressámos de férias a um domingo, na segunda seguinte fomos ao obstetra que disse que estava tudo óptimo com o bebé e que achava que seria uma menina. 

Eu não acreditei. Sempre senti que seria um menino. Intuição de mãe, não sei. Nesse mesmo dia fizemos uma ecografia em 3D e, apesar de pequenino, já se via perfeitamente o nosso bebé tímido e muito simpático (como as médicas o descreviam).

E disseram-nos que muito provavelmente seria um menino. 

Nesse mesmo dia de manhã tinham-nos dito menina e depois menino, estávamos confusos. Mas faltavam apenas 10 dias para a ecografia do 2º trimestre e já tirávamos todas as dúvidas e poderíamos contar à família, que todos estávamos ansiosos para saber se seria uma menina ou um menino. 

Mas não conseguimos chegar a esse lindo momento. 

Nessa quinta feira à tarde comecei com imensas dores de barriga, que não sabia o que seria. Fomos às urgências de um hospital, a médica disse que estava tudo óptimo. Eram apenas gases, mandou-me tomar ben-u-ron e ir embora e, para a próxima, tomar ben-u-ron antes de ir às urgências. 

O meu coração ficou descansado. Afinal de contas tudo estava bem. 

Mas as dores não passavam e, no dia seguinte, fomos a outro hospital (podia ser que tivessem outra opinião).

Fui vista por 2 médicas que disseram exatamente o mesmo, que seriam gases. Também me disseram que tinha o colo do útero demasiado curto para as semanas de gestação que tinha (18 semanas), mas não estavam nada alarmadas. Mandaram-me repousar, mas não estar todo o dia deitada na cama, e receitaram-me progefick. 

Perdi o bebé no dia seguinte em casa. 

O meu bebé simplesmente escorregou por mim abaixo, como se o meu corpo o rejeitasse. Ainda me lembro do horror. Do sangue imenso. Das dores terríveis. 

Chamei a ambulância que me levou para o hospital mais próximo. Lá, tiveram que me operar para retirar a placenta pois não tinha saído. E eu lá estava com o meu bebé ao lado embrulhado num paninho. E eu só queria acreditar que tudo aquilo tinha sido um pesadelo. 

Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”

Lembro me de acordar da anestesia e pensar que tudo aquilo não tinha passado dum pesadelo, mas tudo tinha sido verdade. 

Isto tudo foi em Setembro. Sete meses passaram e eu não consigo esquecer. Sete meses passaram e eu ainda pergunto “porquê?”. Sete meses passaram e eu ainda choro quase todos os dias pelo meu bebé.

Ainda não sei o que aconteceu visto que tudo estava tão bem, o meu bebé mexia, tinha batimentos cardíacos, estava tudo perfeito. 

Fez-se a autópsia onde descobri que era um menino (a minha intuição não tinha falhado) e era perfeito. Sem nenhum problema físico nem cromossómico. Era um menino perfeitamente normal.

E isso custa tanto… Dizem-me que é melhor assim. O menino ser perfeito, porque assim sei que eu e o meu marido temos bebés perfeitos, mas custa tanto saber que perdi um bebé perfeito e saudável.

Ele era tão pequenino. Mais ou menos do tamanho da palma da minha mão. Um bebé pequenino e perfeitinho. 

Seria o nosso Mateus. 

Agora as saudades matam-me por dentro. 

Como é possível ter saudades de momentos que apenas existiam na minha imaginação? Momentos que nunca aconteceram mas eu sonhava que acontecessem.

Como é possível agora sentir-me fraca quando já me senti tão poderosa?

Há 7 meses que eu não consigo sorrir. Nada me traz felicidade. Tudo aquilo que dantes me deixava feliz agora simplesmente não é nada. 

Tudo o que eu queria era o meu bebé. 

Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”. Eu tenho saudades de fazer festinhas na minha barriga, tenho saudades de falar com ele, de sonhar com ele no meu colo, tenho saudades de ver a minha barriga crescer. 

Tenho saudades da felicidade genuína. De sorrir duma coisa simples. 

Hoje o meu bebé teria cerca de 2 meses. E eu só consigo imaginar o seu sorriso, os seus olhos, o quanto eu o amava e amo. 

Imagino a dar.lhe de mamar, a colocá-lo para dormir, a dar-lhe banho, acariciá-lo, dar-lhe beijinhos. Dançar com ele…. 

A minha vida parou em Setembro de 2022. Os dias passam mas a minha alma ficou em Setembro. 

O meu bebé foi-se embora e com ele levou metade de mim. Levou metade do meu coração com ele. 

E agora pergunto me: como voltarei a conseguir ser a mesma pessoa?Alguma vez conseguirei voltar a ser a mesma?

Eu sinto que a vida que estou a viver agora não é a minha vida, eu deveria estar em casa a tomar conta do meu bebé e não a trabalhar e a chorar pelos cantos. Eu não quero viver neste inferno.

As pessoas não percebem esta dor. Dizem : “ah és nova podes ter outro” ou “pelo menos foi no início” ou “foi porque Deus assim quis”.

Mas as pessoas não sabem qual é este sofrimento, esta dor que acorda e adormece connosco. Esta dor no coração que não sai por nada deste mundo. 

Eu não sei o que fazer para deixar de sentir esta dor. 

Agora o meu diário online que dantes escrevia todos os momentos da gravidez, agora é o meu aliado, onde escrevo as minhas tristezas e angústias, onde desabafo e choro o meu filho. 

Vejo todas as meninas que estavam grávidas ao mesmo tempo que eu a ter os seus bebés e eu nada, e eu de colo vazio e pergunto-me: “o que fiz eu de mal?”, “onde é que eu errei?”

Custa tanto saber que o bebé que era tão amado, tão desejado, tão sonhado, simplesmente escorregou por mim abaixo e eu não pude fazer nada para o salvar. 

Só me apetece chorar todos os dias. 

Meu eterno bebé. Meu Mateus, amado sempre.

A nossa história começou a 6 de Junho de 2022 e terminou a 12 de Setembro de 2022. Foram 18 semanas de amor. 

Meu eterno anjinho da guarda. 

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Testemunhos Testemunhos Interrupção Médica da Gravidez

Carta aberta a um Amor Maior.

A ti, que lutas todos os dias, que passaste o inverno entre internamentos, mas que não perdes a inocência e a simplicidade de um sorriso.

Aquele sorriso, fácil de encantar, que faz qualquer pessoa dar uma gargalhada, que apesar das limitações, consegue aprender e que bem que aprendes!

Curioso, que gosta de histórias, de pintar e de Metallica! És tão fácil de cativar… e os nossos abraços? Esses são só nossos!

A ti, que vives no Céu, eu sei que não temos aventuras como com o mano, nem brincadeiras, porque a maior aventura vivemo-la todos os dias: aprender a viver longe de ti, foi o maior desafio de todos. Maior do que qualquer internamento, paralisia cerebral ou falar pouco.

Passaram 4 anos e eu contínuo a pensar em ti, todos os dias, onde quer que vá! E não adianta que me digam “que foi melhor assim…”. Não foi, nunca será. Melhor para quem? Para ti, que nunca conheceste o poder de um abraço? Para mim e para o pai, que pensamos como seria ter-te aqui a fazer macacadas de criança? Ou para o mano, que queria ter com quem brincar?

Somos uma família de 4, separados por um Céu de saudade. Hoje nem que as estrelas brilhem, cá dentro, tenho uma trovoada de sentimentos. O tempo passa, mas o Amor que tenho por vocês, esse é infinito e nunca deixarei que me digam que foi melhor… não são os outros que carregam um filho num colo de 2… e enquanto assim for, serão sempre meus…

Amor infinito,
Mamã

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aborto retido Testemunhos Testemunhos Perda Precoce

26-02-2023: o pior dia da minha vida!


Com um único corrimento transparente com alguns raios de sangue, dirigi- me ao hospital apenas por descargo de consciência…

Cheguei feliz com uma barriguinha espevitada nesse dia para 12 semanas e 3 dias.
Quando chamada para observação, a médica, ainda interna, comentou que não sabia mexer numa das máquinas e, quando fizemos a primeira eco, decidiram passar para outra máquina.

Foi tudo tão rápido que fiquei sem acreditar que o meu tão sonhado bebé estava morto dentro de mim há quase 3 semanas.
Os enjoos continuavam e o dr Google dizia que eram boas notícias. Era a gravidez a evoluir.

Apesar de um início de gravidez muito turbulento, em que me separei do pai do meu bebé por me ter pedido que abortasse, de muito ter chorado, de dois picos de tensão alta, nada fazia prever este desfecho.

Era na sexta que ia fazer a ecografia do primeiro trimestre…
Dada a notícia chorei compulsivamente e optei por ficar internada …

Era isso ou ir para casa e preocupar ainda mais a minha mãe que também já sonhava com este feijãozinho.
Não voltei a sangrar nesse dia e só queria estar sozinha!

Sinto-me vazia, como se o meu futuro idealizado tivesse agora sido cortado em mil pedaços e tivesse manchado.

Estava sozinha e com medo. Nessa noite não dormi, pedi muito a todos os contactos que pude que me fizessem mais uma ecografia, queria muito uma segunda opinião, a máquina podia ter algum problema, pensei… ou talvez o feto tivesse realmente menos semanas porque eu não era regular…

Fiz então a ecografia antes de iniciar o restante tratamento… uma médica amorosa e paciente, mostrou-me tudo e explicou-me tudo. Fez toda a diferença. Ainda muito chorona, mas já mentalizada !

Só à noite é que as duras cólicas vieram e o corpo pedia-me que fizesse força…

Duas vezes a fazer uma força lá do fundo das costas e dois enormes coágulos saíram; era o meu bebé com toda a certeza!

Tranquiliza-me a fé de que o bebé cumpriu a sua missão e, apesar de tudo, continua a ser ele que me tornou mãe! O meu bebé só aprendeu a voar.

Voltei a observação e, apesar do bebé já não estar lá, ainda tinha muita coisa para sair, mais um ciclo de tratamento para ver se conseguimos evitar uma ida ao bloco!

Tive alta, confiaram que o meu corpo se encarregaria do resto e não tive de passar pelo medo que a anestesia já me estava a causar.

Ontem foi o único dia que não chorei, sentia-me tão culpada por isso … simplesmente estava vazia!

Com a alta, despedi-me daquela cama com um colo vazio, o sonho de sair com o amor da minha vida no ovinho deu lugar a uma dor nas entranhas, a um desgosto de alma e um coração em milhares de pedaços. Estou em casa, voltei à realidade e nada assusta tanto…

Tive dores fortes, mas a dor de não ter aqui o meu bebé é mais forte do que tudo….apesar de ter ficado pelas 9 semanas e eu só ter descoberto quase 3 semanas depois, o meu ratinho de 4 cm tornou-me Mamã.

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Gravidez pós-perda Testemunhos arco-irís

Perdi o meu primeiro bebé em Janeiro de 2021, às 7 semanas.

Soube, desde o primeiro momento, que a minha dor só iria diminuir quando conseguisse cumprir o meu desejo de ser mãe, pensamento um pouco egoísta, talvez, porque o meu arco-íris não substitui o meu primeiro bebé.

Dois meses após a perda, começámos a tentar, mas a minha própria pressão era tanta que não me deixava conseguir engravidar. Passaram 7 meses e o meu positivo não chegava.

Ao oitavo mês, decidi desistir e deixar nas mãos de quem me dá sentido à vida decidir se eu ia, ou não, ser mãe. Nesse mês, engravidei.

Outubro de 2022.

O meu namorado soube primeiro que eu, insistia que eu estava grávida mas eu nem queria fazer o teste. Tive um atraso, testei e o positivo estava lá. Não quis acreditar.

A primeira coisa que disse ao meu namorado foi: “Não me quero mexer. Não quero fazer nada que me possa fazer perder o bebé”. Foram 9 meses muito intensos, com indícios de pré-eclâmpsia, com paralisia facial, com um aumento excessivo de peso e com muita, mas muita ansiedade.

No final correu tudo bem. A minha bebé está aqui, linda e a mostrar-me que o amor existe. Trouxe um bónus, uma manchinha no pulso, onde eu também tenho uma, em forma de coração. Cada vez que olho para ela, tenho a certeza que o irmão ou irmã, a enviou e enviou com ela a mensagem mais bonita de amor que existe.

Esse bebé não está cá, mas é meu filho e amo-o como amo a minha arco-íris e ele retribuiu-me esse amor.

Não deixem de acreditar. O que é nosso volta sempre e, se não voltar, fica o amor no coração.

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Gravidez pós-perda Infertilidade Testemunhos arco-irís

Senti que tinha que deixar isto escrito antes do meu filho nascer!


E prometo um dia escrever-vos a história do nosso caminho até aqui…

Estou talvez a dias ou horas de conhecer aquele que foi o meu/nosso sonho durante muitos anos, desejar tanto um filho e não conseguir… Um sonho tão grande, que não passava disso, um sonho tão bom que ao mesmo tempo era tão duro…

Muitos anos a viver um sonho tão grande de mãos dadas com a In(Fertilidade). Um caminho tão longo, tratamentos falhados, perdas, muitas, muitas lágrimas, mas com o sentimento seguro de que um dia haveria de ser dia!

E não é que o arco-íris acabou mesmo por brilhar?
O que é para ser nosso, acaba por chegar. Lutem, não desistam, acreditem muito. Se foi fácil? Não! Mas quem percorre este caminho sabe que, quando a vitória chega, não há nada que pague este AMOR ❤️
E O AMOR VENCE TUDO!

Só quando tiver o meu filho nos braços vou ter a certeza de que isto é mesmo real…

Termino estas palavras com uma Gratidão gigante por poder estar a viver esta fase da nossa vida.
Nunca me esqueço de todos aqueles que continuam a percorrer este caminho: um abraço de coragem e ACREDITEM, ACREDITEM MUITOOOO.

Com muito carinho por todos vós:

“Abraça – me até sempre”

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Testemunhos Testemunhos Interrupção Médica da Gravidez Testemunhos Perda Tardia

Depois de casarmos, planeámos ter um bebé. Fizemos as consultas e exames de preconceção, bem como a toma das vitaminas pré-natais, tudo muito certinho.

Descobri no dia 24 de janeiro de 2022.  Uma felicidade enorme com aquela inocência à mistura. Fiz uma surpresa ao meu marido, com uma brincadeira numa caixinha. Estávamos tão felizes… O nosso sonho estava ali.

Pelas 7 semanas comecei com perdas de sangue, dirigi-me às urgências no qual foi descoberta uma gravidez gemelar. Avisaram-me imediatamente que normalmente um dos bebés não evolui. E assim foi. Na semana seguinte voltaram a avaliar e um dos bebés não tinha evoluído.

Sinceramente não lidei como uma perda, porque o saco já estava vazio e acabámos por nos concentrar no bebé que estava a evoluir bem. Continuei com algumas perdas, mas sempre me foi dito que seria devido à perda do primeiro bebé.

Até às 12 semanas confesso que nunca achei que a gravidez fosse para a frente. Mas chegámos ao marco que achava eu o mais importante: a ecografia do 1ºtrimestre. Tudo normal e dentro dos parâmetros nessa ecografia.

Pelas 16 semanas descobrimos que seria menina, a nossa Ema. O nosso sonho tornado realidade. Cada vez sentia-a mexer mais e lembro-me de comentar isso com a obstetra do qual me respondeu “é sinal de vitalidade” (nunca me esquecerei desta frase).

Tínhamos férias marcadas para o dia seguinte à eco do 2º trimestre, pensando nós que tudo continuaria a correr bem. Estava a ser acompanhada como gravidez de risco, mas, como me foi dito que estava sempre tudo bem, confiei.

Nessa ecografia, a médica guardou para o fim para nos dizer vagamente e sem chamar as coisas pelos nomes que as coisas não estavam bem. Saiu do consultório, voltou e não explicou nem disse absolutamente nada. Pedi-lhe o relatório e recusou. Foi-me dito que seria enviado à minha obstetra e que ela depois falaria comigo. Vi logo que seria grave, pois esconderam-me informações das quais tinha direito. No dia seguinte, tivemos a consulta com a obstetra que nos explicou melhor, e disse realmente que parecia ser muito grave. Partimos imediatamente para uma amniocentese.

Doeu-me a alma. Doeu-me cada veia do meu corpo. Nunca na minha vida experimentei dor tão forte como aquela.

Uma semana depois veio o primeiro resultado e tudo normal (enchemos-nos de esperanças).
Só 4 semanas depois do exame é que recebemos o resultado completo. Aí o mundo caiu-nos. A nossa bebé não iria sobreviver.
Foi uma grande luta entre profissionais de saúde que tiveram zero de empatia e que me trataram como a “batata podre do hospital”, e entre os que me acolheram com uma humanidade sem igual e me deram tudo o que precisava.
Tínhamos de interromper a gravidez e isso incluía um parto normal, que é tudo o que menos queremos viver quando vivemos um pesadelo destes…

No dia 12 julho, às 26s+6d, foi feito o feticídio. O momento mais difícil que alguma vez vivi. Terem de parar o coração da minha filha, ainda dentro de mim. Sentia-a mexer até ao fim. Doeu-me a alma. Doeu-me cada veia do meu corpo. Nunca na minha vida experimentei dor tão forte como aquela. Nem sabia que a dor física se podia juntar à dor emocional e tornar-se aquele monstro. Parte de mim morreu naquele dia, sabem? Não ficamos as mesmas pessoas.
Como é que uma vida acaba onde tudo começa? Nada fazia sentido. Saí despedaçada, vazia, mal via o chão de tanto chorar.

Após 2-3 dias de uma dolorosa e difícil indução de parto, nasceu a minha Ema, às 00h25 do dia 15 de julho.

Foi um parto tão silencioso que se torna assustador.  De facto, há choro, mas não é o choro do bebé, só os nossos, e há um bebé, mas um bebé sem vida, que não levamos para casa. A minha pequenina, minha Ema, o meu maior amor nos meus braços.

Qual é o propósito de um nascimento sem vida?  O meu desejo de ser mãe estava nos meus braços e era agora um sonho destruído…
Ficámos ali, meia hora a namorar a nossa filha, o primeiro e último colo que lhe íamos dar. Qual o propósito de um nascimento sem vida? Numa sala onde a vida começa, onde o choro deveria ser de alegria e de um bebé com vida…

Os dias seguintes foram um turbilhão de sentimentos. Chorávamos dia e noite. Não dormíamos. Assistimos ao meu corpo pós-parto, confusos com tudo. Ainda hoje, não há uma única vez que não me olhe ao espelho e não me imagine grávida da minha borboleta. Fica-nos marcado no corpo. 

A minha filha será sempre o meu grande amor, a minha borboleta. Vou guardá-la e lembrá-la sempre.

Após uns dias  procurei ajuda aqui no “Amor para além da Lua” onde me acolheram e me ajudaram, como eu tanto precisava (e que eu agradeço tanto).
Com o passar do tempo, com toda a dor, revolta e também amor nasceu também a minha grande vontade de ajudar.  
E assim, no dia 5 de agosto, criei o “Amor com Asas”, uma página também de apoio à Perda Gestacional e Neonatal. Um projeto ao qual me dediquei de corpo e alma, que me ajudou e ainda ajuda muito, na evolução da minha recuperação. Tornou-se a minha terapia também.
Em outubro juntou-se a minha querida Telma, uma grande amiga que chegou à minha vida com a luz que eu precisava, unidas pela dor da perda.
Como designer, também criei o meu atelier “Amor de papel” onde transformei também a minha dor em amor, com ilustrações de nascimentos e perdas de bebés.
Espero do fundo do coração que aqui, no “Amor para além da Lua” ,encontrem o conforto que precisam. Não se sintam sozinhos, é um caminho difícil, mas partilhamos a mesma dor. 

Um abracinho a todos,

Renata

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