No dia 18 de junho, o meu mundo desmoronou mais uma vez. Eu que estava tão feliz com o meu arco-íris, meu sonhado bebé, que já estava aqui comigo três meses.
Mais uma vez soube que essa gravidez não poderia ir mais para a frente, pois o teu coraçãozinho já não batia mais. Eu te amo e te amei tanto meu filho enquanto estiveste aqui, obrigada por me ter escolhido para ser tua casa nesses 3 meses mais felizes da minha vida.
Que um dia Deus me possa fazer vivenciar isso de novo, mas dessa vez até ao fim, até ter-te aqui nos meus braços para a vida toda.
Ninguém nunca entende a mulher que passa pelo luto do aborto e ninguém nunca irá entender até realmente passar.
Nessa fase todos viram médicos, todos acham que sabem o que dizer. Mas, na verdade, não há nada que possa ser dito, não há nada que supere a dor de perda de uma mãe.
Sim, já me considero mãe, mesmo que não tenhas nascido. Considero-me mãe desde o primeiro positivo, dos dois tracinhos, do “grávida mais de 3 semanas”. Ouvir o teu coraçãozinho pela primeira vez foi a sensação mais bonita e única da minha vida toda. E a minha maior ansiedade era quando que voltaria a ouvir esse coração que, embora tão pequeno, já tinha mudado muito dentro de mim.
Só tenho a agradecer-te, minha estrela mais brilhante, agradecer-te por tudo! Obrigada por me fazer presenciar e sentir um dos sentimentos mais puros do mundo. Por pouco tempo que tenha sido, tenho muito a agradecer.
Talvez nesse momento da minha vida questione até Deus. Não porque a minha fé foi abalada, mas sim porque não entendo: Porquê comigo? O que foi que eu fiz? Será que o meu problema é grave? E porque sinto a dor da revolta. E acho que nesse momento está tudo bem em revoltar-me. Acho que tenho mais a agradecer do que reclamar, mas nesse momento não sei o que agradecer.
Só sei que a dor que carrego é tão grande, só eu sinto. Só sei que a cruz tem ficado cada vez mais pesada para eu carregar. E pergunto-me até quando irei suportar tudo isso.
As minhas lágrimas são a minha única forma de expressar a minha dor, e como dói , dói na alma, dor essa que nenhuma mulher deveria sentir.
Por favor: Guarda-me senhor como a menina dos teus olhos.
Deus me faça forte, porque te adorar é o que me mantém de pé.
Descobrimos que estava grávida logo no início de dezembro. Ficámos tão contentes! Aos poucos íamos começando a falar em ter mais, porquê ficar só com dois? Sempre quis ter mais filhos, até porque já tínhamos uma menina que andava incansavelmente a pedir um mano.
Contactamos a obstetra que nos acompanhou durante a gravidez da nossa filha, descobrimos em Janeiro que estava com diabetes gestacionais. Até aqui tudo certo, fizemos todas as consultas e ecos e tudo aparentava estar bem.
Disse-nos logo muito cedo que era um menino. O nosso Elijah. Quase que parecia que a nossa filha tinha adivinhado!
No decorrer da gravidez foi correndo tudo conforme esperado, ia fazendo o controle habitual da glicemia e da tensão arterial, tendo em conta que, na gravidez da minha filha, tive pré-eclâmpsia.
Já com 27 semanas voltámos à consulta de rotina com a nossa obstetra. Fez-me uma ecografia rápida. Enquanto passava o ecografo, fazia-me umas questões que até ali me pareciam tão aleatórias…
Entretanto saiu do consultório muito apressada e levava na mão a eco que me tinha feito. Foi aí que percebi que estava alguma coisa fora do habitual. Assim que regressou, entregou-me as requisições para uns exames, que pediu que as fizesse ainda naquele dia. Já quase em lágrimas, pedi-lhe que me explicasse o que estava a acontecer ao nosso filho, ao que me respondeu para me manter calma, mas que o bebé estava com uma anemia fetal severa e que necessitava de perceber se esta condição estaria a afetar algum órgão, mas que nesse momento era tudo o que me conseguia dizer.
Foi na ecografia obstétrica, já com outra médica, que o nosso mundo desabou. Começou a aperceber-se que o bebé não estava bem e que a anemia estava demasiado grave.
Solicitou que chamassem a minha obstetra e entretanto pediu-me os exames anteriores. Ia-me fazendo algumas questões e, assim que a minha obstetra chegou, ouvimo-las conversar, sem percebermos qualquer palavra daquela conversa. Pediu-nos que esperássemos pelo relatório à porta do consultório da minha obstetra que ela deveria de querer falar connosco. Foi quando a auxiliar nos diz que a nossa obstetra já se tinha ido embora. Ficámos perplexos, nem queríamos acreditar.
Não conseguia parar de pensar em como é que isto acontece e como, como é que tudo isto estava a ser tratado com tanta frieza? Com tanta indiferença?
Regressámos à sala da ecografia e solicitámos à médica que nos explicasse o que estava a acontecer. Caramba, só queríamos respostas e merecíamos! Tudo o que pesquisávamos na internet era assustador e pouco ou nada conseguíamos entender.
Aquela cara, nunca a vou esquecer, explicou-nos que o bebé estava com uma anemia fetal severa e já apresentava demasiados edemas, tinha inclusive problemas no estômago e nos intestinos. Que, por norma, as grávidas com estas condições são direcionadas para uma unidade do serviço público para fazerem uma transfusão de sangue intrauterino, mas que todas estas informações deveriam de ser explicadas pela minha médica.
A caminho de casa, a nossa obstetra liga-nos a explicar o que estava a acontecer e que teríamos de ir na manhã seguinte logo cedo para outro hospital e tudo o que a outra médica nos disse.
Na manhã seguinte, assim que acordei nem queria acreditar que isto nos estava a acontecer. Só queria que aquele sentimento de que ia perder o meu bebé fosse embora, queria pensar que tudo ia correr bem e que, apesar da condição do nosso menino, nos dissessem que ele ia recuperar.
Assim que chegámos ao hospital fomos realizar uma ecografia obstétrica, confirmava-se a anemia fetal severa e que consequentemente o bebé já apresentava vários edemas. Voltaram a chamar-nos. Desta vez era um médico que queria falar connosco.
Confesso que nos disse tudo o que precisávamos de ouvir. Bruto, mas sincero e agradeço com todo o meu coração. Iria ser ele a realizar todo o procedimento ao nosso filho, iria ter de fazer uma amniocentese e uma cordocentese para conseguirmos identificar o que estaria a causar a anemia e só depois é que o bebé iria levar a transfusão de sangue.
Infelizmente assim que se inicia a transfusão de sangue o coraçãozinho do meu menino pára. Toda a sala de operações fica sem reação possível. Peço para que chamem o meu marido, eu já não conseguia estar ali mais tempo sozinha. Só queria o meu marido, agarrar-me a ele e chorar, oh caramba chorar.
Todo o tempo que estive com o meu filho é insuficiente para uma vida inteira sem ele.
Nem queria acreditar que seria possível. Como é que tal crueldade é possível? Como é que tudo isto nos estava a acontecer?
Nos dias que se seguiram só queria que entrasse em trabalho de parto. Queria sair dali, precisava de estar com a minha filha, ai, a minha filha, como é que eu lhe iria dizer que o mano estava no céu? E o que iria eu dizer à nossa família? Aos nossos amigos? Como é que iria eu encarar todas estas pessoas?
Pensava que quanto mais rápido fosse o parto do meu filho e mais depressa o tivesse nos braços mais rápido se acabava o sofrimento. Mas era mentira, claro.
Sempre pensei que o Elijah fosse chorar ao “nascer”, é irrealista eu sei. Agarrei-me à possibilidade de tudo não ter passado de um erro e que aquele bebé tão lindo e perfeito, que esteve dentro de mim durante 27 semanas, conseguisse viver uma vida ao meu lado. Tudo para me conseguir manter calma e mentalmente sã. Mas claro, cada um agarra-se ao que pode.
Todo o tempo que estive com o meu filho é insuficiente para uma vida inteira sem ele.
E irá doer para sempre não ter tido a oportunidade de o ver dormir, de ter visto os seus primeiros passos, de não ter ouvido as suas primeiras palavras ou de não o ver a brincar com a mana.
Resta-nos a caixa das memórias que trouxemos do hospital e que preenchemos com as poucas lembranças que temos do nosso menino as cartas que escrevemos, as fotografias da gravidez e a impressão do pézinho dele.
Será para sempre o nosso Elijah, o nosso menino que esteve connosco pouco tempo mas que deixou uma vida inteira cheia de amor.
Nunca tive aquele sonho em ser mãe, ter um filho… nada!
No início de 2022, algo deu corda ao meu relógio biológico e essa vontade despertou em mim. Comecei a imaginar-me de barriguinha, de bebé nos braços, as noites mal dormidas, tudo..
Fui dando o meu parecer ao meu namorado. No fim de maio de 2022 decidimos que ia deixar a pílula e assim foi. Começamos os preparativos, marcar consultas, começar a tomar o ácido fólico, fazer análises, avaliar o útero… tudo ok; vamos lá seguir em frente e tentar.
Eu sabia que ia ser uma longa jornada. Entretanto, reduzi o tabaco e em 22 de novembro acordei e decidi não pegar mais num cigarro. E assim foi, nunca mais!
Os meses passavam e o medo de não conseguir engravidar atormentavam-me a cabeça!
Em fevereiro de 2023, 3 dias de atraso (igual às duas últimas menstruações). Mais um dia de atraso e, ao fim do dia de trabalho, fui à farmácia comprar o teste. Dia 23 de fevereiro, acordei nervosa e sem sinais de menstruação. Ok, vamos lá fazer o teste e…. Primeiro teste da minha vida e tão positivo eu vibrei!
Eu tremia por todo lado, não conseguia acreditar! Antes de sair para o trabalho tinha de dizer ao meu namorado, claro! Marcar consulta, tudo bem, mais exames ao sangue etc.. fui ao privado; queria ter a certeza que tinha um bebé dentro de mim, parte de mim não acreditava! Dia 8 de Março, feliz da vida, vi o coraçãozinho minúsculo a bater e a partir daí a minha vida ganhou outro sentido. Eu vivia não só por mim, eu estava a gerar uma vida…uma responsabilidade enorme nas minhas mãos, uma benção!
Todos os dias andava feliz e contente, acho que foram os melhores dias da minha vida! Dia 3 de abril – primeira consulta no hospital. Fui à enfermeira, entretanto o médico chamou, mal sabia eu que o meu sonho estava por um fio…
Após as perguntas e conversa com o médico, fomos ver se estava tudo bem. O médico chamou o pai para vir ver o bebé connosco! Ele veio e… um silêncio ensurdecedor apoderou-se daquela sala, um longo silêncio esquisito. “Catarina, lamento mas não tenho as melhores notícias…”
O meu coração disparou. “O bebé parou de evoluir por volta das 8 semanas e a Catarina já está com 10, não há batimentos.”. E as lágrimas rolaram.
Tive de decidir entre uns comprimidos para provocar um aborto ou esperar que o corpo expulsasse naturalmente. Optei pelos comprimidos, não havia esperanças, não valia a pena a espera do meu corpo reagir! Posso dizer que depois das melhores 10 (6) semanas da minha vida, veio o pior dia e noite da minha vida! Um processo tão doloroso, físico e psicológico… não fazia ideia que ia passar por tudo aquilo.
Apesar de na semana antes da consulta, ter comentado com uma colega que estava com medo de chegar e ouvir “o seu bebé não evoluiu”, nunca quis acreditar que isso me aconteceria! Longe de imaginar a dor que uma mãe sente, por gerar uma vida e não ter a capacidade de evitar perder essa mesma vida!
Uma dor que fica sempre comigo, serei sempre tua mãe meu anjo.
Após a perda de um filho(s), e dependendo da experiência de cada um, pode ser muito difícil confiar num obstetra, ou em quem nos acompanha numa gravidez pós-perda. A pensar nisso, compilamos neste artigo uma listagem de profissionais de saúde sensíveis à perda gestacional e neonatal que nos vão sendo recomendados por outras mamãs que com eles lidaram na sua jornada de gravidez pós-perda.
Seja para exames para investigar a causa da morte do bebé ou para preparar e seguir uma nova gravidez e tudo fazer para evitar uma nova perda ter do nosso lado profissionais de saúde sensíveis à perda gestacional e neonatal faz toda a diferença (física ou psicologicamente!).
Assim, esperamos que esta listagem, por zonas do país, vos possa, de alguma forma, ajudar:
Porto e Norte
Dr. Pedro Xavier – Ginecologia/Obstetrícia, Medicina da Reprodução, Hospital de São João
Dr. Joaquim Gonçalves – Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Lusíadas da Boavista
Dr. António Braga – Obstetrícia, Medicina Materno Fetal Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar Universitário do Porto
Dr. Gonçalo Inocêncio – Obstetrícia, Medicina Materno Fetal Centro Materno Infantil do Norte, Centro Hospitalar Universitário do Porto
Dr. Joaquim Rodrigo – Ginecologia/Obstetrícia, Hospital da Luz de Póvoa do Varzim
Dr.ª Cátia Lia Abreu – Ginecologia/Obstetrícia, Trofa Saúde Barcelos e Hospital de Braga
Dra. Alexandrina Mendes – Clínica Uterus – Saúde Integrativa da Mulher – Porto
Lisboa e Sul
Dr. Jorge Lima – Ginecologia/Obstetrícia, Hospital da Luz Lisboa
Dr.ª Filipa Dias Lourenço – Ginecologia/Obstetrícia, CUF Descobertas e Alvalade
Dr.ª Filipa Teles – Essence Prime Care
Dr. Miguel Raimundo – Ginecologia/Obstetrícia, Hospital da Luz Setúbal
Dr.ª Ana Beatriz Godinho, Ginecologia/Obstetrícia, Consultório Médico Dr. Salvado Godinho, Setúbal
Dra. Lara Caseiro, Hospital da Luz, Évora
Caso tenha algum profissional que gostava de acrescentar por uma experiência positiva, por favor entre em contacto. Obrigada.
Por favor, note que esta lista está em constante construção e é feita de recomendação de famílias que passaram por perdas e seguiram para gravidezes pós-perda. Desta forma, não nos responsabilizamos pela sua experiência, mas esperamos que receba o apoio que merece e precisa.
O nosso objetivo é conseguir fundos para adquirir e oferecer caixas de memória a mães e pais de colo vazio. Em Portugal, infelizmente, não há a tradição de oferta destas caixas como em países como Inglaterra ou Espanha. E é precisamente no trabalho de várias associações desses países que nos inspiramos nesta missão que também pretende sensibilizar a sociedade e os profissionais de saúde para este tema.
O que é e o que contém uma caixa de memória? Uma caixa de memória é uma caixa de recordações do bebé. Já existem à venda para bebés que saem de uma gravidez com final feliz: há um saquinho para o primeiro cabelo do bebé, para fotografias e outros registos. Mas e quando não corre bem?
Poder guardar memórias é uma forma de ajudar pais e mães a fazerem o seu luto e terem um espaço de homenagem e onde podem recordar o seu filho(a).
Caixas de memória: o nosso projeto de apoio à perda gestacional
O objetivo inicial é montar pelo menos 25 caixasde memória e entrega-las pessoalmente e, tanto quanto possível, a hospitais e maternidades.
Geralmente contêm dois peluches – um para os pais e outro que pode ficar com o bebé, duas mantinhas, uma vela, um certificado de vida (para registo do nome, data de nascimento e peso), um caderno e caneta para poder escrever cartas ao seu bebé, um livro para bebés, uma moldura para foto e uma folha para guardar as impressões das mãos e dos pés do bebé.
Para quem se dirige esta iniciativa?
Esta iniciativa destina-se aos casais que passaram por uma perda gestacional ou neonatal para que possam recolher e guardar memórias dos seus bebés sobretudo no hospital. Para quem não tenha tido possibilidade de guardar memórias no hospital, pensamos também em caixas de memória que ajudem no processo de luto para com aquele bebé.
Como nos pode ajudar?
Doar um valor na campanha de crowdfunding (cada euro faz a diferença!)
Doar itens para as nossas caixinhas; Fale connosco!
No início da gestação, eu tive um sangramento e fui para o hospital. Nesse dia descobri que estava com um pequeno descolamento da placenta e o mais assustador: havia uma alteração no meu bebé, transluscência nucal aumentada.
Foi uma gravidez cheia de medos e a cada consulta eu fazia mil perguntas ao médico. Ele explicava que poderia ser algum problema (cardíaco, na coluna ou síndrome de Down eram os mais prováveis) e que não podia fazer nada, a não ser esperar o nascimento do bebé para descobrir o que estava acontecendo. Mas em nenhum momento fui alertada que ele poderia perder a vida, talvez nem o médico deduzisse isso (prefiro pensar assim).
Com 39 semanas de gestação fui à última consulta, onde ouvimos o coração dele e descobrimos que já estava com 2 dedos de dilatação e com 39 semanas e 5 dias fui para o hospital com contrações. Era dia 11 de Dezembro. Cheguei com 4 dedos de dilatação e logo pulou para 8 e em seguida meu pequeno Antony Samuel “nasceu” na sala de triagem do hospital.
Aquele lugar foi tomado pelo silêncio absoluto, todos apavorados quando viram que o meu bebé estava morto… nem o médico conseguia ter reação. “Faz alguns dias” foi o que ele conseguiu pronunciar para mim. “Pelo menos 3 dias”.
Meu tão sonhado menino, eu e sua irmã estávamos esperando-o com muita ansiedade, mas Deus precisava dele lá no céu.
São 4 meses sem meu pequenino e eu ainda não faço ideia de como seguir.
Não foi assim que imaginei que tudo terminaria, na verdade nunca imaginei que “chegasse ao fim”.
Todos os meus pensamentos, planos futuros, ou seja, toda minha vida já era sua. Eu amei gerar você e passar quase 8 meses com você no meu forninho. Eu amava que podia aproveitar enquanto éramos só nós duas, amei cada descoberta, toda ansiedade antes das ecos, amei sentir cada pontapé seu… nossa, como eu amava isso, chegava a passar horas com a mão na barriga só para sentir você.
E o peso da barriga agora se tornou um vazio tão grande que se torna inexplicável, igual ao vazio que restou no meu coração e na minha alma. Dói minha filha, dói tanto não te ter aqui. As 16h de trabalho de parto não chegam aos pés da dor que sinto de não ter você em meus braços. A cada contração que sentia era um misto de sentimentos, o desejo de que todos os médicos estivessem errados e que você estivesse bem, misturado com o medo e tristeza terríveis por saber que todo aquele esforço seria em vão. Você foi desejada e muito amada, eu já sonhava como seria seu rostinho, sua pele, seu cabelo, e posso falar?! Você nasceu linda, eu juro que você superou minhas expectativas, veio igualzinha a uma boneca; branquinha, com o nariz perfeito, cabelo lisinho, bem cabeludinha, com os olhos puxados e a boca do seu papai (sim, a mesma que eu enjooei na gravidez).
Te carregar no meu colo daquele jeito e não poder fazer nada me deixa totalmente devastada! Eu daria minha vida para você, te daria o meu respirar sem pensar nem um segundo. Queria que você tivesse acordado, meu coração pedia por um milagre, mas Deus não quis assim. Eu ainda não entendo e me pergunto se um dia isso será possível. Mesmo sabendo que é errado eu acabo questionando. Como não questionar? Como não perguntar o porquê se a lei da vida são os filhos enterrarem os pais e não o contrário? Fora os outros milhões de questionamentos que me vêm à cabeça.
Eu imaginava e sonhava em te ver aqui do meu lado no seu berço branco e não consigo acreditar que a realidade foi outra. Aquela cena nunca vai sair da minha cabeça, me entregaram você em um caixão branco e ao invés de te colocar em meus braços e te trazer pro seu lar, tive que deixar você em um cemitério. Meu Deus, como dói!!! A dor rasga a alma e me dilacera por inteiro.
Como seguir a vida? Como viver sabendo que você não teve nem chance disso? São tantas perguntas sem respostas. O que eu sei é que não conseguiria passar por tudo isso sem o apoio do seu papai. Hoje tenho certeza de que é ele quem eu quero ao meu lado para viver até o fim da minha vida.
Filha, ele é incrível, e nesses dias difíceis não nos deixou nem por um segundo, segurou em minhas mãos e foi meu suporte para não desabar. Não cabe a mim contar a experiência dele, mas eu sei o que vi. Vi um homem se tornar pai, se preocupar e te amar incondicionalmente.
Queria que você tivesse tido a oportunidade de conviver com ele e de conhecer o ser humano lindo que ele é. Não me restam dúvidas de que ele seria o melhor pai do mundo pra você.
Saiba que você NUNCA, NUNCA será esquecida. Segure sempre nas nossas mãos e cuide sempre da gente aí de cima, minha Maria Clara.
Sigo aqui com meu luto, chorando sempre que necessário, lembrando de você a cada segundo e sonhando sempre em como seria nosso futuro juntas.
Sobre o luto, prometo a você que não vou me afundar nele, só preciso vivê-lo enquanto for necessário para amenizar a dor. Um dia de cada vez e em passos lentos, mas sobrevivendo.
Maria Clara Abrantes Barbosa. 27/12/2022 – 03:44 – 1.225kg
A nossa história de amor começou no dia 6 de Junho de 2022, quando fiz um teste de gravidez e deu positivo.Não queria acreditar e fiz 3 testes diferentes. Todos eles deram positivo.
Foi o primeiro teste de gravidez que fiz. Apesar de já estarmos a tentar há cerca de 6 meses, nunca tinha tido um atraso menstrual. Também não tive atraso menstrual nesse mês mas, chamem-lhe intuição, eu sentia-me gravida. E estava.
Lá estava o nosso positivo. O nosso grande sonho estava a começar.
Tinha uma consulta com o meu ginecologista nesse mesmo dia e disse-lhe que tinha feito um teste de gravidez que deu positivo. Ele receitou-me logo vitaminas e disse para voltar dali a 15 dias, porque ainda não se via nada. Estava grávida de cerca de 4 semanas. Quinze dias depois voltei e lá estava o saquinho no útero. Quinze dias depois e já consegui ouvir o bater do seu coraçãozinho.
Contamos a novidade aos avós que ficaram tão felizes. Afinal de contas seria o primeiro neto tanto dum lado, como do outro.
Começamos a comprar roupinhas, a pensar em nomes e a fazer mil e um planos na nossa cabeça.
Eu era luz. Luz e sonhos. Eu radiava alegria e felicidade para onde quer que eu fosse. Sentia-me forte. Sentia-me a super mulher. Sentia que nada nem ninguém me podia machucar, porque dentro de mim eu gerava vida. O meu filho. E sentia-me poderosa.
Sempre achei que quando estivesse grávida me fosse sentir frágil e fraca, mas não, foi o tempo que eu me sentia mais forte… Acordava todos os dias e dizia “bom dia, meu amor, mais um dia juntinhos”.
Fazia mil e uma festinhas ao longo do dia na minha barriga. E gostava de a ver crescer. Os sábados ganharam mais cor pois acrescentava mais uma semana de vida ao meu “docinho de marmelada”, (eu gostava de o chamar assim). Media a barriga todos os sábados e lembro-me perfeitamente de ficar toda contente por ela aumentar 1cm por semana.
Chegou o dia da ecografia do 1º trimestre. Estava tão nervosa. Estava tão tensa que a médica me mandava sempre relaxar, mas eu não conseguia. Só relaxei no final quando ela me disse que estava tudo bem. Aí, o meu coração relaxou.
Foi a melhor sensação da minha vida e estava grávida de mais quase uma semana do que eu estava a contar.
Fiz um diário online onde escrevia tudo o que estava a sentir e um bocadinho do meu dia a dia da gravidez, para mais tarde recordar.
Tudo corria bem. Contámos à família. Já estávamos a decidir os padrinhos. Os nomes já estavam escolhidos tanto para menino como para menina.
Tudo era um sonho tornado realidade.
Fui à médica para saber se podíamos ir de férias em Agosto. Ela disse que sim, e fomos felizes e radiantes da vida. Tirámos tantas fotos na praia com a minha barriguinha que já se começava a notar (17 semanas). Estávamos tão felizes! Olho para trás e só queria voltar a sentir a mesma felicidade.
Regressámos de férias a um domingo, na segunda seguinte fomos ao obstetra que disse que estava tudo óptimo com o bebé e que achava que seria uma menina.
Eu não acreditei. Sempre senti que seria um menino. Intuição de mãe, não sei. Nesse mesmo dia fizemos uma ecografia em 3D e, apesar de pequenino, já se via perfeitamente o nosso bebé tímido e muito simpático (como as médicas o descreviam).
E disseram-nos que muito provavelmente seria um menino.
Nesse mesmo dia de manhã tinham-nos dito menina e depois menino, estávamos confusos. Mas faltavam apenas 10 dias para a ecografia do 2º trimestre e já tirávamos todas as dúvidas e poderíamos contar à família, que todos estávamos ansiosos para saber se seria uma menina ou um menino.
Mas não conseguimos chegar a esse lindo momento.
Nessa quinta feira à tarde comecei com imensas dores de barriga, que não sabia o que seria. Fomos às urgências de um hospital, a médica disse que estava tudo óptimo. Eram apenas gases, mandou-me tomar ben-u-ron e ir embora e, para a próxima, tomar ben-u-ron antes de ir às urgências.
O meu coração ficou descansado. Afinal de contas tudo estava bem.
Mas as dores não passavam e, no dia seguinte, fomos a outro hospital (podia ser que tivessem outra opinião).
Fui vista por 2 médicas que disseram exatamente o mesmo, que seriam gases. Também me disseram que tinha o colo do útero demasiado curto para as semanas de gestação que tinha (18 semanas), mas não estavam nada alarmadas. Mandaram-me repousar, mas não estar todo o dia deitada na cama, e receitaram-me progefick.
Perdi o bebé no dia seguinte em casa.
O meu bebé simplesmente escorregou por mim abaixo, como se o meu corpo o rejeitasse. Ainda me lembro do horror. Do sangue imenso. Das dores terríveis.
Chamei a ambulância que me levou para o hospital mais próximo. Lá, tiveram que me operar para retirar a placenta pois não tinha saído. E eu lá estava com o meu bebé ao lado embrulhado num paninho. E eu só queria acreditar que tudo aquilo tinha sido um pesadelo.
Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”
Lembro me de acordar da anestesia e pensar que tudo aquilo não tinha passado dum pesadelo, mas tudo tinha sido verdade.
Isto tudo foi em Setembro. Sete meses passaram e eu não consigo esquecer. Sete meses passaram e eu ainda pergunto “porquê?”. Sete meses passaram e eu ainda choro quase todos os dias pelo meu bebé.
Ainda não sei o que aconteceu visto que tudo estava tão bem, o meu bebé mexia, tinha batimentos cardíacos, estava tudo perfeito.
Fez-se a autópsia onde descobri que era um menino (a minha intuição não tinha falhado) e era perfeito. Sem nenhum problema físico nem cromossómico. Era um menino perfeitamente normal.
E isso custa tanto… Dizem-me que é melhor assim. O menino ser perfeito, porque assim sei que eu e o meu marido temos bebés perfeitos, mas custa tanto saber que perdi um bebé perfeito e saudável.
Ele era tão pequenino. Mais ou menos do tamanho da palma da minha mão. Um bebé pequenino e perfeitinho.
Seria o nosso Mateus.
Agora as saudades matam-me por dentro.
Como é possível ter saudades de momentos que apenas existiam na minha imaginação? Momentos que nunca aconteceram mas eu sonhava que acontecessem.
Como é possível agora sentir-me fraca quando já me senti tão poderosa?
Há 7 meses que eu não consigo sorrir. Nada me traz felicidade. Tudo aquilo que dantes me deixava feliz agora simplesmente não é nada.
Tudo o que eu queria era o meu bebé.
Acordo todos os dias e penso “tudo o que eu quero é o meu bebé”. Eu tenho saudades de fazer festinhas na minha barriga, tenho saudades de falar com ele, de sonhar com ele no meu colo, tenho saudades de ver a minha barriga crescer.
Tenho saudades da felicidade genuína. De sorrir duma coisa simples.
Hoje o meu bebé teria cerca de 2 meses. E eu só consigo imaginar o seu sorriso, os seus olhos, o quanto eu o amava e amo.
Imagino a dar.lhe de mamar, a colocá-lo para dormir, a dar-lhe banho, acariciá-lo, dar-lhe beijinhos. Dançar com ele….
A minha vida parou em Setembro de 2022. Os dias passam mas a minha alma ficou em Setembro.
O meu bebé foi-se embora e com ele levou metade de mim. Levou metade do meu coração com ele.
E agora pergunto me: como voltarei a conseguir ser a mesma pessoa?Alguma vez conseguirei voltar a ser a mesma?
Eu sinto que a vida que estou a viver agora não é a minha vida, eu deveria estar em casa a tomar conta do meu bebé e não a trabalhar e a chorar pelos cantos. Eu não quero viver neste inferno.
As pessoas não percebem esta dor. Dizem : “ah és nova podes ter outro” ou “pelo menos foi no início” ou “foi porque Deus assim quis”.
Mas as pessoas não sabem qual é este sofrimento, esta dor que acorda e adormece connosco. Esta dor no coração que não sai por nada deste mundo.
Eu não sei o que fazer para deixar de sentir esta dor.
Agora o meu diário online que dantes escrevia todos os momentos da gravidez, agora é o meu aliado, onde escrevo as minhas tristezas e angústias, onde desabafo e choro o meu filho.
Vejo todas as meninas que estavam grávidas ao mesmo tempo que eu a ter os seus bebés e eu nada, e eu de colo vazio e pergunto-me: “o que fiz eu de mal?”, “onde é que eu errei?”
Custa tanto saber que o bebé que era tão amado, tão desejado, tão sonhado, simplesmente escorregou por mim abaixo e eu não pude fazer nada para o salvar.
Só me apetece chorar todos os dias.
Meu eterno bebé. Meu Mateus, amado sempre.
A nossa história começou a 6 de Junho de 2022 e terminou a 12 de Setembro de 2022. Foram 18 semanas de amor.
A ti, que lutas todos os dias, que passaste o inverno entre internamentos, mas que não perdes a inocência e a simplicidade de um sorriso.
Aquele sorriso, fácil de encantar, que faz qualquer pessoa dar uma gargalhada, que apesar das limitações, consegue aprender e que bem que aprendes!
Curioso, que gosta de histórias, de pintar e de Metallica! És tão fácil de cativar… e os nossos abraços? Esses são só nossos!
A ti, que vives no Céu, eu sei que não temos aventuras como com o mano, nem brincadeiras, porque a maior aventura vivemo-la todos os dias: aprender a viver longe de ti, foi o maior desafio de todos. Maior do que qualquer internamento, paralisia cerebral ou falar pouco.
Passaram 4 anos e eu contínuo a pensar em ti, todos os dias, onde quer que vá! E não adianta que me digam “que foi melhor assim…”. Não foi, nunca será. Melhor para quem? Para ti, que nunca conheceste o poder de um abraço? Para mim e para o pai, que pensamos como seria ter-te aqui a fazer macacadas de criança? Ou para o mano, que queria ter com quem brincar?
Somos uma família de 4, separados por um Céu de saudade. Hoje nem que as estrelas brilhem, cá dentro, tenho uma trovoada de sentimentos. O tempo passa, mas o Amor que tenho por vocês, esse é infinito e nunca deixarei que me digam que foi melhor… não são os outros que carregam um filho num colo de 2… e enquanto assim for, serão sempre meus…
Com um único corrimento transparente com alguns raios de sangue, dirigi- me ao hospital apenas por descargo de consciência…
Cheguei feliz com uma barriguinha espevitada nesse dia para 12 semanas e 3 dias. Quando chamada para observação, a médica, ainda interna, comentou que não sabia mexer numa das máquinas e, quando fizemos a primeira eco, decidiram passar para outra máquina.
Foi tudo tão rápido que fiquei sem acreditar que o meu tão sonhado bebé estava morto dentro de mim há quase 3 semanas. Os enjoos continuavam e o dr Google dizia que eram boas notícias. Era a gravidez a evoluir.
Apesar de um início de gravidez muito turbulento, em que me separei do pai do meu bebé por me ter pedido que abortasse, de muito ter chorado, de dois picos de tensão alta, nada fazia prever este desfecho.
Era na sexta que ia fazer a ecografia do primeiro trimestre… Dada a notícia chorei compulsivamente e optei por ficar internada …
Era isso ou ir para casa e preocupar ainda mais a minha mãe que também já sonhava com este feijãozinho. Não voltei a sangrar nesse dia e só queria estar sozinha!
Sinto-me vazia, como se o meu futuro idealizado tivesse agora sido cortado em mil pedaços e tivesse manchado.
Estava sozinha e com medo. Nessa noite não dormi, pedi muito a todos os contactos que pude que me fizessem mais uma ecografia, queria muito uma segunda opinião, a máquina podia ter algum problema, pensei… ou talvez o feto tivesse realmente menos semanas porque eu não era regular…
Fiz então a ecografia antes de iniciar o restante tratamento… uma médica amorosa e paciente, mostrou-me tudo e explicou-me tudo. Fez toda a diferença. Ainda muito chorona, mas já mentalizada !
Só à noite é que as duras cólicas vieram e o corpo pedia-me que fizesse força…
Duas vezes a fazer uma força lá do fundo das costas e dois enormes coágulos saíram; era o meu bebé com toda a certeza!
Tranquiliza-me a fé de que o bebé cumpriu a sua missão e, apesar de tudo, continua a ser ele que me tornou mãe! O meu bebé só aprendeu a voar.
Voltei a observação e, apesar do bebé já não estar lá, ainda tinha muita coisa para sair, mais um ciclo de tratamento para ver se conseguimos evitar uma ida ao bloco!
Tive alta, confiaram que o meu corpo se encarregaria do resto e não tive de passar pelo medo que a anestesia já me estava a causar.
Ontem foi o único dia que não chorei, sentia-me tão culpada por isso … simplesmente estava vazia!
Com a alta, despedi-me daquela cama com um colo vazio, o sonho de sair com o amor da minha vida no ovinho deu lugar a uma dor nas entranhas, a um desgosto de alma e um coração em milhares de pedaços. Estou em casa, voltei à realidade e nada assusta tanto…
Tive dores fortes, mas a dor de não ter aqui o meu bebé é mais forte do que tudo….apesar de ter ficado pelas 9 semanas e eu só ter descoberto quase 3 semanas depois, o meu ratinho de 4 cm tornou-me Mamã.