Independentemente do tempo da gravidez, uma perda, vem sempre com o seu peso físico e emocional. Assim, neste artigo, escrevemos sobre uma complicação de uma das perdas gestacionais precoces mais comuns: o aborto retido.
Geralmente, entre a oitava e a décima segunda semana da gestação é confirmado, em consulta, que o bebé, infelizmente, morreu no útero. Este é, muitas vezes, chamado um aborto incompleto.
Nestes casos, o corpo retém o saco gestacional, embrião e outros tecidos, demorando semanas (por vezes meses) a libertá-los naturalmente.
Por norma, quando se recebe esta terrível notícia, a equipa médica vai recomendar, primeiramente, deixar que o corpo aja de forma natural. Por outro lado, se não for esse o caso, poderão dar-lhe medicação. Esta serve para estimular a expulsão de material e feto do útero.
Na eventualidade deste método não funcionar, há como alternativa um procedimento cirúrgico para limpeza uterina.
Por vezes, algumas mães escolhem o tratamento de esvaziamento uterino imediatamente. Afinal, este é mais rápido e oferece algum controlo sobre a situação. Contudo, não deixa de ser um procedimento invasivo que poderá provocar consequências na mulher. Assim, tire, por favor, tempo para discutir com o seu ginecologista ou obstetra as suas opções. Desta forma, ficará mais confiante de que está a tomar a decisão mais acertada para si.
Aborto Retido: Causas e Sintomas
Tal como num aborto espontâneo, este pode trazer consigo alguns sintomas, ou ser assintomático. Por isso, em alguns casos, passam-se semanas sem que as mães percebam que a gravidez não está a evoluir.
Além do mais, por vezes os sinais de gravidez, como enjoos e desconforto continuam. Assim, torna-se muito difícil a sua descoberta. É, portanto, importante que a sua gravidez seja devidamente acompanhada e que vá a todas as consultas.
Os sinais mais comuns de aborto retido são:
Sangramento vermelho vivo ou acastanhado
Dor pélvica
Desaparecimento de sintomas gestacionais
Ausência de continuação de crescimento da barriga
Semelhante a outras perdas, as causas para um aborto retido passam por:
Apesar de esta ser uma experiência traumática e de grande peso emocional, não há razões para perder a esperança. Há muitas mães que têm posteriormente gravidezes de sucesso e sem complicações.
No entanto, procure ajuda se precisar. Embora seja uma experiência solitária, não tem de sofrer sozinha.
Estaríamos quase, quase a nascer, se tudo tivesse corrido bem, mas em vez disso nascemos antes… dezembro de 2020. A nossa mamã e papá foram muito corajosos, preferiram sofrer sozinhos do que nos ver sofrer. A mamã conta tudo.
O meu nome é Telma, tenho 36 anos e carrego comigo a maior dor que uma mãe pode suportar, a perda de um filho, sim porque para mim é e sempre serão filhos. Os meus filhos!
Foram precisos 6 anos para conseguirmos engravidar, entre consultas e tratamentos lá conseguimos o nosso tão desejado positivo a 23 de Julho de 2020, fruto de uma FIV e consequentemente TEC, onde transferimos dois embriões. Foi uma alegria quando soubemos que estava grávida e ainda para mais de Gémeos.
Fizemos todos os exames e mais alguns, desde análises, ecografias de trissomias até o NEOBONA nós fizemos, afinal não podíamos correr o risco de alguma coisa correr mal, tanto tempo à espera dos meus meninos.
Tudo correu bem, até à Morfológica, onde foi detetada, em ambos os meus meninos, uma cardiopatia muito grave, não era viver mas sim sobreviver.
Ficámos sem chão, não podíamos acreditar, fomos a vários médicos e todos nos disseram o mesmo. Muitas consultas, medicação, operações e nunca nos garantiram que sobreviveriam sequer à primeira intervenção cirúrgica.
Nenhuma mãe ou pai acredita às primeiras no que os médicos lhes dizem, não é o que esperamos e muito menos o que desejamos para os nossos filhos, foi preciso tentar não pensar com o coração e sim pensar com a cabeça o que era melhor para eles, e infelizmente o melhor para os meus meninos não o era para nós.
Tomámos, assim, a difícil decisão de interromper a gravidez. Os nossos filhos deixaram-nos a 16 de dezembro e a expulsão foi a 17. Apesar de tudo termos feito por eles, sinto uma dor cortante.
Tenho um colo vazio. São dias difíceis, muito difíceis.
Gostava também de contar a minha história. Sou a Ana Sofia Silva tenho 35 anos. Durante seis anos andei na luta com a infertilidade.
Passei por alguns tratamentos de fertilidade. Mudei para uma clínica em Lisboa onde consegui o meu positivo em junho de 2020. Passei uma gravidez tranquila. Vim para casa às 16 semanas.
Trabalho no atendimento ao público. Vim para casa por causa da covid. Estava tão feliz.
Passei o meu tempo em casa a decorar o quartinho a tratar de tudo para o meu menino.
No dia 15 de janeiro de 2021 fui ao hospital privado consulta das 36 semanas está tudo bem, mas estava com algumas contrações. Não tinha dor. A médica mandou-me fazer repouso e tomar um medicamento para as contrações diminuírem. Tomei a medicação e vim para casa.
No dia seguinte, o bebé mexia muito, mas como ele se mexia muito normalmente achei normal. Na tarde de sábado achei que se estava a mexer menos, mas a médica disse que era normal. A medicação ia baixar-me as tensões e eu pensei que fosse disso.
Quando fui à consulta das 37 semanas fui fazer as cintas e a enfermeira não estava a encontrar batimentos. Entretanto chegou a médica eu já estava em pânico e confirmou que o bebé não tinha batimentos cardíacos.
Como é possível perguntei eu. Estava tudo tão bem. Estava tudo pronto para ele nascer por volta das 38 semanas.
O meu mundo desabou. Fiz uma cesariana.
Quando acordei ainda tinha a esperança que ele estivesse ao meu lado vivo, que tudo fosse um mero engano. Não consegui ver o meu bebé. Na altura pensei que seria o mais apropriado uma vez que ia ter que me levantar depois desta perda. E não sabia se o conseguia fazer se o visse.
Hoje não sei se o deveria ter visto. Passaram 7 semanas. O meu coração está despedaçado. Nunca pensei que estas coisas aconteciam. A médica disse que foi o cordão à volta da barriga. Mandamos fazer autópsia. Ainda não sabemos o resultado. Olho para as outras pessoas com os seus bebés e digo muitas vezes: como é que é possível isto ter acontecido?
Os bebés não morrem.
Tenho tudo no quartinho do Tiago, na esperança de voltar a ser mãe. Sou mãe de um anjo. Sou mãe de colo vazio.
No início de 2021, que toda a gente desejou ser o ano em que começam a acontecer coisas boas, descobri que tinha ficado grávida. Embora não tivesse sido uma gravidez planeada, já não usava contraceptivos há algum tempo, portanto era algo para que estava preparada. A notícia veio com surpresa, mas muita alegria. Achei que era uma premonição, 2021 é o ano em que tudo muda para melhor.
Não tinha ideia de quando tinha ficado grávida, e como estava com spotting muito leve fui fazer uma ecografia e recebi a notícia: 6 semanas, batimento cardíaco normal, lá estava o meu feijãozinho a nadar de um lado para o outro e a piscar.
Nesse dia tudo mudou. Íamos ser pais! Disseram-nos que após ver um batimento cardíaco a probabilidade de perda gestacional desce para os 3% a 4%.
Sou relativamente jovem, saúde exemplar, hemoglobina perfeita, sem diabetes, pressão arterial normal, ácido fólico no máximo, nada que indicasse qualquer risco. Sentimos-nos confiantes para contar à família mais próxima e aos nossos melhores amigos.
O meu corpo estava-se a adaptar muito rápido, nas semanas seguintes o meu peito cresceu imenso, já tinha uma barriguinha super fofa. Todas as noites adormecia a fazer festinhas “ao meu bebé” e a falar com ele baixinho.
O spotting leve eventualmente parou, a enfermeira disse-me que eram óptimas notícias, provavelmente um vaso sanguíneo mais sensível ou restos do sangramento de implantação.
Além de alguns enjoos estava a ter a gravidez perfeita. Ao final de 3 semanas fomos fazer nova ecografia.
Estávamos super entusiasmados para ver o nosso bebé outra vez! Sentámo-nos com a enfermeira, verificamos a pressão sanguínea, tudo óptimo, continua tudo perfeito.
Começa a ecografia, o feijãozinho brilhante não está em lado nenhum.
Após uns segundos em silêncio ela pergunta se pode fazer uma ecografia intravaginal que é mais exacta. Respondo que claro que sim, quero ver o meu bebé!
Mais silêncio… Já a prever o que vem a seguir pergunto se está tudo bem. A cara da enfermeira mudou… Pede desculpa, não encontra o batimento cardíaco. Aqui está o bebé, mas não mexe. Desta vez já consigo ver a cabeça, os bracinhos e as perninhas mas está quietinho, não nada, não pisca. “Não é culpa de ninguém, 90% das vezes são problemas nos cromossomas e é inevitável!” … E nos outros 10%? Silêncio…
Disseram-me para voltar para casa e descansar. É muita informação. Choro durante 2 dias, faço festas no meu bebé e desejo que seja um erro, peço-lhe desculpa, digo-lhe que vai ficar tudo bem.
Tenho três opções: esperar que a natureza faça o seu trabalho (opção ideal), provocar o aborto com medicação (opção intermédia, supõe menos riscos), fazer uma curetagem (pode interferir com gravidezes futuras, menos aconselhável).
Ao final de mais de duas semanas sem nada acontecer, volto à ginecologista que me aconselha a fazer o aborto com medicação em casa.
Vou para casa, tomo as primeiras doses de comprimidos – náusea, mal estar, vómitos. Ao final de 36 horas devo inserir o misoprostol. Em apenas uma hora começo a ficar com dores horríveis, cólicas que não passam com nada, parece que me estão a arrancar as entranhas. Ao final de duas horas começa o sangramento.
É horrível, intenso, nada me preparou para o que vem a seguir; pedaços do tamanho de ameixas a sair misturados com sangue, sangue na sanita, no chão, em todo o lado, cada vez que me mexo com as dores sai mais sangue. Acabo por me deitar na banheira para tentar acalmar a dor e controlar a sujidade. Acabo por estar 2 horas sentada numa poça de sangue que não para de aumentar.
Finalmente as dores acalmam e penso que o pior já passou. Levanto-me para tentar colocar um penso higiénico e poder ir para um lugar mais confortável, quando cai no chão o meu saco gestacional. Do tamanho de uma pequena laranja.
Fico em pânico. O meu marido ajuda-me a tomar banho, vestir e deitar e vai limpar a casa de banho. Continuo a perder mais de 1 penso higiénico de sangue a cada 10 minutos, não consigo ter roupa vestida sem a sujar. Continua por mais 2 horas, cada vez que vou à casa de banho trocar o penso sinto pedaços a saírem de dentro de mim. Eventualmente reduz para a quantidade de um período normal. Consigo finalmente deitar-me, comer descansar.
Dizem-me: “O pior já passou”, “És jovem e saudável!”, “Tens outro!”, “Não era nada, eram só células!”, “É normal!”
Se o pior já passou porque é que eu sinto que está apenas a começar? Se sou jovem e saudável porque raio estou nos 3%? E se não tiver outro e apenas passar por tudo outra vez?
Se eram só células porque é que tinha um batimento cardíaco, porque é que falei com ele todos os dias até adormecermos juntos? E se é normal… porque é que me sinto num poço sem fundo e não vejo forma de sair daqui?
Eu e o meu marido planeamos ser papás e, por isso, ter um filho é um grande desejo dos 2 e um grande sonho que temos.
Um projeto de vida para a vida, talvez o maior das nossas vidas. 10 dias antes de fazer 30 anos, tive o meu positivo. 13 de outubro de 2020 foi quando descobri que estava grávida (3+). Aahhh que felicidade tão grande, que sentimentos me invadiram tão bons.
Admito que também fiquei com aquele nervoso miudinho e ansiosa para ir a uma consulta para perceber se estava tudo bem. Consegui consulta logo no dia a seguir ao meu aniversário, 24 de outubro. Fiquei a perceber que estava tudo bem, mas que tinha menos uma semana do que eu achava que teria. Explicação do médico: talvez por uma ovulação tardia. Um médico de poucas palavras e que apenas me mandou esperar e fazer caminhadas, também referindo: “das duas uma, ou ovulação tardia ou o feto não evoluiu”.
E sabem quando nós mulheres ficamos desconfiadas e com um mau feeling?? O Dr. Google foi o meu aliado e eu li e reli montes de informação sobre estas questões.
Voltei a ter outra consulta 10 dias depois e nessa consulta eu já consegui ver mais claramente o coraçãozinho a bater, porém não ouvi e não se via linha cardíaca. Fiquei um pouco apreensiva e fiz novamente muitas perguntas ao médico, sobre se isso seria normal, o qual me respondeu que sim para não ficar ansiosa e mais uma vez que tínhamos que esperar.
Claro que guardar este segredo só para nós é impossível, e decidimos contar apenas aos nossos pais e irmãos e também a um grupo de amigos muito restrito e mesmo muito próximo. Estava tão feliz, apesar dos enjoos, das dores nas mamas, e da barriga inchada que já não cabia nas calças. Impossível não criar expectativas e não sonhar e planear a nossa vida a partir daquele momento. É aquela sensação de que o maior milagre desta vida aconteceu e a partir do momento que temos o positivo estabelecem-se de imediato laços muito fortes.
Até que passado uns 10 dias, a um domingo à noite num momento em que vou à casa de banho, tive uma perda de sangue. Como tenho uma amiga que já tinha passado por uma perda gestacional, liguei-lhe de imediato a pedir opinião do que havia de fazer. Decidimos ir ao hospital e ela aconselhou-me a isso mesmo.
Passou-me muita coisa pela cabeça, mas nunca pensei ouvir o que ouvi:“lamento, mas não há batimentos cardíacos”…. o meu mundo desabou!!
Estava ali sozinha com a médica e enfermeira, o meu marido não pôde entrar. Fiquei apavorada, atordoada, deixei de ouvir por uns segundos, deixei de ver… Apenas consegui dizer: “mas não há nada a fazer!?!” e desatei a chorar sem conseguir parar.
Revivendo agora esse momento, sei que foi uma pergunta sem nexo, mas foi o que me saiu porque eu não queria acreditar no que estava a ouvir. Quando me consegui acalmar, com o apoio da médica e da enfermeira, percebi que tinha sofrido um aborto espontâneo retido.
Esperei uma semana para ver se o meu corpo expulsava naturalmente, mas não aconteceu. Tive de fazer em casa o protocolo com medicação, e aí sim, foi o pior dia da minha vida em 30 anos!!!
Que sofrimento terrível, que dores, que agonia. Sentia-me vazia… Impotente.
Tive o meu marido sempre do meu lado, e graças a ele também tenho tido forças para superar esta perda. Apesar dele viver esta dor de outra forma, eu sei que ele também a tem sofrido, porque esta perda é a dois.
13 de novembro de 2020 vai ficar gravado para sempre na minha memória e no meu coração. O meu feijãozinho, como a minha sogra dizia, a minha sementinha, como a minha mãe lhe chamava, e todas as dicas que a minha mana me dava, e o meu bebé como eu já imaginava…
Não sei se era rapaz se era rapariga, mas isso para nós também não era o principal, porque para nós tanto fazia, apenas queríamos que viesse com saúde e perfeitinho.
Numa caixinha guardo as recordações que me levam e levarão sempre a esta gravidez.
Vai ser sempre a minha primeira gravidez, o meu primeiro bebé, independentemente das semanas que tinha.
Digam o que disserem, pois ouvi muitas coisas como“ah isso ainda não era nada”…
Era era, era tudo ️
Aos poucos a dor vai ficando menor, não se apaga nunca, mas vai-se transformando em força, fé e esperança para o próximo que há-de vir.
É preciso muita coragem, porque o medo, esse é impossível de apagar, mas o nosso amor é mais forte e acreditamos que vai vencer todos os receios. Apesar de saber que estas situações acontecem e de ter amigas muito próximas que passaram pelo mesmo, quando estava grávida eu só queria acreditar que ia correr tudo bem, tentei andar o mais calma possível, desfrutar ao máximo das coisas boas que temos diariamente, aproveitar os momentos em família e todas as pessoas que sabiam davam-me muita força e diziam que não podia pensar negativo.
São sem dúvida a minha força para conseguir ultrapassar esta dor: os meus pais, sogros, mana, amigos e amigas (que sabem bem quem são) e o meu marido que me faz pensar positivo e me dá muita coragem diariamente.
Também algumas pessoas que partilharam comigo as suas histórias e me deram muita inspiração e coragem para seguir em frente e não me deixar avassalar pela dor. O que mais me custou nos dias mais tristes e mais duros, foi querer ler informação sobre perda gestacional e não encontrar nada de especial, queria um livro, algo fidedigno e não encontrei. Depois em pesquisas no instagram e facebook lá fui encontrando alguns grupos privados e algumas páginas onde falavam destas situações.
No meu caso, eu tinha necessidade de falar sobre o que me aconteceu, de partilhar a minha história com outras pessoas e perceber se havia alguém que já tivesse passado pelo mesmo. Passei uma semana em casa, fiz imensas pesquisas sobre o assunto, falei com as minhas amigas e família sobre tudo o que estava a sentir, mas depois tive de começar a distrair-me com outras coisas e o que me foi ajudando foi fazer caminhadas, ouvir música, fazer exercício, estar sozinha na natureza e interiorizar o que me tinha acontecido, foi muitas vezes chorar sozinha durante as caminhadas, às vezes até falar sozinha internamente.
Nesta fase encontrava-me em teletrabalho, mas depois quando regressei ao trabalho presencial, lembro-me de quando voltava a casa chorava a conduzir e a ouvir alguma música que passasse no rádio, porque era nesses momentos que eu me ia mais abaixo.
O que me dá forças é saber que fiquei bem de saúde, que estou bem de saúde, que tenho trabalho, que tenho uma casa, que tenho uma família unida e feliz, que tenho projetos e sonhos a concretizar e é nisso que eu me agarro todos os dias. São as coisas mais simples que me dão alegria.
O nosso ano 2020 acabou com a frase:“a esperança começa onde acaba a certeza”. De facto há coisas nesta vida que nós não controlamos, há acontecimentos que não percebemos o porquê de acontecerem. Mas eu acredito que mais cedo ou mais tarde havemos de ter a nossa recompensa.
Desejo muita força, fé, união a todas as mulheres que tenham passado pelo mesmo ou que estejam a passar! Passo a passo vamos conseguir! “tu és a estrela que guia o meu coração”.
Em muitos casos, não há razões, nem é atribuída uma causa, para a morte de um bebé no útero em fases avançadas da gravidez ou que levem à necessidade de uma interrupção médica da mesma.
Frequentemente, não receber uma explicação sobre as possíveis causas da perda gestacional tardia torna mais difícil a compreensão do que aconteceu. Devido a esta incerteza, muitos pais têm dificuladade em aceitar e processar esta traumática experiência.
Por isso, neste artigo, referimos um número de possíveis causas e sintomas associados a algumas delas. Posteriormente, certos estudos poderão usar esta informação para trabalhar na reducão de perdas deste género.
Possíveis causas da perda gestacional tardia
Apesar de muitas perdas continuarem inexplicáveis, há um número de possíveis causas:
Problemas na placenta
A placenta fornece nutrientes e oxigénio ao bebé, conectando-o à mãe. É, aliás, o que mantém o bebé vivo e é crucial para o seu crescimento e desenvolvimento.
O descolamento prematuro da placenta ocorre quando esta se separa do útero antes do bebé nascer. Ou seja, um impacto no estômago ou complicações ligadas à pré-eclâmpsia pode fazer com que isto aconteça.
Desta forma é importante conhecer os sintomas de um descolamento de placenta. Estes incluem:
dores nas costas e abdómen
contrações
ventre sensível
hemorragia vaginal.
Caso sinta algum dos sintomas acima, por favor ligue ao seu obstetra ou médico de família.
Movimentos Reduzidos – apesar de movimentos fetais não serem, em si, a causa da morte, são um sinal que o bebé pode não estar a receber comida ou oxigénio suficiente.
Logo, se notar diferença no padrão e rotina dos movimentos, por favor consulte o seu médico ou obstetra. Geralmente, movimentos podem ser registados algures entre as 16 e as 22 semanas.
Bem como outras, as possíveis causas da perda gestacional tardia estão também:
Infeções bacterianas: podem viajar da vagina ao útero, como por exemplo: clamídia, mycoplasma e e.coli. Igualmemte, outras infeções que podem afetar o bebé são: toxoplasmose, listeria, malária etc,.
Pensar que vai ter de dar à luz ao seu bebé depois de receber más notícias, vai soar como se lhe estivessem a pedir o impossível. Por isso, e especialmente na altura do nascimento do seu bebé após a perda gestacional, é muito importante ter apoio.
Por exemplo, pode ser útil ter uma ou duas pessoas consigo, se possível.
No caso dos parceiros (as), é normal que se sintam um pouco como espectadores durante o parto e debaterem-se com vários sentimentos conflituosos. No entanto, de facto, muitos pais admitem ser importante a sua presença durante o nascimento.
Nascimento do seu bebé após a perda gestacional: Se for induzido…
A forma como o seu parto será induzido depende do estado da sua gravidez. Normalmente, há medicação que lhe podem dar para preparar o útero para a indução. Como este processo pode demorar algum tempo, a maior parte das mulheres vai para casa durante este tempo e volta passadas 48 horas.
Contudo, se a ideia de ir para casa for demasiado para si, pode pedir para ficar no hospital. Nestas situações, é provável que a equipa consiga organizar a estadia.
Uma vez no hospital, a indução acontece através de comprimidos. Estes podem ser combinados com gel ou pessários que são inseridos na vagina. Uma vez que será necessário estimular as contrações, poderá também precisar de medicação intravenosa.
Já em trabalho de parto, a maioria das mães dá à luz no decorrer das primeiras 24 horas. Aqui, a equipa de enfermagem poderá dar-lhe informação sobre o que irá acontecer e como poderão ajudá-la. No entanto, se tiver questões, por favor coloque-as, especialmente se for o seu primeiro filho.
Quando vai para casa até o útero estar pronto
Até o útero estar pronto, que por norma ronda as primeiras 48 horas, é lhe recomendado ir para casa. Enquanto esta escolha soa demorada, muitos pais reconhecem que este tempo é precioso para se prepararem para o que vai acontecer. Durante este tempo, a parteira ou enfermeira(o) irá dar-lhe um contacto no hospital que poderá ligar a qualquer altura para dúvidas ou preocupações. Irão também informá-la de quando terá de voltar e onde se dirigir.
Nestas condições, é preferível não vá para casa sozinha. Isto porque o choque e a angústia podem afetar a sua capacidade de julgamento e concentração. Assim, é especialmente desaconselhado conduzir.
O que levar para o hospital?
Se quiser, pode levar algumas coisas especiais para o seu bebé. Por exemplo, algo para o vestir ou algo onde, talvez, queira guardar uma madeixa de cabelo. Caso deseje, pode também levar um smartphone/câmara, se quiser tirar fotografias.
O que esperar?
Diferentes mulheres experienciam diferentes níveis de dor durante o parto. É normal algumas mulheres sentirem dor mais intensa, se estiverem assustadas ou nervosas. Um parto induzido é, por norma, mais doloroso do que um parto que começa naturalmente. Costuma também ser mais demorado, especialmente se for bastante prematuro.
Por isso, e como vai sentir dores, pode escolher ajuda adicional com medicação, adaptável durante o parto.
Podem ser desde medicamentos para as dores ou epidural. No evento de tomar medicação forte, como diamorfina, poderá sentir desorientação mesmo depois do parto e não se recordar de nada.
Por outro lado, se optar pela epidural, vai recebê-la através de uma injeção na zona lombar. Esta vai remover toda a dor e será administrada consoante a necessidade.
Caso deseje medicação durante o nascimento do seu bebé após a perda gestacional, consulte o seu médico/enfermeiro para receber o máximo de apoio possível.
Aguardar pelo nascimento de um bebé depois de descobrir que este já não está vivo é uma experiência inesperada e traumatizante. Assim, esperamos, que a informação oferecida sobre a preparação para o parto na perda gestacional a ajude em decisões difíceis.
Quando o seu bebé morre
Durante a gestação, a vida do bebé pode terminar durante o parto ou até antes. Caso o seu bebé falecer antes da data prevista do nascimento, na maior parte dos casos, terá de passar pelo trabalho de parto.
No caso de o bebé ter vida, podem informá-la de que está fragilizado. Nestas situações, é comum que a avisem que o bebé poderá falecer no útero ou não viver mais do que algumas horas. Nesses casos, e antes das 24 semanas, poderá ser aconselhada a optar pela interrupção voluntária da gravidez.
Esperar para dar à luz é uma altura incrivelmente difícil. Enquanto espera, pode sentir-se desde dormente ou perto da loucura.
Aliás, mesmo depois do seu bebé falecer, pode senti-lo a mexer-se conforme muda de posição e isso é extremamente perturbador.
Em alguns hospitais, existe a possibilidade de ter um espaço para o parto, longe das outras mães e famílias. Dada a natureza inquietante e assustadora do momento, será aconselhável ter ao seu lado o seu parceiro ou um familiar a apoiá-la.
Preparação para o parto na perda gestacional: como nasce o seu bebé?
Exceto haja uma razão médica para uma cesariana, os profissionais de saúde vão, por norma, recomendar que o parto seja vaginal. Medicamente, é mais seguro para si e a sua recuperação física será mais rápida.
No entanto, só o pensamento de ter de dar à luz um bebé que não sobreviveu à gravidez é, compreensivelmente, um enorme choque para os pais.